domingo, 5 de março de 2017

Minérios criados pela atividade humana indicam nova era geológica

Minérios criados pela atividade humana indicam nova era geológica

Dos 5208 minerais conhecidos, 208 surgiram nos últimos 200 anos pela atividade humana. E isso deixará nossa assinatura no solo para os geólogos do futuro

Não há dúvidas de que atividade humana mudou a dinâmica da vida na Terra nos últimos 200 anos. Nós já jogamos 100 milhões de toneladas de plástico no Oceano Pacífico – o suficiente para formar uma espécie de ilha artificial –, e extinguimos milhares de espécies de animais, entre elas o singular tigre-da-tasmânia (até as girafas e os urubus já estão na mira). Mesmo assim, ainda há quem negue (olá, Trump) fenômenos como o aquecimento global.
Achou demais? Bem, acabamos de dar o próximo passo. Um grupo de pesquisadores da Carnegie Institution for Science, nos Estados Unidos, está no caminho de decretar uma nova era geológica marcada pela influência humana: o antropoceno. Eles descobriram que dos 5208 tipos de minerais que são reconhecidos oficialmente pela Associação Mineralógica Internacional, 208 surgiram após a Revolução Industrial por nossa influência. Uma explosão de variedade tão grande em tão pouco tempo que até supera até o último grande fenômeno espontâneo de criação de minerais registrado: um pico na concentração de oxigênio da atmosfera há cerca de 2,3 bilhões de anos que, literalmente, enferrujou todo o planeta. “Não há nada parecido nos 4,5 bilhões de anos de história da Terra”, afirmou Robert Hazen, um dos membros da equipe, aoThe Guardian“Compare 250 anos com 2 bilhões de anos. É a diferença entre um piscar de olhos… e um mês.”
Chalconatronita.
Chalconatronita (Creative Commons)
Na lista de novos minerais estão bizarrices como a chalconatronita, uma espécie de crosta azul brilhante que surge em artefatos arqueológicos de cobre encontrados no Egito, e a andersonita, que é amarelo-fluorescente como um marcador de texto, leva urânio na receita e pode ser encontrada nas paredes de túneis de mineração. O SS Cheerful, navio que afundou na costa da Inglaterra em 1885, viajava carregado de lingotes de estanho, que em contato com a água salgada formaram um mineral chamado abhurita. E a calclacita nasce do contato de minerais guardados em gavetas de museu com a madeira desses móveis – até no lugar que preserva o passado a natureza dá um jeito de inovar.
Andersonita.
Andersonita (Creative Commons)
No artigo científico, a equipe afirma que esses casos curiosos, em um futuro muito distante, formarão uma camada muito reconhecível e distinta nos registros estratigráficos. Em outras palavras, quando tudo que você conhece estiver enterrado, a “fatia” de rocha que corresponde ao nosso período de dominação na Terra estará cheia de características que denunciam nossa passagem por aqui. “Três tipos de atividade humana afetaram a distribuição e a diversidade de minerais na Terra de tal forma que isso possa se refletir nos registros estratigráficos mundiais”, afirmam os autores. “A mais óbvia é a ocorrência de compostos minerais sintéticos. A segunda é a redistribuição de minerais próximos à superfície pela remoção de grandes quantidades de pedras e sedimentos (mineração). Finalmente, os humanos foram muito eficientes em redistribuir pedras preciosas por todo o globo.”
Abhurita.
Abhurita. (Creative Commons)
Como a identificação oficial de uma era geológica depende muito do conjunto de minerais característicos de um período, especialistas entrevistados por diversos veículos concordam que o rótulo “antropoceno” – que ainda não é oficial – está a cada dia mais próximo de ser adotado de vez pela escala de tempo geológico, e que o novo estudo dá ainda mais estímulo para a iniciativa.

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