Mineração: adicionar valor ou morrer tentando...
geologo.com
Durante décadas a maioria dos mineradores do mundo, incluindo as gigantes Vale, Rio Tinto e BHP, se restringiram a produzir minério com o menor valor agregado possível.
Quanto muito elas produziam concentrados, deixando para as metalúrgicas o trabalho do refino e da produção de produtos mais elaborados e, obviamente, muito mais caros.
Elas reduziam os custos e amealhavam imensos lucros sem maiores preocupações.
Este foi o modelo usado para o minério de ferro onde as mineradoras venderam bilhões de toneladas de um produto moído, baratíssimo, quase sem nenhum valor agregado, que era transformado nos países importadores como a China, Japão e Coréia em carros, eletroeletrônicos e uma miríade de mercadorias valiosas posteriormente compradas pelo país exportador.
Se olharmos essas exportações dentro de uma ótica nacionalista a venda de produtos sem adição de valor é um crime lesa-pátria. As mineradoras que estão fazendo essa lavra predatória estão pouco interessadas se a exportação de minério sem valor agregado está acabando com a riqueza de um povo, transferindo bilhões de dólares para os países importadores.
Mas esta depredação das riquezas minerais pode estar chegando ao fim.
O primeiro país a tornar ilegal a exportação de minério sem valor agregado foi a Indonésia.
Apesar da gigantesca campanha movida pelas mineradoras contra o Governo Indonésio e a significativa perda de recursos (perdeu mais de quatro bilhões de dólares no primeiro ano) , o país finalmente ganhou a queda de braço. As grandes produtoras de cobre e níquel se dobraram as leis locais e começaram a investir bilhões em plantas de processamento e metalurgia, tudo em solo da Indonésia.
Entretanto, com a queda dos preços das commodities muitas mineradoras como a Freeport não finalizaram os suas plantas metalúrgicas e solicitaram extensões de prazo e novas cotas para a exportação de concentrados. É uma nova fase da negociação.
Enquanto isso os países exportadores de matéria prime sem valor agregado como o Brasil, Austrália e países africanos, permanecem inertes sem fazer a revolução que a Indonésia corajosamente começou.
Isso obviamente dá força para as mineradoras que continuam a lucrar sem se preocupar com a dilapidação das riquezas minerais dos países onde atuam.
Apesar do modelo Indonésio não ter decolado um novo fator está forçando as mineradoras a adicionar valor aos seus produtos: a crise mundial.
A crise mundial está derrubando os preços das commodities e forçando as empresas de mineração a se adaptar. Todas estão otimizando e baixando custos, mas como estamos vendo só isso não é o suficiente.
Muitas contraíram grandes empréstimos na época das vacas gordas, que agora não mais conseguem pagar.
Todas estão lutando para sobreviver e todas terão que reinventar o business e adicionar valor aos seus produtos.
Ou morrer tentando.
É por isso que a Rio Tinto começa a processar o cobre de outras empresas e que a Vale criou um mega terminal de US$1,4 bilhões para a blendagem do seu minério na Malásia, criando novos produtos personalizados para atender diferentes clientes. A Anglo criou uma nova divisão comercial para a venda de ródio e paládio que anteriormente não eram separados. A Fortescue conseguiu o impensável e está chegando a custos operacionais por tonelada abaixo de US$18, podendo competir em melhores condições com a Vale, Rio e BHP.
Por anos as mineradoras deixaram para as grandes traders como a Trafigura, e Glencore as tarefas de blendagem de minério, refino e comércio, mas isso está mudando em decorrência da crise.
É hora de adicionar valor e isso implica em uma verdadeira reengenharia que irá afetar a geologia, mineração, processo e as demais áreas comerciais.
Em breve veremos as mineradoras procurando joint ventures ou se aventurando na produção de ferro gusa e de aço, tirando das metalúrgicas chinesas, japonesas e coreanas um grande naco do valor agregado.
Da mesma forma veremos vários países proibirem a exportação de produtos brutos, assim como foi feito na Indonésia.
É a lei da sobrevivência aplicada à mineração: se adaptar ou desaparecer.
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