Diamantes de sangue
Getty Images Vítima de conflito em áreas de exploração de diamantes |
Se você já tentou comprar um diamante, sabe que ponderar os quatro Cs é difícil o bastante sem ter de se preocupar com o comércio das pedras. Mas, em termos éticos, a origem de um diamante pode ser a sua mais importante consideração. Talvez a maior controvérsia que o comércio de diamantes enfrenta hoje seja a dos diamantes de regiões de conflito, também conhecidos como “diamantes de sangue”, devido ao sangue derramado para obtê-los.
Um diamante de região de conflito foi roubado ou garimpado ilegalmente e depois vendido com o objetivo de arrecadar dinheiro para grupos terroristas ou paramilitares rebeldes. Esses grupos ganham o dinheiro de que precisam para adquirir armas forçando homens, mulheres e crianças a garimpar diamantes. Quem quer que proteste termine morto, ou sofre a ameaça de ter um membro amputado. A maior parte dos diamantes de regiões em conflito vem de Angola, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Libéria e Serra Leoa. Se você não for cauteloso ao comprar, pode estar adquirindo uma dessas pedras.
Os diamantes de regiões de conflito são introduzidos por contrabando no fluxo do comércio legítimo de pedras. As Nações Unidas (ONU), o Conflict-Free Diamond Council e outros grupos estão trabalhando para promover melhor regulamentação, de forma a evitar que os diamantes de regiões em conflito cheguem ao mercado. Esses grupos instituíram o Processo de Kimberley, que monitora e certifica a procedência dos diamantes em cada estágio do seu processo de produção. Devido ao Processo de Kimberley, a ONU estima que 99,8% dos diamantes disponíveis hoje no mercado não provenham de zonas de conflito {fonte: National Geographic]. Antes de adquirir um diamante, você pode solicitar a apresentação do certificado que prova que ele não provém de uma região de conflito - no futuro, a ONU vai exigir também que eles contenham gravações a laser e assinaturas ópticas, e que sejam integralmente produzidos em um só país.
Os diamantes de zonas de conflito não são a única controvérsia que macula a imagem do comércio da pedra: questões de direitos humanos e dos animais também são freqüentes na Índia bem como em certos países da África. Nos países africanos, as mineradoras usam crianças para garimpar espaços subterrâneos apertados nos quais adultos não cabem, ainda que o trabalho infantil seja ilegal. As cidades mineiras desses países africanos também sofrem incidência ampliada de homicídio eHIV, como resultado de invasões e do comércio sexual. Na Índia, que responde pela lapidação de 92% dos menores diamantes mundiais, crianças cuidam das menores pedras, porque têm vista melhor e dedos menores, mais apropriados para dar forma às minúsculas facetas [fonte: MSN]. Desgaste severo da visão, lesões por movimentos repetitivos e infecções pulmonares causadas pela aspiração de diamantes são apenas alguns dos problemas que afligem esses trabalhadores.
Os defensores dos direitos dos animais também têm tanto em jogo quanto os defensores dos direitos humanos, no que tange à mineração de diamantes. De acordo com o Instituto de Bem-Estar Animal (Animal Welfare Institute), as populações de primatas africanos estão minguando - dentro de 15 a 20 anos, os primatas estarão extintos. A população de chimpanzés se reduziu a apenas 150 mil e, com o abate ilegal de 600 gorilas ao ano, eles também estão diante da ameaça de extinção. A população decrescente de primatas pode ser atribuída em parte à caça ilegal, mas nem toda caça é por esporte. Alguns mineradores de diamantes famintos dependem da carne desses animais para sua sobrevivência.
Getty Images Garimpeiros ilegais se alimentam de macacos |
Os mineiros famintos não são os únicos caçadores clandestinos. Em países de fora da África, a carne de animais selvagens é considerado um prato refinado, e representa um produto lucrativo. A carne mais procurada é a dos bonobos, chimpanzés, pangolins gigantes e gorilas. Até 10 toneladas de carnes exóticas como essas chegam como contrabando ao aeroporto de Heathrow, em Londres, a cada dia. [fonte: Animal Welfare Institute].
Os índios Cinta Larga: um conflito brasileiro
Há mais de 30 anos, os índios Cinta Larga, que vivem na Terra Indígena Roosevelt, em Rodônia, na Amazônia, sofrem com a invasão de garimpeiros atrás de pedras de diamantes. Houve épocas em que mais de 8 mil garimpeiros teriam invadido as terras onde vivem 1.300 índios. O resultado é de violência e mortes, além da presença da prostituição na área. É bom lembrar que os índios têm o direito a garimpar em suas terras, mas a presença de mineiros no local é proibida e rechaçada pelos próprios índios. Além disso, os danos ambientais na reserva são enormes, com vários focos de desmatamento e a extinção de determinados rios.
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