Os Minerais e os Colecionadores
Pércio de Moraes Branco
Cada vez mais gente vem se dedicando a colecionar minerais no Brasil, um hobby que conta com muitos adeptos em países como Estados Unidos, Canadá e Itália, por exemplo.
Apesar da grande diversidade de riquezas minerais do nosso país, em especial de pedras preciosas, ainda há poucos colecionadores aqui. Até o fim dos anos 80, eles eram até raros. De lá para cá, a crescente busca por cristais para energização, para tratamento de saúde (cristaloterapia) e para outros fins ditos esotéricos despertou muito o interesse da população por essas substâncias. Como consequência, as lojas de minerais, antes raras, tornaram-se relativamente numerosas, estimulando o surgimento de novos colecionadores.
Curiosamente, percebe-se com clareza que esse interesse vem surgindo principalmente entre as crianças, como bem demonstram as exposições promovidas pelo Museu de Geologia da CPRM.
Por que colecionar?
Colecionar coisas faz parte da natureza humana. Desde a infância temos a tendência de juntar objetos de determinada espécie, de modo ordenado ou não. Quando meninos, colecionamos figurinhas, moedas, selos etc. Adultos, passamos a preferir objetos de maior valor, como relógios e obras de arte. Até podemos continuar colecionando selos e moedas, mas com outra visão e atentos ao seu valor monetário, nem sempre apenas pelo prazer de ter grande quantidade daquilo de que se gosta. Mas cabe perguntar: por que colecionar minerais e não outra coisa? Há várias razões:
Beleza - uma boa razão é a beleza dos minerais, principalmente a daqueles bem cristalizados. Mas essa é uma motivação por demais óbvia, pois todo colecionador busca objetos agradáveis ao olhar.
Baixo custo - uma razão mais específica é a possibilidade de se obter peças para a coleção sem precisar comprá-las ou mesmo fazer trocas. As coleções costumam crescer através de compras e do intercâmbio com outros colecionadores. Os minerais, porém, por ocorrerem na natureza, podem ser obtidos sem que se tenha necessariamente de usar esses meios, principalmente se o colecionador é geólogo ou engenheiro de minas.
Universalidade - minerais são universais. Coleções de moedas, selos, obras de arte frequentemente estão muito ligadas a um determinado país ou região. Elas podem, é claro, ter uma abrangência internacional, mas não são, como os minerais, naturalmente internacionais. Além disso, que outro tipo de coleção pode contar com peças provenientes de fora da Terra, se não uma coleção de rochas e minerais, com seus meteoritos, tectitos e amostras coletadas na lua?
Antiguidade - por mais antigo que seja um documento, uma obra de arte, uma moeda, o que é sua idade – medida em séculos ou milênios – diante da idade das rochas e minerais, medida em milhões ou bilhões de anos?
Origem natural - outra característica marcante dos minerais é serem substâncias produzidas sem intervenção humana. São obras da natureza e, como tal, não estão sujeitas a avaliações pessoais quanto à habilidade de quem as fez, sobre o gosto artístico de quem as produziu etc. Os minerais, belos ou não, são como são porque a natureza assim os fez, não porque mãos mais ou menos habilidosas sobre eles agiram. Além disso, características que poderiam ser classificadas como defeitos podem ser - e muitas vezes o são de fato - detalhes que tornam a peça muito rara, se não única.
Treinamento profissional - para geólogos e outros geocientistas, colecionar minerais é o melhor meio de se aprender a reconhecê-los. O manuseio constante, o exame comparativo de indivíduos da mesma espécie, mas procedentes de diferentes regiões, a observação de particularidades que lhe são típicas, tudo isso leva o colecionador a desenvolver uma aguda percepção das características do material que coleciona, percepção esta que nem os melhores manuais de mineralogia conseguem proporcionar.
Durabilidade - embora haja um bom número de minerais facilmente suscetíveis a sofrer danos, por terem baixa dureza, sensibilidade à luz, sensibilidade à umidade etc., os minerais têm uma resistência física muito superior à dos seres vivos e à de objetos como quadros, selos, fotografias etc.
