GEO – O Topázio Imperial
GEO – DESCOBRINDO AS GEOCIÊNCIAS
Exemplar de cor rósea forte do Acervo MMM.
O topázio amarelo, hoje mais conhecido como topázio imperial, é a gema mais típica brasileira, devido à sua ocorrência restrita ao Brasil, mais precisamente ao município de Ouro Preto. Quimicamente não se diferencia do topázio azul ou incolor, tendo a mesma composição com a fórmula Al2[(F,OH)2SiO4]. Trata-se de uma pedra de cor amarela, cuja tonalidade pode variar do amarelo-champanhe, ao de cor de mel ou rosado, muito raramente ocorre na cor lilás. Sua coloração deve-se a traços de ferro e cromo. Quando esquentado ao rubro, o topázio amarelo torna-se vermelho. Não obstante sua alta dureza (8 na escala de Mohs), ele é quebradiço por causa da boa clivagem.
Diferentemente ao topázio azul ou incolor, não ocorre nos pegmatitos junto a turmalina, água-marinha ou crisoberilo. É de formação hidrotermal de uma fase final da atividade magmática. Muitas vezes é acompanhado de rutilo, especularita, quartzo hialino, quartzo enfumaçado e turmalina negra, e mais raramente de euclásio. A presença de euclásio foi relatada pela primeira vez pelo mineralogista alemão Barão de Eschwege. O euclásio é um silicato de berílio e alumínio com a fórmula BeAlSiO4(OH), muito mais raro do que o topázio amarelo. Devido à sua boa clivagem (que está no nome: eu – bem, clasis – rachar, partir), é difícil trabalhar e lapidar, porém é muito apreciado por colecionadores.
O nome é originário do grego “topazos”, procurar, nome também de uma ilha no Mar Vermelho, que frequentemente fica envolta na neblina, sendo por isso difícil de localizar. O material desta ilha, muito provavelmente não era topázio mas uma olivina amarelada. Na Idade Média, o nome foi usado para qualquer pedra de cor amarela. Hoje é um mineral bem definido, um silicato de alumínio com flúor. O adjetivo “imperial” vem da Rússia, onde essa gema era muito apreciada pela alta aristocracia durante o século XIX. No passado, a Rússia e o Paquistão também produziam o topázio amarelo; as jazidas da Rússia estão exauridas e as do Paquistão são antieconômicas. Ocorre ainda em pequena quantidade no município de Brumado na Bahia.
No Brasil, o topázio amarelo foi descoberto por volta de 1760 na região de Ouro Preto, provavelmente primeiro em aluviões lavados em busca de ouro. A descoberta de topázios no morro da Saramenha nos arredores de Ouro Preto, em 1772, atraiu grande número de mineiros para o local que abandonaram suas lavras de ouro. Como as pedras preciosas não pagavam o quinto, o governador se mostrou preocupado com a perda dos direitos reais sobre o ouro que deixou de ser produzido por causa da corrida aos topázios.
No início do século XIX, a extração de topázio amarelo ocupava, quando muito, cerca de 50 pessoas. As minas do Capão e da Boa Vista eram visitadas por quase todos os naturalistas estrangeiros em visita a Minas Gerais, pois estão localizadas perto da Estrada Real do Rio de Janeiro. O método de lavra era muito simples; a rocha que contem o topázio é um xisto intemperizado muito mole que é empilhado em montículos sobre os quais é dirigida uma corrente de água que leva as partículas finas e leves. O cascalho restante é formado na sua maioria por quartzo, e é revirado a mão ou com uma pá para catar os topázios. A maior parte dos topázios apresenta inclusões ou jaças que impedem seu aproveitamento para a lapidação de gemas.
Mina de topázio do Capão em 1810 (Mawe, Travels in the Interior of Brazil, 1812)
Entre as pedras coradas produzidas em Minas Gerais era a mais cara, atingindo preços de até 2500 réis por oitava (que corresponde a 700 réis o grama ou 140 réis por quilate e a oitava de ouro era cotada a 1500 réis; uma oitava equivale a 3,586 g). Na época, o preço médio de diamante era de 8000 réis por quilate. Em meados do século XIX, a extração do topázio amarelo cessou quase por completo devido a grande profundidade das lavras da gema.
Hoje contam-se mais de uma dúzia de ocorrências maiores e menores ao longo de uma faixa de cerca de 25 km a oeste de Ouro Preto. Há ainda uma ocorrência isolada em Antônio Pereira, 10 km a norte dessa cidade. A mina do Capão é a maior mina do mundo que trabalha na extração do topázio imperial em escala industrial desde 1971.
