Vinte anos depois, "ouro do futuro" de Serra Pelada gera fortes disputas
Serra Pelada é um local de luta. Todos sabem que ainda existe ouro ali, a disputa de interesses é constante e muitas vezes brutal. A calma do dia-a-dia se transforma em conflito permanente na esfera política. O cabo-de-guerra tem muitas pontas e é puxado por grupos de garimpeiros, cooperativas, mineradoras multinacionais e governo, todos com interesses distintos. Hoje, vinte anos após o final do garimpo, a maior parte dos crimes do local tem sua origem nessa disputa.
As estimativas acerca do ouro na região variam de acordo com quem as relata. Enquanto a Vale afirma haver algo em torno de 19 toneladas ainda ali, a Colossus espera encontrar bem mais e alguns garimpeiros acreditam em valores na casa de milhões de toneladas. Além do ouro, o local também é rico em platina, paládio e prata, todos metais de alto valor.
A Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) detém o direito de exploração dos 100 hectares que compreendem boa parte da cidade e a antiga mina, hoje submersa. Em 2007 conseguiram o alvará de pesquisa junto ao governo federal e assinaram contrato com a canadense Colossus, que hoje realiza sondagens na área. Com a pesquisa terminada, terão condições de definir o plano de exploração mineral, que deve girar em torno de US$ 200 ou 300 milhões e será executado pela empresa. O contrato prevê o pagamento de US$ 18 milhões para a cooperativa pela Colossus e uma divisão da receita de 51% para a empresa e 49% para a Coomigasp.
Hoje, a principal disputa política se dá ao redor da direção da Coomigasp. Moradores e grupos ligados ao movimento social criticam a atuação da entidade, defendendo anulação do contrato com a Colossus. Alegam falta de transparência em diversos pontos do processo e acusam a mineradora canadense de ser um instrumento da Vale na região.
Benigno Moreira, presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada, aponta que a diretoria atual foi empossada com apoio dos movimentos sociais e a acusa de, após poucos meses de mandato, haver se vendido para os interesses das mineradoras, em detrimento do garimpeiro: "A proposta era explorar o minério do começo ao fim. O mundo quer um lugar para investir e nós queremos financiamento, comprar máquinas e adquirir nossos meios de produção. O que menos precisamos é de um patrão".
Assis Coelho, vice-presidente da Coomigasp, rebate as críticas afirmando que apenas hoje, pela primeira vez após o fechamento da mina, o garimpeiro tem uma perspectiva real de conquistar algo para si. "Passamos 20 anos só na falação, só em mentiras. Hoje não, pela primeira vez temos a consciência de que vamos colher resultados. O que o garimpeiro precisa entender é que essas coisas não são do dia para a noite, as pesquisas estão sendo feitas e é preciso tempo para concluí-las", atesta.
Também afirma a honestidade de sua diretoria, argumentando que, se fosse para atender aos interesses das grandes mineradoras, teriam vendido os direitos de exploração da mina e que da forma que está irão deixar um legado produtivo por muito tempo, rendendo frutos para filhos e netos dos 45 mil associados à entidade.
Etevaldo Arantes, líder do Movimento dos Garimpeiros e Trabalhadores da Mineração (MTM) e um dos elaboradores do Estatuto do Garimpeiro, acusa a Vale de atuar em todas as frentes possíveis para manter o controle da área, inclusive usando de truculência física e econômica. "Nós só temos uma inimiga, que se chama Vale, e um obstáculo, que é nossa desorganização interna. Ao longo do tempo eles aperfeiçoaram a arte da intriga, abandonaram a violência física e se especializaram em dividir para conquistar. Nunca houve uma diretoria da Coomigasp que não fosse comprada pela Vale, assim como hoje a Colossus é sua aliada", afirma.
Heleno Costa, gerente do projeto Serra Pelada da mineradora canadense, afasta a possibilidade e garante a independência de sua empresa, alegando que "a Colossus é uma empresa com vida própria, ações na bolsa de Montreal. Não tem nada a ver com a Vale". Avalia que a mina não é tão grande quanto o garimpeiro acredita e que a questão deve ser tratada de forma mais realista, mais técnica. "O ouro só passa a ser riqueza quando é extraído, enquanto ele estiver embaixo da terra você só terá o contraste entre este potencial de riqueza e a miséria que é Serra Pelada. A mina está parada há mais de vinte anos e isso não favorece ninguém. Criar uma mineradora própria não é tão simples, requer conhecimento tecnológico, administrativo e capital", acredita.
O posicionamento político da população reproduz a multiplicidade de facetas da questão. Escaldados por quase 30 anos de conflitos de interesse a seu redor, desenvolveram faro apurado para identificar contradições em todos os grupos, inclusive no próprio. Apenas dois temas são unanimidade: Vale e ouro. A primeira simboliza para o garimpeiro tudo que se moveu contra seus interesses nos últimos 28 anos, "não queremos vê-la nem coberta de ouro", ironizou um trabalhador coberto de terra. A esperança no segundo é a única coisa que mantém Serra Pelada existindo. A vila está em estado de espera há duas decadas e vai continuar assim enquanto o metal dos garimpeiros estiver no subsolo. Não existe outro remédio para a febre do ouro.