Passatempo educativo - segundo Fredrick H. Pough, um dos maiores mineralogistas norte-americanos, entre as ciências de base só a mineralogia é um passatempo educativo: ela combina a química, a física e a matemática. Perguntamos no início por que colecionar minerais. Diante das razões acima expostas, a pergunta a fazer talvez seja por que não colecionar minerais.
Como colecionar?
Colecionar não é apenas juntar. Uma coleção, seja do que for, deve ser um conjunto de peças bem classificado e ordenado. Quem assim não fizer não será propriamente um colecionador, mas um ajuntador.
A primeira grande decisão de quem decide colecionar minerais é que tipo de material coletar. A coleção sistemática abriga todo tipo de mineral e tem na diversidade seu objetivo maior e seu maior valor. Ela é a melhor opção para quem está começando. Com o tempo, o colecionador poderá optar por especializar-se, colecionando um grupo específico de minerais.
Para quem não dispõe de muito espaço ou de muitos recursos para obter peças novas, pode ser melhor uma coleção menos abrangente. Sem espaço para crescer, uma coleção sistemática dificilmente será importante. Já uma coleção específica poderá rivalizar com acervos de bons museus. Jules Sauer, por exemplo, um dos maiores joalheiros do Brasil, coleciona apenas turmalinas.
Outro aspecto intimamente relacionado com espaço é o tamanho das peças do acervo. Quem dispõe de área restrita obviamente não poderá ter muitas peças grandes, devendo optar por aquelas que os colecionadores norte-americanos chamam de cabinets, thumbails ou mesmo micromounts.
Mas aí cabe uma advertência: as peças da coleção não podem ser tão pequenas a ponto de tornar muito difícil a identificação do mineral. Minerais comuns em peças que exigem leitura da etiqueta de identificação para saber de que se trata certamente são pequenos demais. As características distintivas devem ser facilmente reconhecíveis.
Como obter minerais para a coleção?
Uma maneira fácil de obter minerais é comprando nas lojas. Você encontra material já limpo, escolhe à vontade e pode obter peças importadas. Porém, tem que pagar.
Outro meio é a troca com outros colecionadores, mas você terá que ter peças que interessem a eles.
Com mais trabalho, mas sem usar dinheiro, você pode aumentar sua coleção em minas, garimpos e pedreiras, onde técnicos e operários poderão ajudá-lo a identificar os minerais coletados. Quem não conhece não imagina a quantidade e qualidade dos minerais para coleção que garimpeiros e mineradores jogam fora. Também estradas em construção oferecem oportunidades de boas coletas.
Quando viajar, observe os barrancos das estradas. Manchas claras e/ou pontos brilhantes no solo podem indicar presença de cristais.
O respeito pelos demais colecionadores é uma característica do colecionador consciente. Ao coletar amostras em uma pedreira ou barranco de estrada, não traga mais do que as necessárias, muito menos danifique as que por alguma razão não poderá trazer. Outros colecionadores ou cientistas passarão por ali e merecem a oportunidade de também encontrar o que você encontrou.
Pode haver exceções: em pedreiras onde toda rocha removida é usada para produção de brita, não só o colecionador pode como deve coletar tudo o que estiver ao seu alcance, repassando a sobra para museus, escolas e, é claro, outros colecionadores.
Escrever para empresas de mineração é também um caminho para aumentar a coleção, mas poucas delas costumam atender a esses pedidos.
Como guardar e expor os minerais?
Exponha sua coleção da maneira que achar melhor, mas deixe para baixo e para trás as faces menos bonitas da peça e aquela que contiver a etiqueta de registro.
Manuseie os minerais com cuidado, não permitindo que haja atrito entre as peças, principalmente se têm durezas muito diferentes. Cuide também para não arrastar os minerais expostos. Isso pode danificar as prateleiras, pois muitos deles, principalmente as pedras preciosas, riscam facilmente vidro e madeira.
No transporte, enrole cada peça separadamente em bastante papel. Se forem peças pequenas e não muito frágeis, pode fazer um pacote só, mas da seguinte maneira: enrole a primeira com duas ou três voltas de papel, acrescente a segunda, dê mais algumas voltas, e assim por diante.
