UMA VIAGEM PELO RIO TAPAJÓS ATÉ AS DRAGAS
Fiz uma viagem pelo Rio Tapajós, até próximo à comunidade do Acará, onde estão trabalhando cerca de 70 dragas (balsas). A viagem começou às 8:30 horas, quando sai de casa em companhia do meu cunhado Erasmo Braga e do meu amigo Tola. Seguimos de carro até o Buburé, onde encontrei o amigo Índio, que já estava “melado”, como sempre, tinha tomado todas. Ali encontrei o Veloso, um pioneiro da garimpagem na região do Jatobá, o piloto de Voadeira Mamede, que me emprestou uma cadeira, para que minha viagem fosse mais confortável, o piloto Zé da Conci do Pimental e duas moças, que nos pediram carona até as dragas. Embarcarmos na minha voadeira ANDRIA, que estava há dias no Buburé, aguardando esta nossa viagem, sob o comando do experiente Erasmo Braga, filho do grande Carlito Braga, um dos comandantes de barco mais conhecidos e experientes do Rio Tapajós. Nossa viagem ocorreu a partir das 10:00 horas, e fui conversando com as duas jovens, que inicialmente me disseram que trabalhavam de cozinheira nas balsas. Na conversa revelaram que ganham em torno de 35 gramas de ouro por mês para cozinhar e lavar roupa. Uma coisa que me chamou atenção foi que as moças declararam que nas dragas se come bem, ou seja, tem de tudo. Para se ter uma idéia, a cozinheira tem que saber fazer pão, bolo, salgados e até pizza, já que ali é servido café, almoço e jantar, além de merenda. Isto nós constatamos na nossa visita nas dragas, pois tudo que é servido nestas é de primeira. Mas voltando ao depoimento das moças, elas disseram que estão trabalhando nas balsas porque na cidade de Itaituba não há emprego. Inclusive afirmaram que depois que começou a exploração de ouro com draga a vida de muita gente mudou em Itaituba e na região, inclusive a delas. Chegando à região onde estavam as dragas, deixamos uma moça na Draga MARIANA e a outra na Draga RABUGENTA. Passamos a visitar de uma em uma das dragas, vendo todos os detalhes. Pude ver uma estrutura de primeiro mundo das duas dragas MARIANA I e II, que muito me impressionou pela sua qualidade. Os apartamentos todos de madeira macheada, como nas demais dragas, bem pintadas e com centrais de ar condicionado. Na conversa com os dragueiros, fui informado que cada balsa gasta diariamente 1.000 litros de óleo diesel, o que em 30 dias, somados, gastam 30 mil litros e as cerca de 70 dragas mensalmente gastam em torno de 2 Milhões de litros de óleo diesel. Outra informação importante, que colhi ali foi com relação à produção de ouro. Calcula-se que cada draga produz cerca de três quilos de ouro por mês, mas tem draga que chega a produzir mais de cinco quilos. Isto é relativo, porque também tem balsa que gasta 10 mil litros de óleo diesel e não tira nenhum quilo de ouro. Este é o risco da garimpagem. Entretanto, só estas balsas ou dragas, como queiram chamar, produzem mensalmente em torno de 100 a 150 quilos de ouro. Cada draga possui cinco funcionários e cada um dos empregados ganha como pagamento pelo trabalho 4% da produção de ouro. Exemplo: se a balsa produzir três quilos de ouro, cada empregado ganha 120 gramas de ouro, ou seja, equivalente, hoje, cerca de RS: 12.000 (Doze Mil Reais). Em torno destas dragas, vive muita gente trabalhando em atividades que subsidiam o funcionamento destas diariamente, como as distribuidoras de combustível, comércio de gêneros alimentícios, as lojas de peças, os pilotos de voadeiras, hotéis, restaurantes, o transporte terrestre entre Itaituba o Buburé. Muita gente vive da movimentação destas dragas, que têm proporcionado melhoria de qualidade de vida de dezenas e dezenas de famílias. No entanto, as dragas são acusadas de gerar impactos ambientais, como a poluição dos rios. Esse é um problema sério, mas que precisa ser tratado de forma técnica, jurídica e criteriosa, uma vez que as atividades econômicas ligadas a esse ramo da mineração na região é de fundamental importância para o município de Itaituba e para o Brasil. É preciso conciliar o desenvolvimento econômico, o social e o ecológico, o “tripé” do desenvolvimento sustentável, tão discutido na Conferência das Nações Unidas Rio-92, e exigido num dos principais documentos desta conferência, a Agenda 21, que precisa ser seguido pelas nações. Portanto, é preciso repensar a forma de como lidar com essa realidade, para evitar com que muito mais problemas possam surgir como os socioeconômicos, que a meu ver, também é impactante, uma vez que grande parte da economia do município gera em torno da mineração do ouro. Todos que trabalham nas dragas e no seu entorno, estão preocupados com a possibilidade da paralisação do trabalho destas, que caso aconteça, causará um colapso social e econômico na região, pois muita gente fez investimento apostando na exploração de ouro com estas balsas e estão devendo na praça.
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