FLORIANÓPOLIS - A Polícia Federal investiga uma possível rota de
contrabando de rubis no Norte de Santa Catarina. As pedras preciosas são
exploradas no município de Barra Velha, a 133 km de Florianópolis, mas a
ocorrência da fortuna no subsolo se estende por uma região de 800
quilômetros quadrados.
A história dos rubis na região do município de Barra Velha começou há 20
anos, quando o professor joinvilense Euclides Secco resolveu ir em
busca de ouro. Mas o que realmente chamou a atenção dele foi um
pedregulho avermelhado que brotou da terra. A partir daí, Secco foi à
luta para conseguir as autorizações necessárias para a exploração das
pedras na localidade de Escalvado, em Barra Velha.
Secco conseguiu a autorização, fornecida pelo Departamento Nacional de
Produtos Minerais (DNPM), e nestas duas décadas já retirou uma tonelada
de rubi bruto. O professor é o único autorizado a extrair rubi bruto da
região.
Esse amontoado da pedra não é o pote de ouro que o professor queria
encontrar nos idos dos anos 1980: é muito mais. O material, que está
muito bem guardado em uma empresa de valores em algum estado brasileiro,
é avaliado, hoje, em R$ 23 milhões.
Secco tem o rubi, mas ainda não viu a cor do dinheiro. Existe uma
dificuldade em vender o material. Ele chegou a pedir ajuda a um geólogo
gaúcho ligado ao Sindicato dos Mineradores.
Géologo é investigado
O geólogo Cláudio Altair Kuhs mudou-se com a família para Barra Velha há
quatro anos. Ele também retirou material do local, alegando que era
para estudos. No entanto, Kuhs está no meio da investigação da Polícia
Federal de uma possível rota de contrabando de pedras preciosas. Kuhs
nega o envolvimento.
A PF segue uma linha de investigação onde, além de Kuhs, estariam
envolvidos no esquema um israelense naturalizado americano, uma uruguaia
e um empresário gaúcho. Nas mãos do delegado da PF em Joinville,
Eduardo Brindizi Simões Silveira, está uma agenda com anotações, uma
grande quantidade de rubis e variados tipos de pedras, além de um
contrato feito com o empresário israelense, no valor de 350 mil dólares.
Este material foi apreendido na casa de Cláudio Altair Kuhs, em 17 de
fevereiro. Em 2007, a polícia já havia apreendido 55 quilos da pedra na
casa de Kuhs, e um folder em inglês que oferecia rubis em uma feira em
Tucson, no estado do Arizona (EUA). No papel, com o título Brazilian
Rubies, há o desenho do mapa do Brasil e o nome de Kuhs.
Existe a suspeita de um possível contrabando que começaria em Barra Velha e se estenderia até a Índia e os Estados Unidos.
A PF tem 120 dias para concluir o inquérito. Em 2006, a Polícia Civil
também começou uma investigação sobre essa possível fraude. O
Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da polícia
gaúcha apreendeu cem quilos de pedras em Porto Alegre.
A corrida pela fortuna
Estudiosos estimam que tem tanto rubi nas terras catarinenses que seria
necessário mais de 150 anos de exploração para por fim ao minério. Basta
cavar 30 centímetros para já encontrar as pedras. A região
"vermelha", com uma área de 800 quilômetros quadrados,
abrange cidades como Luís Alves, Barra Velha, Piçarras, São João do
Itaperiú e Massaranduba.
Nos últimos quatro anos, a busca por rubis aumentou bastante. Segundo o
Departamento Nacional de Produtos Minerais (DNPM), há centenas de
permissões para pesquisa em pequenas propriedades rurais. Os registros
estão no nome de pessoas do Rio Grande do Sul, joinvilenses anônimos e
de quem espera enriquecer com o vermelho do rubi. Moradores da região
Norte dizem que é comum carros de Curitiba passarem pelo local.
Nesses pedidos têm alguns que são para pesquisa, mas aí pode estar
escondido outros interesses, como a retirada de minérios. Vale lembrar
que isso é crime contra a União, e quem for pego pode ter uma pena que
varia de seis meses a um ano.
Outra ponto é que o que for achado em qualquer terreno, inclusive nos
particulares, uma parte - a maior dela - é da União. O dono do terreno
também tem direito, assim como o explorador que encontrou o material,
desde que tenha a devida autorização da DNPM.
Nova Serra Pelada
O prefeito de Barra Velha, Samir Mattar, está muito interessado nos
rubis. Ele quer atrair riquezas para a região e acredita que o local
pode se transformar na nova Serra Pelada - o garimpo de ouro no Pará
ques fascinou aventureiros da década de 1980. Essa riqueza pode trazer
muito problemas, e a fiscalização terá de ser rigorosa.
Mattar tenta convencer o governo estadual a intermediar um negócio com
empresários do Oriente Médio, potenciais compradores das pedras. Em
maio, quando ocorre o encontro anual do Conselho Mundial de Turismo e
Viagens, em Florianópolis, seria a grande chance, uma vez que uma
Comitiva da Câmara de Comércio e Indústria de Dubai visita a cidade.
Empresários gaúchos também teriam procurado o prefeito para tentar negociar.
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