Um papel muito bom para isso é o que se usa para embrulhar pão. Não suja o mineral nem as mãos do colecionador, amolda-se bem em torno da peça e permite que se escreva sobre ele se necessário. Papel higiênico também serve, mas cada peça exige muitas voltas até ficar bem enrolada e não é possível o uso de caneta ou lápis. O jornal é útil para peças grandes, mas se a peça tiver cor clara pode ser necessário enrolá-la antes em papel que não solte tinta.
Seleção de minerais
Num garimpo, mina ou pedreira, onde os minerais disponíveis para coleta são abundantes, pode-se hesitar entre coletar ou não determinada peça. Na dúvida, faça a coleta. Em casa, os minerais parecem mais bonitos que no local onde ocorrem, principalmente depois de lavados. Além disso, é muito mais fácil descartar uma peça menos importante do que voltar ao local para tentar encontrar uma peça bonita que não se trouxe.
Um mineral pequeno ou de pouca beleza é melhor do que nada quando não se tem nenhum daquela espécie. Guarde-o até conseguir uma amostra melhor. Os cristais podem valer mais pela beleza e perfeição do que pelo tamanho, além disso sempre valem mais quando estão na matriz, isto é, engatados na rocha em que se formaram.
É válido colecionar só pedras brutas, mas não menospreze as lapidadas. Um mineral lapidado e um no estado bruto da mesma espécie formam um conjunto que se destaca pelo contraste e pelo valor didático.
O mesmo vale para as ágatas tingidas. A maioria das ágatas industrializadas em todo o mundo são tingidas (no Brasil, porém, menos da metade recebe esse tratamento). Além de isso não ser uma fraude, é preciso reconhecer que o resultado pode ter grande valor estético.
Registro das peças da coleção
Registre todas as peças da coleção. Cole na face menos importante um número ou outro código de identificação. Num caderno ou arquivo de computador, escreva esse número e após ele o nome do mineral com as principais características que identificam aquela peça (ex.: geodo de ametista com calcita). Anote sempre a procedência do mineral. Frequentemente os lojistas ignoram essa informação, mas não deixe de perguntar.
Anote também as dimensões (largura, comprimento e altura), pondo a altura sempre em último lugar. Registre a forma de aquisição (coleta própria, compra, troca) e o nome de quem a coletou, doou ou vendeu. Se comprada, anote o preço (em reais e em dólares). A data em que a peça foi incorporada à coleção é interessante anotar também.
Se a coleção for grande pode ser necessário um código de localização que mostre onde o mineral se encontra no móvel ou na sala em que esteja exposto. Faça esses registros sempre, mesmo que sua coleção seja pequena. Fazer isso depois que ela for grande será muito mais difícil e trabalhoso.
Avaliação do acervo
O valor de uma coleção vai muito além do valor comercial de suas peças. Inclui o trabalho que se teve para organizá-la e mantê-la, para identificar os minerais etc. Some-se a isso o valor do conjunto: a coleção sempre vale mais que a soma de suas peças tomadas individualmente. Lembre que muitos minerais raros não existem no comércio e nesses casos o valor é você quem dita.
Se não se julga em condições de atribuir preço às peças de sua coleção, use os conhecimentos de um colecionador experiente.
Cuidados com os minerais
A grande maioria dos minerais tem uma boa resistência física, mas alguns são muito fáceis de quebrar ou são sensíveis à luz, umidade, calor etc.
A gipsita e o talco podem ser riscados até com a unha. A laumontita desidrata com muita facilidade, desintegrando-se. O cinábrio por simples exposição à luz transforma-se em ouro-pigmento. A ametista e o quartzo róseo perdem a cor se expostos muito tempo ao sol. A halita, a silvita e a carnallita se desintegram em atmosfera úmida.
Procure conhecer os pontos fracos de cada espécie. Manuseie todas com cuidado, evite iluminação intensa e permanente sobre sua coleção, bem como calor ou umidade excessivos.
Intercâmbio de experiências e conhecimentos
Não é só através de troca de minerais que uma coleção se torna grande e importante. Também através das trocas de informações entre os colecionadores. Mesmo um mineralogista experiente, com sólido conhecimento geológico, pode perfeitamente ficar em dúvida ao tentar identificar uma peça que outro, menos especializado, sabe de que se trata.
