Três histórias de garimpo
A praga do garimpeiro
Um dia, um garimpeiro encontrou um enorme diamante. Não disse a ninguém e, de
madrugada, no meio do nevoeiro, abandonou o garimpo. Não percebeu ele que dois
outros garimpeiros o vigiavam e o seguiam. No caminho de Vila Rica, esses dois o
assaltaram, esfaqueando-o. Este, ao morrer, praguejou:
— Amaldiçôo esta pedra. Quem a retiver nas mãos será castigado com morte
violenta!
Logo, ali, um dos assaltantes quis ficar com a responsabilidade da guarda do
diamante. O outro retrucou com uma punhalada certeira no coração. Apossou-se da
pedra amaldiçoada e partiu para Vila Rica.
Em Vila Rica do Ouro Preto já havia denunciantes de seus crimes. Foi preso.
Tentou fugir e acabou baleado. O soldado que o revistou, escondeu consigo o
diamante. Não disse a ninguém, a não ser à sua amásia. A mulher, que gostava de
um vendeiro, de quem também era amante, contou a este o segredo. De noite, o
vendeiro foi à casa da mulher e matou a ambos, o soldado e a amásia. Levou
consigo o diamante. Ninguém poderia imaginar que ele fosse o criminoso, mas o
remorso o remoía. Foi, noutro dia, à igreja e no confessionário revelou ao padre
o seu crime. A igreja estava deserta. O padre, ao ver a pedra, foi açoutado pela
ambição e, quando o vendeiro rezava a penitência, matou-o pelas costas, com
terrível pancada. Tirando as vestes sacerdotais, o padre fugiu para a cidade de
São Sebastião.
Num dos pousos, foi reconhecido pelo estalajadeiro. De noite, o dono da
hospedaria viu pela fresta o padre examinando o grande diamante. Entrou no
quarto armado e exigiu a pedra. O padre não aceitou e o estalajadeiro matou o
hóspede.
Como outros viajantes ali de passagem acorressem ao local, o estalajadeiro só
teve tempo de fugir para o quintal e partir num dos cavalos que ali estavam. Os
outros foram atrás num tiroteio tremendo. Por fim caiu ferido o estalajadeiro,
mas não querendo que ninguém visse a pedra, jogou-a num rio que tranqüilamente
ali passava...
O poço do diamante
Logo que se casaram, vieram morar, ali, à beira daquele regato no Serro. Seu
Raimundo vinha com vontade de enriquecer. O que seus pais lhe deixaram só dera
para comprar aquela casa à beira do regato, com meio alqueire de terra. Mal dava
para plantar umas hortaliças. Raimundo queria era minerar diamante. Mas não
tinha sorte. Não havia meios de encontrá-lo. E assim iam passando os anos, os
filhos nascendo e ele sempre esperando achar diamantes. A mulher não o
desanimava:
— Espera, seu Raimundo, Deus há de ter pena de vosmicê.
E assim passaram-se os anos.
Raimundo já envelhecera. Os filhos e filhas já estavam crescidos. Ele já nem
tinha forças para minerar.
— Olha, mulher. A nossa terra está cansada. Eu vou fazer o regato passar por
entre a roça. A água vai melhorar o terreno.
Com a ajuda dos filhos, abriram a vala e fizeram as águas seguirem novo
curso. Qual foi a admiração do garimpeiro quando descobriu no leito do regato um
poço;
— Credo! — gritou com a satisfação. — O fundo do poço está cheio de
diamantes.
Estava mesmo. Mal soubera ele, durante tantos anos, que tinha aquela riqueza
ao pé de sua casa.
O diamante de pai João
Pai João era um negro muito sabido. Quando ele morava em Diamantina, um dia
apareceu na casa do ouvidor e perguntou ao dito:
— Seu ouvidô, um diamante desse tamanhão — e fez um gesto expressivo — quanto
deve valê?
O ouvidor, pensando que pai João tinha achado um diamante tão grande, tratou
logo de agradá-lo. Convidou-o para almoçar. Tratou-o à tripa forra. Mas, quando
falou em comprar, o negro informou:
— Vontade tenho de vendê para vosmecê, mas o sargento-mor tá me esperando
para falá sobre isso...
E foi se despedindo.
Correu à casa do sargento-mor e fez a mesma indagação:
— Seu sargento, um diamante desse tamanhão quanto deve valê?
O sargento arregalou os olhos e procurou ajudar a pai João, convidando-o para
cear. O negro encheu o pandulho, mas não fez negócio por que primeiro queria
ouvir a proposta do ouvidor.
E assim, durante várias semanas, o negro enganou a ambos, comendo do bom e do
melhor, sem nada decidir. O ouvidor e o sargento-mor resolveram entrar em acordo
para comprar de sociedade o enorme diamante. E assim o propuseram a pai João.
Este respondeu:
— Tá bom. Quando ieu encontrá um diamante desse tamanhão, eu vendo a
vosmicês.
— Você, então, não tinha o diamante, negro safado?
— Ieu não disse a vosmicês que tinha. Perguntei só quanto valia...
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