Comandante Niltinho: KM 140 – Garimpo da Serra Queimada !!!
Recentemente, estava lendo um
comentário em uma de minhas historias e notei que o leitor tinha
interesse pela aviação. Observei que alem da historia, havia certa
curiosidade, no tocante a voar, e isto é muito natural e compreensivo,
como já disse no início, foi o avião que proporcionou todas estas
estórias, que são direcionadas para todos os leitores, em especial aos
pilotos ou aqueles que gostam da aviação!
Infelizmente é muito difícil adquirir experiência, pois só existem duas formas:
a primeira e a mais importante é voar, quanto
mais se voa mais experiência você adquire, é como meu velho instrutor
já dizia, ninguém ensina ninguém a voar o instrutor esta ali apenas para
não deixar o aluno quebrar o avião, o resto é por conta dele;
a segunda é assimilar as experiência dos mais
velhos, o velho Dr. Ulisses (meu instrutor de vôo), nunca iniciava um
vôo sem, pelo menos, passar seus alunos por uns trinta minutos de
bate-papo, sob as asas do velho Cap-4, e naqueles breves momentos, procurava passar suas experiências de piloto! Como tais ensinamentos me foram muito úteis, achava, e ainda acho, que também o seriam para todos os demais treinandos!
Este conto vou dedicar ao leitor que me referi inicialmente, um futuro piloto, de nome Thales, da cidade de Parauapebas, (na ocasião ele estava fora do ninho, passando
temporada lá pelas bandas de Santa Catarina), torcendo para que ele
tenha o “dom de voar”, aí sim, será um bom piloto e não igual a mim, um
“empurrador de manetes” apenas!
Estava escutando a conversa entre o Léo e o Toninho do Ouro, quando este último, virou para mim e disse:
“ – Vai se preparando Niltinho, vamos comprar
um garimpo no município de Itaituba, e a aviação ficará por sua conta,
portanto vai arrumando avião, de preferência um skylane, que é bom de
garimpo, pois vai ter muito vôo por lá, e queremos você no esquema!”
Dei um pulo de alegria, imagine vocês o que
significa ter um garimpo só para você, onde todos os vôos são seus?
Vocês não imaginem o faturamento de um mês, num ano você paga um avião
brincando! Irmãos, aquela proposta do Toninho caiu do céu.
Só que eu não tinha mais avião e já estava
todo enferrujado, não dava conta de voar no garimpo, pois muitos anos
haviam se passado de ausência dos manches, tinha perdido toda a
sensibilidade de voar, e aí é o que diferencia um piloto de asfalto de
um piloto do mato, este último precisa desenvolver toda a sensibilidade
pessoal possível! Caso contrário, quebra no primeiro pouso e os
acidentes, na floresta, são bastante críticos: na maioria das ocasiões,
só nos resta as chaves do avião! E isto eu tinha consciência absoluta!
Diante disso, convidei meu amigo e futuro compadre, e digo futuro porque até hoje não batizei sua filhinha que deve
estar uma linda jovem, mas um dia vou procurar minha comadre e
perguntar se ainda desejam um padrinho desnaturado para batizar sua
filha, e aí pago a promessa para com meu finado amigo Odilon!
Para entrar comigo naquela parada, (e na mesma hora ele topou pois, como todo seu dinheiro vinha de garimpo, sabia
muito bem o que significava aquela proposta, aquela era a oportunidade
que tanto esperava também), só queria saber quem iria voar!
Odilon tinha um 210 se não me engano de
prefixo (nunca fui bom para memorizar prefixo) PT-LRY, novinho e um 182
de prefixo PT-DOC, com IAM recém feito, pintura nova, motor novo enfim
um brinco de avião estava preparado para voar no mato e em pista ruim,
tinha pneus grandes era laminar (trem de pouso), freios Birigui, acesso
para subir nas asas para facilitar o abastecimento!
Arrumado o avião, fui procurar um piloto, que encaixasse em nossas necessidades e acabei encontrando um com vasta experiência em garimpo e no momento estava voando agrícola!
É como eu digo, o OURO, este bendito metal
faz qualquer um largar tudo para trás e peitar, mesmo sem ter certeza de
nada, sem ninguém garantir nada, tudo é pura sorte, o que sei é que
todo mundo corre atrás dele, e assim foi com o piloto que contratamos
também, deixou esposa “buxuda” para trás e lá fomos no rumo do Para, com
destino para o km 140 da Transgarimpeira, uma perna da Cuiabá –
Santarém lugar onde o senhor Virlandes era o todo poderoso!
Ele era um homem muito bom, muito humano só que
não era conveniente deixá-lo irritado pois, lá, tudo era dele, o local,
a pista de pouso (antes pousavam na estrada), o abastecimento de avião,
carro, gêneros alimentícios, enfim até as prostitutas
eram dele também! A policia eu tenho certeza que era, enfim ele era o
“capo di tuti capo” (já apareceu em outra de minhas historias!), cabra, o
homem tinha bala na agulha.
Tornou-se o maior fornecedor de combustível da Amazônia em certos períodos, e quando lá estive, estava no topo.