O mesmo pode acontecer com relação à procedência do mineral. Amostras de procedência ignorada podem ter sua origem diagnosticada por um colecionador experiente com base em algumas características físicas que são típicas dos espécimes procedentes de determinada localidade.
Esse intercâmbio é particularmente salutar quando feito através de associações de mineralogistas ou de colecionadores. Lá as informações abrangem um público maior e são mais confiáveis.
Outra preciosa fonte de informações para quem coleciona são os museus. Aprecie as belas peças expostas e aprenda sobre sua composição, história e procedência.
A triste história de uma grande coleção
Em 1957, o búlgaro Ilia Deleff, 36 anos, mudou-se para o Brasil e desde então começou a visitar garimpos espalhados pelo nosso país. Apaixonado pelos belíssimos minerais que neles via, começou a montar uma coleção formada apenas de cristais muito grandes, gigantescos mesmo.
Na década de 1970, Deleff radicou-se em Minas Gerais, onde sua coleção naturalmente cresceu ainda mais. Em 1982, após 25 anos reunindo cristais enormes que encontrava nos pegmatitos de nossos garimpos, ele detinha uma coleção de 78 cristais fabulosos, variando de 200 kg a quatro toneladas, acervo sem igual no mundo. Dele faziam parte o maior citrino, a maior amazonita azul, a maior morganita e o maior topázio azul do mundo.
Desejando vender sua coleção, procurou diversas instituições brasileiras propondo a venda e dispondo-se a receber como pagamento a renda que fosse obtida com a exposição da sua coleção. Essa proposta foi considerada exótica e recebida com desinteresse, quando não com desprezo.
Diante disso, Deleff ofereceu sua coleção a museus estrangeiros. Surgiram muitos interessados da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, da França e do Japão. A coleção acabou vendida ao Museu de História Natural da França. Saiu do Brasil legalmente, como simples matéria-prima destinada à indústria. Ilia Deleff vendeu sua coleção, não a doou. Mesmo assim foi condecorado pelo presidente francês François Mitterrand.
Em 1985, ele doou outra coleção de cristais gigantescos, dessa vez à Bulgária, e ela é hoje a maior atração do Museu Nacional Terra e Homem, de Sofia, capital daquele país.
Apesar da grande diversidade de riquezas minerais do nosso país, em especial de pedras preciosas, ainda há poucos colecionadores aqui. Até o fim dos anos 80, eles eram até raros. De lá para cá, a crescente busca por cristais para energização, para tratamento de saúde (cristaloterapia) e para outros fins ditos esotéricos despertou muito o interesse da população por essas substâncias. Como consequência, as lojas de minerais, antes raras, tornaram-se relativamente numerosas, estimulando o surgimento de novos colecionadores.
Curiosamente, percebe-se com clareza que esse interesse vem surgindo principalmente entre as crianças, como bem demonstram as exposições promovidas pelo Museu de Geologia da CPRM.
Por que colecionar?
Colecionar coisas faz parte da natureza humana. Desde a infância temos a tendência de juntar objetos de determinada espécie, de modo ordenado ou não. Quando meninos, colecionamos figurinhas, moedas, selos etc. Adultos, passamos a preferir objetos de maior valor, como relógios e obras de arte. Até podemos continuar colecionando selos e moedas, mas com outra visão e atentos ao seu valor monetário, nem sempre apenas pelo prazer de ter grande quantidade daquilo de que se gosta. Mas cabe perguntar: por que colecionar minerais e não outra coisa? Há várias razões:
Beleza - uma boa razão é a beleza dos minerais, principalmente a daqueles bem cristalizados. Mas essa é uma motivação por demais óbvia, pois todo colecionador busca objetos agradáveis ao olhar.
Baixo custo - uma razão mais específica é a possibilidade de se obter peças para a coleção sem precisar comprá-las ou mesmo fazer trocas. As coleções costumam crescer através de compras e do intercâmbio com outros colecionadores. Os minerais, porém, por ocorrerem na natureza, podem ser obtidos sem que se tenha necessariamente de usar esses meios, principalmente se o colecionador é geólogo ou engenheiro de minas.
