domingo, 26 de junho de 2016

Topázio imperial volta a ser explorado em Minas

Topázio imperial volta a ser explorado em Minas



Tratores e escavadeiras romperam o silêncio imposto pela crise financeira mundial no ano passado, retomando a exploração de topázio imperial na pequena localidade de Rodrigo Silva, distante 35 quilômetros de Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais. A história do distrito esteve associada por mais de 200 anos à extração da pedra brilhante, translúcida, tingida das cores do sol e do fogo, que encantou dom Pedro I, no século 19. Ainda a um ritmo modesto de produção, a Fazenda Capão do Lana voltou a abastecer grandes indústrias joalheiras, com o trabalho obstinado do engenheiro de minas Vicente Alves, há 30 anos na atividade, e de um grupo de 20 trabalhadores.

Inconformado com o fechamento da reserva em dezembro de 2009, quando o mercado consumidor havia tocado a lona, Vicente Alves reuniu as economias e propôs o arrendamento da área aos donos das terras e dos direitos minerários, pertencentes à Topázio Imperial Mineração. Mais que uma nova aposta na recuperação das vendas da pedra preciosa, significaria resgatar a maior mina de topázio imperial operada em escala industrial no mundo. “Esse mercado vai se firmar. Tudo depende de não deixarmos morrer a pedra, símbolo de prazer e requinte”, afirma o engenheiro, dono da Mineração Topázio. Cerca de 70% das pedras extraídas em oito meses de operação, este ano, foi entregue aos clientes.

Na Mina do Capão, três frentes de lavra a ceú aberto movimentam de 50 a 60 metros cúbicos de minério por dia, para buscar a pedra a no máximo 12 metros de profundidade. O resultado da produção corresponde a 15% dos volumes anteriores. A mineração iniciada em 1971 chegou a empregar 80 pessoas, a maior parte de moradores do distrito da cidade histórica, retirando topázio à profundidade de 35 metros. Vencida a turbulência na economia, as vendas estão limitadas a algo em torno de 10% do que esse mercado representava.

Se parece pouco, Vicente Alves não esconde a satisfação de registrar novas consultas de clientes, sinal de que bons tempos para o comércio podem retornar. Comparada à famosa esmeralda, o topázio perde por falta de marketing para impulsionar seu consumo, mas não deixa a desejar na beleza e diversidade de cores, um horizonte que vai do amarelo pálido e do mel ao vermelho, com destaque para o raro e caro lilás. As pedras da Mina do Capão vendidas na forma bruta alimentam as lapidações, onde são valorizadas pela transparência, ausência de trincas, pureza e a perfeição que os entendidos chamam de “quilatagem”.

Um topázio lilás de 5 gramas, livre de trincas, depois de limpo e polido, pode render 8 quilates avaliados em US$ 3,5 mil. Cada quilate da pedra lapidada pode variar de US$ 5 a US$ 500, alcançando US$ 700 para pedra rara e perfeita. Com a mesma forma do topázio, o euclasio, também encontrado na Mina do Capão exibe um verde azulado transparente bastante procurado pelos colecionadores, a preços que vão de US$ 5 a US$ 100 por quilate. Vicente Alves conta que durante as três décadas em que gerenciou a mina, a serviço da Topázio Imperial, houve a tentativa de verticalizar a produção, com a oferta da pedra lapidada.

A iniciativa não teve o retorno esperado, uma vez que além do custo alto da estrutura para lapidação, manter os verdadeiros artistas personificados nesses trabalhadores exigia investimento também pesado. Na reserva, as máquinas cortam a terra deixando os sulcos onde é necessário pôr a mão na massa escura e untuosa de argila à procura da gema. O encarregado de lavra Ivon Pereira já dedicou 20 anos de sua vida à mineração na cidade natal, recordando com gosto o dia em que descobriu uma pedra de 3 quilos, no valor de 20 milhões de dólares. Na extração organizada e nos garimpos, que desapareceram, a cata do topázio era feita em meio à própria enxurrada. “A gente encontrava topázios tão grandes que a mão não fechava”, lembra Ivon.

Memórias da realeza

Na casa simples que abriga o Centro de Referência do Topázio Imperial, em frente à estação ferroviária de Rodrigo Silva, a memória de uma exploração que já foi ativa, seja a extração organizada, seja o garimpo, que sucumbiu ao encolhimento do comércio exterior, guarda histórias e trabalhos técnicos sobre a gema. O engenheiro Vicente Alves logo informa que não transporta a pedra. Ele segue o mapa com os dedos mostrando a extensa área conhecida de ocorrência do topázio imperial, a única no Brasil, em Ouro Preto, que, além de Rodrigo Silva, corta as localidades de Miguel Burnier, Dom Bosco, Boa Vista, Saramenha e Antônio Pereira.

A gema brasileira e mineira, que formou mão de obra especializada nesses municípios, surge encrustrada em rochas macias de argila com veios de caulim, diferentemente do afloramento em países como a Rússia e o Paquistão, onde é difícil a retirada da pedra das rochas de calcário. Dizem os relatos sobre a pedra que o tom de realeza, parte de seu nome, teve origem na Rússia, país no qual foram localizadas as primeiras jazidas, levadas à exaustão no tempo dos czares, os monarcas que governaram o país até o início do século 20.

A Mina do Capão é a maior do complexo de depósitos minerais na área da Topázio Imperial Mineração em Rodrigo Silva. Os terrenos com extensão total de 800 hectares abrigam as jazidas do Brocotó, Mato da Roça e Zé Leite. Alves acredita que as reservas têm vida útil de mais duas décadas, exploradas no processo anterior de tratamento de 4,5 mil metros cúbicos de minério por mês. A cada 2 metros cúbicos, em geral, é obtido um quilate de topázio imperial lapidável. O local se tornou famoso por ter abrigado uma pousada transformada em paço (pouso) real pelo então príncipe regente dom Pedro I, em 1822.

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