Ao chegar no local, foi encaminhada para uma casa de prostituição. Por sorte, foi resgatada pelo irmão, que queria enviá-la de volta para o Maranhão. Mas Maria de Lourdes bateu o pé e encontrou uma forma de ganhar dinheiro: cozinhava, lavava e passava para os garimpeiros. Em troca recebia ouro. “Juntei 150 gramas (de ouro), fui para Manaus, comprei várias mercadorias e comecei a vender no garimpo.” Aos poucos, montou uma loja para atender os trabalhadores. “Com o dinheiro, comprei terra e casa em Itaituba”, conta ela.
Personagens como Maria de Lourdes estão espalhados por todos os cantos de Itaituba. Nem todos, no entanto, gostam de falar do garimpo. Muitos fizeram do ouro o trampolim para negócios mais sólidos. Viraram donos de empresas de aviões, comércio e restaurantes. Muitos garimpeiros, no entanto, continuam sem dinheiro e sem patrimônio. Reinvestiram tudo na exploração de ouro, sonhando em fazer uma fortuna que até hoje não veio.
Na cidade do ouro, as caminhonetes (nacionais e importadas) - sonho de consumo de muitos brasileiros - representam 30% dos automóveis e comerciais leves. Os moradores dizem que muitos não têm casa própria, mas têm uma caminhonete “traçada” (com tração nas quatro rodas). Uma Hilux 2010, por exemplo, está na casa de R$ 99 mil.
Economia. Hoje a mineração e o comércio de ouro representam mais da metade da economia de Itaituba, por onde circulam entre 400 e 800 quilos do metal por mês. “Infelizmente, uma parte vem do garimpo ilegal”, afirma o presidente da Associação Nacional do Ouro (Anore), Dirceu Frederico.
Ele conta que há cerca de 430 pistas de pouso no Vale do Tapajós e 600 pontos de exploração do mineral na região, considerada a maior área em extensão territorial do mundo com registro de ouro. “Ali também temos o mais antigo vulcão do mundo, o que possivelmente pode explicar a diversidade geológica que há na área, com ocorrência de ouro, diamante, ametista, ferro, manganês, entre outros”, diz Frederico.
Toda essa diversidade tem reflexos em Itaituba. Numa das ruas principais da cidade, na Travessa 13 de Maio, entre lojas de armarinho, restaurantes e hotéis, vários Distribuidores de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM) e joalherias se destacam com letras garrafais anunciando a compra de “Ouro”. Num passeio pelas ruas da cidade é muito comum encontrar funcionários das lojas beneficiando o ouro ou pessoas encomendando joias exclusivas.
São dezenas de lojas, instaladas ao lado do concorrente. Algumas não seguem as regras para a compra de ouro, como a exigência de certificações para a exploração. Normalmente, essas lojas pagam mais pelo ouro do que as lojas legalizadas. “Se na bolsa o ouro está R$ 91, as lojas legalizadas compram por R$ 87,5 o grama. As demais compram por R$ 90. Esse ouro está indo para outros mercados que não é o de joias”, diz o presidente da Anore.
Frederico afirma que boa parte da exploração no Vale do Rio Tapajós é feita de forma manual, sem grandes tecnologias. Alguns usam escavadeiras hidráulicas, que melhoram a produtividade da mineração. Mas são poucas as grandes empresas que estão na região, afirma Frederico. “Nos últimos 60 anos, foram extraídos cerca de 700 toneladas de ouro do Tapajós. Podemos dizer que isso representa um terço do potencial da região. Ainda há um potencial magnífico a ser explorado.”
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