Gostava de vê-lo no meio daquela “bugrada”
era difícil saber quem era quem, pelo tanto que ele se integrava no meio
de seu povo, e olhem que sua fortuna era invejável em qualquer lugar do
Brasil !
Fico muito bravo quando vejo uns pobretões,
só porque compram uma Toyota nova, ficam “empinando” o nariz! Fico a
pensar como o dinheiro muda as pessoas!
No percurso de Goiânia a Gurupi, fui tratando
de voltar a voar, sabe Deus o que iria encontrar pela frente? Cara,
como estava “manicaca”, não conseguia nem nivelar direito o avião, e aí é
que esta o segredo, irmãos o avião deve ser bem nivelado tanto
horizontalmente como verticalmente. Não pensem os
manicacas, que devem voar! O avião é que deve voar sozinho, por isso ele
tem que estar bem nivelado, alivie sua mão do manche e procure sentir o
avião!
Meu instrutor já dizia que manche é igual a
peito de moça, nunca se deve apertar, senão ela grita, e não vai mais
gostar de você! Avião é a mesma coisa, portanto segurem o manche com as
pontas dos dedos apenas, aí sim, sentirão a grande diferença em deixar o
avião voar! Feche os olhos e procure permanecer o maior tempo possível
com os olhos fechados, sentindo o vôo, corrigindo quando você sentir que
é necessário. Irmãos, que maravilha é voar, espero que DEUS tenha lhe
dado este dom, meu amigo!
Chegando a Gurupi, fomos direto encontrar com
Toninho do Ouro e o Leo, seu sócio no garimpo, e recebemos novas
orientações, que seriam, seguiríamos na frente e ficaria esperando por
eles no km140 juntamente com um caminhão de mercadorias e motores para
garimpo, e outro de garimpeiros que estariam vindo do Maranhão.
Partimos no outro dia rumo a Peixoto Azevedo
que, naquele tempo era uma cidadezinha mixuruca, nada de interessante vi
por lá, somente muita sujeira e descaso dos poderes municipais, este
sim é o grande problema das cidades da região norte, e enquanto não for
mudado nosso judiciário, para que ele possa exercer seu papel de
fiscalizador, de guardião, não adianta, continuará no mesmo lodo fétido,
só se vê prefeito se lambuzando sozinho do bolo municipal, ao invés de
repartir com a comunidade, é lamentável!
Seguimos pela Cuiabá-Santarém, passando pelo garimpo Castelo dos Sonhos, e lá visitei meu amigo Ranulfo, de Porto Nacional, encontrando-o do mesmo jeitinho alegre e cordial, so tinha envelhecido, aliás, como eu também! Fazia muito tempo que eu não o via e foi uma grande satisfação!
Fiquei surpreso ao ver seu filho se
preparando para tirar o breve, o que, infelizmente não aconteceu, pois
veio a falecer em acidente aéreo ainda muito jovem, o piloto com quem
ele estava no avião fez um tunôt à baixa altura, engrenou outro em
seguida, e não deu outra perdeu os controles e se esborracharam no chão,
imagino o baque que o Ranulfo levou! Deixo meus pêsames para este
grande bandeirante pois, sem dúvidas para todos nós que o conhecemos,
ele era umele é um piloto lendário!
Seguimos ainda pela Cuiabá – Santarém, queria
conhecer muito bem aquela região afinal, ali seria a minha nova morada,
pois esperávamos que aquele garimpo viesse a proporcionar muito
trabalho e muito ouro! Nosso sonho era encher as nossas “borocas” e,
para isto, iríamos dar de nós, muito suor e lagrimas!
Meu piloto já tinha me dado a mostra que era
bom mesmo, tranqüilo, voando por cima daquelas matas, transmitia a
segurança que valia a pena, nada para ele era novidade, quando o tempo
“embananava” e metia a cara no meio daquelas “pauleira”, virava para mim
e dizia:
“ – Sossegue Niltinho, que daqui há pouco a
coisa melhora! Para ele rumo era rumo tempo era tempo, e não desviava de
nada não, no começo aquilo me preocupava, afinal não tínhamos o
precioso GPS, era na “tora” mesmo!
De tardezinha pousamos no km 140, baita pista
irmãos, o “coronel” Virlandes tinha caprichado, afinal ele tinha um
Navajo com motor turbo hélice de fazer inveja a qualquer um, fazia linha
para Itaituba!
Já no pouso, meu amigo deixou aos meus
cuidados e não é que fiz um pouso melhor? Parecia que a sensibilidade
estava voltando, ainda bem que ela vai e volta, pois o destino iria me
pregar uma baita peça vocês vão ver.
Estava reservado para nós uma casa que para
os padrões de lá era uma maravilha, lá, arranchamos e ficamos esperando o
resto do povo chegar.
Meu piloto muito “velhaco” tratou logo de se
informar sobre o garimpo, seu nome era “garimpo da Serra Queimada”, pois
ficava dentro de uma serra de meter medo a qualquer um, como era a
pista, se o local era bom de ouro, enfim fez uma pesquisa detalhada, e
não é que a conclusão dele foi à pior possível?
“ – Niltinho, estou sentindo o “Blefo”, por aqui!
