sábado, 31 de outubro de 2015

O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água”

O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água”


TOTÔCA E SEU velho escafandro enfim aposentado: “O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água”
Para Belmiro, a PLG é relativamente simples de se obter. As exigências, porém, são impraticáveis: o garimpeiro, mesmo o tradicional, é obrigado a descrever o tipo de minério procurado e indicar o local exato onde pretende lavrar. A descrição e o plano de trabalho devem ser detalhados em documento e assinados por um geólogo. Para complicar a coisa, a permissão legal autoriza lavra de 50 hectares, no máximo (no caso das cooperativas, 200), área pequena demais para quem sempre trabalhou solto no mundo, sozinho ou com algum companheiro. Segundo ele, garimpeiro não tem cultura associativa. Muitos desistiram, outros conseguiram alvarás, mas acabaram vendendo-os. “Diamantina já não tem TOTÔCA E SEU velho escafandro enfim aposentado: “O garimpo acabou no norte de Minas Gerais. Diamante agora é água” mais o mesmo brilho”, lamenta Toninho, ourives da Joalheria Pádua, a mais antiga do país, instalada no centro histórico desde 1883. Além da produção própria de diamantes e cristais, a joalheria recebia pedras de todos os cantos do país. “Nós lapidávamos quatro mil gemas por mês. Agora, trabalho sozinho, nem todo o dia sento na banca e não faço quatro mil nem num ano”, compara. Ele calcula que por volta de 1970 havia três mil bombas em pleno funcionamento no município. “Hoje, não têm quase nenhuma.” Em sua opinião, a cidade empobreceu. Depende agora do funcionalismo público, do turismo e de serviços.


ANTONIO PÁDUA em sua banca de trabalho com uma ametista roxa encanetada (no detalhe): “O brilho da cidade não é o mesmo sem o garimpo” Totôca é taxativo. Em sua opinião, o garimpo acabou de vez no norte de Minas. “Diamante agora é água”, diz ele, referindo-se ao Alegre de Baixo e outras 46 comunidades ribeirinhas afetadas pela barragem de Irapé, maior usina do país, com 208 metros de altura e 5,9 bilhões de metros cúbicos de água de capacidade máxima, construída pela Cemig no Alto Jequitinhonha – o alagamento atingiu núcleos urbanos e áreas rurais numa extensão de 115 quilômetros do Jequitinhonha e 50 quilômetros do Itacambiraçu, um de seus afluentes. Até recentemente, Totôca caçava diamantes com seu velho escafandro de bronze – um anacronismo nesses tempos de busca desenfreada de produtividade. “Era penoso demais. Eu trabalhava agachado no fundo do rio pegando cascalho e pondo num balde enquanto um companheiro na balsa lá em cima bombeava ar por uma mangueira. Se ele quisesse se livrar de mim, era só parar que eu morria.” A idade, a dor no “espinhaço” (sem qualquer alusão à cordilheira), o cansaço e os perigos inerentes ao trabalho acabaram afastando-o da beira do Itacambiraçu, agora um lago quase dentro de casa.

Ele talvez tenha sido o derradeiro garimpeiro da região a usar escafandro. Os poucos em atividade em “bombas” trajam roupas de neoprene, de pesca submarina, e usam tubos de sucção para retirar o cascalho. Seu Marão também parou por problemas de saúde. Aos 84 anos de idade, já não tem a força de antes e a surdez avança. Ele lastima o estertor do garimpo em nome do antigo rebuliço na cidade e dos amigos de função – cadê Geraldo Mariquinha, Suetônio, Ferro Velho, Abiné, Zé Boquinha e Tonho da Marciana?

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