sábado, 6 de fevereiro de 2016

Quer conhecer a Amazônia? Vá ao Peru.



  Quer conhecer a Amazônia? Vá ao Peru.


Não estou fazendo qualquer propaganda para as atrações turísticas de nosso vizinho, mas estou sendo sincero. Então, se tem uma graninha guardada e umas duas semanas pra “conhecer a Amazônia” vá ao Peru.


Fui conhecer a Reserva Nacional de Tambopata para ter algumas referências, “benchmark”, de instalações e políticas públicas de incentivo ao turismo, ou eco-turismo como alguns gostam de chamar, para um projeto no qual estava envolvido na época no Parque Estadual do Rio Negro, no estado do Amazonas.

Um grupo de turistas europeus e americanos e eu saímos de Porto Maldonado de voadeira subindo o rio Tambopata, que dá nome à reserva. Ela se encontra numa região conhecida como Andes Tropicais, que tem uma superfície de aproximadamente 30 milhões de hectares, indo da cordilheira Vilcabamba no Peru até o Noroeste da Bolívia.

Por conta da altitude elevada para os padrões da bacia amazônica, essa região tem uma incrível variedade de pássaros, inigualável em outros lugares. Não precisa dizer que essa variedade faz a alegria de turista, principalmente os “bird watchers” que rodam o mundo em busca de espécies exóticas para anotarem as descobertas em seu caderninhos.

O gestor da reserva é o INRENA (Instituto Nacional de Recursos Naturais), que está vinculado ao Ministério da Agricultura do Peru. Até 2001, o turismo nessa região, que é cercada por áreas protegidas, era praticado de forma desordenada e sem qualquer tipo de controle. No entanto a quantidade de turistas continuava aumentando e um plano de manejo bem elaborado criou regras e incentivos para que a atividade econômica totalmente alinhada a princípios de conservação decolasse. A localização de todos os empreendimentos turísticos é limitada a uma zona que dão o nome de “zona de amortecimento”. Dois anos depois, foram elaboradas as normas de condutas que, aparentemente simples, mostram um grande amadurecimento dos agentes envolvidos.

Quando áreas delicadas do ponto de vista ecológico se preparam para receber turistas, uma das prioridades é definir quais são os acessos que podem e que não podem ser utilizados, juntamente com a quantidade de turistas que será permitida irá, definindo assim o impacto inerente à atividade e o montante de recursos necessários para mitigá-los. Um dos funcionários do INRENA em Porto Maldonado e também um dos responsáveis pelo programa de turismo reforçou a idéia, mais uma vez aparentemente simples, mas negligenciada aqui no Brasil, de que:

- Só há disposição a pagar por algo quando há algo sendo oferecido em troca.

No caso da Reserva de Tambopata esse valor vem da quantidade de informação disponível, os programas de educação ambiental que envolvem as escolas de Porto Maldonado e principalmente a presença constante, muitas vezes no caráter de fiscalizador, do gestor da área. Lá existem nove postos de controle e mais 30 guarda-parques.

Longe de mim, querer sugerir que é papel do governo, seja estadual ou federal, oferecer esses serviços. Mas é papel sim oferecer linhas claras de uso, conduta e monitoramento, além das garantias necessárias para a iniciativa privada e a comunidade local investirem. Nada muito diferente do que já fazem em Tambopata.

Quando passei por lá, estavam prestes a iniciar um novo plano de uso turístico e abrir concessões privadas para atividades turísticas em três lagos localizados dentro da reserva.

Quem possui uma dessas concessões é uma empresa chamada “Rain Forest Expeditions” (TRC), que administra um “lodge” para turismo e pesquisas científicas o “Tambopata Research Center”.

De arquitetura simples, bom gosto e bastante prático o TRC, como é chamado, enche os olhos de qualquer mortal que já pensou alguma vez em montar uma pousada num lugar paradisíaco. Foi lá que passei duas noites depois de subir o rio Tambopata por aproximadamente seis horas numa voadeira pouco veloz.

Às 4h30 meu guia me acorda para ir ao fantástico “Macau clay click” que é um paredão de aproximadamente 30 metros de altura e 100 de comprimento, na beira do rio, e que serve como refeição matinal para centenas de araras de todas as cores possíveis e milhares de papagaios e periquitos.

O dia mal amanhece e já estamos estrategicamente posicionados em baixo de alguns arbustos, armados de binóculos e câmeras fotográficas, em frente ao Clay. Aos poucos os pássaros vão se aproximando e formando um espetáculo sensacional, uma verdadeira algazarra de cores e sons.

De acordo com uma palestra que assisti naquela mesma noite no TRC, as aves comem a argila como forma de desintoxicar e complementar sua dieta a base de frutas. A “Colpa Colorado”, como é conhecida, é considerada a maior do mundo. Coincidentemente estive na melhor época para observação desses animais, era o mês de setembro.

O turismo definitivamente não é a panacéia para a Amazônia brasileira, mas regiões próximas à Manaus, Belém, Macapá e tantas outras, que disponham de um bom aeroporto, têm muito que aprender com esse caso peruano.

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