sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Rio Tinto segue contra corrente e aposta na demanda da China e dos EUA

Rio Tinto segue contra corrente e aposta na demanda da China e dos EUA

Diante do cenário incerto do mercado de commodities, a Rio Tinto PLC afirmou que vai investir menos em projetos neste ano do que o previsto anteriormente, embora continue contra a corrente do setor ao planejar gastos maiores para os próximos anos e intensificar uma ofensiva para elevar a produtividade.
O diretor-presidente da mineradora anglo-australiana, Jean-Sébastien Jacques, disse esta semana que, embora continue cautelosamente otimista em relação à China — o maior comprador de matérias-primas como ferro e cobre do mundo —, as reformas que o país está fazendo para reduzir a capacidade de suas indústrias tornam o mercado menos previsível.
A segunda maior mineradora do mundo em valor de mercado, atrás da também anglo-australiana BHP Billiton, afirmou que os gastos com projetos em 2016 ficarão abaixo de US$ 3,5 bilhões, um recuo de pelo menos 13% ante uma estimativa anterior de cerca de US$ 4 bilhões. É uma queda acentuada ante os mais de US$ 17 bilhões gastos em 2012, refletindo o colapso do boom dos preços das commodities que durou uma década.
 
Desde 2012, as mineradoras vêm cortando seus investimentos em exploração e o lema do setor, que era “superciclo de commodities”, foi substituído por “disciplina de capital”.
Ainda assim, este ano deve ser o fundo do poço para a Rio Tinto, que prevê investimentos de US$ 5 bilhões e US$ 5,5 bilhões em 2017 e 2018, respectivamente.
É verdade que o cenário da indústria está se mostrando um pouco melhor recentemente. A demanda da China por metais ensaiou uma recuperação limitada, mas real, e Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, está prometendo um plano de investimentos em infraestrutura. Cada uma das ações das cinco grandes mineradoras diversificadas — Rio Tinto, BHP, a brasileira Vale, a britânica Anglo American e a suíça Glencore Xstrata — subiu mais de 100% desde as mínimas registradas em janeiro. Dada a melhora nas perspectivas da demanda, os investidores poderiam se perguntar se os gastos de capital das mineradoras já caíram o bastante para produzir outro período sustentável de altas nos preços dos metais industriais.
Infelizmente, porém, a resposta provavelmente ainda é não, embora um surto global de projetos de infraestrutura liderado pelos EUA de Trump talvez seja grande o suficiente para virar a balança. Os gastos de capital no setor de mineração caíram rapidamente desde o pico de 2012, como mostram os números da Rio Tinto, mas a desaceleração do boom da construção da China, o maior motor da demanda por matérias-primas, foi ainda mais drástico. Mesmo depois da recuperação do mercado imobiliário chinês observada em 2016, o espaço em construção neste ano deve ser cerca de 250 milhões de metros quadrados maior que em 2015, bem abaixo das altas de quase 300 milhões de metros quadrados registradas em meados da década passada.
Entretanto, apesar do recuo contínuo desde 2012, o total de gastos de capital das cinco grandes mineradoras ainda foi 50% maior em 2015 que em 2006. Os cortes foram maiores este ano, como o anunciado pela Rio Tinto. A maioria das grandes mineradoras reduziu seus orçamentos de gastos de capital em mais 40%.
A pequena alta na demanda por imóveis na China pode ter ajudado a fechar a conta. O problema é que essa recuperação é provavelmente temporária, estimulada por uma corrida de compradores para aproveitar financiamentos mais baratos. A demanda fundamental por imóveis no país provavelmente já atingiu sua máxima na década, em torno de 1,75 bilhão de metros quadrados, e agora está destinada a declinar lentamente, segundo a analista Roselea Yao, da firma de pesquisa especializada em China Gavekal Dragonomics.
Os investimentos imobiliários, que ficaram atrás das altas dos preços dos imóveis na maior parte de 2016, recentemente esboçaram uma reação. Isso significa que a demanda por metais pode ter espaço para crescer no curto prazo. Os preços do minério de ferro dispararam nas últimas semanas, acumulando alta de quase 30% ante setembro, apesar de terem recuado um pouco depois das eleições americanas.
Na ausência, porém, de uma nova onda de demanda com a escala chinesa, os investimentos em mineração ainda parecem altos. A investida na infraestrutura prometida por Trump poderia fazer a diferença, embora as medidas de estímulo possam favorecer cortes de impostos, em vez de investimentos diretos. Além disso, gastar US$ 1 trilhão em dez anos, como prevê o plano oficial de Trump, é menos notável do que parece. Só em 2015, a China gastou quase US$ 2 trilhões em infraestrutura e vem aumentando essa cifra em cerca de US$ 300 milhões por ano.
Por tudo isso, os investidores devem olhar os resultados das mineradoras neste ano para ver se elas vão morder a isca dos preços mais altos e elevar os investimentos de novo, o que pode ser uma jogada arriscada com as margens ainda apertadas e os juros em alta. A menos que o plano de infraestrutura de Trump se mostre bem mais robusto do que parece, a lei férrea da oferta e da demanda parece destinada a voltar a prevalecer novamente em breve.
Por enquanto, a Rio Tinto tem sido uma exceção entre as grandes mineradoras no planejamento de novos projetos para os próximos anos, na esperança de largar na frente quando o mercado se recuperar. A empresa está seguindo adiante com projetos de exploração de bauxita na Austrália e de minas de cobre na Mongólia.
Não por acaso, a Rio Tinto espera que a China continue sendo um motor de demanda por commodities ainda durante anos.
“Se tudo ficar igual, a demanda subjacente da economia chinesa está indo bem”, disse Jacques. “Há muito dinheiro investido na economia.” Os planos de reforma do governo chinês poderiam acabar sendo bons ou ruins para as commodities ligadas ao aço, como o carvão e o minério de ferro, disse ele. Depois que o governo impôs restrições às mineradoras de carvão, em abril, os preços de alguns tipos de carvão mais do que triplicaram.
“Fomos surpreendidos pelo que o governo chinês fez no mercado de carvão. Ninguém viu”, disse. “A grande incerteza que temos hoje em relação à China é o ritmo da reestruturação das estatais.”


Fonte: WSJ

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