DEPÓSITOS DE ALEXANDRITA DE MALACACHETA, MINAS
GERAIS*
Márcio Silva Basílio1,2, Antônio Carlos Pedrosa-Soares3
; Hanna Jordt-Evangelista1
ABSTRACT
Since 1975, alexandrite [Be(Al2-xCrx)2O4], the chromium-bearing crysoberyl variety, has been exploited
from alluvial and paleo-alluvial deposits in the Malacacheta region. The alluvial deposits consist of
resedimented gravel along the present drainage streams. The paleo-alluvial deposits are richer in alexandrite,
and show well-developed soil horizons covering the alexandrite-bearing gravel layer. Alexandrite grains
show angular shapes with very sharp edges, suggesting transport for short distances. The country rocks are
quartz-mica schist and peraluminous mica schist (Salinas Formation), covered by alternating mica schist
and quartzite layers (Capelinha Formation). Both formations are of Neoproterozoic age. They host tectonic
slabs of metaultramafic rocks, and are cut by intrusive granites of Cambrian age. No alexandrite-bearing
rock has been found in the area, probably due to the intense tropical weathering. However, some of the
mapped rocks are sources for Be (granites), Cr (metaultramafics) and Al (peraluminous schists), the essential
elements for alexandrite crystallization. We suggest a metasomatic system of Cambrian age for alexandrite
genesis in the area, involving the interaction of granite-related Be-rich fluids with metaultramafic rocks
and peraluminous schists.
*Suporte financeiro de FAPEMIG, CNPq e CAPES 1 Universidade Federal de Ouro Preto, Dep. de Geologia, Morro do Cruzeiro, Ouro Preto, MG. marcio.basilio@uol.com.br
2 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Dep. de Química, Av. Amazonas 5253, Belo Horizonte, MG 3
Universidade Federal de Minas Gerais, IGC-CPMTC, Campus Pampulha, 31270-901 Belo Horizonte, MG
INTRODUÇÃO
Alexandrita, uma das mais raras e valiosas gemas
do mundo, é a variedade cromífera do crisoberilo
(BeAl2
O4
). O efeito alexandrita se manifesta pela
mudança de cor, em função do tipo de iluminação, que
passa de verde intenso, sob luz do sol, para violeta ou
vermelho framboesa, sob luz incandescente(White et
al. 1967).
A substituição de parte do Al+3 por Cr+3,
representada na fórmula [Be(Al2-xCrx
)
2
O4
], é a causa
do efeito alexandrita. O conteúdo de cromo substituindo
o alumínio pode variar dentro de limites relativamente
amplos (0,03% a 1,5%), sendo a presença do cromo o
fator determinante da cor e da mudança de cor na
alexandrita (Schmetzer et al. 1980, Gübelin e Schmetzer
1982, Pinheiro et al. 2000).
No Brasil, a alexandrita é explorada principalmente
em Minas Gerais, nas regiões de Itabira-Nova Era e
Malacacheta-Setubinha, sendo também encontrada em
pequenas ocorrências no Espírito Santo e Bahia
(Cassedanne e Baptista 1984, Pinto e Pedrosa-Soares
2001).
A descoberta de alexandrita em Malacacheta
ocorreu em 1975, após a identificação de pequenas
pedras verdes contidas no barro trazido do Córrego do
Fogo (Fig. 1). Logo que estas gemas foram classificadas
como alexandrita de alta qualidade, teve início um
grande fluxo de garimpeiros que chegaram a totalizar
5000 homens acampados às margens do Córrego do
Fogo e ribeirões Soturno e Setubinha.
A atividade garimpeira na região teve seu pico entre
os anos de 1975 e 1987. Durante aqueles 12 anos foram
produzidos cerca de 2 kg de alexandrita de muito boa
qualidade (Proctor 1988). Em 1985 foi descoberto um
cristal pesando 14,6 g no Ribeirão Soturno que, depois
de lapidado, gerou um cabochão de 18,5 ct, considerado
uma das mais raras e finas alexandritas olho-de-gato do
mundo. A partir de 1987, a produção declinou muito.
