Entenda por que não há relação entre as erupções do Vulcão de Fogo e do Kilauea
A erupção do Vulcão de Fogo na Guatemala, no último domingo, que causou cerca de cem mortes e a retirada de milhares de pessoas, coincidiu com a atividade intensa que o Kilauea, no Havaí, vem registrando desde do dia 3 de maio. Entretanto, segundo especialistas do Instituto de Geologia e Minério da Espanha (IGME) e do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), os dois fenômenos não têm relação. Os especialistas explicam ser comum que atividades vulcânicas distintas coincidam no tempo e que, em qualquer caso, é difícil de prever essas atividades.
— Isso acontece porque existem mais de 1.500 vulcões ativos no mundo e a geodinâmica terrestre não pára — explica Joan Martí, professor de Investigação do CSIC e chefe do Grupo de Vulcanologia de Barcelona.
As atividades dos dois vulcões são independentes e correspondem a processos tectônicos distintos. Isto mostra que, a princípio, não estão relacionadas. Uma relação entre ambas seria um fenômeno geológico de grande escala. Erupções efusivas como as do Havaí, têm uma duração muito maior (de semana a meses), que as explosivas (de poucos dias e poucas semanas), como é o caso do Vulcão de Fogo na Guatemala, segundo Joan Martí.
Segundo os dados do programa de Vulcanismo Global, do Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos, somente em 2017, o Vulcão de Fogo teve 12 processos eruptivos com fluxos de lava e piroclásticos.
— O Vulcão de Fogo tem estado em erupção há 16 anos, desde 2002, com uma forte atividade durante os últimos três anos — afirma Raúl Pérez López, cientista titular e geólogo da Área de Riscos Geológicos do IGME. — O que acontece é que agora a gravidade é maior por conta das consequências fatais para as comunidades locais.
— Isto gera lavas que podem apresentar distribuições superficiais importantes e percorrer dezenas de quilômetros — diz Martí.
A erupção do Vulcão de Fogo, entretanto, é do tipo explosivo. Ou seja, são magmas mais evoluídos, ricos em gases e mais frios e viscosos do que no caso do Havaí. De fato, o vulcão da Guatemala está localizado no Cinturão de Fogo do Pacífico, uma área com intensa atividade vulcânica.
VULCÕES ATIVOS
Além desses vulcões, agora mesmo estão em atividade eruptiva mais de dez em todo o mundo. Entre eles, o Merapi, o Dukono e o Agung na Indonésia; o Pitón de la Fournaise, na Ilha da Reunião, próxima a Madagascar; o Sakurajima, no Japão; o Ambae, no Vanuatu; o Langila, em Papua-Nova Guiné; o Mayón, nas Filipinas; o Reventador, no Equador; e o Sabancaya, no Peru.
— A atividade é variada, ainda que a maioria emita somente nuvens de cinzas que não têm um grande impacto na população e que, portanto, gera menos divulgação na imprensa — explica a chefe do IGME de Las Palmas da Grande Canária, Inés Galindo Jiménez.
A maioria dos vulcões ativos atualmente está no Cinturão de Fogo do Pacífico. Lá se concentram as zonas de subducção (onde coincidem as placas tectônicas) mais importantes do planeta, e as quais compreendem uma intensa atividade sísmica e vulcânica. De fato, a Guatemala também acaba de registrar um terremoto de 5,2 graus na escala Richter.
— Em 1773, a então a capital guatemalteca, Antigua, foi devastada por um terremoto estimado em magnitude superior a 7 graus. Isso obrigou a mudança da capital para a cidade de Asunción, a atual Cidade da Guatemala — recorda Pérez.
Segundo o geólogo, todo o Cinturão do Pacífico está cheio de vulcões ativos e de grande poder destrutivo, localizados desde a América do Norte até o Chile pela subducção, ou seja, a combinação de placas tectônicas distintas.
— Se me perguntarem qual será o próximo a entrar em erupção, eu não saberia responder. Existem muitos candidatos. Por sorte, não entram todos de uma só vez.
Fonte: O Globo
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