sábado, 28 de junho de 2014

Mineração da Pesada

Mineração da Pesada
Tem companhia que faz mineração de metais pesados, tem outras que fazem mineração da pesada. Na semana passada, uma dessas histórias me chamou a atenção. E ela tem quase todos os ingredientes de um bom thriller. Só falta sexo.
Entre os ingredientes de um thriller de sucesso estão países exóticos (o nosso), estrangeiros em um país exótico, espionagem, lavagem de dinheiro, conluios, terrorismo e outros assuntos para prender a atenção do leitor ao longo de 300 páginas.
Uma mineradora júnior americana, do estado de Nevada (EUA), comprou recentemente uma outra júnior registrada em Nevada e em Ontário (Canadá). Até aí tudo bem, uma operação aparentemente normal. Se não fosse o fato de a empresa adquirida ter trocado de nome diversas vezes. E o seu suposto ativo mineral no Brasil não tivesse sido usado em outras negociações nunca concretizadas. Estou falando de uma aquisição recente da Uranium Hunter, com sede em Nevada, empresa com ações em uma bolsa norte-americana e valor de mercado de US$ 710 mil hoje. A empresa comprada foi a Minas Core Mining, registrada em Nevada, mas com sede no Canadá. A aquisição, no valor de US$ 3,2 milhões, não envolveu dinheiro. Foi uma mera troca de ações. Mas o problema não está aí. A empresa comprada é desconhecida no Brasil, assim como o tal projeto de diamantes “Rio Petro” (sic), em Minas Gerais, como consta no aviso emitido pela Uranium. A Minas Core Mining, que já teve outros nomes, como Brinton Mining Group, esta envolvida em um esquema de venda de pedras preciosas brasileiras na Inglaterra e no Canadá, por meio de uma empresa chamada Nedalia, de Toronto, sem falar em uma suspeita e não realizada troca de ações com um cassino de Nevada. As duas empresas têm um único dono: Richard Jbeily. O Rio Preto existe. Uma das cidades às suas margens é São Gonçalo do Rio Preto que faz parte do famoso Circuito dos Diamantes. Mas, como mostrou uma matéria aqui do NMB, o pessoal que trabalha com diamante no Brasil não conhece tal projeto, nem a Minas Core. Contudo, a uns 600 quilômetros dali, na beira de outro rio, o Dourados, existe sim uma operação de diamantes que tem conexão com a Minas Core Mining. A Dourados Mineração tem uma concessão de lavra para diamante industrial, repito INDUSTRIAL, em Abadia dos Dourados, no Triângulo Mineiro. Originalmente pertencia a Elaine Cristina Prado Cury que, em 2001, cedeu os direitos para a Dourados Mineração. O negocio está em operação desde 2008, graças a uma Autorização Provisória de Operação. Pertinho, em Coromandel, uma outra mineradora, a Nova Mineração, tem uma autorização de pesquisa para diamantes. O dono desse empreendimento se chama François Elias Al Khouri que, por sua vez, tem como representante legal sua esposa Eliane Cury. O que os dois tem a ver com Richard Jbeily? Além de terem sobrenomes libanês e François ser tio de Jbeily, os três são réus em um processo penal de abuso econômico, no caso, combinação entre compradores e vendedores. O processo, iniciado em 2005, por iniciativa do Ministério Público do estado, estava prestes a ter um desfecho, ter a sentença emitida, em 20 de janeiro, quando o julgamento foi convertido em nova diligência, mais intimações foram emitidas, ou seja, mais gente será ouvida. Donde se conclui que vai demorar mais um tantinho para sair a sentença. Ou talvez ela nunca saia. Isso aconteceu duas semanas depois que a Uranium Hunter assinou o memorando de entendimento com a Minas Core. Na semana passada, um mês e meio depois e com alta de 200% no valor das ações, a Uranium disse que fechou o negócio. Antes disso, o valor de mercado da Uranium era uns US$ 250 mil. O volume de negócios explodiu e a empresa se capitalizou. Alguém ganhou um bom trocado. Diria que alguém merece ser investigado. Mas isso é problema da CVM americana. Não li (ainda) o processo que envolve a Dourados, mas a porção disponível diz que o assunto ganhou embalo em 2007 com mandados de busca e apreensão, Polícia Federal e o MP fechando o processo para os olhos de pessoas “estranhas à causa”. No ano passado, aconteceu uma coisa que deu um contorno rocambolesco a esse romance policial. Foi chamada uma nova testemunha, Khalil Nagib Karan, também pode chamar de Najib ou de Karam. Transcrevo aqui um trecho do jornal Estado de Minas, de maio de 2005, para se ter uma ideia de quem é essa pessoa que tem conhecimento sobre os negócios de Jbeily no Brasil e uns sete direitos no DNPM. De acordo com o delegado federal Mauro Spósito, chefe da força-tarefa que investiga o contrabando das pedras, o principal alvo hoje da PF é o libanês naturalizado brasileiro Khalil Nagib Karan, que vive em Brasília, transitando entre gabinetes para defender seus interesses e impulsionar seus negócios. “Ele é investigado por vários atos ilícitos, entre eles terrorismo”, afirma Spósito. Nesse mesmo ano, 2005, Jbeily foi expulso do conselho da York Rio, empresa em que tentou emplacar a venda de direitos minerários no Brasil, a Nova Mineração. A York foi processada, junto com a Brilliance, por captar de forma fraudulenta US$ 16 milhões sem ter ativos minerários compatíveis. O caso está bem descrito no website da Ontario Securities Comission, a CVM de lá. A história é mais comprida do que eu imaginava. Assim, volto na semana que vem com detalhes sobre o imbróglio em que a nada inocente Uranium Hunter está se metendo e o nome do Brasil está sendo usado em vão. Até lá.

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