Universalidade - minerais são universais. Coleções de moedas, selos, obras de arte frequentemente estão muito ligadas a um determinado país ou região. Elas podem, é claro, ter uma abrangência internacional, mas não são, como os minerais, naturalmente internacionais. Além disso, que outro tipo de coleção pode contar com peças provenientes de fora da Terra, se não uma coleção de rochas e minerais, com seus meteoritos, tectitos e amostras coletadas na lua?
Antiguidade - por mais antigo que seja um documento, uma obra de arte, uma moeda, o que é sua idade – medida em séculos ou milênios – diante da idade das rochas e minerais, medida em milhões ou bilhões de anos?
Origem natural - outra característica marcante dos minerais é serem substâncias produzidas sem intervenção humana. São obras da natureza e, como tal, não estão sujeitas a avaliações pessoais quanto à habilidade de quem as fez, sobre o gosto artístico de quem as produziu etc. Os minerais, belos ou não, são como são porque a natureza assim os fez, não porque mãos mais ou menos habilidosas sobre eles agiram. Além disso, características que poderiam ser classificadas como defeitos podem ser - e muitas vezes o são de fato - detalhes que tornam a peça muito rara, se não única.
Treinamento profissional - para geólogos e outros geocientistas, colecionar minerais é o melhor meio de se aprender a reconhecê-los. O manuseio constante, o exame comparativo de indivíduos da mesma espécie, mas procedentes de diferentes regiões, a observação de particularidades que lhe são típicas, tudo isso leva o colecionador a desenvolver uma aguda percepção das características do material que coleciona, percepção esta que nem os melhores manuais de mineralogia conseguem proporcionar.
Durabilidade - embora haja um bom número de minerais facilmente suscetíveis a sofrer danos, por terem baixa dureza, sensibilidade à luz, sensibilidade à umidade etc., os minerais têm uma resistência física muito superior à dos seres vivos e à de objetos como quadros, selos, fotografias etc.
Passatempo educativo - segundo Fredrick H. Pough, um dos maiores mineralogistas norte-americanos, entre as ciências de base só a mineralogia é um passatempo educativo: ela combina a química, a física e a matemática. Perguntamos no início por que colecionar minerais. Diante das razões acima expostas, a pergunta a fazer talvez seja por que não colecionar minerais.
Como colecionar?
Colecionar não é apenas juntar. Uma coleção, seja do que for, deve ser um conjunto de peças bem classificado e ordenado. Quem assim não fizer não será propriamente um colecionador, mas um ajuntador.
A primeira grande decisão de quem decide colecionar minerais é que tipo de material coletar. A coleção sistemática abriga todo tipo de mineral e tem na diversidade seu objetivo maior e seu maior valor. Ela é a melhor opção para quem está começando. Com o tempo, o colecionador poderá optar por especializar-se, colecionando um grupo específico de minerais.
Para quem não dispõe de muito espaço ou de muitos recursos para obter peças novas, pode ser melhor uma coleção menos abrangente. Sem espaço para crescer, uma coleção sistemática dificilmente será importante. Já uma coleção específica poderá rivalizar com acervos de bons museus. Jules Sauer, por exemplo, um dos maiores joalheiros do Brasil, coleciona apenas turmalinas.
Outro aspecto intimamente relacionado com espaço é o tamanho das peças do acervo. Quem dispõe de área restrita obviamente não poderá ter muitas peças grandes, devendo optar por aquelas que os colecionadores norte-americanos chamam de cabinets, thumbails ou mesmo micromounts.
Mas aí cabe uma advertência: as peças da coleção não podem ser tão pequenas a ponto de tornar muito difícil a identificação do mineral. Minerais comuns em peças que exigem leitura da etiqueta de identificação para saber de que se trata certamente são pequenos demais. As características distintivas devem ser facilmente reconhecíveis.
Como obter minerais para a coleção?
Uma maneira fácil de obter minerais é comprando nas lojas. Você encontra material já limpo, escolhe à vontade e pode obter peças importadas. Porém, tem que pagar.
Outro meio é a troca com outros colecionadores, mas você terá que ter peças que interessem a eles.
