Uma pergunta recorrente de quem tem reservas para investir é: “qual o melhor investimento para rentabilizá-las? ”. O que ouvirá de Planejadores Financeiros como eu será: “Depende, pois, essa resposta será diferente para cada indivíduo e/ou família. ” A alocação das reservas vai depender, fundamentalmente, da fase da vida e dos objetivos do indivíduo e/ou da sua família. As reservas podem e devem ser constituídas para objetivos diferentes, como por exemplo:
(i) reservas para as emergências e os imprevistos – voltadas para o curto prazo
(ii) reservas para educação dos filhos, compra de imóvel – voltadas para o médio prazo
(iii) reservas para o pós aposentadoria – voltadas para o longo prazo.
Para cada bloco de reservas acima citadas haverá, de acordo com as condições do mercado, alocações mais adequadas e que deverão ser contempladas na montagem da carteira de investimento.
A alocação dos recursos deve considerar também o perfil do indivíduo enquanto investidor. Quando falamos de perfil do investidor, um dos tópicos mais abordados é a avaliação da tolerância ao risco. Será sobre esse tópico que iremos basicamente nos deter.
A análise de tolerância ao risco terá sentido na medida em que se tenha uma ideia mais precisa dos riscos aos quais se está exposto. Com esse enfoque, uma pergunta importante que devemos fazer é: “Até que ponto o investidor consegue entender os riscos envolvidos na análise? ”
Tolerância a perdas
A minha experiência profissional tem demonstrado que uma boa parte dos investidores, muitas vezes, não consegue ter um entendimento claro da magnitude dos riscos dos diferentes ativos e também, se esses ativos são adequados aos seus objetivos e horizonte de investimento. No entanto, quando conseguimos de alguma forma traduzir esse risco (exemplos são um bom caminho) para o conceito de perdas potenciais, a “visualização” e “concretude” do risco ficam mais claras. Portanto, o conceito que deve ser traduzido e ficar claro nas análises é a tolerância do investidor às perdas potenciais assumidas a partir dos riscos que corre.
Essa tolerância vai ser diferente de investidor para investidor e será influenciada, além da experiência e história de cada um, pelo momento da vida e pela possibilidade de assumir potenciais perdas sem prejudicar de forma expressiva os seus objetivos. Portanto, o conceito de tolerância à perda é importante porque ele vai impactar no comportamento do investidor.
Mais sensíveis a perdas que a ganhos
Quanto ao comportamento do investidor, importantes estudos relativos à tomada de decisão – especialmente os desenvolvidos pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky – têm demonstrado que os indivíduos, de uma maneira geral, são muito mais sensíveis às perdas dos que aos ganhos e esse comportamento também é encontrado, de forma particular, nos indivíduos enquanto investidores.
De acordo com esses dois estudiosos, o conceito de ganhos e perdas não está, necessariamente, vinculado ao lucro ou prejuízo da operação ou do ativo e sim à percepção de resultado positivo ou negativo em relação a um ponto de referência. No caso do investidor essa referência pode ser, por exemplo: o preço de compra do ativo ou, em muitos casos, o preço que aquele ativo atingiu no passado.
Na maior parte das vezes o investidor:
(i) vende com mais facilidade o ativo quando está ganhando. Isto significa que prefere sair do risco para evitar perder o que está ganhando – menor propensão ao risco quando está ganhando e
(ii) tem mais dificuldade de vender o ativo quando está perdendo, ampliando desta forma o risco para evitar realizar a perda – maior propensão ao risco quando está perdendo.
Esse comportamento decorre do fato de existir uma assimetria entre o sentimento de perda e de ganho: a “dor da perda” é maior do que a “satisfação do ganho”, mesmo que eles sejam da mesma magnitude.
Desconhecimento do risco
O que se constatou pelos estudos realizados é que os indivíduos são avessos às perdas e não, necessariamente ao risco. Aliás, muitas vezes, eles não têm a dimensão dos riscos que correm.
Erro ao escolher prazos das aplicações
Ainda sobre o tema risco e alocação de reservas, cabe um alertar também para os riscos que se corre pela inadequação dos ativos aos objetivos, horizonte de investimento e até ao fluxo de caixa do indivíduo.
Só para exemplificar: é relativamente comum você ver indivíduos com montantes financeiros voltados para o curto prazo alocados em produtos de previdência ou Tesouro IPCA com vencimentos longos.
Para terminar, risco não é ruim e poderá ser importante para rentabilizar as reservas, especialmente as que têm um horizonte de investimento de longo prazo. O importante é que o investidor avalie com atenção, antes de alocar as suas reservas, o quão confortável se sentirá e o quanto poderá assumir das perdas potenciais dos riscos assumidos.
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