Outro lado
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Vale declarou ter abandonado completamente seus interesses na área junto com a cessão do direito de exploração à Coomigasp. Classificou como falsas as acusações de truculência física e financeira realizadas pelo moradores e afirmou não ter qualquer ligação com a Colossus. Afirma ser, também, hoje a empresa que mais investe e gera empregos no Pará.
A Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) detém o direito de exploração dos 100 hectares que compreendem boa parte da cidade e a antiga mina, hoje submersa. Em 2007 conseguiram o alvará de pesquisa junto ao governo federal e assinaram contrato com a canadense Colossus, que hoje realiza sondagens na área. Com a pesquisa terminada, terão condições de definir o plano de exploração mineral, que deve girar em torno de US$ 200 ou 300 milhões e será executado pela empresa. O contrato prevê o pagamento de US$ 18 milhões para a cooperativa pela Colossus e uma divisão da receita de 51% para a empresa e 49% para a Coomigasp.
Hoje, a principal disputa política se dá ao redor da direção da Coomigasp. Moradores e grupos ligados ao movimento social criticam a atuação da entidade, defendendo anulação do contrato com a Colossus. Alegam falta de transparência em diversos pontos do processo e acusam a mineradora canadense de ser um instrumento da Vale na região.
Benigno Moreira, presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada, aponta que a diretoria atual foi empossada com apoio dos movimentos sociais e a acusa de, após poucos meses de mandato, haver se vendido para os interesses das mineradoras, em detrimento do garimpeiro: "A proposta era explorar o minério do começo ao fim. O mundo quer um lugar para investir e nós queremos financiamento, comprar máquinas e adquirir nossos meios de produção. O que menos precisamos é de um patrão".
- Além da expectativa do ouro a ser encontrado no futuro, hoje em Serra Pelada há o garimpo de subsistência, que dá pouco lucro
Também afirma a honestidade de sua diretoria, argumentando que, se fosse para atender aos interesses das grandes mineradoras, teriam vendido os direitos de exploração da mina e que da forma que está irão deixar um legado produtivo por muito tempo, rendendo frutos para filhos e netos dos 45 mil associados à entidade.
Etevaldo Arantes, líder do Movimento dos Garimpeiros e Trabalhadores da Mineração (MTM) e um dos elaboradores do Estatuto do Garimpeiro, acusa a Vale de atuar em todas as frentes possíveis para manter o controle da área, inclusive usando de truculência física e econômica. "Nós só temos uma inimiga, que se chama Vale, e um obstáculo, que é nossa desorganização interna. Ao longo do tempo eles aperfeiçoaram a arte da intriga, abandonaram a violência física e se especializaram em dividir para conquistar. Nunca houve uma diretoria da Coomigasp que não fosse comprada pela Vale, assim como hoje a Colossus é sua aliada", afirma.
Heleno Costa, gerente do projeto Serra Pelada da mineradora canadense, afasta a possibilidade e garante a independência de sua empresa, alegando que "a Colossus é uma empresa com vida própria, ações na bolsa de Montreal. Não tem nada a ver com a Vale". Avalia que a mina não é tão grande quanto o garimpeiro acredita e que a questão deve ser tratada de forma mais realista, mais técnica. "O ouro só passa a ser riqueza quando é extraído, enquanto ele estiver embaixo da terra você só terá o contraste entre este potencial de riqueza e a miséria que é Serra Pelada. A mina está parada há mais de vinte anos e isso não favorece ninguém. Criar uma mineradora própria não é tão simples, requer conhecimento tecnológico, administrativo e capital", acredita.
O posicionamento político da população reproduz a multiplicidade de facetas da questão. Escaldados por quase 30 anos de conflitos de interesse a seu redor, desenvolveram faro apurado para identificar contradições em todos os grupos, inclusive no próprio. Apenas dois temas são unanimidade: Vale e ouro. A primeira simboliza para o garimpeiro tudo que se moveu contra seus interesses nos últimos 28 anos, "não queremos vê-la nem coberta de ouro", ironizou um trabalhador coberto de terra. A esperança no segundo é a única coisa que mantém Serra Pelada existindo. A vila está em estado de espera há duas decadas e vai continuar assim enquanto o metal dos garimpeiros estiver no subsolo. Não existe outro remédio para a febre do ouro.
Outro lado
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Vale declarou ter abandonado completamente seus interesses na área junto com a cessão do direito de exploração à Coomigasp. Classificou como falsas as acusações de truculência física e financeira realizadas pelo moradores e afirmou não ter qualquer ligação com a Colossus. Afirma ser, também, hoje a empresa que mais investe e gera empregos no Pará.
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