Em mineração, empolgação e ufanismo rima com desinformação
Em vermelho: comentários de Fernando Lemos
GARIMPO
13) Do alto, vê-se uma grande clareira na floresta amazônica, (o que permite que se desconfie que não se trata de kimberlito. Os
milhares de corpos de kimberlitos conhecidos não são grandes, menores que 1.000
metros de diâmetro) com a terra avermelhada em contraste
com o verde. Já no chão, a entrada do garimpo parece uma ilha de um ecossistema
seco e sem vida, margeado por um rio de um lado e um lamaçal do outro. É preciso
tomar cuidado com onde se pisa –a terra rachada pode esconder buracos de areia
movediça.
14) Poucos quilômetros à frente, o coração da garimpagem: enormes crateras
enfileiram-se, entrecortadas por montanhas de terra, num horizonte sem
fim (o que conduz a desconfiança de não se
tratar de kimberlito. Os corpos de kimberlitos são pequenos, menores que 1.000
metros de diâmetro). Perto dos buracos erguem-se barracões
precários de madeira cobertos por lonas. É onde os garimpeiros fazem suas
refeições, preparadas por suas mulheres ou por cozinheiras.
15) "Tem muita droga e prostituição, claro, mas vai muita
família para o garimpo. A família toda, mulher e filhos, fica meses lá, e todo
mundo se respeita", conta um garimpeiro que não quer se identificar. Ele
reclama de que a vida no garimpo é muito dura.
16) Chegar até lá já é um sofrimento: da aldeia Roosevelt, a maior de toda
reserva, percorre-se uma estrada de 35 km transitáveis apenas em trator,
veículos potentes ou motocicletas. De moto, a viagem passa por áreas alagadas,
e o veículo precisa ser carregado no braço em alguns momentos. Não raro o
desgaste dos freios é tal que eles acabam antes do fim do percurso de
aproximadamente quatro horas.
17)No
garimpo, o trabalho é pesado, e o retorno, incerto. "Encontramos uma pedra
grande, bonita, de mais de 11 quilates. Entregamos para o atravessador vender e
nunca vimos a cor do dinheiro. Disseram que ele vendeu por R$ 180 mil",
reclama um garimpeiro que, após o episódio, desistiu do trabalho.
18) O sistema de funcionamento do garimpo é uma espécie de engrenagem
complexa, que gera uma "guerra fria" entre garimpeiros, índios e
intermediários: todos tentam passar a perna nos demais.
19) Para começar, um investidor dispõe-se a comprar equipamentos, fazer
contatos com compradores estrangeiros e subornar a fiscalização. Ele utiliza um
intermediário local para negociar cada etapa desse processo –mediante, é claro,
uma comissão.
20) O intermediário contata uma das principais lideranças cinta-larga (cada
uma pode "operar" um trecho do garimpo) e oferece as máquinas em
troca de um percentual da venda das pedras, de 20% a 30%. O garimpeiro entra
como trabalhador braçal, sem renda fixa. É "contratado" pelo líder
indígena e deve se reportar a ele caso encontre pedras. Do total do valor do diamante, o grupo de garimpeiros recebe 7%, parcela
geralmente dividida igualmente entre todos
21) Acontece que o intermediário avalia a pedra entre 30% e 40% abaixo do
valor real da venda, dizem índios e compradores ( a que preço real estão se referindo???? No garimpo?? Preço de são
Paulo??? Ou da Bélgica???). Muitas vezes o índio
recebe sua parte e não repassa aos garimpeiros, que, por sua vez, tentam vazar (desviar) o diamante do garimpo direto para o comprador,
driblando (ludibriando) índios e atravessadores. Pequenas,
as pedras cabem no bolso ou podem ser engolidas; o problema é que, se descoberto,
o garimpeiro corre o risco de pagar com sua vida.
Fonte: Jornal do ouro
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