- O que é isto rapaz? Nem pense nisto, você
acha que Toninho do Ouro iria entrar numa fria destas? Você vai ver só
quando chegarmos lá! Fé companheiro, tenha fé é o que lhe peço! Imagine
se ele resolvesse ir embora, como eu ia ficar?” Naquela noite eu não
dormi direito, só pensando no que meu piloto havia dito e, pior, era que
eu já começava a ter fé em tudo o que me dizia.
Tendo as informações de localização do
garimpo, levantamos vôo para ir conhecê-lo. Que maravilha de floresta,
passamos pelo garimpo do Zé Arara, que coisa assombrosa, falar sobre
este garimpo só mesmo dedicando um capítulo inteiro, é o que vou fazer
mais tarde!
Em cima daquele tapete verde e após quarenta
minutos de vôo tranqüilo, chegamos ao garimpo mas, que susto, a pista
era dentro da serra mesmo, como haviam descrito, porém achava que tinham
exagerado um pouco, que ela não seria tão “cavernosa” assim, mas,
irmãos, era muito mais crítica do que haviam dito!
Só para vocês terem uma idéia havia um Azteca, quebrado ao lado da pista, arrastado por fortes ventos que o jogaram de encontro às árvores, deixando uma má impressão, daquelas de arrepiar o cabelo!
A pista começava na beira de um córrego e ia
serra acima, num ângulo de mais de 45 graus, facilitando a parada, porém
para arredondar a aeronave, não seria nada fácil, inclusive para um
piloto experiente, imaginem para um manicaca como eu! Nem morto eu ia
entrar ali, sem dúvida seria um acidente daqueles.
Senti aquele gosto amargo na boca e gelei.
Após duas voltas por sobre a pista para melhor conhecê-la, meu amigo
resolveu encará-la, tive vontade de fechar os olhos para não ver a
bagaceira, porém pensei com meus botões: “ – Olhe bem seu manicaca
porque na próxima poderá ser você!”
Olhei para meu piloto, tentando ver algum
sinal de preocupação, mas que nada, estava “tranquilão”, já no final da
perna base não vimos mais a pista, somente a cabeça do morro, e quando
ele girou para entrar na final, só vi a cabeça da serra, passamos por
ela, ai ele afundou a aeronave ladeira abaixo, parecendo que a barriga
do avião iria bater na copa das arvores!
A impressão que se tinha, era de uma pedra
rolando serra abaixo, o avião todo flapeado, (aí que está a vantagem do
skylane, não ganha velocidade mesmo, com aquele tremendo flap).
Quando me recuperei um pouco do susto, olhei
para baixo, no fundo do vale e lá avistei a cabeceira da pista e um
córrego que passava no meio do vale, e para minha surpresa lá estava
ela, toda miudinha, tortinha, curtinha, e nos lado umas arvores
pequenas, que somente um avião de asa alta conseguiria ultrapassar, sem falar no Asteca quebrado ao lado da pista, que me deu uma má impressão!
Quase na final, um sobrado que parecia mal
assombrado, de madeira, que garimpo nenhum nunca havia visto coisa igual
pois, geralmente ninguém investe nada em garimpo, sabendo que um dia
vai ser tudo abandonado mesmo! Quanto à este, parecia que o antigo dono
pretendia passar muitos anos por lá!
Quando o piloto se deu conta de arredondar o avião, foi um alivio pois a pista não tinha mais de 400 metros, sorte que era morro acima.
Ao pousar, fomos tomar posse da pista! Tudo estava abandonado, deixando a impressão que era um garimpo fantasma!
Andamos por todo lado, e constatamos que, sem
dúvida, o local era bonito, haviam derrubado uns quatro alqueires e
plantado um pastinho, acreditem tinha um burro velho, levado num skylane!
Contam que a dose de anestésico tinha sido
pouca,e ele acordou em vôo, e quase foi sacrificado, só não morrendo,
porque sua cabeça era muito dura, e resistiu às porradas, porém, ficou
meio doidão e sempre que eu pousava por ali, vinha se coçar nas asas do DOC, acho que ele não gostava muito de avião, não!
Havia mandioca plantada, e um resto de
porcos, sobras das onças, que vinham pegá-los no terreiro da casa!
Tinham que dormir presos nas baias pois, caso contrário,”babau” pois
tinha muita onça no local!
Visitando o local onde garimpavam,
constatamos que restava um monte de buracos, cheios dágua, o que me fez
pensar, na mesma hora, na malária! Dormir ali seria um perigo!
O que mais preocupava meu piloto,era: porque
haviam abandonado tudo aquilo, se o garimpo tinha uma estrutura de fazer
inveja! Se tinha ouro, porque o antigo dono não estava ali? Quem que
abandona um osso cheio de carne?
Comecei a ficar preocupado também pois, já
não conseguia convencê-lo a ficar e acreditar que iríamos ser bem
sucedidos mas, o golpe final foi quando ele descobriu numas caixas, uns
restos da contabilidade do movimento do garimpo, e como o antigo dono
era muito organizado, tinha a produção dos barrancos, e em todas as
fixas que vimos, não tinha uma em que a produção houvesse pago o custo!
