terça-feira, 18 de outubro de 2016

O Topázio Imperial

GEO – O Topázio Imperial




GEO – DESCOBRINDO AS GEOCIÊNCIAS
Exemplar de cor rósea forte do Acervo MMM.
O topázio amarelo, hoje mais conhecido como topázio imperial, é a gema mais típica brasileira, devido à sua ocorrência restrita ao Brasil, mais precisamente ao município de Ouro Preto. Quimicamente não se diferencia do topázio azul ou incolor, tendo a mesma composição com a fórmula Al2[(F,OH)2SiO4]. Trata-se de uma pedra de cor amarela, cuja tonalidade pode variar do amarelo-champanhe, ao de cor de mel ou rosado, muito raramente ocorre na cor lilás. Sua coloração deve-se a traços de ferro e cromo. Quando esquentado ao rubro, o topázio amarelo torna-se vermelho. Não obstante sua alta dureza (8 na escala de Mohs), ele é quebradiço por causa da boa clivagem.
Diferentemente ao topázio azul ou incolor, não ocorre nos pegmatitos junto a turmalina, água-marinha ou crisoberilo. É de formação hidrotermal de uma fase final da atividade magmática. Muitas vezes é acompanhado de rutilo, especularita, quartzo hialino, quartzo enfumaçado e turmalina negra, e mais raramente de euclásio. A presença de euclásio foi relatada pela primeira vez pelo mineralogista alemão Barão de Eschwege. O euclásio é um silicato de berílio e alumínio com a fórmula BeAlSiO4(OH), muito mais raro do que o topázio amarelo. Devido à sua boa clivagem (que está no nome: eu – bem, clasis – rachar, partir), é difícil trabalhar e lapidar, porém é muito apreciado por colecionadores.
O nome é originário do grego “topazos”, procurar, nome também de uma ilha no Mar Vermelho, que frequentemente fica envolta na neblina, sendo por isso difícil de localizar. O material desta ilha, muito provavelmente não era topázio mas uma olivina amarelada. Na Idade Média, o nome foi usado para qualquer pedra de cor amarela. Hoje é um mineral bem definido, um silicato de alumínio com flúor. O adjetivo “imperial” vem da Rússia, onde essa gema era muito apreciada pela alta aristocracia durante o século XIX. No passado, a Rússia e o Paquistão também produziam o topázio amarelo; as jazidas da Rússia estão exauridas e as do Paquistão são antieconômicas. Ocorre ainda em pequena quantidade no município de Brumado na Bahia.
No Brasil, o topázio amarelo foi descoberto por volta de 1760 na região de Ouro Preto, provavelmente primeiro em aluviões lavados em busca de ouro. A descoberta de topázios no morro da Saramenha  nos arredores de Ouro Preto, em 1772, atraiu grande número de mineiros para o local que abandonaram suas lavras de ouro. Como as pedras preciosas não pagavam o quinto, o governador se mostrou preocupado com a perda dos direitos reais sobre o ouro que deixou de ser produzido por causa da corrida aos topázios.
No início do século XIX, a extração de topázio amarelo ocupava, quando muito,  cerca de 50 pessoas. As minas do Capão e da Boa Vista eram visitadas por quase todos os naturalistas estrangeiros em visita a Minas Gerais, pois estão localizadas perto da Estrada Real do Rio de Janeiro. O método de lavra era muito simples; a rocha que contem o topázio é um xisto intemperizado muito mole que é empilhado em montículos sobre os quais é dirigida uma corrente de água que leva as partículas finas e leves. O cascalho restante é formado na sua maioria por quartzo, e é revirado a mão ou com uma pá para catar os topázios. A maior parte dos topázios apresenta inclusões ou jaças que impedem seu aproveitamento para a lapidação de gemas.
 

Mina de topázio do Capão em 1810 (Mawe, Travels in the Interior of Brazil, 1812)


Entre as pedras coradas produzidas em Minas Gerais era a mais cara, atingindo preços de até 2500 réis por oitava (que corresponde a 700 réis o grama ou 140 réis por quilate e a oitava de ouro era cotada a 1500 réis; uma oitava equivale a 3,586 g). Na época, o preço médio de diamante era de 8000 réis por quilate. Em meados do século XIX, a extração do topázio amarelo cessou quase por completo devido a grande profundidade das lavras da gema.

Hoje contam-se mais de uma dúzia de ocorrências maiores e menores ao longo de uma faixa de cerca de 25 km a oeste de Ouro Preto. Há ainda uma ocorrência isolada em Antônio Pereira, 10 km a norte dessa cidade. A mina do Capão é a maior mina do mundo que trabalha na extração do topázio imperial em escala industrial desde 1971.


