Caça aos Diamantes
Garimpeiros desafiam a polícia em balsas precárias para procurar fortuna em rio de São Paulo
Diariamente, a cerca de uma hora de barco de uma vila de pescadores em Colômbia (a 467 km de São Paulo), duas barcaças percorrem o rio em busca da "sorte grande". A Folha flagrou dez homens no local.
Anos atrás, o rio já abrigou centenas de balsas, com mais de mil homens. Fiscalizações e dificuldade em encontrar pedras preciosas fizeram cair o número de garimpeiros.
Mas a atividade persiste, sem que os que se aventuram no desafio revelem quanto ganham por ele. Entre as lendas contadas nas margens do rio está a de que já foi encontrado um diamante rosa no valor de mais de R$ 1 milhão.
Para as autoridades, além de ilegal, o sistema de garimpo tem condições de trabalho deficientes.
No tempo em que permanecem no rio --até dois meses--, os homens que praticam a atividade vivem em situação precária.
Em uma das balsas, homens dormem em redes, ao lado de uma barulhenta esteira improvisada por onde passam as pedras.
Para garimpar, eles mergulham no fundo do rio. São mantidos com uma bomba de oxigênio horas debaixo da água. De lá, sugam as pedras que passam pela esteira.
Se encontrar uma pedra preciosa, o garimpeiro leva para casa 35% do valor da venda no mercado ilegal.
A outra parte vai para o dono da balsa, que ninguém diz quem é. "Antigamente aqui era melhor. Muita gente foi para o Norte [do país]", disse um garimpeiro, que já foi levado algemado pela polícia em uma operação. Nenhum dos garimpeiros ouvidos pela Folha quis se identificar.
"É o que sei fazer. Não tenho profissão", afirmou outro que, aos 14 anos, foi em busca de ouro a Serra Pelada, no Pará, no maior garimpo a céu aberto do mundo.
RISCOS
Segundo o tenente da Polícia Ambiental de Barretos Rodrigo Antonio dos Santos, ao sugar as pedras, os garimpeiros causam assoreamento do rio, danificam a flora e usam substâncias que podem matar peixes. O óleo do motor também polui o rio.
Investigações do Ministério Público Federal resultaram em uma ação em 2007, que espera decisão da Justiça.
Entre os réus, há donos de balsas e garimpeiros. "É muito complicado punir os garimpeiros. São pessoas que vivem disso, não sabem assinar o próprio nome", diz o procurador André de Menezes.
Para a Polícia Federal, o garimpo ilegal deve ser coibido pela Polícia Ambiental. "Não temos condições de ficar 24 h de plantão no rio", diz o delegado Jackson Gonçalves.
Já o agente do Ibama Carlos Egberto Júnior disse que o local é monitorado, "mas existe um ar de impunidade".
Segundo o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), há sete autorizações para pesquisa no rio.
Anos atrás, uma permissão de exploração foi dada a uma cooperativa de garimpeiros, mas ela expirou e não foi renovada posteriormente.
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