Aí ele não aguentou mais e disse:
“ – Niltinho, vou embora mesmo, este garimpo é
“blefado” aqui não tem ouro coisa nenhuma, se você quiser pode ficar
mas eu estou “cascando” fora! Vou “vazar” daqui logo que chegar ao KM
140, me desculpe amigo, mas você entrou numa “fria”! Levantou-se da
cadeira e foi beber água, deixando-me ali, pensando, cabeça baixa,
injuriado!
O que fazer? Não dava conta de voar ainda, arrumar outro piloto? Onde? Irmão, tive vontade de chorar!
Pensei, Niltinho você está lascado, nem Jesus Cristo o tira desta enrascada! Naquela noite não dormi nada, só pensando na fria!
Levantamos cedo para voltar e quando estávamos embarcando no avião, falei para o piloto:
“ – Já que vai me abandonar mesmo, peço pelo menos que você
me de um treinamento nesta pista, pois não me resta alternativa! Vou
ter que encarar mesmo, não vejo outra saída! Se eu morrer você não tem
responsabilidade nenhuma, o risco é meu!
Como para ele também ficou bom, afinal
deixar-me ali naquelas condições não era o que ele queria pois não era
um irresponsável, apenas não queria correr o risco de trabalhar para
mais tarde não receber!
Com muita experiência em garimpo, sabia que
garimpeiro só paga suas contas se fizer ouro e como ali ele via que não
tinha, só lhe restava ir embora! Enfim não lhe tirei a razão! Meu caso
era outro, eu havia comprado um avião agrícola deles, junto com meu
compadre, e deveria pagar com tantas horas de voo, e tinha que pagar em
voos, não interessava se tinha ouro ou não, entenderam?
“- Está bem Niltinho, sente na esquerda e
decole, mas antes tenho que alertá-lo que, lá no final da pista, por ser
um vale, poderá ter forte vento, que não sei ainda o seu sentido,
talvez este Asteca quebrou por isto, o vento pode tê-lo jogado fora da
pista, penso eu, e como não dá para passar por cima do morro, teremos
que sair por dentro do vale pela esquerda que é melhor!
E vamos por ele, tratando de ganhar altura para poder cruzar aquela montanha logo ali, e mostrou-me onde iríamos sair! Acredite, deu-me frio na espinha e os cabelos arrepiaram, como sempre acontece quando estou numa fria!
Irmãos, “arroxei as periquitas” e deixei o
DOC ganhar velocidade, por ser a pista cheia de lombada,ele corcoveava
mais que um burro xucro, e meu amigo gritava na minha orelha:
“ – Segura o bruto no chão, que ainda não está na hora!”
Quando estava quase chegando às oitenta
milhas passei numa lombada, e não deu mais para segurar, meu amigo vendo
meu desespero, resolveu dar uma ajuda, e arrastou o manche todo para
trás para sairmos do chão!
E logo em seguida empurrou para frente e
manteve assim, ganhando velocidade para subir e logo após, iniciarmos a
curva para entrar no vale, aí então, ele devolveu-me o manche e acabei
voando até o KM140! Parece que ele estava resolvido a dar-me uma
mãozinha mesmo!
O clima entre eu e o meu piloto estava
constrangedor, ele queria ir embora e eu queria que ele ficasse, afinal
eu estava ficando no mato sem cachorro, via meu negocio com o Toninho ir
para o brejo, e acabei chamando meu amigo a um “tête a tête”, e
chegamos a um acordo: ele ficaria mais uns dias e continuaríamos os
treinamentos, e eu depois que me danasse sozinho, afinal meu amigo
também foi um manicaca um dia.
Irmãos imaginem vocês, eu ter que recuperar a
habilidade, ali no meio daquelas pistas cavernosa, até para meu amigo
era difícil pois o avião no garimpo só leva um banco,que é do piloto, o
instrutor vai em cima da mercadoria, pouca coisa ele poderia fazer, caso
ocorresse uma falha!
Não esqueço do dia em fui fazer meu primeiro
vôo na esquerda e ele em cima dos tambores de óleo diesel, que sufoco
cara, ele vendo a minha dificuldade em manter o eixo da pista, gritava:
“ – Põe a pista no meio da suas pernas, se não vamos quebrar a cara lá embaixo, gritava!
- Cara, use os pedais, os pedais! Mais grito
na minha orelha, e lá ia eu, ladeira abaixo, de qualquer jeito, brigando
com o avião até botar no chão!
Felizmente, consegui me livrar das pequenas
árvores nas beiradas da pista, para não dizer que quase engoli a pista,
parei bem no finalzinho, irmão, foi um sufoco!
Eu e meu amigo quase sujamos as calças! Ele
desceu mais branco que garça e foi logo me dizendo, esta é a ultima vez
que venho com você, na próxima tu vem sozinho, você já esta solo para
meu gosto!
“ – Mas moço,respondi,que ultima? Se esta é a primeira!
- Não quero saber, se vire de seu jeito, que eu estou fora!”
Convenci-me naquele momento que, dali por diante, só poderia contar com Deus e com a minha sorte!
Descarregamos a carga, e nesta viagem, minha
decolagem já foi melhor! Recebi até um elogio do meu amigo, só que não
sei se aquilo foi apenas para tirar a responsabilidade dele, para que eu
o liberasse logo daquele sufoco.