Com mais trabalho, mas sem usar dinheiro, você pode aumentar sua coleção em minas, garimpos e pedreiras, onde técnicos e operários poderão ajudá-lo a identificar os minerais coletados. Quem não conhece não imagina a quantidade e qualidade dos minerais para coleção que garimpeiros e mineradores jogam fora. Também estradas em construção oferecem oportunidades de boas coletas.
Quando viajar, observe os barrancos das estradas. Manchas claras e/ou pontos brilhantes no solo podem indicar presença de cristais.
O respeito pelos demais colecionadores é uma característica do colecionador consciente. Ao coletar amostras em uma pedreira ou barranco de estrada, não traga mais do que as necessárias, muito menos danifique as que por alguma razão não poderá trazer. Outros colecionadores ou cientistas passarão por ali e merecem a oportunidade de também encontrar o que você encontrou.
Pode haver exceções: em pedreiras onde toda rocha removida é usada para produção de brita, não só o colecionador pode como deve coletar tudo o que estiver ao seu alcance, repassando a sobra para museus, escolas e, é claro, outros colecionadores.
Escrever para empresas de mineração é também um caminho para aumentar a coleção, mas poucas delas costumam atender a esses pedidos.
Como guardar e expor os minerais?
Exponha sua coleção da maneira que achar melhor, mas deixe para baixo e para trás as faces menos bonitas da peça e aquela que contiver a etiqueta de registro.
Manuseie os minerais com cuidado, não permitindo que haja atrito entre as peças, principalmente se têm durezas muito diferentes. Cuide também para não arrastar os minerais expostos. Isso pode danificar as prateleiras, pois muitos deles, principalmente as pedras preciosas, riscam facilmente vidro e madeira.
No transporte, enrole cada peça separadamente em bastante papel. Se forem peças pequenas e não muito frágeis, pode fazer um pacote só, mas da seguinte maneira: enrole a primeira com duas ou três voltas de papel, acrescente a segunda, dê mais algumas voltas, e assim por diante.
Um papel muito bom para isso é o que se usa para embrulhar pão. Não suja o mineral nem as mãos do colecionador, amolda-se bem em torno da peça e permite que se escreva sobre ele se necessário. Papel higiênico também serve, mas cada peça exige muitas voltas até ficar bem enrolada e não é possível o uso de caneta ou lápis. O jornal é útil para peças grandes, mas se a peça tiver cor clara pode ser necessário enrolá-la antes em papel que não solte tinta.
Seleção de minerais
Num garimpo, mina ou pedreira, onde os minerais disponíveis para coleta são abundantes, pode-se hesitar entre coletar ou não determinada peça. Na dúvida, faça a coleta. Em casa, os minerais parecem mais bonitos que no local onde ocorrem, principalmente depois de lavados. Além disso, é muito mais fácil descartar uma peça menos importante do que voltar ao local para tentar encontrar uma peça bonita que não se trouxe.
Um mineral pequeno ou de pouca beleza é melhor do que nada quando não se tem nenhum daquela espécie. Guarde-o até conseguir uma amostra melhor. Os cristais podem valer mais pela beleza e perfeição do que pelo tamanho, além disso sempre valem mais quando estão na matriz, isto é, engatados na rocha em que se formaram.
É válido colecionar só pedras brutas, mas não menospreze as lapidadas. Um mineral lapidado e um no estado bruto da mesma espécie formam um conjunto que se destaca pelo contraste e pelo valor didático.
O mesmo vale para as ágatas tingidas. A maioria das ágatas industrializadas em todo o mundo são tingidas (no Brasil, porém, menos da metade recebe esse tratamento). Além de isso não ser uma fraude, é preciso reconhecer que o resultado pode ter grande valor estético.
Registro das peças da coleção
Registre todas as peças da coleção. Cole na face menos importante um número ou outro código de identificação. Num caderno ou arquivo de computador, escreva esse número e após ele o nome do mineral com as principais características que identificam aquela peça (ex.: geodo de ametista com calcita). Anote sempre a procedência do mineral. Frequentemente os lojistas ignoram essa informação, mas não deixe de perguntar.
Anote também as dimensões (largura, comprimento e altura), pondo a altura sempre em último lugar. Registre a forma de aquisição (coleta própria, compra, troca) e o nome de quem a coletou, doou ou vendeu. Se comprada, anote o preço (em reais e em dólares). A data em que a peça foi incorporada à coleção é interessante anotar também.