 

Vista da lavra do Capão (Foto MMM Machado, 2009)

Topázio Imperial Mineração iniciou sua operação em 1971, na região de Rodrigo Silva, município de Ouro Preto, Minas Gerais. É uma das poucas mineradoras de gemas do mundo que funciona com sistema totalmente mecanizado. Realizou levantamentos geológicos e pesquisas de seu subsolo, cumprindo todos os requisitos legais. Opera de acordo com planos de lavra aprovados, acompanhados e fiscalizados pelos órgãos oficiais de mineração.
A grande preocupação da empresa é conciliar a extração da pedra com a preservação do meio ambiente e o equilíbrio ecológico. Segue rigorosamente os procedimentos exigidos por lei, acompanhada pelos órgãos oficiais de supervisão e controle. Foram realizados os estudos de impacto ambiental para a obtenção da Licença de Operação, trabalho que envolve o planejamento e que compreende a preservação dos mananciais, matas ciliares e nichos ecológicos, a minimização do processo erosivo.
Além das preocupações na área de operação, a empresa mantém, em Rodrigo Silva, junto à sua sede, o Centro de Referência Ambiental do Topázio Imperial, onde podem ser encontrados os artigos e trabalhos técnicos sobre o topázio imperial e o meio ambiente. Dispõe de computador e internet para pesquisas complementares, à disposição e utilizado pela coletividade local, principalmente os estudantes secundários.
Possui diversas jazidas, onde lavra o seu minério. A principal é a Mina do Capão, responsável pela maior parte de sua produção. Além desta, pode-se citar as jazidas do Brocotó, Mato da Roça, Zé Leite.
Mina do Capão do Lana é a maior mina de topázio imperial do mundo. É lavrada a céu aberto. Fica situada a 2 km do distrito de Rodrigo Silva, distante 25 km da sede do município de Ouro Preto, Minas Gerais. O local abrigava uma pousada que, em 1822, foi transformada em Paço Real pelo príncipe regente D. Pedro, às vésperas da Independência do Brasil, quando veio a Minas sufocar uma rebelião liderada pelo seu próprio governador.
Situada às margens da Estrada Real, a mina opera dentro dos melhores padrões técnicos e é responsável pela maior parcela do topázio imperial consumido pela industria joalheira do mundo. O mineral é uma massa argilosa onde se encontram veios irregulares de caolinita. Nesses veios, além do topázio, podem ser encontrados outros minerais, como o quartzo, a hematita cristalizada, euclásio, etc.
A mina é operada por 50 funcionários da empresa e trata em média 4500 metros cúbicos de minério por mês. Trata-se cerca de 2 metros cúbicos de minério para se obter 1 quilate de topázio imperial lapidável. A sua área de atuação abrange 800 hectares, compreendendo as bacias de captação de água, a área de lavra, tratamento do minério e a barragem de rejeitos.

Lavra e tratamento do minério

Corte do Minério: Nas cavas, o minério é cortado e transportado por tratores de esteira até a rampa de uma draga de arraste.
Transporte do Minério para o Tratamento: A draga de arraste remonta o material colocado em sua rampa até o nível onde se inicia o tratamento.
Repolpagem: O minério é depositado pela draga de arraste numa caçamba, onde recebe água e forma uma polpa. Essa polpa escoa por meio de calhas até uma peneira fixa de deslamagem.
Deslamagem: A polpa contendo sólidos maiores chega a essa peneira e o minério é lavado por meio de jatos de água sob pressão: a lama passa através dos crivos da peneira e é conduzido a uma barragem de decantação e o retido na peneira constitui a fração que interessa e será tratada com vistas ao topázio imperial.
Barragem de Rejeitos: A parcela que atravessa a peneira, constituída de argila fina (99% do material tratado), é conduzida a uma barragem de rejeitos, para sua retenção. A água, em condições de uso, retorna ao leito do córrego, seguindo o seu curso.
Peneiramento e preparação: A fração sólida retida é preparada para a etapa final por lavagens e peneiramentos. É dividida em duas frações, colocadas em silos diferentes, e devem chegar limpas à etapa final.
Cata: Os silos contendo grossos e finos são tratados separadamente para facilitar o trabalho e a segurança da etapa final, chamada cata, que consiste na localização e recolhimento dos topázios porventura existentes. Os silos alimentam, separadamente, uma mesma correia transportadora, onde os topázios são identificados e coletados por experientes operadores.


Cata manual de topázio imperial




Creditos: Conteúdo produzido pelo prof. Friederich Renger, como contribuição ao projeto museográfico do Museu das Minas e do Metal.

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