Imaginem que eu era o piloto mais velho entre
todos no 140, os moços eram verdadeiras feras, voavam o dia todo e à
noite se reuniam para fumar algo, que me parecia ilegal,e isto, quando
tinham dinheiro, porque quando estavam no blefo, usavam algo mais
barato, ficando com os olhos vermelhos, parecia que iam sair da órbita, e
diziam:
“ – Como é velhinho, não vai querer, não?
Pegue aí um cigarro, vai ver que amanhã, você vai voar como um
passarinho!” Imaginem eu, que nunca ,fui muito amigo de cigarro entrar
numa dessa!
- Não, irmão, já passei da idade, não tenho
estrutura para isto não!” E saía, para deixá-los à vontade e acreditem,
rolava a noite toda aquele fuminho, e logo de manhã estavam na pista
prontos para voar, não conseguia entender como conseguiam tanta energia!
Eu? Estaria morto,sem duvida nenhuma!
E foi no meio dessa turma que meu piloto
encontrou um meio para me abandonar. Conheceu um piloto que não era
piloto, tinha o breve sem duvida, mas ninguém dava avião para ele, era
perdido na droga, como se diz por aqui, “comia com farinha”!
Era jovem, alto e se dizia com muita
experiência em voar afinal, era o jeito que meu amigo encontrou para
deixar um substituto e eu não tive outra escolha, aceitei-o para ficar
no lugar do meu piloto, porém não imaginava o quanto aquilo ia me causar
aborrecimento mais tarde.
O diabo, era que ele não estava muito melhor
que eu, isto eu senti logo quando ele subiu no avião, era inseguro, na
verdade não tinha o avião na mão, e isto meu amigo, nas pista de garimpo
é acidente, na certa!
Senti que havia necessidade urgente de me
preparar, para ficar livre de piloto, só que, por enquanto, teria que
administrar aquela situação, não tinha outro jeito!
E lá fui, um dia eu voava, outro dia era ele e assim fui melhorando a minha performance, graças a Deus!
O que senti de mais difícil é conviver com
quem se droga, a cabeça do cara não funciona direito, o dia em que se
droga ele esta numa Nice, o dia que não se droga é um “ranço”.
Chegam a perder a noção da realidade, como
aconteceu certa ocasião, que ele decolou do garimpo do Patrocínio do
famoso Zé Arara e eu sentado no assoalho do avião conversando com um
garimpeiro, não prestei atenção no rumo que ele pegou para voltarmos
para o km 140!
Eram apenas seis minutos de vôo, mas, quando
vi estávamos voando no sentido contrário e ele petrificado no manche,
olhar no horizonte, não via nada! Sua mente provavelmente estava em
outro espaço que não dava a ele a consciência do que estava acontecendo
naquele momento e estávamos prestes a nos perder, a reserva de gasolina
era muito pequena!
Levei um susto quando olhei para fora e não
vi as referencias tão conhecidas! Dei um berro para ele acordar e tratei
de orientá-lo, para que voltasse ao rumo certo!
Essa foi uma triste realidade, do quanto não
combina droga com pilotagem, fiquei triste pois ali estava um jovem
piloto, todo inutilizado, o que seria dele? Quem iria entregar um avião
para uma pessoa naquelas condições? È uma pena!
Fui tratando de ir afastando-o até que o
despedi! Aí sim vi o outro lado da pessoa que perde a responsabilidade
de prover recursos para manter seu vicio! Um dia peguei-o roubando
material de garimpo para manter seu vicio! Não quero nem lembrar o
sufoco que passei para me desvencilhar do cara e recuperar o que havia
roubado!
E a vida continuou, logo chegou o caminhão
trazendo os garimpeiros, e outro com mercadorias e material de
garimpagem, que fui logo tratando de levar para o garimpo! Voava todo
dia e aí fui recuperando minha velha forma, porém com muito mais
habilidade, e foi aí que comecei a aprender de fato a voar! A pista da
Fazenda Serra Queimada não me metia mais medo, acreditem, fiquei manso
com ela, e nas outras também. Enfim tinha superado aquela fase MANICACA,
e voltei a ser um piloto dos bons, senão estaria morto!
Não pense que a vida no KM140 era triste,
pois não era, existia perto dali o Creporizinho, garimpo de pequeno
porte que estava se transformando numa cidade. Infelizmente a única
fonte de renda provinha dos garimpos, atividade pecuária estava se
iniciando, e como a extração de ouro era muito mais lucrativa, ninguém
queria ser peão! Era tremendo sufoco encontrar alguém para trabalhar nas
fazendas!
No comércio encontrava-se quase tudo, e o que
mais funcionava eficientemente era os cabarés, imaginem vocês que
passavam por lá toda a sorte de artistas, da Gretchem à duplas
sertanejas!
Tudo isto para alegrar a moçada e por causa
do ouro, cada um queria tirar uma lasquinha e até mesmo os artistas,
afinal, ouro existia aos montes, para alegrar a todos!