Se a coleção for grande pode ser necessário um código de localização que mostre onde o mineral se encontra no móvel ou na sala em que esteja exposto. Faça esses registros sempre, mesmo que sua coleção seja pequena. Fazer isso depois que ela for grande será muito mais difícil e trabalhoso.
Avaliação do acervo
O valor de uma coleção vai muito além do valor comercial de suas peças. Inclui o trabalho que se teve para organizá-la e mantê-la, para identificar os minerais etc. Some-se a isso o valor do conjunto: a coleção sempre vale mais que a soma de suas peças tomadas individualmente. Lembre que muitos minerais raros não existem no comércio e nesses casos o valor é você quem dita.
Se não se julga em condições de atribuir preço às peças de sua coleção, use os conhecimentos de um colecionador experiente.
Cuidados com os minerais
A grande maioria dos minerais tem uma boa resistência física, mas alguns são muito fáceis de quebrar ou são sensíveis à luz, umidade, calor etc.
A gipsita e o talco podem ser riscados até com a unha. A laumontita desidrata com muita facilidade, desintegrando-se. O cinábrio por simples exposição à luz transforma-se em ouro-pigmento. A ametista e o quartzo róseo perdem a cor se expostos muito tempo ao sol. A halita, a silvita e a carnallita se desintegram em atmosfera úmida.
Procure conhecer os pontos fracos de cada espécie. Manuseie todas com cuidado, evite iluminação intensa e permanente sobre sua coleção, bem como calor ou umidade excessivos.
Intercâmbio de experiências e conhecimentos
Não é só através de troca de minerais que uma coleção se torna grande e importante. Também através das trocas de informações entre os colecionadores. Mesmo um mineralogista experiente, com sólido conhecimento geológico, pode perfeitamente ficar em dúvida ao tentar identificar uma peça que outro, menos especializado, sabe de que se trata.
O mesmo pode acontecer com relação à procedência do mineral. Amostras de procedência ignorada podem ter sua origem diagnosticada por um colecionador experiente com base em algumas características físicas que são típicas dos espécimes procedentes de determinada localidade.
Esse intercâmbio é particularmente salutar quando feito através de associações de mineralogistas ou de colecionadores. Lá as informações abrangem um público maior e são mais confiáveis.
Outra preciosa fonte de informações para quem coleciona são os museus. Aprecie as belas peças expostas e aprenda sobre sua composição, história e procedência.
Em 1957, o búlgaro Ilia Deleff, 36 anos, mudou-se para o Brasil e desde então começou a visitar garimpos espalhados pelo nosso país. Apaixonado pelos belíssimos minerais que neles via, começou a montar uma coleção formada apenas de cristais muito grandes, gigantescos mesmo.
Na década de 1970, Deleff radicou-se em Minas Gerais, onde sua coleção naturalmente cresceu ainda mais. Em 1982, após 25 anos reunindo cristais enormes que encontrava nos pegmatitos de nossos garimpos, ele detinha uma coleção de 78 cristais fabulosos, variando de 200 kg a quatro toneladas, acervo sem igual no mundo. Dele faziam parte o maior citrino, a maior amazonita azul, a maior morganita e o maior topázio azul do mundo.
Desejando vender sua coleção, procurou diversas instituições brasileiras propondo a venda e dispondo-se a receber como pagamento a renda que fosse obtida com a exposição da sua coleção. Essa proposta foi considerada exótica e recebida com desinteresse, quando não com desprezo.
Diante disso, Deleff ofereceu sua coleção a museus estrangeiros. Surgiram muitos interessados da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, da França e do Japão. A coleção acabou vendida ao Museu de História Natural da França. Saiu do Brasil legalmente, como simples matéria-prima destinada à indústria. Ilia Deleff vendeu sua coleção, não a doou. Mesmo assim foi condecorado pelo presidente francês François Mitterrand.
Em 1985, ele doou outra coleção de cristais gigantescos, dessa vez à Bulgária, e ela é hoje a maior atração do Museu Nacional Terra e Homem, de Sofia, capital daquele país.
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