Minério de ferro. Conseguirá o Brasil dominar mundo em menos de 40 anos?
Quando falamos de minério de ferro falamos de três
grandes mineradoras globais: a Vale, a Rio Tinto e a BHP, ou ,
simplesmente, de Brasil e Austrália. O que se observa é um cenário de
batalha pelo mercado chinês e mundial, entre dois países que são os
maiores produtores do planeta, o Brasil e a Austrália.
Esta batalha deverá perdurar por décadas e só será ganha quando um dos players não tiver mais munição, ou minério de ferro...
Quem sairá ganhador?
Os brasileiros ou os australianos?
Austrália
Nesta área a situação da Austrália parece não ser tão boa como a do
Brasil. Em menos de 40 anos os seus tradicionais minérios de ferro tipo
Brockman, Channel Deposits e Marra Mamba estarão, praticamente todos,
exauridos. Só restarão na Austrália, após esse período de tempo, os
minérios magnetíticos.
A exaustão dos minérios tipo Premium Brockman será rápida. Em menos de
20 anos o minério desaparecerá e com ele a capacidade dos australianos
de blendar os seus minérios de baixa qualidade, ricos em fósforo,
sílica, alumina e água.
Poucos sabem, mas quando os australianos falam de minério de ferro o que
eles vendem é um produto blendado que só é possível graças a existência
do minério de alta qualidade que é o Brockman premium grade. Esse
premium grade ocorre, principalmente, nas minas de Tom Price e Waleback.
Trata-se de um minério hematítico com 65%Fe, 0,05% de fósforo, 4,3%
SiO2, 2,4% Al2O3 e 4% de água. A má notícia é que esses recursos de
alto teor e qualidade estarão exauridos em menos de 20 anos o que vai
reduzir consideravelmente a competitividade do minério de ferro
australiano.
Sem o Brockman Premium a Austrália perderá a sua competitividade.
Os demais minérios hematíticos da Austrália não tem a qualidade do
Brockman Premium e ocorrem em vários contextos geológicos. Esses tem
teores médios de 57,4% Fe, 0,10% P, 7% SiO2, 2,4% Al2O3 e 4% de água.
Minérios dessa qualidade não podem competir com os de Carajás e,
consequentemente, são misturados ao Brockman Premium para ter maior
penetração no mercado mundial.
Já os chamados Marra Mamba e Channel Deposits são uma mistura de
hematita e goethita que também irão estar exauridos em menos de quarenta
anos.
O que vai manter a Austrália na mineração do ferro, após a exaustão de
suas reservas principais, são os BIF magnetíticos de Balmoral, Cape
Lambert e Karara. Essas jazidas são gigantescas e estenderão a vida das
minas de minério de ferro da Austrália por 60 anos. Mas, como sabemos,
esses BIFs terão que sofrer um bom processo de beneficiamento até
atingir as especificações de mercado. Lembre-se que beneficiamento e
concentração são custos que os minérios de alto teor não tem.
No gráfico acima percebe-se claramente que a produção dos minérios
hematíticos e do Brockman Premium vem caindo rapidamente enquanto a dos
Channel Deposits crescia até 2003. Hoje todos esses recursos estão em
processo de exaustão que deverá ocorrer antes de quarenta anos ao ritmo
alucinante de produção atual.
O que não é mostrado nesse gráfico é a expansão dos minérios magnetíticos que é um fenômeno mais recente.
Brasil
Já aqui no Brasil, apesar da enorme produção, estamos muito bem,
obrigado. Enquanto o Quadrilátero Ferrífero se exaure temos excelentes
jazimentos em quase todo o território que ainda estão na fase inicial de
produção.
Os maiores e mais interessantes são os de Carajás. Em Carajás a Vale tem
um produto de altíssima qualidade, que não precisa ser blendado ou
concentrado. O minério é tão bom que a Vale quer criar uma marca, um
selo de qualidade que vai levar o nome de Carajás. Este super minério
fará da Vale a maior e melhor produtora de minério de ferro do planeta
por décadas e décadas, superando em volume e qualidade os Australianos e
todos os demais mineradores.
É por isso que empresas como a Rio Tinto tem tamanho interesse em projetos de alta qualidade.
E sob esse ângulo que devemos entender o novo player: a África. No
continente africano existem inúmeros jazimentos de minério de ferro
ainda inexplorados. Alguns como o de Simandou são grandes e de altíssima
qualidade.
Simandou é para a Rio Tinto o ticket para um futuro brilhante e
competitivo. É de lá que a Rio irá travar as suas batalhas futuras
contra a Vale, quando as suas jazidas australianas estiverem findando.
Simandou é o futuro da Rio e uma perda importantíssima para a Vale.
Alguns analistas acreditam que vai ser através de Simandou que a Rio
irá, eventualmente, ultrapassar a Vale. É lógico que eles não conhecem o
potencial do Brasil quando o assunto é minério de ferro.
Aqui no país temos as imensas reservas de Carajás que deverão durar por
muitas décadas e as reservas dos BIFs do centro-oeste e nordeste que mal
estão sendo tocadas no momento. Temos minério de ferro para mais de cem
anos de intensa produção.
Quando a Austrália claudicar e reduzir as suas exportações ou perder
competitividade o Brasil estará em condições de produzir bem mais do que
hoje com qualidade, ainda, imbatível.
E a África?
Quarenta anos nos parece um prazo muito pequeno para que a “Mãe África”
resolva seus problemas internos e venha a se tornar na potencia mineral
que, um dia, poderá ser.
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