A mulherada, era de primeira qualidade,
geralmente vindas de Goiânia, que por ali reinavam, sem duvidas, por
serem as mais bonitas e interessantes, gerando mais lucros para as
cafetinas!
No garimpo do Zé Arara, o “Patrocínio” era
algo extraordinário, este sim merece uma atenção especial! Um garimpeiro
que se tornou famoso pelo acúmulo do ouro que conseguiu, e
que, na época em que a Caixa Econômica Federal, resolveu melhor
controlar a saída de ouro dos garimpos, tornou-se seu parceiro e montou
uma rede de compra de ouro, que se estendeu do Pará a Goiás!
Em Goiânia ele tinha um baita escritório,
para que aquele ouro que não era vendido no Para, pudesse ser negociado
em Goiânia e assim sendo, a caixa deve ter acumulado uma reserva
extraordinária de ouro, só não sei o que fizeram com a uma montanha de
ouro que lá existia!
Para vocês terem uma idéia do que era o
garimpo do Patrocínio, vou dizer o que eu vi , e olhe que já estava em
decadência, pois a grande áurea fase do ouro, já tinha se
passado, vejam certos números: Só de moto, havia mais de quinhentas, a
maioria sem documentos, imaginem vocês da onde vinham?
Lógico que era do mercado negro, tratores, patrolas, pá carregadeiras eram de montão, muitas máquinas (quase 2.000)!
Tudo era levado de avião, não existia estrada
que ligasse à Transgarimpeira, em razão da distância, era somente para
ele fazer sua frota da avião voar. A frota de aviões deixava-me
surpreso! Só Bandeirantes ele tinha três, monomotores mais de dez, sem
falar no jatinho particular que, se não me engano um lear-jet!
Também era dono de um supermercado de fazer
inveja ao meu amigo Gilmarzinho, cujo supermercado, em Ourilândia, era
de tamanho bastante inferior!
A boate era algo de especial,ali iam cantar
os mais famosos artistas, preferencialmente os bregas, reunindo, num dia
de show mais de mil pessoas!
Este prédio, foi construído por Zé Arara nos
moldes dos “saloons” americanos, com a porta de entrada de duas bandas,
dando a impressão, quando se entrava por ela, de se estar no velho oeste
americano! Era mesmo “chic no úrtimo!” como se dizia na época!
O clima era o mesmo, bala por todo os lados,
rolava, droga, uísque “Nelson Ned” era o que mais se consumia! O
ambiente era decorado com aqueles banquinhos e os garçons vestidos a
rigor! Amigos, era uma graça, sem falar que no segundo andar existiam
alguns quartos, para os casos de maior intimidade!
Lá você encontrava a “goiana”, sempre preparada para fazer uma “escopa” no seu ouro! Você só saía com as calças pois, o resto deixava por lá nos cofres do senhor Zé Arara!
Era nesta boate que ele tomava a maioria do ouro que era retirado de suas terras
pelos garimpeiros, na manha irmãos, na manha, e com prazer pelo meio!
Ali era o lugar onde “o filho chora e a mãe não escuta”. O “neguinho”
saia de lá urrando, porém feliz, pronto a retornar para sua cava e
retornar com mais ouro! Era incrível você ver a vida da peãozada ser
sugada daquela maneira. Também era lá o local onde eu também vendia
ouro, quando precisa. Nunca faltava dinheiro para isto!
Tem uma passagem, que ocorreu no garimpo, muito engraçada, e devo contá-la a vocês antes que eu esqueça.
No local, sempre pousava de baixo para cima,
que é o correto, porém um dia, tinha uma nuvem de chuva atrapalhando e
resolvi pousar no sentido contrário, mudando de cabeceira e logo que vim
para o pouso, sabia que teria que tocar logo na cabeceira, pois da
metade da pista para frente, a inclinação para baixo era violenta!
Caso não tocasse a pista logo na cabeceira,
corria o risco de parar num córrego que ali existia, porém, tinha umas
embaúbas, que haviam crescido muito, atrapalhando-me bastante!
Resolvi então, derrubá-las, logo após o
pouso, pois, imaginem vocês, ter uma só cabeceira? E se um dia eu
tivesse que usá-la mesmo?
Pousei, tomei um banho, botei meu calção
samba-canção, peguei minhas havaianas e um facão e pensei: agora acabo
com aquelas embaúbas! E fui derrubando as que estavam mais perto da
cabeceira da pista, porém vi uma, por sinal a mais alta, localizada mais
para dentro da mata, e resolvi ir até lá derrubá-la.
Estava tranqüilo com pensamento no ouro que
iria levar dali, quando escuto o turrar de uma onça, a não menos de uns
cem metros de distancia! Cabra, novamente o cabelo arrepiou
e eu tratei de correr, imagine sair no jornal “piloto Niltinho foi
comido por uma onça no garimpo da Serra Queimada”, o que isto meu amigo!
Tratei de dar no pé, correndo feito louco, abandonei
meu facão para traz, e fui rasgando no peito aquela mata, a danada da
havaiana saiu do pé logo na saída, e lá fui eu se rasgando todo, rumo ao
barraco, e vocês pensaram que olhei para trás? Que nada, amigos se
tivesse asas com a velocidade que estava, teria decolado, sem dúvida
nenhuma!
