terça-feira, 6 de outubro de 2015

Vale: cinco anos em queda

Vale: cinco anos em queda



 
Se você tivesse sua suada poupança de R$100.000,00 em ações da Vale em janeiro de 2011 hoje essas ações valeriam apenas R$27.000,00. Você estaria amargando um prejuízo de 73% e, talvez, todo o sonho de uma futura aposentadoria teria se evaporado.

Esse número fica bem pior se colocarmos a inflação acumulada de 32% deste período...

Este é o triste desempenho de uma empresa que um dia foi a segunda maior mineradora do mundo e que chegou a valer US$199 bilhões. Hoje o valor de mercado da Vale é 88% menor, de apenas US$23 bilhões.

O que aconteceu com a nossa Vale?

Nestes anos a Vale vem enfrentando toda a sorte de problemas como a queda dos preços do minério de ferro, das commodities e uma sucessão de erros gerenciais como o foco na venda de produtos sem valor agregado, compra equivocada de ativos, guerra de preços com suas principais rivais e o envolvimento em projetos escusos como Simandou, um caso que poderá penalizar a Vale em bilhões de dólares caso comprovada a sua participação no processo de corrupção.

O percurso da empresa, que em 2012 foi eleita a pior mineradora do mundo (Public Eye Award), nestes 5 anos é pontilhado de problemas, que resultaram na fuga de investidores e neste prejuízo colossal.

Explicar esse fracasso gigantesco colocando toda a culpa na queda dos preços do minério de ferro, queda, aliás, que a Vale e suas competidoras Rio Tinto e BHP irresponsavelmente aceleraram com a estratégia de inundar o mercado com produtos baratos, é uma falácia.

Existem outras causas e a maior delas é a má gestão. É a má gestão que faz a Vale perder 8,5% de tudo o que compra segundo relatório do Citi de 2015. Somente em 2013 a mineradora teve que depreciar o seu patrimônio em mais de 24 bilhões de reais.

Em julho a Vale vendeu, por apenas US$1 (um dólar), a mina de carvão Isaac Plains após ter investido US$835 milhões. E não para por aí: ela continua tendo que vender ativos, mal comprados, como a Integra, paralisada desde 2014 a preço de banana, penalizando, mais uma vez aos seus acionistas.

A sua incursão no carvão de Moatize é recheada de insucessos. A empresa investiu bilhões em mina, ferrovia e porto, mas não consegue produzir e exportar o previsto sendo obrigada a vender grande parte dos ativos contabilizando prejuízos mastodônticos.

Entre as péssimas aquisições feitas pela Vale está a INCO onde a mineradora gastou 19 bilhões de dólares no momento em que o níquel começava um longo período de queda. Hoje a Vale tenta empacotar todo o ativo em uma nova empresa a ser vendida na bolsa para, com isso, conseguir recuperar parte do dinheiro perdido.

No quesito prejuízo a Vale conseguiu superar as suas grandes rivais Rio Tinto e BHP que também sofrem com a depreciação das commodities.

Apesar disso, nestes cinco anos a BHP cresceu 10% mais do que a Vale e a Rio 27% mais.

O pior é que nada do que a Vale está fazendo hoje é o suficiente para reverter totalmente esse quadro de perdas.

Espera-se que a partir do ano que vem, a mineradora terá um novo ciclo de crescimento com a entrada dos 90 milhões de toneladas do minério de alta qualidade e baixo custo do S11D.

A mina S11D vai aumentar a competitividade da Vale perante as suas maiores rivais, mas não será o suficiente para uma virada de mesa.

A Vale precisa ainda aumentar o valor agregado de seus produtos de exportação e desta forma turbinar o seu fluxo de caixa.

Exportar minério bruto moído sem nada acrescentar é dilapidar suas reservas e condenar o Brasil a ser um espectador privilegiado da lavra predatória de um dos nossos mais preciosos bens: os jazimentos de Carajás.

Em poucas décadas o minério de ferro de alta qualidade de Carajás será história.

O que irá ficar para a população da região ou do país?

Quase nada!!

Com a tonelada do minério sendo vendida a menos de US$60 dólares não teremos muito que celebrar. Já os chineses, japoneses e coreanos, que compram o nosso minério de ferro a preço espúrio, permitido pela Vale, esses sim, terão muito a celebrar. Eles irão transformar uma matéria prima barata em produtos de alta tecnologia, caríssimos, que serão vendidos, ironicamente, para muitos países, entre os quais o empobrecido e dilapidado Brasil.

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