A ROTA DO OURO
garimpos, avançam pelas fundidoras de metais e chegam até as instituições financeiras situadas a poucos metros da bolsa, na região central de São Paulo. Alguns desses agentes são também credenciados na BM&F.
Esse é o caso da fundidora OMG, que era chamada de Degussa
há alguns anos. A troca de nomes das empresas que operam no formal e no ilegal ao mesmo tempo é comum. A corretora Fitta, presidida por André Luiz Nunes da Silva, também mudou as siglas. Há um ano, chamava-se DTVM Corretora. As duas empresas prestam os mais diversos tipos de serviços do investimento informal. Nesse caso, não existem as onerosas taxas de corretagem e custódia, que levam cerca de 10% do investimento na Bolsa e, claro, fica de fora a fatia de 20% do Imposto de Renda. A transação funciona sem papéis, os negócios são verbais e concluídos com a troca da mercadoria pelo dinheiro.
Entre as opções de aplicação no mercado paralelo, a reportagem de DINHEIRO começou pelos garimpos. É de lá que vem grande parte do ouro negociado no paralelo (cerca de 40 toneladas por ano). Nas minas de ouro em Diamantina, Minas Gerais, a barra de ouro de 250 gramas (padrão BM&F) é vendida facilmente sem nota fiscal, pela metade da cotação oficial. Basta um telefonema, a entrega é feita pelos agentes da capital paulista no endereço combinado. Na posição de investidor, a reportagem fez contato com um escritório em Diamantina e solicitou a compra de 1 quilo de ouro. No dia (25/11) a cotação oficial estava em R$ 34,80 a grama, mas o valor total da compra ficaria em torno de R$ 17 mil com o desconto de 50%. O processo de repassar a mercadoria e transformar o negócio em um bom investimento foi mais fácil ainda. Numa conversa rápida por telefone (cerca de 10 minutos), um funcionário da corretora Fitta ofereceu pagar o preço oficial pelas barras fictícias. O negócio seria em dinheiro. Cada um entregaria a sua parte ao mesmo tempo. O funcionário da Fitta se prontificava a transportar o ouro, para evitar roubo.
Assim, em apenas um dia, o lucro poderia ser de 50%. Ou seja, o valor proposto de R$ 34 mil (cotação X quantidade) seria suficiente para quitar a compra (R$ 17 mil) e ainda levar mais R$ 17 mil livres. No entanto, o funcionário avisou: ?Não vale muito a pena investir em ouro com valores baixos, mas compramos porque falta produto?, disse. No dia seguinte, procurado pela reportagem, a empresa recusou-se a falar.
Na fundidora OMG, a venda também pode ser feita sem a necessidade de comprovar a origem do ouro (nota fiscal). Para fazer um cadastro na empresa, eles pedem apenas o número de um CPF e de uma conta para o depósito do pagamento (pelo sistema de transferência bancária). A diferença principal em relação à corretora é a cobrança de 4% do valor para o serviço de fundição, que verifica a qualidade do ouro. O ideal é que o metal tenha um índice em torno de 90% de pureza. ?Com pequenas quantidades (até 250 gramas), essa é a melhor opção. Com uma quantia maior (acima de 500 gramas) vale a pena tentar legalizar o ouro para negociar os papéis na bolsa?, diz o funcionário da OMG. A explicação leva à suspeita de que o mercado ilegal não é apenas vizinho da BM&F, mas chega até dentro do pregão. Dito e feito. Para comprar um certificado de origem e um registro para colocar o ouro no circuito financeiro oficial basta pagar mais 7%. Com esses documentos é possível operar os títulos do ouro no pregão. Nesses papéis, a fundidora apresenta um garimpo regularizado como vendedor. Você encontrará as referências da empresa na BM&F. A OMG foi procurada pela DINHEIRO, mas não quis dar entrevistas.
Todo esse sistema ilícito desemboca no setor joalheiro. ?Cerca de 95% dos fornecedores dos joalheiros são informais?, disse o diretor de uma das principais corretoras paulistas do setor à DINHEIRO, que visitou a instituição no papel de investidor. Horas depois, quando foi entrevistado por DINHEIRO, o mesmo executivo negou categoricamente a existência do mercado paralelo. ?Desconheço, isso não existe?, afirmou. No entanto, a tese foi comprovada por Hecliton Fantini Henriques, presidente do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos. ?A sonegação é enorme porque a tributação é elevadíssima. É difícil pagar 59% de impostos para comprar ouro e produzir jóias?, diz Henriques. Há ainda quem consiga investir sem os agentes, repassando direto para os empresários. A concorrência é com as corretoras. O Banco Central, a BM&F e a Receita Federal foram procurados mas não responderam aos pedidos de entrevista.
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