Só fui parar na frente do barraco onde estavam sentados alguns garimpeiro e eles vendo aquela cena foram logo me perguntando:
“ – Do que esta correndo ,comandante?” Então olhei para trás e como não vi nenhuma onça, respondi meio desapontado.
- Da onça, amigo! Da onça!
- Mais que onça? Não vejo nenhuma,
comandante! Será que você não esta correndo apenas do urro da onça?”
Olhei para trás e com uma ponta de vergonha, respondi:
“ -É, de fato, foi mesmo.
-Vou dizer uma coisa piloto, nós aqui costumamos correr da onça, mas do urro dela, não!
- Tem razão! Da próxima vez, tentarei correr só da onça.”
Tratei de ir tomar meu banho e fazer os curativos, meu corpo estava todo rasgado dos espinhos que havia topado na carreira.
E assim nunca mais cortei embaúbas, para mim
continuava a existir apenas uma cabeceira naquela pista e hoje costumo
brincar quando vejo alguém desistindo de alguma coisa, sem antes ver, de
fato, se aquilo que você estava pensando era o que você imaginava!
“ – Não corra do urro da onça, cabra! Corra da onça!”
No garimpo do patrocínio, em época de eleições, ia uma urna eleitoral, nunca me esqueço, pois foi ali que justifiquei meu voto, em função da quantidade de eleitores que havia!
Existia também um destacamento da Polícia Militar, para garantir a “lei no garimpo”! Teve até o caso em que vieram pedir-me para fazer um lançamento! Mas que diabo de lançamento era aquele, se eles não mexiam com ouro, quis saber:
“ – Comandante tem um cabra que não vale
nada, já estamos cansados de prendê-lo e enviar para fora do garimpo,
porém ele volta, dana-se a roubar e fumar maconha, e não nos deixa em
paz nem por um momento sequer!
Só queremos coloca-lá dentro do avião e
jogá-lo no meio da floresta, deixando que morra por lá! Você só tem que
fazer para nós, o vôo com a porta aberta o resto é por nossa conta!”
Moço, levei um susto, imaginem eu, que vivi o
meu tempo escolar em colégio de padre, fazer uma coisa dessas? Jamais,
disse eu aos policiais, afinal aquele infeliz deveria mesmo, é ser
encaminhado à justiça, para cumprimento das penalidades legais!
Foi difícil sair daquela, pois um pedido desta gente e naquele lugar, era mesmo de difícil negar, e não consegui sair
fácil dessa enroscada: tive que prometer-lhes que continuaria devendo
um favor e não é que não passando algum tempo, o cabo se aproximou e
disse:
“ – Comandante, minha mulher pegou a “Galega”
(uma quenga da boate) e bateu muito nela, quase a matando, se não fosse
as outras meninas terem socorrido, a coitada tinha morrido! Se ela
continuar por aqui, vai morrer, pois minha mulher já prometeu mandá-la
para o espaço, breve!
- Leve-a ao KM140 e a amoite por lá, até que
minha vá embora daqui! E olha aí que você nos deve um voozinho, se
lembra comandante?
- Sem duvida, sem duvida, cabo, isto é galho fraco! Pode trazê-la que já estou decolando!”
Minutos depois ele volta com a menina, talvez
não tivesse mais de vinte anos, maranhense linda de morrer, e aí é que
fui sentir a preocupação do “milico”: a rapariga era bonita demais, “sô”
e ele queria ficar com as duas, já que não era nada besta.
Na hora da decolagem ele chegou pertinho da minha orelha e disse:
“ – Arranco-lhe esta linda orelhinha, se você bolinar minha “princesa”, ouviu bem, comandante?
- Fique frio, ó meu, que não toco em um fio do cabelo dela, prometo.”
Moço, que promessa dura de cumprir foi
aquela! Passados duas semanas, trouxe-a de volta são e salva, entregando
nas mãos de seu “dono”!
Tudo ia bem, no garimpo, eu voando muito,
pagando minha dívida junto com Toninho do ouro! Não estava nem aí se o
garimpo produzia ou não, meu negocio era voar, e “deitei o cabelo” a
voar! Voava para todos os lados e como ajudou!
O dinheiro que entrava, acabei aplicando
naquele garimpo blefado, mas o Leo já estava desesperado, o outro grande
garimpeiro, Toninho do Ouro, tinha sentido dores na barriga e se mandou
para Gurupi!
O Leo era “brabo” no negocio de ouro e o desespero dele aumentou, imaginem todo aquele tempo gasto na procura do ouro maldito e nada, só blefo e mais blefo! A coisa fedeu, irmãos!
Certo dia fui buscá-lo no garimpo, sentamos
na mesa de um boteco no 140 e começamos a beber. Ele triste, bastante
preocupado, o dinheiro acabando e nada de ouro, o Toninho não vinha! Aí
perguntei:
“ – Leo, tem certeza que este garimpo tem ouro?” Ele franziu a testa e, respirando fundo respondeu:
“ – Posso não entender de garimpar o ouro, mas besta eu não sou, viu Niltinho?
- Não está mais aqui quem perguntou, seo Leo!” E mudei de assunto.