Em 1998, cerca de 100 garimpeiros ainda trabalhavam
nos aluviões, mas a produção era muito pequena, não
superando poucos quilates de gema de boa qualidade
por ano.
ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO
O Distrito Gemológico de Malacacheta localiza-se
à cerca de 30 km ao norte da cidade homônima. O
intenso intemperismo tropical transformou as rochas da
área em extensos e profundos solos lateríticos com
exposições periódicas de saprólito. Quando ocorrem,
as exposições de rochas frescas situam-se ao longo de
drenagens, cortes de estrada e escarpas íngremes.
O Distrito Gemológico de Malacacheta situa-se em
terreno metamórfico de fácies anfibolito, intrudido por
granitos, do domínio tectônico interno da Faixa Araçuaí
(Pedrosa-Soares e Wiedemann-Leonardos 2000). As
unidades estratigráficas da área estudada estão
representadas na Figura 1.
O embasamento, de idade arqueana a
paleoproterozóica, retrabalhado no Ciclo Brasiliano, é
constituído predominantemente por biotita gnaisse
bandado do Complexo Guanhães (Pedrosa-Soares et al.
1994). Sobre ele repousam as unidades que ocupam a
maior parte da área, denominadas formações Salinas e
Capelinha DEPÓSITOS DE ALEXANDRITA DE MALACACHETA, MINAS GERAIS
A Formação Salinas é composta predominantemente
por quartzo-mica xisto granatífero e xisto peraluminoso
rico em almandina e sillimanita fibrosa, com
intercalações de rochas cálcio-silicáticas. Os xistos são
mais ricos em biotita que moscovita. Seixos e matacões
de formações ferríferas bandadas (tipos óxido e silicato)
e de ortoanfibolitos são frequentes nos terrenos desta
formação, na área estudada.
A Formação Capelinha consiste em uma sucessão
basal de camadas alternadas de micaxisto, grafita xisto
e protoquartzito, coberta por espesso pacote de
ortoquartzito. O micaxisto é rico em moscovita, granada
e sillimanita fibrosa. O protoquartzito contém moscovita
e/ou feldspato e/ou sillimanita. Veios quartzofeldspáticos
com textura pegmatítica são comuns nas
camadas ricas em moscovita. Parte destes veios parece
ter origem anatética e parte parece estar relacionada às
intrusões graníticas.
Corpos de rochas metaultramáficas ocorrem
tectonicamente alojados nestas formações. O maior
deles, denominado Corpo Catulé (Fig. 1), é constituído
de tremolita-talco xisto com remanescentes de peridotito
mostrando foliação milonítica. Espessos veios de
diopsídio e quartzo, de granulação grossa, ocorrem
associados a este corpo e foram garimpados para
explotação dos belos cristais euédricos de diopsídio.
Um granito intrusivo ocupa a porção central da área
(Fig. 1). Trata-se de granito homogêneo, a duas micas,
Figura 1: Mapa geológico simplificado da área garimpeira do Córrego do Fogo-Setubinha, no Distrito
Gemológico de Malacacheta (adaptado de Voll & Pimenta, 1997).
Figure 1: Simplified geologic map of the Córrego do Fogo-Setubinha area, Malacacheta Gemologic District
(after Voll & Pimenta, 1997).
10
48 º W 42º W
16º S
20º S
42º 10'
Formação Capelinha: micaxisto e quartzito
Formação Salinas: quartzo-m ica xisto e xisto peraluminoso
C om plexo G uanhães: gnaisse
Granito C órrego do Fogo (S uíte Mangabeiras)
Corpo Catulé: rochas metaultram áficas
Drenagem
Contato litológico
Falha de em purrão
0 24 68
Localização da área
R i o
S e t ú b a l
41º 50`
17º 35'
17º 50'
km
Garim po de alexandrita
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