quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O eterno fascínio pelo ouro

O eterno fascínio pelo ouro

BEM no interior das savanas australianas, um garimpeiro de camisa suja e encharcada de suor caminha penosamente no leito seco de um córrego. O sol do meio-dia é causticante. Determinado, ele segura com força uma longa haste de metal com um dispositivo do tamanho de um prato na extremidade. Ele movimenta para lá e para cá esse moderno detector de metais, cujo campo magnético alcança 1 metro abaixo do solo rochoso. O fone de ouvido ligado ao aparelho emite um apito constante e agudo.
Subitamente, o apito se transforma num estalido contínuo de baixa freqüência — indicativo claro de que existe metal logo abaixo. Seu coração acelera, ele se ajoelha, começa a cavar e, com golpes rápidos, sua picareta aprofunda o buraco. É provável que seja apenas um prego enferrujado ou uma moeda antiga. Mas, à medida que continua cavando, seus olhos se concentram em busca de qualquer vestígio de ouro.
A contínua corrida do ouro
Os métodos talvez tenham mudado, mas a ávida busca por esse lustroso metal amarelo tem continuado durante a história da humanidade. De fato, nos últimos 6 mil anos, segundo o Conselho Mundial do Ouro, foram extraídas mais de 125 mil toneladas deouro.* Apesar de antigas civilizações no Egito, em Ofir e na América do Sul serem famosas pela riqueza em ouro, mais de 90% de toda extração já feita ocorreu nos últimos 150 anos.
A intensificada procura pelo ouro teve início em 1848, quando esse metal foi encontrado em Sutter’s Mill, no rio American, Califórnia, EUA. O achado desencadeou a chamada corrida do ouro: uma enxurrada de garimpeiros esperançosos inundando a região. Todos sonhavam achar sua fortuna enterrada no solo californiano. Muitos não conseguiram, mas alguns foram muito bem-sucedidos. Em 1851, só na Califórnia, foram extraídas 77 toneladas de ouro.
Quase na mesma época, descobriu-se ouro na Austrália, uma nova colônia do outro lado do mundo. Edward Hargraves, que tinha adquirido experiência na exploração de ouro na Califórnia, veio para a Austrália e encontrou ouro num riacho perto da pequena cidade de Bathurst, Nova Gales do Sul. Em 1851, grandes depósitos também foram encontrados em Ballarat e Bendigo, no Estado de Victoria. A corrida começou assim que a notícia da descoberta se espalhou. Alguns eram garimpeiros profissionais, mas muitos eram trabalhadores rurais ou de escritório que nunca tinham pegado numa picareta. O jornal de Bathurst fez uma descrição da cidade naqueles dias da corrida do ouro: “Bathurst está novamente frenética com a volta ainda mais intensa da delirante febre doouro. Grupos de homens com olhares entorpecidos falam coisas incoerentes e perguntam-se o que vai acontecer.”
E o que aconteceu? Uma explosão populacional na Austrália. Dez anos depois, o número de habitantes no país tinha dobrado com a chegada de garimpeiros otimistas do mundo todo. Ouro era descoberto em diferentes quantidades pelo continente; quandouma corrida diminuía, outra começava. Garimpeiros australianos extraíram 95 toneladas de ouro só em 1856. Daí, em 1893, começaram a extrair ouro do solo próximo a Kalgoorlie-Boulder, na Austrália Ocidental. Desde então, mais de 1.300 toneladas foram extraídas do que é descrito como “o metro quadrado mais rico em ouro do mundo”. Aquela área ainda produz ouro e atualmente ostenta a maior mina de ouro do mundo a céu aberto — um desfiladeiro produzido pelo homem com cerca de 2 quilômetros de largura, quase 3 quilômetros de comprimento e mais de 400 metros de profundidade!
A Austrália é o terceiro maior produtor de ouro do mundo. A indústria emprega 60 mil pessoas e extrai cerca de 300 toneladas por ano, equivalentes a 5 bilhões de dólares australianos. Os Estados Unidos são o segundo maior produtor. Há mais de cem anos, porém, a África do Sul tem sido o maior produtor de ouro no mundo. Quase 40% de todo o ouro já extraído saiu desse país. Mais de 2 mil toneladas de ouro são extraídas por ano no mundo inteiro. O que é feito com todo esse ouro?
Precioso e belo
Um pouco de ouro ainda é usado para cunhar moedas. A Casa da Moeda de Perth, na Austrália Ocidental, é um dos principais fabricantes desse tipo de dinheiro. Essas moedas não estão em circulação, mas são alvo de colecionadores. Além disso, cerca de um quarto de todo o ouro já extraído foi transformado em lingotes de ouro — barras sólidas de riqueza palpável —, e trancados em caixas-fortes. Os Estados Unidos detêm em seus cofres a maior parte das barras de ouro do mundo.
