segunda-feira, 10 de abril de 2017

Setor de mineração se entusiasma com promessas de Trump

Setor de mineração se entusiasma com promessas de Trump


Quando Donald Trump venceu a eleição para presidente dos Estados Unidos, em novembro, foi um momento animador para Ivan Glasenberg. O diretor-presidente da Glencore PLC, uma das maiores mineradoras e trading de commodities do mundo, acredita que o programa de US$ 1 trilhão em investimentos em infraestrutura proposto por Trump poderia impulsionar os preços dos minerais que a empresa suíça extrai e negocia, de acordo com pessoas a par do assunto.
O entusiasmo com a proposta de Trump é amplamente compartilhado no setor mundial de mineração, segundo entrevistas feitas esta semana pelo The Wall Street Journal com mais de uma dezena de executivos e especialistas durante o evento Investindo nas Minas Africanas Indaba, o principal do setor no mundo. O governo Trump foi um tema constante no evento, alimentando discussões políticas em painéis e conversas em geral.
As ações das empresas de mineração subiram bastante desde a eleição de Trump. Tanto o portfólio do BlackRock World Mining Trust, da gestora de fundos BlackRock Inc., um dos maiores detentores de ações do setor, quanto o Índice S&P de Metais e Mineração, acumulam alta superior a 20% desde a eleição. Isso comparado com o ganho de 9,4% da Média Industrial Dow Jones.
As metas de gastos de Trump, assim como seus planos de reduzir as regulações impostas sobre recursos emissores de carbono, como o carvão, podem beneficiar a indústria global, dizem executivos de mineradoras. “Para mim, as políticas [de Trump] soam amigáveis para a mineração”, diz Neal Froneman, diretor-presidente da Sibanye Gold Ltd., mineradora sul-africana. Sibanye fez a sua primeira incursão nos EUA depois da eleição de Trump, anunciando planos para comprar a mineradora americana de platina e paládio Stillwater Mining Co. por US$ 2,2 bilhões. O negócio começou a andar após a eleição de Trump, segundo Froneman.
Os planos de Trump de gastar US$ 1 trilhão em estradas, pontes, aeroportos e outras obras de infraestrutura ainda não se materializaram em uma legislação. Os gastos em infraestrutura têm sido mais apoiados pelos Democratas do que pelos Republicanos no poder e é parte de uma vasta e complicada agenda que inclui uma reforma fiscal e uma possível revogação do “Affordable Care Act”, a lei de saúde criada por Barack Obama que ficou conhecida como “Obamacare”.
“À media que o presidente continua avançando sua agenda de “Comprar nos EUA, contratar nos EUA”, que inclui investimentos significativos em infraestrutura, vamos continuar a ver resultados”, disse a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Lindsay Walters.
Durante a campanha, Trump disse ser é “a última aposta dos mineradores”. O plano de Trump para o setor define que sua meta é “maximizar o uso dos recursos americanos” e ressuscitar “a indústria de carvão americana, que vem sendo prejudica há muito tempo”.
As perspectivas para os mineradores de carvão dos EUA foram reduzidas drasticamente ao longo dos últimos anos, à medida que o gás natural, abundante e barato, foi substituindo o carvão como principal opção energética no país.
De forma mas ampla, as mineradoras também foram afetadas pela queda nos preços das commodities em 2015, com a desaceleração da China. Os preços subiram no ano passado e executivos presentes no evento na África do Sul disseram esperar que os preços permaneçam estáveis no curto prazo.
Há razões que vão além da vitória de Trump para o atual otimismo no setor de mineração, assim como para a alta das ações dessas empresas. O mais importante é o estímulo do governo chinês, que tem ampliado a demanda no maior mercado consumidor de commodities. Somente o apoio de Trump não basta para colocar a indústria mineradora de volta nos trilhos. Nos EUA, a dificuldade que o setor de carvão tem enfrentado para se manter competitivo vai além das regulações ambientais que o novo governo pretende amenizar.
Mas alguns executivos dizem que Trump pode acabar prejudicando, não ajudando o setor. Eles temem o impulso protecionista de Trump, incluindo as ameaças de elevar os impostos de produtos importados da China e outros lugares. Tais medidas podem desencadear guerras comerciais, reduzindo o crescimento e a demanda por recursos naturais, de acordo com os executivos.
Mark Cutifani, diretor-presidente da mineradora britânica Anglo American PLC, diz que o governo Trump precisa ser mais claro sobre suas políticas e metas comerciais. “Até o momento, a mensagem está confusa”, diz ele. Seu conselho para Trump: “Não pressione o mundo em direção ao protecionismo.” Outra preocupação é com relação ao dólar. Um aumento no crescimento da economia dos EUA poderia valorizar a moeda americana, que é usada para definir o preço da maioria das commodities mundo afora. Um dólar forte geralmente pressiona a demanda dessas commodities para baixo e prejudica as mineradoras.
Um aumento nos impostos de importação nos EUA provavelmente teria implicações fortes nos preços das commodities no mundo todo e poderia fazer que o dólar disparasse mais de 10% em relação a outras moedas, segundo Robert Ryan, vice-presidente da firma canadense de dados financeiros BCA Research.
Algumas mineradoras de ouro, especialmente, estão preocupadas. Quando o dólar sobe, a cotação do ouro geralmente cai. “Toda a sua política parece ser voltada para dentro, direcionada para fortalecer os EUA”, o que poderia pressionar a valorização do dólar, diz Mark Bristow, diretor-presidente da Randgold Resources, mineradora de ouro africana.
Outros dizem que as incertezas com relação às políticas de Trump poderiam ser benéficas para o ouro. “Tudo o que precisamos é um bom tweet todo fim de semana” para manter os preços do ouro em alta, diz Srinivasan Venkatakrishnan, diretor-presidente da AngloGold Ashanti Ltd., da África do Sul, referindo-se ao prolífico uso do Twitter pelo presidente americano para abordar uma ampla gama de tópicos — geralmente adotando uma linguagem contundente.
“A incerteza geralmente ajuda a alimentar o preço do ouro”, acrescenta Venkatakrishnan.
Fonte: WSJ

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