domingo, 26 de junho de 2016

DEPÓSITOS DE ALEXANDRITA DE MALACACHETA, MINAS GERAIS

DEPÓSITOS DE ALEXANDRITA DE MALACACHETA, MINAS GERAIS* Márcio Silva Basílio1,2, Antônio Carlos Pedrosa-Soares3 ; Hanna Jordt-Evangelista1 ABSTRACT Since 1975, alexandrite [Be(Al2-xCrx)2O4], the chromium-bearing crysoberyl variety, has been exploited from alluvial and paleo-alluvial deposits in the Malacacheta region. The alluvial deposits consist of resedimented gravel along the present drainage streams. The paleo-alluvial deposits are richer in alexandrite, and show well-developed soil horizons covering the alexandrite-bearing gravel layer. Alexandrite grains show angular shapes with very sharp edges, suggesting transport for short distances. The country rocks are quartz-mica schist and peraluminous mica schist (Salinas Formation), covered by alternating mica schist and quartzite layers (Capelinha Formation). Both formations are of Neoproterozoic age. They host tectonic slabs of metaultramafic rocks, and are cut by intrusive granites of Cambrian age. No alexandrite-bearing rock has been found in the area, probably due to the intense tropical weathering. However, some of the mapped rocks are sources for Be (granites), Cr (metaultramafics) and Al (peraluminous schists), the essential elements for alexandrite crystallization. We suggest a metasomatic system of Cambrian age for alexandrite genesis in the area, involving the interaction of granite-related Be-rich fluids with metaultramafic rocks and peraluminous schists. *Suporte financeiro de FAPEMIG, CNPq e CAPES 1 Universidade Federal de Ouro Preto, Dep. de Geologia, Morro do Cruzeiro, Ouro Preto, MG. marcio.basilio@uol.com.br 2 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Dep. de Química, Av. Amazonas 5253, Belo Horizonte, MG 3 Universidade Federal de Minas Gerais, IGC-CPMTC, Campus Pampulha, 31270-901 Belo Horizonte, MG INTRODUÇÃO Alexandrita, uma das mais raras e valiosas gemas do mundo, é a variedade cromífera do crisoberilo (BeAl2 O4 ). O efeito alexandrita se manifesta pela mudança de cor, em função do tipo de iluminação, que passa de verde intenso, sob luz do sol, para violeta ou vermelho framboesa, sob luz incandescente(White et al. 1967). A substituição de parte do Al+3 por Cr+3, representada na fórmula [Be(Al2-xCrx ) 2 O4 ], é a causa do efeito alexandrita. O conteúdo de cromo substituindo o alumínio pode variar dentro de limites relativamente amplos (0,03% a 1,5%), sendo a presença do cromo o fator determinante da cor e da mudança de cor na alexandrita (Schmetzer et al. 1980, Gübelin e Schmetzer 1982, Pinheiro et al. 2000). No Brasil, a alexandrita é explorada principalmente em Minas Gerais, nas regiões de Itabira-Nova Era e Malacacheta-Setubinha, sendo também encontrada em pequenas ocorrências no Espírito Santo e Bahia (Cassedanne e Baptista 1984, Pinto e Pedrosa-Soares 2001). A descoberta de alexandrita em Malacacheta ocorreu em 1975, após a identificação de pequenas pedras verdes contidas no barro trazido do Córrego do Fogo (Fig. 1). Logo que estas gemas foram classificadas como alexandrita de alta qualidade, teve início um grande fluxo de garimpeiros que chegaram a totalizar 5000 homens acampados às margens do Córrego do Fogo e ribeirões Soturno e Setubinha. A atividade garimpeira na região teve seu pico entre os anos de 1975 e 1987. Durante aqueles 12 anos foram produzidos cerca de 2 kg de alexandrita de muito boa qualidade (Proctor 1988). Em 1985 foi descoberto um cristal pesando 14,6 g no Ribeirão Soturno que, depois de lapidado, gerou um cabochão de 18,5 ct, considerado uma das mais raras e finas alexandritas olho-de-gato do mundo. A partir de 1987, a produção declinou muito. Em 1998, cerca de 100 garimpeiros ainda trabalhavam nos aluviões, mas a produção era muito pequena, não superando poucos quilates de gema de boa qualidade por ano. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO O Distrito Gemológico de Malacacheta localiza-se à cerca de 30 km ao norte da cidade homônima. O intenso intemperismo tropical transformou as rochas da área em extensos e profundos solos lateríticos com exposições periódicas de saprólito. Quando ocorrem, as exposições de rochas frescas situam-se ao longo de drenagens, cortes de estrada e escarpas íngremes. O Distrito Gemológico de Malacacheta situa-se em terreno metamórfico de fácies anfibolito, intrudido por granitos, do domínio tectônico interno da Faixa Araçuaí (Pedrosa-Soares e Wiedemann-Leonardos 2000). As unidades estratigráficas da área estudada estão representadas na Figura 1. O embasamento, de idade arqueana a paleoproterozóica, retrabalhado no Ciclo Brasiliano, é constituído predominantemente por biotita gnaisse bandado do Complexo Guanhães (Pedrosa-Soares et al. 1994). Sobre ele repousam as unidades que ocupam a maior parte da área, denominadas formações Salinas e Capelinha DEPÓSITOS DE ALEXANDRITA DE MALACACHETA, MINAS GERAIS A Formação Salinas é composta predominantemente por quartzo-mica xisto granatífero e xisto peraluminoso rico em almandina e sillimanita fibrosa, com intercalações de rochas cálcio-silicáticas. Os xistos são mais ricos em biotita que moscovita. Seixos e matacões de formações ferríferas bandadas (tipos óxido e silicato) e de ortoanfibolitos são frequentes nos terrenos desta formação, na área estudada. A Formação Capelinha consiste em uma sucessão basal de camadas alternadas de micaxisto, grafita xisto e protoquartzito, coberta por espesso pacote de ortoquartzito. O micaxisto é rico em moscovita, granada e sillimanita fibrosa. O protoquartzito contém moscovita e/ou feldspato e/ou sillimanita. Veios quartzofeldspáticos com textura pegmatítica são comuns nas camadas ricas em moscovita. Parte destes veios parece ter origem anatética e parte parece estar relacionada às intrusões graníticas. Corpos de rochas metaultramáficas ocorrem tectonicamente alojados nestas formações. O maior deles, denominado Corpo Catulé (Fig. 1), é constituído de tremolita-talco xisto com remanescentes de peridotito mostrando foliação milonítica. Espessos veios de diopsídio e quartzo, de granulação grossa, ocorrem associados a este corpo e foram garimpados para explotação dos belos cristais euédricos de diopsídio. Um granito intrusivo ocupa a porção central da área (Fig. 1). Trata-se de granito homogêneo, a duas micas, Figura 1: Mapa geológico simplificado da área garimpeira do Córrego do Fogo-Setubinha, no Distrito Gemológico de Malacacheta (adaptado de Voll & Pimenta, 1997). Figure 1: Simplified geologic map of the Córrego do Fogo-Setubinha area, Malacacheta Gemologic District (after Voll & Pimenta, 1997). 10 48 º W 42º W 16º S 20º S 42º 10' Formação Capelinha: micaxisto e quartzito Formação Salinas: quartzo-m ica xisto e xisto peraluminoso C om plexo G uanhães: gnaisse Granito C órrego do Fogo (S uíte Mangabeiras) Corpo Catulé: rochas metaultram áficas Drenagem Contato litológico Falha de em purrão 0 24 68 Localização da área R i o S e t ú b a l 41º 50` 17º 35' 17º 50' km Garim po de alexandrita

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