Diamantes "financiam abusos" no Zimbabué
Organização não-governamental Global Witness denuncia que os serviços secretos e o exército do Zimbabué estão a lucrar com a venda de diamantes. Forças de segurança são acusadas de reprimirem a população.
A organização não-governamental Global Witness, com sede no Reino Unido, diz que as minas de diamantes descobertas em 2006 no Zimbabué não beneficiam a população. Apesar das receitas das vendas das pedras preciosas, milhões de pessoas continuam a viver na pobreza.
Quem tem lucrado com o comércio são as forças de segurança e a elite política, segundo um relatório da Global Witness divulgado esta semana - a venda dos diamantes tem financiado o exército e os serviços secretos, "consistentemente implicados na opressão" dos zimbabueanos.
"Infelizmente, muitas receitas de diamantes foram desviadas para as forças de segurança e para instituições que há muito são acusadas de minar a democracia no Zimbabué e de graves abusos contra os direitos humanos", afirma Michael Gibb, investigador da Global Witness.
Milhares de milhões desaparecidos
Desde 2010, o país exportou mais de 2,5 mil milhões de dólares em diamantes, de acordo com o Processo de Kimberley, a entidade que certifica a origem destas pedras preciosas e monitoriza o seu comércio mundial. Mas a Global Witness só encontrou referências a receitas de 300 milhões de dólares nas contas públicas disponibilizadas por Harare.
"Não queremos ser inimigos do Governo. Estamos a tentar apoiar os muitos atores locais que, há anos, escrevem sobre os muitos problemas no setor dos diamantes no Zimbabué. O próprio Presidente Mugabe reconheceu que há problemas graves", sublinha Gibb.
No ano passado, o chefe de Estado zimbabueano, Robert Mugabe, admitiu que o país terá perdido cerca 13 mil milhões de dólares devido ao comércio ilegal de diamantes.
Mugabe passou as operações de mineração para uma empresa estatal, mas não houve benefícios para os cidadãos comuns. Os funcionários públicos continuam a queixar-se de atrasos no pagamento dos seus salários e a taxa de desemprego no país é alta.
"Esta não deveria ser a imagem de um país que tem riquezas", desabafa Moses Nhuka, de 34 anos, licenciado em geologia. "Estou a vender sapatos em segunda mão nas ruas, ilegalmente. Quero um emprego formal. Gostaria que o Governo administrasse as receitas dos diamantes de forma adequada, para que todos beneficiem."
Thabitha Khumalo, porta-voz do principal partido da oposição, o Movimento para a Mudança Democrática, lembra que há muito que se sabe que os zimbabueanos não estão a beneficiar da riqueza dos diamantes, com exceção de uma pequena elite. Segundo Khumalo, o relatório agora divulgado pela Global Witness assemelha-se a um outro produzido por um deputado que morreu num acidente misterioso há três anos.
"Esta é apenas uma confirmação do relatório completo que foi feito pelo falecido Chindori Chininga", diz a porta-voz. "Obviamente, este dinheiro poderá ser usado para a violência contra os zimbabueanos, pois teremos eleições em breve [em 2018]. Então, não será uma surpresa ver pessoas a morrer ou a desaparecer. Esse dinheiro vai ser usado para aterrorizar os zimbabueanos para não votarem da maneira que querem".
Falta de transparência
O relatório da Global Witness também questiona a falta de transparência sobre o verdadeiro dono das empresas que têm explorado diamantes no Zimbabué. Segundo o documento, uma das empresas pertence parcialmente aos serviços secretos; os diamantes por ela extraídos seriam vendidos livremente no mercado internacional, apesar de se suspeitar que a empresa financia violações dos direitos humanos. Outra empresa, em parte pertencente às Forças Armadas do Zimbabué, terá vendido diamantes em Antuérpia, violando as sanções europeias.
Após contínuos esforços para obter uma resposta do Governo, o vice-ministro das Minas, Fred Moyo, recusou-se a falar à DW sobre a questão. Citado pela agência de notícias DPA, o ministro das Minas, Walter Chidhakwa, refere apenas que o Governo "está a trabalhar para assegurar que a mineração beneficia todos os zimbabueanos."
