Junior mining Companies
Num período de mais de 13 anos trabalhei em 05
diferentes juniors. Capitais
canadenses e australianos buscando viabilizar projetos de ouro e ferro.
Vivi esta realidade, senti toda inquietação gerada pelas oscilações de
mercado, pelas dificuldades técnicas inerentes e pelo hostil ambiente de
negócios brasileiro; mas também vibrei com cada etapa vencida. Creio que
posso dizer que tenho alguma experiência com “junior mining companies”.
O conceito de empresa junior não tem nada de
nocivo, pelo contrário, elas oferecem um contraponto ao monopólio das
grandes empresas, viabilizam a operação de reservas de menor porte e
geram empregos e desenvolvimento.
A maneira como estas empresas desenvolvem suas
atividades é similar. Num momento propício, pessoas com espirito
empreendedor, poder de convencimento e um network adequado levantam uma
soma inicial que permite a exploração de alvos minerais promissores. A
exploração define um recurso que será transformado em reserva para a
qual serão realizados distintos estudos de viabilidade mirando um
projeto consistente que atraia investidores que financiarão sua
construção.
De todas as etapas, atrair investidores e
convence-los a investir sempre foi a mais difícil. O momento mais tenso
na vida da empresa, um período de ansiedade que normalmente era
recompensado com o sinal verde para implantação com consequente
valorização imediata da empresa na bolsa. Todos ganhavam.
Assim era ao menos, pois captar recursos hoje ficou
tão complexo a ponto de inviabilizar empreendimentos.
O valor das empresas de mineração listadas na Bolsa
de Valores de Toronto caiu 57% durante o período de 2010 a 2013,
passando de pouco mais de C$ 500 bilhões para C$ 240 bilhões. A forte
desvalorização seria reflexo da dificuldade do setor em levantar
recursos para novos projetos de mineração.
Recentemente, Mark Brennan presidente da Canadense
Largo Resources, declarou ao jornal Valor Econômico que: "Se o projeto é
excelente, há alguma chance de obter recursos. Se é bom, é muito
difícil. Mas se é médio, pode esquecer".
Se antes a percepção do mercado era de que investir
em Juniors era arriscado mas poderia ser altamente rentável hoje este
quadro alterou-se profundamente. Uma serie de fatos e fatores negativos
internos e externos aprofundou a aversão ao risco. O comportamento
inadequado de algumas juniors com gestões duvidosas contribuiu e o
aumento dos custos operacionais e a tendência de queda do preço das
commodities consolidou a desconfiança do investidor.
No modelo vigente as empresas Junior de um modo
geral antes de tudo investem muito em exploração. O objetivo, acredito,
seria apresentar ao mercado depósitos de classe mundial com volumes
expressivos de minério. Enfatiza-se o porte do empreendimento mais que a
qualidade do minério. É uma estratégia e não há nada de errado nisto,
grandes projetos serão sempre bem-vindos mas já temos aqui um custo
exploratório que poderia ser menor e não podemos esquecer que implantar
projetos de grande porte demanda altos investimentos.
Com a reserva definida o foco se concentra nos
relatórios de viabilidade onde os potenciais investidores irão avaliar
índices como NPV, IRR e pay back. Se antes isto era suficiente agora as
avaliações são muito mais detalhadas.
Sabe-se que índices são apenas o resultado
matemáticos de formulas que por sua vez consideram outras premissas que
também podem ser questionadas. Estas dependem da qualidade e do numero
de testes realizados que dependem da representatividade das amostras em
numero, volume e qualidade e que dependem de procedimentos, da equipe
que realizou os testes e assim sucessivamente numa cadeia complexa. Há
um universo a ser questionado e confirmado.
E mesmo que uma devassa nos relatórios conclua com
segurança que, por exemplo, as estimativas de CAPEX e OPEX e a
determinação dos teores foram realizadas de forma responsável e
criteriosa e que os números refletem uma real possibilidade de êxito de
um empreendimento, mesmo assim, a comprovação dos resultados esta
sujeita a aspectos práticos. Vai depender de outros aspectos como a
imprecisão no design e orçamento, dos riscos de engenharia e
principalmente da capacidade das equipes responsáveis pela implantação e
operação. O fator humano e a gestão destes recursos sempre fazem grande
diferença.
Assim é natural que potenciais investidores estejam
bem mais cautelosos e neste cenário parece-me legitimo afirmar que para
sobreviver as “junior companies” terão que reinventar-se.
Conseguir financiamento para um grande projeto, com
tantas variáveis envolvidas e ainda sem confirmação prática,
definitivamente não é uma tarefa fácil. E assim, no mínimo não será um
dinheiro barato.
Para mitigar a influencia destas variáveis e
aumentar a confiabilidade do empreendimento o modelo que defendo seria a
implantação de um projeto em etapas. Certamente não é a maneira mais
econômica mas estrategicamente apresenta vantagens.
Considerando que para captar recursos quanto menor
for o capital necessário mais fácil obtê-lo, o foco inicial seria
reduzir CAPEX.
Uma das maneiras
de fazê-lo seria construir uma planta de processamento de menor porte.
Uma planta de um porte tal que seus resultados econômicos permitam a
sobrevivência da empresa de forma autossustentável por exemplo. Uma
planta modular que permitiria sua expansão e/ou facilitaria sua
reutilização em outro projeto.
Equipamentos de mina terceirizados, energia
fornecida por geradores alugados, barragem de menor porte tudo isto
levaria a um CAPEX mínimo. Mesmo a exploração poderia ser inicialmente
direcionada no sentido de definir um recurso de melhor qualidade
reduzindo seus custos nesta etapa. A necessidade de aportes menores
inclusive poderia incentivar investidores locais desenvolvendo uma
cultura junior mas com capitais Nacionais.
Construir e operar um empreendimento mesmo que de
menor porte, seria uma forma de comprovar a competência da empresa e
lastrear informações fornecidas ao mercado. Permitiria lavrar minérios
de melhor teor acelerando o payback, estreitaria laços com a comunidade
e órgãos ambientais além de gerar inúmeras informações importantes.
Custos de implantação e operacionais, efetividade do processo de
beneficiamento, capacidade de gestão e habilidade na comercialização dos
produtos por exemplo. Evidentemente o OPEX seria maior e por isso mesmo
esta etapa deveria ser breve.
Após dois ou três anos de operação todos estes
parâmetros estariam comprovados. A exploração teria ampliado os recursos
e as reservas seriam determinadas com maior precisão. Passaríamos para a
segunda etapa. Apresentar um Bankable Feasibility Study para construção
de um empreendimento agora ajustado ao porte da reserva total.
Esta etapa, a construção do empreendimento
definitivo demandaria o recurso mais substancial mas com engenharia e
custos comprovados e a experiência acumulada o risco para o investidor
seria drasticamente reduzido tornando o investimento muito mais seguro.
Com riscos reduzidos o empreendedor teria mais chances de conseguir o
financiamento e a um custo menor.
Não tenho a pretensão de apresentar aqui um produto
acabado tampouco uma alternativa mágica. É apenas um conceito a ser
pensado e desenvolvido. Certamente os riscos envolvidos devem ser mais
bem avaliados e os custos e possíveis resultados discutidos de forma
mais ampla. Por outro lado simpatizo muito com o modelo de negocio
“Junior Companies” e não gostaria de vê-lo minguar.
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