A
localidade de São José, que fica às margens do rio Pacu, em
Jacareacanga no sudoeste do Pará, está no centro de uma disputa entre
garimpeiros e a companhia Ouro Roxo Participações pelas jazidas de ouro
da região. A empresa, que tem como sócio uma pessoa com 200 permissões
de garimpo, reivindica o direito de exploração do local e afirma que a
produção do minério é inacessível pelos métodos artesanais.
A mineradora Ouro Roxo tem uma autorização de pesquisa 852678/1993 no município de Jacareacanga (PA), com 3,7 mil hectares, que antes pertencia à Mineração Vila Porto Rico. Nesse município, que tem 53 mil quilômetros quadrados, um pouco menor que a Croácia, está também o garimpo São José.
Segundo os registros do DNPM, os detentores desses direitos registram denúncias de invasão em 2007 e 2008 e recentemente, em abril e em junho do ano passado.
Dirceu Santos Frederico Sobrinho, representantes da Planalto S.A. e sócio na Ouro Roxo Participações, detém cerca de 200 permissões de lavra garimpeira nos municípios de Itaituba e Jacareacanga, ambos no Pará, segundo dados do DNPM e do sistema IntierraRMG.
Em março de 2010, a Polícia Federal e autoridades do governo chegaram a ordenar a saída dos garimpeiros. Após uma resistência inicial, eles deixaram o local, mas argumentaram que suas famílias haviam vivido na região por mais de meio século e durante este tempo haviam adquirido direitos sobre a terra.
Segundo o líder garimpeiro, José Gilmar de Araújo, desde então, o grupo foi se esforçando para obter a legalização de suas atividades de mineração, com pedido formal enviado à Brasília. “Mas não estamos chegando a lugar nenhum”, disse ele à BBC.
Depois da expulsão em 2010, os garimpeiros tentaram por três anos obter a permissão para voltar ao garimpo Paxiúba. Em 12 de junho de 2013, assumiram a responsabilidade e reocuparam o local por conta própria.
"Nós colocamos todo o nosso dinheiro na atividade. Vamos ficar arruinados se não pudermos produzir ouro", afirmou Araújo.
Enquanto isso, a Ouro Roxo está perdendo dinheiro e demonstra insatisfação com a situação. “Se eles permanecerem lá, vão tornar o projeto todo inviável para nós, por conta do dano que estão causando. Os garimpeiros não se desenvolvem. Eles estão presos em uma cultura de pobreza, a prostituição, as drogas", afirmou Dirceu Santos Frederico Sobrinho, acionista brasileiro da empresa.
De acordo com o advogado dos garimpeiros, Antonio João Brito Alves, o conflito está aumentando. Ele disse que Sobrinho ameaçou sua família, dizendo que iriam "sofrer as consequências", caso ele não desistisse do caso. Mas o acionista nega veementemente ter ameaçado Brito Alves.
As consequências deste conflito pode ter implicações mais amplas. Se os garimpeiros ganharem a disputa, ou receberem compensação para sair da mina, outras comunidades de garimpeiros estão susceptíveis de vir a frente com a mesma demanda. Com isso, a pequena aldeia de São José tornou-se um caso de teste improvável para uma batalha mais ampla para os direitos dos garimpeiros.
De acordo com moradores do povoado, São José não é hoje tão movimentado como era antes. Nas décadas passadas, a violência era marca registrada do local. “Quando cheguei aqui , em 1986, alguém era morto a tiros quase todos os dias" , afirmou Ozimar Alves de Jesus, comerciante da região.
Para o garimpeiro José de Alencar, atualmente, São José é um lugar muito tranquilo, o principal problema para os trabalhadores da região é a incerteza sobre o futuro da própria mina e o poder que as mineradoras possuem. "Uma grande empresa chega e as portas estão sempre abertas para ela. Parece que há uma lei para as grandes empresas e outra para nós", disse.
A descoberta do ouro na bacia do rio Tapajós, em 1958, atraiu dezenas de milhares de garimpeiros ao local. Apesar de a atividade ter diminuído nos últimos anos, muitos homens ainda trabalham de forma primitiva em minas de ouro ainda não cadastradas. Além da Ouro Roxo, empresas como Belo Sun e BBX possuem operações e projetos de extração de ouro na região.
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