Atualmente, cerca de 80% do ouro extraído todo ano — umas 1.600 toneladas — é transformado em jóias. Os Estados Unidos podem ter a maior quantidade de ouro em seus cofres, mas se incluirmos as jóias, a Índia é que tem a maior quantidade. Além de ser valioso e belo, esse metal tem características que o tornam muito útil.
Uso moderno para o metal antigo
É provável que os faraós egípcios soubessem da resistência do ouro à corrosão e, por isso, o usaram para fazer máscaras mortuárias. Quando arqueólogos descobriram a tumba do Faraó Tutancâmon, milhares de anos após sua morte, a máscara mortuária não tinha manchas e ainda brilhava, provando a durabilidade do ouro.
O ouro mantém o lustro porque água e ar, que corroem metais como ferro, não o afetam. Essa resistência à corrosão e a notável capacidade de conduzir eletricidade, o tornam ideal para uso em componentes eletrônicos. Todo ano, cerca de 200 toneladas de ouro entram na fabricação de TVs, videocassetes, telefones celulares e uns 50 milhões de computadores. Além disso, CDs de alta qualidade contêm uma fina e durável camada de ouro para garantir o armazenamento seguro de dados.
Películas finas de ouro têm algumas características incomuns. Tome como exemplo a interação do metal com a luz. Películas ultrafinas de ouro são transparentes e por isso permitem a passagem das ondas de luz verde, mas refletem a luz infravermelha. Janelas revestidas de ouro permitem a entrada da luz, mas refletem o calor. Janelas assim são usadas na cabine de pilotagem de aviões modernos e em muitos novos edifícios. Lâminas não transparentes de ouro também revestem partes vulneráveis de veículos espaciais, dando boa proteção contra radiação e calor intensos.
O ouro também é muito resistente a bactérias. Por isso, é usado por dentistas para reparar ou substituir dentes danificados ou cariados. Em anos recentes, o ouro tem-se provado ideal para implantes cirúrgicos, tais como stents — pequenas telas cilíndricas que são usadas para reparar veias e artérias.
Com toda essa versatilidade, valor e beleza, não é de admirar que os garimpeiros continuam a revirar o solo em busca desse metal fascinante.
O ouro é tão denso que um cubo cujos lados medem apenas 37 centímetros pesaria cerca de 1 tonelada.
Onde encontrar ouro?
 Rochas: O ouro está presente, em pequenas quantidades, em todas as rochas ígneas. Certos depósitos rochosos têm concentração de ouro em quantidade suficiente para valer a pena minerar, britar e extrair quimicamente o metal do minério. Mesmo o minério de alta qualidade só tem cerca de 30 gramas de ouro por tonelada de rocha.
 Veios: Raramente encontra-se ouro em veios, ou filões, entre camadas de quartzo.
 Rios: Com o tempo, veios que contêm ouro sofrem erosão quando expostos a sol, chuva e vento. Com isso liberam ouro, que se acumula em riachos e rios em forma de partículas, ou lascas, conhecidas como ouro de aluvião.
 Superfície terrestre: Fragmentos irregulares de ouro que parecem se formar aleatoriamente na superfície terrestre são chamados de pepitas. Elas às vezes podem chegar a tamanhos espetaculares. A maior pepita de ouro já encontrada na Austrália foi chamada The Welcome Stranger e pesava cerca de 60 quilos! Foi descoberta em 1869 no Estado australiano de Victoria. A Austrália é lugar de grandes pepitas, 23 das 25 maiores já encontradas foram retiradas dali. Hoje, as pepitas de ouro, que podem ser pequenas como a cabeça de um fósforo, são mais raras do que diamantes de qualidade.
Como funciona um detector de metais?
Em geral, duas bobinas elétricas são os principais componentes de um detector de metais. A corrente elétrica atravessa a bobina geradora produzindo um campo magnético. Se o aparelho passar sobre um objeto de metal, como uma pepita de ouro, ele induz um fraco campo magnético nesse objeto. A segunda bobina, receptora, detecta esse campo magnético e sinaliza por meio de luzes, indicadores ou sinais sonoros.
A intensificada procura pelo ouro em meados do século 19:
1. Sutter’s Mill, Califórnia, EUA
2. Riacho Bendigo, Victoria, Austrália
3. Golden Point, Ballarat, Victoria, Austrália

Nenhum comentário:

Postar um comentário