terça-feira, 16 de agosto de 2016

Alta das commodities ajuda mineradoras a reduzir peso da dívida

Alta das commodities ajuda mineradoras a reduzir peso da dívida

As mineradoras globais têm feito um grande esforço para reduzir suas dívidas. Elas venderam minas, demitiram funcionários e cortaram despesas em todas as áreas de negócios em que atuam. Neste ano, elas receberam um empurrão extra da alta dos preços das commodities, que está ajudando essas empresas a pagar suas dívidas mais rápido do que o esperado.
Os sinais de melhora no caixa das mineradoras chegam em boa hora para os investidores, que viram as empresas cortarem o pagamento de dividendos como parte do esforço para reduzir dívidas. Um boom de dez anos nos preços das commodities, alimentado pela demanda da China, encorajou essas empresas a construir redes de minas, ferrovias e portos e fazer aquisições caras para crescer. No fim de 2013, as cinco maiores mineradoras do mundo, entre elas a brasileira Vale SA, haviam acumulado uma dívida líquida total de quase US$ 120 bilhões, cerca do quíntuplo do registrado dez anos antes.
As preocupações com a dívida das mineradoras aumentaram no primeiro semestre, quando a Moody’s Investor Services cortou a nota de classificação de crédito de grandes mineradoras, inclusive a Vale e as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto. A agência de classificação chegou a rebaixar a nota da dívida Anglo American PLC, que tem sede em Londres, para o nível de investimento especulativo (“junk”).
Mas a alta acentuada dos preços de algumas commodities neste ano deu às empresas um certo alívio. O preço do minério de ferro, por exemplo, já subiu 40% no ano e o do carvão térmico, cerca de 33%. Isso ajudou a fortalecer o fluxo de caixa das empresas e permitiu a elas reduzir parte das dívidas.
A cotação das ações das mineradoras saltou e o preço do seguro contra o não pagamento de suas dívidas despencou. Os investidores estão menos preocupados, embora a maioria ainda alerte que as empresas têm um bom caminho a percorrer. A BHP, maior mineradora do mundo em valor de mercado, deve reiterar o foco na redução de dívidas hoje, quando ela divulga seu resultado anual.
Em julho, a Anglo American afirmou que sua dívida líquida havia caído para 35,4% do patrimônio líquido, ante 37,7% no fim de 2015. Essa relação entre dívida e patrimônio é bastante usada para avaliar o endividamento de empresas. Durante o mesmo período, a Rio Tinto reduziu sua dívida líquida de 24% para 23% do patrimônio líquido.
A Vale, por sua vez, tem vendido ativos para atingir a meta de reduzir sua dívida líquida para US$ 15 bilhões no período de 18 meses a partir de fevereiro. Entre os desinvestimentos da empresa está a transferência de parte das operações logísticas e de carvão em Moçambique para a trading japonesa Mitsui & Co. Ltd.
Nos resultados do segundo trimestre, a Vale divulgou uma ligeira redução de 0,6% em sua dívida líquida em relação ao primeiro trimestre, para US$ 27,51 bilhões. A cifra, porém, ainda é maior que os US$ 25,23 bilhões registrados no fim de 2015.
Já a Anglo vem reestruturando seus negócios numa tentativa de melhorar suas finanças. A empresa planeja vender mais de metade de suas operações — incluindo, possivelmente, o projeto de minério de ferro Minas Rio, no Brasil — e se concentrar na exploração de diamantes, platina e cobre.
Embora a empresa tenha sofrido um vultoso prejuízo no primeiro semestre, sua dívida líquida recuou de US$ 12,9 bilhões no fim de 2015 para US$ 11,7 bilhões no fim de junho, graças principalmente a cortes de custos. “A Anglo American não só deve atingir sua meta de dívida no fim do ano [de menos de US$ 10 bilhões], mas acreditamos que ela também possa atingir a meta de médio prazo de US$ 6 bilhões nos próximos 18 meses”, afirmou a firma americana de serviços financeiros Canaccord Genuity, numa nota recente.
A BHP foi outra que fez progressos nos últimos anos, embora prejudicada pelos custos inesperados do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco Mineração, em Mariana, MG. A Samarco é uma joint venture entre a BHP e a Vale, que também sofreu os efeitos do acidente de novembro do ano passado.
Analistas preveem que a BHP divulgue uma pequena alta na dívida líquida hoje, juntamente com um prejuízo líquido em torno de US$ 5,8 bilhões — que seria o maior desde que a empresa foi formada, em 2001, com a fusão da BHP Ltd. e a Billiton PLC.
Ainda assim, o banco suíço Credit Suisse estima que a BHP vai reduzir sua dívida líquida dos US$ 24,4 bilhões registrados em junho de 2015 para US$ 19,1 bilhões até meados de 2018. O UBS, outro banco suíço, afirma que a dívida pode cair para até US$ 16,6 bilhões em 2018.
A preocupação menor com as finanças das mineradoras se reflete na queda do custo do seguro contra o não pagamento da dívida das empresas, o chamado “credit default swap” ou CDS. O custo, por exemplo, de proteger US$ 10 milhões em dívida da BHP contra inadimplência num período de cinco anos caiu de US$ 252 mil por ano em fevereiro para US$ 124 mil na semana passada, segundo a firma de dados Markit.
Outras mineradoras apresentaram declínios semelhantes. O custo de um CDS para segurar títulos de US$ 10 milhões da Vale durante cinco anos recuou de quase US$ 1 milhão por ano em janeiro para US$ 415 mil na semana passada, segundo a Markit. Já o custo do mesmo CDS para títulos da gigante suíça Glencore PLC, mineradora e negociadora de commodities, despencou de mais de US$ 1 milhão no início do ano, para US$ 250 mil hoje.
“Não há dúvida de que o mercado pensa que os problemas de dívida não são um problema”, diz Nik Stanojevic, analista da Brewin Dolphin, gestora londrina de fortunas que tem ações da Glencore.
Mesmo com a melhora nas perspectivas, alguns investidores dizem esperar que as mineradoras realmente continuem priorizando a redução de dívidas.
A melhora nos mercados de commodities tirou o assunto “da agenda, mas se a China der outro tropeço e os preços caírem, aí as pessoas vão ficar preocupadas de novo”, diz Andrew Lapping, vice-diretor de investimento da Allan Gray, uma gestora de recursos sediada na África do Sul.
Fonte: WSJ

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