Vista da lavra do Capão (Foto MMM Machado, 2009)
A Topázio Imperial Mineração iniciou sua operação em 1971, na região de Rodrigo Silva, município de Ouro Preto, Minas Gerais. É uma das poucas mineradoras de gemas do mundo que funciona com sistema totalmente mecanizado. Realizou levantamentos geológicos e pesquisas de seu subsolo, cumprindo todos os requisitos legais. Opera de acordo com planos de lavra aprovados, acompanhados e fiscalizados pelos órgãos oficiais de mineração.
A grande preocupação da empresa é conciliar a extração da pedra com a preservação do meio ambiente e o equilíbrio ecológico. Segue rigorosamente os procedimentos exigidos por lei, acompanhada pelos órgãos oficiais de supervisão e controle. Foram realizados os estudos de impacto ambiental para a obtenção da Licença de Operação, trabalho que envolve o planejamento e que compreende a preservação dos mananciais, matas ciliares e nichos ecológicos, a minimização do processo erosivo.
Além das preocupações na área de operação, a empresa mantém, em Rodrigo Silva, junto à sua sede, o Centro de Referência Ambiental do Topázio Imperial, onde podem ser encontrados os artigos e trabalhos técnicos sobre o topázio imperial e o meio ambiente. Dispõe de computador e internet para pesquisas complementares, à disposição e utilizado pela coletividade local, principalmente os estudantes secundários.
Possui diversas jazidas, onde lavra o seu minério. A principal é a Mina do Capão, responsável pela maior parte de sua produção. Além desta, pode-se citar as jazidas do Brocotó, Mato da Roça, Zé Leite.
A Mina do Capão do Lana é a maior mina de topázio imperial do mundo. É lavrada a céu aberto. Fica situada a 2 km do distrito de Rodrigo Silva, distante 25 km da sede do município de Ouro Preto, Minas Gerais. O local abrigava uma pousada que, em 1822, foi transformada em Paço Real pelo príncipe regente D. Pedro, às vésperas da Independência do Brasil, quando veio a Minas sufocar uma rebelião liderada pelo seu próprio governador.
Situada às margens da Estrada Real, a mina opera dentro dos melhores padrões técnicos e é responsável pela maior parcela do topázio imperial consumido pela industria joalheira do mundo. O mineral é uma massa argilosa onde se encontram veios irregulares de caolinita. Nesses veios, além do topázio, podem ser encontrados outros minerais, como o quartzo, a hematita cristalizada, euclásio, etc.
A mina é operada por 50 funcionários da empresa e trata em média 4500 metros cúbicos de minério por mês. Trata-se cerca de 2 metros cúbicos de minério para se obter 1 quilate de topázio imperial lapidável. A sua área de atuação abrange 800 hectares, compreendendo as bacias de captação de água, a área de lavra, tratamento do minério e a barragem de rejeitos.
Lavra e tratamento do minério
Corte do Minério: Nas cavas, o minério é cortado e transportado por tratores de esteira até a rampa de uma draga de arraste.
Transporte do Minério para o Tratamento: A draga de arraste remonta o material colocado em sua rampa até o nível onde se inicia o tratamento.
Repolpagem: O minério é depositado pela draga de arraste numa caçamba, onde recebe água e forma uma polpa. Essa polpa escoa por meio de calhas até uma peneira fixa de deslamagem.
Deslamagem: A polpa contendo sólidos maiores chega a essa peneira e o minério é lavado por meio de jatos de água sob pressão: a lama passa através dos crivos da peneira e é conduzido a uma barragem de decantação e o retido na peneira constitui a fração que interessa e será tratada com vistas ao topázio imperial.
Barragem de Rejeitos: A parcela que atravessa a peneira, constituída de argila fina (99% do material tratado), é conduzida a uma barragem de rejeitos, para sua retenção. A água, em condições de uso, retorna ao leito do córrego, seguindo o seu curso.
Peneiramento e preparação: A fração sólida retida é preparada para a etapa final por lavagens e peneiramentos. É dividida em duas frações, colocadas em silos diferentes, e devem chegar limpas à etapa final.
Cata: Os silos contendo grossos e finos são tratados separadamente para facilitar o trabalho e a segurança da etapa final, chamada cata, que consiste na localização e recolhimento dos topázios porventura existentes. Os silos alimentam, separadamente, uma mesma correia transportadora, onde os topázios são identificados e coletados por experientes operadores.
Cata manual de topázio imperial
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Creditos: Conteúdo produzido pelo prof. Friederich Renger, como contribuição ao projeto museográfico do Museu das Minas e do Metal.
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