domingo, 8 de maio de 2016

Em mineração, empolgação e ufanismo rima com desinformação (parte 2)

Em mineração, empolgação e ufanismo rima com desinformação (parte 2)



Em matéria da folha de São Paulo, a respeito da reserva Roosevelt,

Em vermelho: comentários de Fernando Lemos
GARIMPO
13)                      Do alto, vê-se uma grande clareira na floresta amazônica, (o que permite que se desconfie que não se trata de kimberlito. Os milhares de corpos de kimberlitos conhecidos não são grandes, menores que 1.000 metros de diâmetro) com a terra avermelhada em contraste com o verde. Já no chão, a entrada do garimpo parece uma ilha de um ecossistema seco e sem vida, margeado por um rio de um lado e um lamaçal do outro. É preciso tomar cuidado com onde se pisa –a terra rachada pode esconder buracos de areia movediça.
14)                      Poucos quilômetros à frente, o coração da garimpagem: enormes crateras enfileiram-se, entrecortadas por montanhas de terra, num horizonte sem fim (o que conduz a desconfiança de não se tratar de kimberlito. Os corpos de kimberlitos são pequenos, menores que 1.000 metros de diâmetro). Perto dos buracos erguem-se barracões precários de madeira cobertos por lonas. É onde os garimpeiros fazem suas refeições, preparadas por suas mulheres ou por cozinheiras.
15)                        "Tem muita droga e prostituição, claro, mas vai muita família para o garimpo. A família toda, mulher e filhos, fica meses lá, e todo mundo se respeita", conta um garimpeiro que não quer se identificar. Ele reclama de que a vida no garimpo é muito dura.
16)                      Chegar até lá já é um sofrimento: da aldeia Roosevelt, a maior de toda reserva, percorre-se uma estrada de 35 km transitáveis apenas em trator, veículos potentes ou motocicletas. De moto, a viagem passa por áreas alagadas, e o veículo precisa ser carregado no braço em alguns momentos. Não raro o desgaste dos freios é tal que eles acabam antes do fim do percurso de aproximadamente quatro horas.
17)No garimpo, o trabalho é pesado, e o retorno, incerto. "Encontramos uma pedra grande, bonita, de mais de 11 quilates. Entregamos para o atravessador vender e nunca vimos a cor do dinheiro. Disseram que ele vendeu por R$ 180 mil", reclama um garimpeiro que, após o episódio, desistiu do trabalho.
18)                      O sistema de funcionamento do garimpo é uma espécie de engrenagem complexa, que gera uma "guerra fria" entre garimpeiros, índios e intermediários: todos tentam passar a perna nos demais.
19)                      Para começar, um investidor dispõe-se a comprar equipamentos, fazer contatos com compradores estrangeiros e subornar a fiscalização. Ele utiliza um intermediário local para negociar cada etapa desse processo –mediante, é claro, uma comissão.
20)                     O intermediário contata uma das principais lideranças cinta-larga (cada uma pode "operar" um trecho do garimpo) e oferece as máquinas em troca de um percentual da venda das pedras, de 20% a 30%. O garimpeiro entra como trabalhador braçal, sem renda fixa. É "contratado" pelo líder indígena e deve se reportar a ele caso encontre pedras. Do total do valor do diamante, o grupo de garimpeiros recebe 7%, parcela geralmente dividida igualmente entre todos
21)                      Acontece que o intermediário avalia a pedra entre 30% e 40% abaixo do valor real da venda, dizem índios e compradores ( a que preço real estão se referindo???? No garimpo?? Preço de são Paulo??? Ou da Bélgica???). Muitas vezes o índio recebe sua parte e não repassa aos garimpeiros, que, por sua vez, tentam vazar (desviar) o diamante do garimpo direto para o comprador, driblando (ludibriando) índios e atravessadores. Pequenas, as pedras cabem no bolso ou podem ser engolidas; o problema é que, se descoberto, o garimpeiro corre o risco de pagar com sua vida.
MASSACRE