Não passou uma semana e ele retornou a Gurupi, deixando um parente no garimpo, com a minha assistência!
Imaginem vocês, uns cinqüenta homens comendo
todo dia, não deu outra, logo a comida acabou, o cerco foi fechando, e
aí comecei a me preocupar.
Ligava para Gurupi atrás do Léo e do Toninho,
mas sentia que não estavam nem aí para o assunto! Um dia peguei Toninho
no telefone e falei o que poderia acontecer conosco, diante daquela
situação e ele simplesmente me disse:
“ – Abandone tudo isto aí e venham embora! Está na hora de fechar o garimpo!”
Era justamente o que tinha que ser feito!
Ficou constatado que não tinha mesmo ouro e eu queria ouvir isto mesmo,
porém, aquilo não era meu, eu era simplesmente um piloto, e queria um
deles ali, comigo, tinha muito pepino para descascar e eu tinha medo de
ser morto!
Já havia enfrentado muito garimpeiro raivoso,
imaginem vocês, tirar uma pessoa de casa em outro estado e mandá-lo de
volta com uma mão atrás e outra na frente? Não é nada fácil, ali tinha
toda espécie de gente e eu poderia me dar mal, como quase ocorreu!
Só escapei porque tive muita calma, fui
vendendo as coisas que havia sobrado e os vôos que vazia me ajudaram
muito e fui mandando o pessoal embora lentamente, às vezes só com o
dinheiro da passagem!
Nunca me esqueço do dia em que fui dar a
notícia da retirada do garimpo, e um “gauchão”, parente do Leo, e
inconformado, respondeu:
“ – Só saio daqui morto tche! Vim aqui fazer
ouro e vou fazer, portanto você não vai me abandonar aqui “solito” não! O
avião vai ficar também!”
Olhei bem na cara do Gaucho e emendei:
-Se você quiser ficar, fique, afinal alguém
tem que ficar aqui mesmo, só que eu vou embora para Gurupi, e você vai
ficar junto com as onças e escute bem, vou te dar três dias para você
pensar, daqui três dias volto para pegar o resto do pessoal! Virei as
costas subi no avião dei partida, ele me olhando pensativo, julguei que
iria partir para cima de mim e me dar um cacete! Infelizmente a ficha
dele ainda não havia caído para a hora de abandonar o barco!
Naquela noite ele não dormiu, no outro dia
ele passou-me um rádio para ir buscá-lo, estava manso, e tive a
oportunidade de explicar melhor o motivo de estar desativando tudo
aquilo que ele também tinha colaborado com tanta esperança!
Haviam colocado muita ilusão em sua cabeça,
como dizem, o ouro é uma febre e ele tinha sido contaminado, a febre
estava bem profunda em sua consciência, foi muito difícil cair na
realidade que aquilo foi apenas um sonho!
Após ter despachado todos aqueles
garimpeiros, ficaram apenas dois, para voltar comigo de avião, e dois
que eu havia abandonado no garimpo! Fico imaginando o que eles devem ter
passado, pois nunca mais voltamos para tirá-los! Certamente devem ter
sido devorados por onças!
Ainda coloquei, dentro do avião, um motor estacionário, uma moto-serra e mais alguns bagulhos que não me lembro e
acreditem, na última hora, o milico me pediu para tirar a “polaca” de
vez, que a levasse comigo para, ou ficar com ela ou devolvê-la para sua
família! E foi o que fiz, levei-a a Gurupi e coloquei-a num ônibus da
Transbrasiliana, mandando-a de volta para sua família no Maranhão! Acho
que fiz uma boa ação!
O voo de volta foi um sufoco, tempo ruim,
avião pesado, dinheiro não tinha mais, estava abandonado, e até Toninho e
Leo não atendiam mais minhas ligações telefônicas!
A gasolina do avião, só dava para vir até a
metade do percurso, e foi o que fiz: fui até uma cidade de Mato Grosso,
arrumei um hotel e fiquei esperando o Toninho mandar-me dinheiro para abastecer e pagar o hotel!
Como ele não mandou, tive que deixar meu revolver penhorado no posto de gasolina, se quisesse sair de lá!
O avião pesado e cheio de pane, (fazia tempo
que não via manutenção) deixava-me preocupado mas, felizmente, à
tardinha pousei em Gurupi, cansado do vôo e do sufoco que havia passado,
cansado do blefo, enfim, cansado de tudo e jurando que nunca mais
entraria noutra!
Com isto, eu e meu compadre Odilon acabamos de pagar o avião agrícola que havíamos comprado do Leo e que estava
em Belo Horizonte,
só faltando agora, ir buscá-lo, só que esta é outra historia e, através
dela, chegamos mais perto do PT-CZC, objeto de nossa próxima historia!
Vou contar que comprei o avião, com parte do
dinheiro que ganhei voando no garimpo de Serra Queimada que, na
realidade, foi o garimpo mais blefado que eu já vi em toda a minha vida
pois, se precisasse de um pouco de ouro para fazer um chá e salvar a
vida de uma pessoa, ela acabaria morrendo!
Mas, como sempre tem quem perde e quem ganha, felizmente, neste caso fui um dos ganhadores!
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