Plantas medicinais da amazônia: Em defesa da 'cura natural'
Campanha nacional defende o reconhecimento dos ‘saberes’ tradicionais no tratamento de doença pelo Ministério da Saúde
Camponesas, ribeirinhas e indígenas de oito municípios do Amazonas promovem encontros para trocar informações e experiências sobre o uso das plantas medicinais
Mulheres do interior do Amazonas aderiram a uma campanha nacional para que o conhecimento tradicional no tratamento de doenças seja reconhecido pelo Ministério da Saúde. As “enfermeiras da floresta” afirmam que verdadeiros milagres são operados por meio de xaropes, garrafadas e unguentos preparados com plantas da Amazônia para tratar os esquecidos pelo sistema de Saúde.
O conhecimento sobre os poderes de cura dessas ervas, cultivadas em quase todos os quintais no interior do Estado, é passado de geração em geração por meio das mulheres que vivem nas áreas rurais. É o caso da agente comunitária de Saúde, Ene Oliveira da Silva, 35.
Ela recebeu da avó e da mãe, durante a criação, informações sobre como usar hortelãzinho, mastruz, cascas de jatobá, mel de abelha, semente de e até ovo galinha caipira para tratar males na garganta e outros sintomas provocados pela gripe.
‘Sara tudo’
A babosa também é usada em casos de doenças no pulmão. Para todos os tipos de “doença de mulher” não há quem deixe de lançar mão do famoso “sara tudo”. Um chá das cascas de uma árvore conhecida com esse nome tem a fama de sarar infecções. “É muito bom para inflamação”, declarou.
O Jucá, outra semente da Amazônia, também é alternativa de tratamento para sangramentos, cólicas e alterações no ciclo menstrual. Ene faz questão de passar esse conhecimento para as três filhas adolescentes. “Elas já sabem que erva usar e para que tipo de doença”, declarou a mãe.
Alternativa segura
A agente de saúde defende que o conhecimento tradicional seja aproveitado como forma de tratamento seguro. “O remédio natural não tem os efeitos colaterais que provocam o excesso de química dos remédios de farmácia”, disse.
Ene defende ainda e alternativas de autonomia para as mulheres camponesas. “Seria sim uma forma dessas mulheres ganharem maior autonomia de suas vidas a partir de seus conhecimentos”, declarou.
O movimento de mulheres camponeses defende que conhecimento tradicional não seja entregue de bandeja nas mãos da indústria farmacêutica e possa ser usado pelas conhecedoras originárias desses tipo de medicamentos.
Trabalho é alternativa de renda
A coordenadora do movimento, Tânia Chantel, afirma que os medicamentos naturais podem ser meio de autonomia para as mulheres camponesas. “Precisamos realmente sistematizar esses conhecimento e não entregá-los como propriedade de uma empresa e sim colocá-los à disposição da população. A feitura desses medicamentos é rica em cultura. Elas fazem rodas, cantam músicas antes de começar a manipular as ervas”, disse.
Tânia destacou ainda que a organização de encontros e fóruns para troca de experiência entre as mulheres camponesas propicia a elas novas perspectivas de vida.
“É a construção de uma vida mais digna, com maior autonomia, liberdade na renda e familiar. Esses conceitos de economia solidária as retiram inclusive de uma condição de violência e submissão. É um processo de formação”, declarou Tânia.
Camponesas, ribeirinhas e indígenas
Mulheres camponesas, ribeirinhas e indígenas de oito municípios do Amazonas fazem intercâmbio de informações sobre plantas medicinais. A experiência inclui a feitura dos remédios em meio a concentração e músicas cantaroladas pelas “enfermeiras da floresta” durante o trabalho.
Um dos encontros ocorreu há três semanas no Instituto Federal do Amazonas (Ifam), na Zona Leste de Manaus. As mulheres que participaram da experiência fizeram garrafadas na hora para a troca entre elas. Cada uma com contruibuições diferentes enriqueceram o momento coletivo.
Durante o evento, elas trocaram saberes no tratamentos de doenças por meio de plantas da Amazônia. Houve oficinas como produção de xaropes, garrafadas e pomadas com plantas e ervas da Amazônia. Além disso, o encontro também contou com palestras de professores de botânica do Ifam.
A troca de conhecimentos, de acordo com a coordenadora da direção nacional do movimento de mulheres camponeses, Tânia Chantel Freire, permite proporcionar maior autonomia às mulheres que atuam no campo. “Tudo isso proporciona autonomias a essas mulheres camponesas e ribeirinhas. Trazer um professor para a sala com elas e promover essa troca de experiências qualifica o conhecimento que elas têm”, afirmou Tânia Freire.
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