sábado, 6 de fevereiro de 2016

De Manaus a Tefé.


  De Manaus a Tefé.


Passar pelo encontro das águas dos rios Negro e Solimões tem nome próprio e é destino turístico dos que visitam Manaus pela primeira vez. O “Encontro das Águas” é impressionante e belo. Quem sai de Manaus de barco com destino a Tefé tem que passar pelo encontro para entrar no rio Solimões. A água dos dois rios é completamente diferente. A do rio Negro é acida e escura, enquanto a do Solimões é rica em nutrientes e é marrom, da cor de um “todyinho”.

Nosso destino era a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. No dia da partida, acordei cedo. Era a primeira vez que iria navegar pelas águas marrons do rio Solimões. O plano era zarpar do píer do hotel Tropical em Manaus às sete da manhã. No entanto, durante o abastecimento da noite anterior, a tripulação notou um problema na sala de motor do barco, e quando solucionado já passava das três da tarde.

Ariaú-Açu é o nome do barco que usamos para essa e todas as outras expedições que realizamos. Medindo mais de 100 pés, o barco tem quatro conveses sendo que no último há um heliporto. É veloz e tem um calado de apenas 1,80 metros, ideal para os rios da Amazônia.

O barco é de propriedade do Dr. Francisco Ritta Bernardino, mais conhecido por Dr. Ritta. Inspirado pelo lendário explorador Jacques Cousteau na década de 80, ele construiu um “lugar onde turistas pudessem apreciar a beleza, grandiosidade e importância da Amazônia”. Esse lugar é o Ariau Amazon Towers, maior e mais visitado hotel de selva da Amazônia. Por ter sido um dos primeiros e estar localizado próximo à Manaus o negócio deu tão certo que hoje Dr. Ritta é provavelmente o mais bem-sucedido empreendedor da Amazônia brasileira.

O dia já ia terminando quando finalmente cruzamos o “Encontro das águas”. José tinha as mãos firmes agarradas ao timão e os olhos fixos no horizonte. Ele era o nosso “prático”, ou seja, a pessoa que conhece bem o rio e que auxilia o capitão na condução da embarcação. Não há navegação de grande porte na Amazônia sem a presença de um prático. Principalmente na época da seca quando as águas dos rios estão muito baixas e qualquer descuido significa topar num banco de areia ou pedregal.

A idéia era navegar dia e noite para poupar tempo, mas nessa primeira noite José preferiu atracar em frente à cidade de Manacapuru. Num tom sóbrio esse homem de 1,90m de altura, impecavelmente vestido de branco como na marinha, me disse:

- Aqui tem muita pedra e eu só me garanto de dia.

Mais alguns dias e percebemos que José não tinha lá tanta experiência e era bem covardão. Em toda vila ele queria dar uma paradinha alegando que queria encontrar algum médico ou remédio. Maciel, o nosso capitão só cedeu nessa primeira noite, depois não paramos mais, navegando 24 horas por dia.

No começo é tudo novidade e você não quer desgrudar os olhos da margem. Depois fica monótono e com o calor fica tudo mais monótono e a preguiça é dominante. A vontade é balançar o dia todo na rede.

No terceiro dia, passamos por Coari. Ali bem próximo, a Petrobrás administra a província petrolífera de Urucu e tem atividades de extração de petróleo e gás natural. Esse último ainda a ser extraído. No dia 2 de junho de 2006, o presidente Luís Inácio Lula da Silva inaugurou oficialmente o início das obras de um gasoduto que levará essa forma de energia até Manaus, capital do Amazonas. Jornais regionais anunciaram o ato como o começo da era do gás natural . Em ato simbólico o presidente acompanhou a solda entre dois tubos para conduzir o gás, que tem em média 19 polegadas de diâmetro. As obras, como todas desse porte na floresta, contou com trabalhos de batalhões de engenharia do Exército. Nesse dia da “inauguração”, 279 dos 670 km de gasoduto já estavam finalizados, segundo a Petrobrás.

Na noite do terceiro dia, chegamos ao nosso destino. Foram sessenta horas de navegação.

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