A Global Witness exige a Harare mais transparência nos negócios de diamantes.
Fonte: UOL
Quem tem lucrado com o comércio são as forças de segurança e a elite política, segundo um relatório da Global Witness divulgado esta semana - a venda dos diamantes tem financiado o exército e os serviços secretos, "consistentemente implicados na opressão" dos zimbabueanos.
"Infelizmente, muitas receitas de diamantes foram desviadas para as forças de segurança e para instituições que há muito são acusadas de minar a democracia no Zimbabué e de graves abusos contra os direitos humanos", afirma Michael Gibb, investigador da Global Witness.
Milhares de milhões desaparecidos
Desde 2010, o país exportou mais de 2,5 mil milhões de dólares em diamantes, de acordo com o Processo de Kimberley, a entidade que certifica a origem destas pedras preciosas e monitoriza o seu comércio mundial. Mas a Global Witness só encontrou referências a receitas de 300 milhões de dólares nas contas públicas disponibilizadas por Harare.
"Não queremos ser inimigos do Governo. Estamos a tentar apoiar os muitos atores locais que, há anos, escrevem sobre os muitos problemas no setor dos diamantes no Zimbabué. O próprio Presidente Mugabe reconheceu que há problemas graves", sublinha Gibb.
No ano passado, o chefe de Estado zimbabueano, Robert Mugabe, admitiu que o país terá perdido cerca 13 mil milhões de dólares devido ao comércio ilegal de diamantes.
Exploração de diamantes em Marange, no leste do Zimbabué, em 2006 - grandes lucros da venda de diamantes não beneficiam a maior parte da população
Cidadãos não vêem brilho dos diamantesMugabe passou as operações de mineração para uma empresa estatal, mas não houve benefícios para os cidadãos comuns. Os funcionários públicos continuam a queixar-se de atrasos no pagamento dos seus salários e a taxa de desemprego no país é alta.
"Esta não deveria ser a imagem de um país que tem riquezas", desabafa Moses Nhuka, de 34 anos, licenciado em geologia. "Estou a vender sapatos em segunda mão nas ruas, ilegalmente. Quero um emprego formal. Gostaria que o Governo administrasse as receitas dos diamantes de forma adequada, para que todos beneficiem."
Thabitha Khumalo, porta-voz do principal partido da oposição, o Movimento para a Mudança Democrática, lembra que há muito que se sabe que os zimbabueanos não estão a beneficiar da riqueza dos diamantes, com exceção de uma pequena elite. Segundo Khumalo, o relatório agora divulgado pela Global Witness assemelha-se a um outro produzido por um deputado que morreu num acidente misterioso há três anos.
"Esta é apenas uma confirmação do relatório completo que foi feito pelo falecido Chindori Chininga", diz a porta-voz. "Obviamente, este dinheiro poderá ser usado para a violência contra os zimbabueanos, pois teremos eleições em breve [em 2018]. Então, não será uma surpresa ver pessoas a morrer ou a desaparecer. Esse dinheiro vai ser usado para aterrorizar os zimbabueanos para não votarem da maneira que querem".
Falta de transparência
O relatório da Global Witness também questiona a falta de transparência sobre o verdadeiro dono das empresas que têm explorado diamantes no Zimbabué. Segundo o documento, uma das empresas pertence parcialmente aos serviços secretos; os diamantes por ela extraídos seriam vendidos livremente no mercado internacional, apesar de se suspeitar que a empresa financia violações dos direitos humanos. Outra empresa, em parte pertencente às Forças Armadas do Zimbabué, terá vendido diamantes em Antuérpia, violando as sanções europeias.
Após contínuos esforços para obter uma resposta do Governo, o vice-ministro das Minas, Fred Moyo, recusou-se a falar à DW sobre a questão. Citado pela agência de notícias DPA, o ministro das Minas, Walter Chidhakwa, refere apenas que o Governo "está a trabalhar para assegurar que a mineração beneficia todos os zimbabueanos."
A Global Witness exige a Harare mais transparência nos negócios de diamantes.
Fonte: UOL
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