sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Crescimento de diamantes sintéticos ameaça setor


Crescimento de diamantes sintéticos ameaça setor

Uma pequena equipe de cientistas trabalhando para a De Beers, unidade de exploração e comércio de diamantes da mineradora britânica Anglo American PLC, está tendo dificuldade para eliminar uma ameaça que pode ofuscar o brilho dos diamantes naturais: as gemas de alta qualidade produzidas pelo homem.
Nos últimos anos, os diamantes criados em laboratório se tornaram indistinguíveis das pedras naturais a olho nu e suas vendas estão crescendo. Embora ainda ocupem uma pequena fração do mercado, as gemas sintéticas podem responder por cerca de 10% das vendas de diamantes brutos dentro de cinco anos, segundo estimativas do banco americano Morgan Stanley.
Produzidos tanto por um pequeno grupo de empresas de capital fechado quanto por gigantes como a própria De Beers, os diamantes sintéticos podem derrubar o valor de todo o setor de diamantes, dizem alguns especialistas. Esses diamantes têm as mesmas propriedades químicas e físicas que as gemas naturais. Eles brilham como as pedras extraídas das minas, são duros e duráveis o bastante para uso industrial intensivo e — talvez o mais importante — podem ser vendidos sem qualquer pista da sua procedência.
Teoricamente, pode-se produzir uma quantidade infinita de diamantes feitos em laboratório, pressionando um mercado que depende da percepção de escassez relativa para garantir preços elevados.
A De Beers criou uma série de dispositivos que os atacadistas de diamantes e fabricantes de joias podem usar para identificar diamantes sintéticos. “Uma preocupação é o risco de você comprar o colar que sua esposa queria e descobrir que não é verdadeiro”, diz o diretor de estratégia da De Beers, Gareth Mostyn.
Conter o risco dos diamantes produzidos em laboratório é crucial para a Anglo American, que detém uma participação de 85% na De Beers. A gigante da mineração está se livrando de ativos de suas unidades de carvão e minério de ferro para se concentrar em setores mais rentáveis, como diamantes. A De Beers foi responsável por 42% do lucro da Anglo antes de juros, impostos e itens não recorrentes no primeiro semestre deste ano.
Por ora, a produção de diamantes em laboratório é pequena em comparação com as pedras extraídas do solo. Os produtores de gemas sintéticas podem fabricar entre 250 mil e 350 mil quilates de diamantes brutos por ano, segundo estimativas do setor, ante cerca de 135 milhões de quilates extraídos das minas.
Martin Roscheisen, o diretor-presidente da Diamond Foundry Inc., uma produtora de diamantes sintéticos de San Francisco com capacidade de fabricar 24 mil quilates por ano, diz acreditar que, dentro de algumas décadas, quase todos os diamantes comprados pelos consumidores serão de gemas artificiais.
A Swarovski Group, empresa austríaca de capital fechado que vende artigos de luxo, lançou sua própria linha de joias com diamantes artificiais em abril.
Menno Sanderse , analista do Morgan Stanley, não espera que os diamantes sintéticos substituam uma grande parte da produção global, mas escreveu, em julho, que as gemas feitas em laboratório se tornaram um “sério disruptor em potencial”.
Des Kilalea, analista de mineração do banco canadense RBC Capital Markets, diz que os consumidores podem migrar para pedras sintéticas, que hoje são, em média, de 20% a 30% mais baratas que os diamantes naturais. O custo de capital ligado à produção de diamantes em laboratório é só ligeiramente inferior que o de extraí-los da terra.
Em uma fábrica perto de Londres, os cientistas da De Beers vêm há anos trabalhando na identificação de diamantes sintéticos. A firma tem sua própria unidade de diamantes sintéticos, a Element Six, que os produz para fins industriais, como brocas de perfuração, e ajuda a De Beers a se manter atualizada sobre os avanços tecnológicos.
As pedras criadas em laboratório são desenvolvidas usando um diamante natural ou outro diamante sintético que age como uma semente para o cultivo de mais gemas. Gases de materiais de carbono são empregados a temperaturas extremamente elevadas para produzir novos cristais ao longo de várias semanas.
Simon Lawson, diretor da divisão de tecnologias da De Beers no Reino Unido, diz que sua maior preocupação são os diamantes pequenos — menores que 20% de um quilate —, que custam mais para serem analisados, dado o seu tamanho e valor.
Isso torna mais fácil a entrada da variedade sintética na cadeia de suprimentos, e possivelmente no mercado de joias, como um diamante natural.
Em 2015, um pacote contendo 110 diamantes artificiais que estavam sendo vendidos como pedras naturais foi interceptado na Índia, segundo o jornal “Times of India”, citando a Associação de Diamantes de Surat.
Para conter a ameaça, a De Beers ajudou outros produtores a lançar uma associação comercial para promover os diamantes naturais, em 2015. A De Beers também começou a vender um novo detector barato que analisa rapidamente pequenos diamantes sintéticos.
O dispositivo, chamado de PhosView, custa US$ 4.500 — bem menos que os US$ 35 mil cobrados pela ferramenta Diamond View, que usa luz ultravioleta para detectar gemas criadas em laboratório. Com o apertar de um botão, o PhosView ilumina um conjunto de diamantes num recipiente. As pedras sintéticas são aquelas que emitem um forte brilho fosforescente — uma reação raramente vista em diamantes naturais.
A De Beers produziu 50 dessas máquinas para fabricantes de joias e elas foram vendidas rapidamente, segundo a empresa. Identificar os diamantes sintéticos será importante para a indústria porque o encanto dos diamantes garimpados continua sendo vir “das profundezas da Mãe Terra”, diz Russel Shor, analista sênior do Instituto Gemológico para a América. “Eles têm bilhões de anos”, diz Shor. “Provavelmente são a coisa mais antiga que podemos comprar.”
Fonte: WSJ

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