22)                     Os primeiros contatos dos cintas-largas com o homem branco foram trágicos: sofreram um monstruoso genocídio, conhecido como Massacre do Paralelo Onze, em 1963, que matou 3.500 indígenas e precipitou a extinção do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sucedido pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O que era uma etnia com cerca de 5.000 indivíduos hoje tem, segundo o Censo, apenas 1.758 pessoas.
 23)                     A relação com os brancos seguiu estável até o início da garimpagem. Daí em diante iniciou-se um processo sistemático de aculturação. Primeiro, a contragosto, os índios permitiram o garimpo com ressalvas, mas a fartura de dinheiro e as perspectivas de consumo corromperam hábitos e geraram dívidas muitas vezes impagáveis.
 24)                     Levantamento realizado pela indigenista Maria Inês Hargreaves indica que, em média, para cada índio cinta-larga, há entre três e quatro processos judiciais (como são 1.758 há 7.032 processos), a maior parte de cobrança de dívidas. Independentemente das trapalhadas financeiras, parte do endividamento é fruto de golpes: estelionatários que abusam do despreparo dos índios para fazê-los assinar documentos em branco, aceitar juros abusivos e aprovar cartas de crédito sem detalhamento das condições de pagamento.
25)                     Para saldar os débitos, muitas vezes cobrados a arma de fogo, permitem a garimpagem em sua terra e a ela se aliam. "Eles sabem que a situação criminosa e marginal em que se encontram conduzirá (já está conduzindo, na verdade) toda a comunidade à extinção. O povo cinta-larga está à beira do genocídio, se não físico, no mínimo étnico e cultural", sentencia o procurador Reginaldo Trindade.
 26)                     O coordenador regional da Funai em Cacoal, Bruno Lima e Silva, corrobora: "A comunidade, no geral, é contra o garimpo, e são apenas poucas lideranças que lucram com isso e geram divisões políticas na etnia", afirma.]
7)                      "Pela vontade da gente, não teria mais garimpo faz tempo, mas o governo não ajuda", diz uma das mais importantes lideranças, que pediu para não ser identificada. A queixa tem endereço certo e motivação definida: a falta de apoio técnico e financeiro da Funai.( diversas ONG’S alardeiam que os índios vivem em perfeita harmonia com a natureza, retiram tudo que necessitam da floresta, alimentos remédios, tudo!!!!)
28)                     Ainda que elogiem a recente ação regional da fundação, há atritos sobre repasse de verbas e um histórico de problemas de relacionamento dos cintas-largas com a gestão do ex-presidente Márcio Meira (2007-12) –alvo, com mais três dirigentes, de uma ação civil de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público.
 29)                     Em 2014, a Funai destinou apenas R$ 104.823,26 à etnia, um valor médio de R$ 58 por índio.
30)                     "A política indigenista vem sofrendo ataques constantes, que podem ser notados nas PECs e PLs e no enfraquecimento institucional da Funai, seja por limitação da atuação do órgão, seja pelos recursos irrisórios destinados à fundação", analisa Bruno Lima e Silva.
31)                      Por outro lado, o grupo operacional capitaneado pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Federal recebia, entre 2006 e 2009, cerca de R$ 7 milhões por ano para coibir o garimpo. Não só não coibiu como piorou a relação dos índios com o Estado. Além da questão financeira, os indígenas relatam maus-tratos –e o Ministério Público já denunciou abusos por parte da própria Polícia Federal.
32)                     Rarefeita, mas agressiva, a presença do Estado é evitada pelos cintas-largas na reserva, o que abre espaço para outras formas de poder: lobistas, intermediários, operadores do garimpo e líderes religiosos entram na terra indígena e agem como tutores da comunidade –conseguem remédios, vagas em hospitais, prometem riquezas e encaminhamento espiritual. A etnia hoje é quase toda seguidora da Assembléia de Deus.

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