terça-feira, 2 de junho de 2015

Amazônia Doc.3 traz um olhar sobre a floresta

Amazônia Doc.3 traz um olhar sobre a floresta

Após voltar o olhar do mundo para as probelmáticas da região, o cineasta faleceu em Londres.
Foram 50 anos dedicados à maior floresta tropical úmida do mundo. Mérito que deu ao jornalista Adrian Cowell o merecido título de maior documentarista da Amazônia. Traduzidos em imagens, estão lá a trajetória do líder seringueiro Chico Mendes, o drama vivenciado pelos garimpeiros da Serra de Carajás, o avanço brutal da sociedade sobre os territórios indígenas.

Após voltar o olhar do mundo para as problemáticas da região, o cineasta chinês faleceu em Londres no último dia 10 de outubro, enquanto dormia. A informação anunciada dias antes do início da terceira edição do Festival Pan-Amazônico de Cinema – Amazônia Doc. 3, que, no seu ano de estreia exibiu pela primeira vez em Belém os filmes do cineasta, causou pesar, mas também estimulou uma mostra especial em homenagem à sua vida e obra.

Para a diretora geral do Amazônia Doc., Zienhe Castro, o tributo a Cowell é uma forma de homenagear um cineasta que, durante longos anos de sua existência, se empenhou em evidenciar a importância de embrenhar-se floresta adentro, num mergulho profundo na essência humana, na realidade quase ficcional do homem simples amazônida.

“Adrian Cowell era um desbravador, um bandeirante, um realizador na plenitude da palavra, um documentarista raro na história da cinematografia mundial e, sobretudo, na cinematografia amazônida”, acredita. “Adrian Cowell foi um grande porta voz dos povos da floresta, um defensor e propagador das causas ‘amazônidas’”.

A contribuição do cineasta para a produção audiovisual na Amazônia foi dividida com os participantes do Amazônia Doc em 2009. Além de presenciar a experiência do cineasta através da exibição de seus filmes, o público, que lotou as sessões, pôde ouvir do próprio Cowell sua reflexão sobre a floresta na mostra “Amazônia – O Olhar de Adrian Cowell”, que contou com a ilustre presença do cineasta.

Até então, a sensibilidade da obra do chinês radicado em Londres sobre os desafios enfrentados na região só haviam sido apresentados no Brasil em duas ocasiões, em circuitos culturais organizados pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. A maioria de suas produções eram direcionadas a emissoras de televisão internacionais.

Cowell percorreu países como Inglaterra e Austrália, mas foram os estados da região amazônica que obtiveram o maior foco de suas produções. Sua primeira vinda ao Brasil foi resultado de um projeto da Oxford e Cambridge Expedition que previa a produção de quatro programas de 26 minutos para a série “Adventure” da emissora de televisão BBC. Quando a expedição seguiu viagem para o resto da América do Sul, Cowell ficou no Xingu.

A experiência rendeu a convivência com os irmãos Villas Bôas em expedições pelo interior de Mato Grosso. Por sete meses, o cineasta viu de perto o cotidiano dos índios, temática tão presente em sua obra. Como resultado, “A tribo que se esconde do homem”, realizado na década de 60, mostrava a saga de índios de diferentes etnias que, aliados aos irmãos Villas Boas, tentavam fazer contato com os índios conhecidos como Kreen–Akrore, isolados no Paraná. Contextualizado no período de construção de uma estrada, a luta dos índios para ‘salvar’ os Kreen–Akrore dos avanços da civilização foi eternizado pelas lentes de Cowell.
Eu quero viver

O documentário é apenas um dos que consagram o acervo de sete toneladas de filmes de 16 mm do cineasta, hoje sob a posse da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Dentre as obras produzidas nos anos de 1980, período intenso de suas documentações, Cowell deu destaque à liderança de Chico Mendes para a organização de seringueiros em defesa da floresta amazônica.

Além de documentar o nascimento da Aliança dos Povos da Floresta, fundada para reunir os principais movimentos sociais da Amazônia, e a luta pela demarcação das primeiras reservas extrativistas da região, o filme ainda aponta a trama armada para o assassinato do líder seringalista. A referência ao fato que comoveu o deu nome ao documentário A frase que teria sido pronunciada por Chico Mendes momentos antes de sua morte deu nome ao documentário “Chico Mendes – Eu quero viver”.

Em continuidade às suas filmagens, já aos 77 anos, Cowell se preparava para voltar ao Brasil, onde finalizaria a versão brasileira do filme Killing For Land (Matando pela terra) focado no atual clima de violência que toma a região do sul do Pará. O projeto, assim como o incansável trabalho de suas filmagens, foi interrompido no momento em que Cowell não pode mais respirar. Ainda assim, é retrato da existência do homem que dedicou grande parte da vida à revelação de uma região por tantas vezes esquecida.
Mostra Retrospectiva Adrian Cowell

A mostra que homenageia o cineasta chinês Adrian Cowell será exibida de 7 a 11 de novembro, no Cine Líbero Luxardo. Confira os filmes que serão exibidos:

“Batida na Floresta” - (Adrian Cowell – Brasil – 2005 - 59min)

“Na Trilha dos Uru Eu Wau Wau” - (Adrian Cowell – Brasil – 1990 - 52 min)

“Montanhas de Ouro” - (Adrian Cowell – Brasil – 1990 - 52 min)

“Nas Cinzas da Floresta” – (Adrian Cowell – Brasil – 1990 - 52 min)

“Chico Mendes - eu quero viver” – (Adrian Cowell – Brasil – 1989 – 40 min)

“O Destino dos Uru Eu Wau Wau” - (Adrian Cowell – Brasil – 1999 – 52 min)

“A Tribo que se esconde do homem” - (Adrian Cowell – Brasil – 1970 – 01 h 06 min)

“Uma Dádiva para a Floresta” - (Adrian Cowell – Brasil – 2001 - 25 min)

“O Sonho do Chico” - (Adrian Cowell – Brasil – 2003 - 25min)

“Barrados e Condenados” (Adrian Cowel – Brasil – 2000 – 25min)

“As Queimadas da Amazônia”. (Adrian Cowell – Brasil – 2002 – 45min)

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