domingo, 29 de novembro de 2015

A fascinante história do diamante Hope

A fascinante história do diamante Hope





Adquirido na Índia, no século XVII, pelo negociante de gemas francês Jean-Baptiste Tavernier, o diamante de profunda cor azul-acinzentada pesava 112 quilates e foi, muito provavelmente, extraído da mina indiana Kollur, em Golconda. Uma lenda surgida no mesmo século, contava que sobre o diamante pesava uma maldição, já que o mesmo teria sido roubado de um ídolo hindu e que quem o possuísse teria um destino terrível.
O diamante foi levado por Tavernier para Paris, onde foi lapidado em formato de pera triangular, o que enfatizou o seu tamanho, mas não o seu brilho. Pouco depois, foi vendido ao rei Luís XIV para ser presenteado a sua amante de então, a Marquesa de Montespan que, um tempo depois, caiu em desgraça por ter seu nome envolvido  juntamente com outros nobres da Corte francesa, num enorme escândalo ocorrido em Paris entre 1670-1682, conhecido como o Caso dos Venenos. Com o afastamento total a que submeteu a amante, já que por sua posição não poderia ser executada e nem presa como muitos o foram, Luís XIV ordenou que o diamante passasse a fazer parte das joias da Coroa da França. Em 1673, Luís XIV decidiu mandar relapidar o diamante para aumentar seu brilho. A gema passou a pesar então 67,125 quilates e o rei nomeou-a, oficialmente, “Diamante Azul da Coroa” e frequentemente a usava pendurada ao pescoço, presa por uma longa fita. O negociante de diamantes, tornado nobre pelo rei francês, morreu na Rússia, aos 84 anos, de causas desconhecidas (diz a lenda que foi devorado por cães selvagens).
Luís XIV, o Rei Sol, morreu de gangrena poucos dias antes de completar 77 anos, tendo assistido a todos os seus filhos e netos legítimos morrerem antes dele. Quem assumiu o trono francês após sua morte foi seu bisneto duque d’Anjou, como Luís XV. Este mandou o joalheiro real colocar o diamante na joia conhecida como Ordem do Tosão de Ouro, junto a um espinélio (acreditava-se então ser um rubi) conhecido como “Cote de Bretagne”. Luís XV teve um reinado longo, mas fracassou em solucionar os graves problemas financeiros surgidos em fins do seu reinado, deixando para seu neto e sucessor, Luís XVI, um governo insolvente.
Durante a Revolução Francesa, as Joias da Coroa da França, incluindo o diamante, foram tiradas do casal real depois da tentativa de fuga fracassada da França, conhecida como Noite de Varennes, em 1791. As joias foram colocadas no prédio conhecido então como Garde-Meuble (atual sede do Ministério da Marinha francesa), mas no mês de setembro do mesmo ano, o local foi assaltado durante quatro dias seguidos. Uma parte das joias foi recuperada mas, dentre as que não foram, estava o belíssimo diamante azul. Luís XVI e sua rainha Maria Antonieta, que usou o diamante em várias montagens de joias, incluindo-o até em seus elaborados e famosos penteados, morreram na guilhotina. Deixaram um filho pequeno como herdeiro do trono francês, que morreu com sete anos, provavelmente devido à fome e maus tratos.
Desaparecido durante anos, o diamante ressurgiu em 1813 – agora pesando 44,50 quilates e com uma lapidação diferente - no mercado inglês e em 1823 seu proprietário era um joalheiro de nome Daniel Eliason. Há evidências de que o rei inglês George IV o comprou do joalheiro e, após sua morte o diamante foi vendido para ajudar a pagar os débitos do monarca.
Em 1839, o diamante foi comprado pelo banqueiro Henry Thomas Hope que comissionou a Maison Cartier para criar uma joia para ele. O diamante azul passou, então, a ser conhecido pelo sobrenome do banqueiro, nome que carrega até os dias de hoje.  Mais tarde, a gema foi herdada pelo seu descendente Lord Francis Clinton, que foi à falência.
Então, e mais uma vez, a gema trocou de mãos. Seu proprietário seguinte foi o imperador otomano Abdul Hamid II. O diamante foi dado a uma de suas quatro esposas oficiais, Subaya, mais tarde executada por suspeita de conspiração contra o marido. O imperador perdeu o trono e também o diamante, que tinha sido secretamente enviado à Paris para ser vendido a Pierre Cartier.
Em 1912, o diamante azul foi comprado da Maison Cartier por 180 mil dólares - uma alta soma à época - por Evalyn Walsh McLean, que já conhecia o diamante ao visitar anteriormente a corte otomana. A milionária herdeira americana o mandou remontar pela mesma joalheria francesa, primeiramente em uma tiara com outros 16 diamantes brancos. O diamante passou a pesar, então 45,52 quilates. Mais tarde, a tiara tornou-se um pendente, também desenhado pela Cartier, que aproveitou os diamantes brancos na montagem da joia, feita em platina.
Em 1949, dois anos após a morte da senhora McLean, a gema (que fazia parte da chamada Coleção McLean compondo um colar com juntamente com 62 diamantes brancos) foi comprada pelo joalheiro Harry Winston e, em 1958, doada ao governo dos EUA.
O diamante Hope deixou o Instituto Smithsonian somente por quatro vezes, desde que foi doado: Em 1962, participou de uma exibição no Museu do Louvre, em Paris, intitulada “Cem Séculos de Joalheria Francesa”; Em 1965, foi exibido em Johannesburg, África do Sul; Em 1984, o diamante foi emprestado à joalheria Harry Winston para a celebração dos 50 anos da marca e exibido no Museu Metropolitano de Arte de Nova York, Em 1996, voltou novamente às mãos da joalheria para limpeza e pequenos trabalhos de restauração no set da gema.
Em 2009, para celebrar o 50º aniversário do diamante no Instituto Smithsonian, a joalheria Harry Winston desenhou (na verdade foram três designs, dos quais foi escolhido o que mais se adequava aos propósitos da celebração) uma nova montagem para o colar - chamado “Embracing Hope” (tradução literal= abraçando o Hope, palavra que quer dizer esperança em inglês) - tendo sido usado um jogo de palavras, já que, por dez anos, ainda sob a posse da joalheria Harry Winston, o Hope foi exibido ao redor do mundo, com os fundos arrecadados revertidos a projetos de caridade.
O diamante ficou no novo set até 2011, quando retornou à montagem em que foi doado. O Hope é exibido permanentemente no Instituto Smithsonian, em Washington, EUA, onde permanece, em giro lento dentro da sua vitrine, sendo observado e observando...

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