A lama da Samarco e o futuro do Rio Doce
Publicado em: 26/11/2015
Depois do desastre os cadeados e as lendas.
O rompimento das barragens da Samarco que causou o maior impacto ambiental da história da mineração divide a população e os cientistas do Brasil.
Enquanto muitos arregaçavam as mangas e tentavam de todas as formas mitigar os efeitos do desastre, outros, como a Presidente Dilma demoraram mais de semana para fazer o primeiro e inócuo reconhecimento aéreo...
Dilma, mais uma vez, repercute ao mundo e aos brasileiros uma mensagem de um governo fraco e pouco representativo.
Para a Samarco, a causadora da calamidade, foram necessários dias, muitas versões e desmentidos para começar a contar a verdade por trás do rompimento, que até hoje permanece envolto nas trevas. A mesma Samarco que, com profundo desdém, disse que aos cidadãos de Bento Rodrigues que esses NÃO HAVIAM SOLICITADO as sirenes e os alarmes que os protegeria de um desastre originado pelas suas próprias operações.
Oportunistas de todos os calibres tentaram se promover às luzes dos holofotes da mídia.
Os políticos de Brasília tornaram-se experts em mineração e buzinaram aos quatro ventos que iriam abolir o uso da água nos processamentos e beneficiamentos minerais, “evitando” dessa forma catástrofes como a da Samarco.
Até a ONU se envolveu no assunto e, sem nenhum respaldo científico, fora um laudo da Prefeitura de Baixo Guandu, que não tem representatividade regional, acusou o Brasil e a Samarco de negligência e de poluição do meio ambiente por metais pesados. Uma acusação muito séria que até agora não foi adequadamente rebatida pelo Governo.
Falácias de todo o calibre infestam a mídia.
Os meios de comunicação estão infestados de notícias assustadoras sobre a contaminação do mar, do santuário de Abrolhos e do Rio Doce por mercúrio, arsênio e outros metais, além da lama que tinge centenas de quilômetros quadrados que antes eram azuis.
Uma visão diabólica reportada em centenas de websites, jornais e revistas de todo o mundo causando uma histeria coletiva que se avoluma à medida que notícias desencontradas são veiculadas.
Afinal, quanto disso é verdade e quanto não passa de puro sensacionalismo, sem nenhum fundo científico?
Para começar temos que tentar entender a contaminação das águas por metais pesados como arsênio, chumbo e mercúrio que está assombrando o mundo e, principalmente, a população das margens do Rio Doce que não sabem se bebem ou não a água do rio.
Obviamente tudo seria muito mais fácil se a SAMARCO, ela mesmo, publicasse relatórios químicos auditáveis dos rejeitos e da lama depositados em suas barragens onde tudo se originou. A empresa diz que a lama é inerte, mas não consegue ser convincente.
Se desde o início tivéssemos certeza que a lama das barragens de rejeito não está contaminada por arsênio, chumbo e níquel, que foram detectados a centenas de quilômetros das barragens, nas amostras de Baixo Guandu (2,63mg/L de arsênio, uma concentração elevadíssima), a situação seria muito diferente.
Neste caso iria prevalecer a explicação de que os metais pesados tenham sido erodidos das margens e do fundo do Rio Doce pela onda de lama e a maioria das notícias catastrofistas seria neutralizada.
Talvez por isso que as amostras coletadas, de forma adequada, pela CPRM estão mostrando que tanto a água como os sedimentos e lama não apresentam, nas localidades analisadas, perigo para o Homem, flora e fauna.
Isso mesmo, as melhores e mais representativas amostras coletadas, ao longo de centenas de quilômetros até a foz, mostram que o risco de poluição por metais pesados tóxicos é mínimo ou inexistente.
Não existe a contaminação por metais pesados.
Todos os metais (As, Cd, Cu, Hg, Pb, Sb e Zn) analisados na amostra Gesteira, a mais próxima da Samarco, tem concentrações baixas não representando riscos. O maior valor de arsênio é de 12 ppm na Cachoeira Dantas 70km abaixo da Samarco.
Em suma, tudo leva a crer, pelas análises criteriosas da CPRM, que não existe a terrível poluição tóxica que a ONU e alguns desavisados estão propalando.
Mas quem devia ter ido a público e atestado essa conclusão é o Governo Brasileiro que foi literalmente ofendido pela ONU.
Não temos poluentes tóxicos, mas temos a lama: o acúmulo de sedimentos finos tipo argilas e siltes, vindos na sua maioria, das barragens da Samarco, nas águas do Rio doce e, agora, do mar.
Essa turbidez além de horrível é perigosa para o Homem, a fauna e flora dos lugares afetados?
Absolutamente sim!
É a turbidez que acaba com o oxigênio, que mata os peixes. É ela que vai reduzir a fotossíntese dos vegetais e algas, exterminando completamente ou reduzindo a população de peixes e destruindo a flora.
Quanto mais próximo do epicentro do desastre maior a contaminação pela lama.
Na região de Bento Rodrigues, onde a lama atingiu 16 metros, praticamente nada sobreviveu ao tsunami de rejeitos.
As margens e tudo que nelas havia foram arrasadas.
Lá a lama vai ter que ser fisicamente removida.
Talvez nunca mais essa região se recupere totalmente. Em breve veremos que é inviável economicamente a remoção de toda a lama, que deverá ser estocada em outras pequenas barragens de rejeitos, que por sua vez terão que ser monitoradas o ano todo pela Samarco... Será um verdadeiro pesadelo: cíclico e penoso.
A influência dos rejeitos será sempre maior nas cabeceiras do Rio Doce, onde as margens mostram depósitos de grande espessura desta maldita lama ferruginosa.
À medida que nos afastamos da Samarco as coisas melhoram.
A água poderá ser tratada pelas prefeituras já que não existem contaminantes tóxicos e, com o passar do tempo, a infame lama será diluída pelo influxo de água mais limpa dos tributários e da chuva.
Com o tempo ela será sedimentada no fundo do rio ou transportada para o mar: assim como o que ocorre com toda a lama transportada por grandes rios na época das enxurradas e chuvas.
Lama e água é uma dualidade que existe em praticamente todos os sistemas fluviais do mundo ao longo da história do planeta.
Não é uma exclusividade do poluído Rio Doce.
Somente o Rio Amazonas transporta, por hora, 3,5 milhões de toneladas de lama para o mar. Uma enormidade, que transforma (mas não extingue) a fauna a flora e a geologia de 1.600km de costa atlântica onde são formadas intermináveis praias e depósitos gigantescos de lama fina .
Possivelmente, antes do que imaginamos, o Rio Doce já não terá a cor vermelha de hoje, voltando a ser o que infelizmente era, antes do acidente da Samarco: o décimo mais poluído rio do Brasil segundo o IBGE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário