Francês da região da Alsácia, ele foi o fundador, em 1941, da Lapidação Amsterdam Ltda., hoje Joalheria Amsterdam Sauer. Houve, porém, uma gema brasileira que Sauer tornou particularmente conhecida e respeitada: a esmeralda. Sauer foi o responsável pela valorização e popularização das gemas brasileiras no mercado internacional. Até então, o que se valorizava mesmo era o diamante, uma gema sempre importante, a esmeralda e o rubi, que o Brasil não produzia, e a safira, que nosso país produzia muito pouco (se é que produzia).
As dezenas de outras gemas que o Brasil colocava no mercado – topázio, opala, água-marinha, turmalinas, granadas, ametista etc. – eram genericamente consideradas apenas pedras brasileiras, uma subcategoria. Sauer começou a divulgar e valorizar essas pedras preciosas menos prestigiadas e hoje o reconhecimento da nossa riqueza gemológica é um fato. Contou ele, em um de seus livros, O Mundo das Esmeraldas, que em 10 de julho de 1963, quando estava em férias com a família, um garimpeiro que trabalhava para ele informou haver encontrado uma pedra verde no pequeno povoado chamado Salininha, perto da cidade de Pilão Arcado, na Bahia. Os garimpeiros não acreditavam que fossem esmeraldas e, quando a descoberta foi divulgada, especialistas confirmaram que não eram. Normalmente, a cor verde da esmeralda é devida à presença de cromo, e os cristais descobertos em Salininha eram exatamente como a esmeralda, mas com cor verde produzida por vanádio. E foi este detalhe o único argumento apresentado para considerar a nova gema simplesmente um berilo verde (a esmeralda, como a água-marinha, é uma variedade de berilo). Inconformado, Sauer encaminhou a gema ao Gemological Institute of America (GIA) para análise e, em 9 de agosto de 1983, o GIA emitiu o laudo número 20.259, atestando que se tratava de Natural Emerald, a valiosa gema que era aqui procurada desde os tempos do bandeirante Fernão Dias Paes, o Caçador de Esmeraldas.
Com isso, o mercado internacional não teve como deixar de reconhecer a autenticidade da nossa pedra preciosa. De origem judia, no início da II Guerra Mundial, Jules Sauer fugiu de bicicleta da Bélgica, onde morava, e pedalou sozinho 1,5 mil quilômetros até a Espanha, onde foi preso por não ter documentos. Fugiu da prisão e foi para Portugal, onde embarcou em um navio para o Rio, lugar em que chegou aos 18 anos. Coincidentemente, Hans Stern, fundador da famosa rede brasileira de joalherias H. Stern, chegou ao Brasil na mesma época, com 17 anos.


Aqui, sobreviveu dando aulas de francês, até conseguir um emprego na empresa de pedras preciosas do irmão de um aluno, em Minas Gerais. Jules aprendeu rapidamente as técnicas de lapidação e em pouco tempo alcançou sua independência. Embrenhou-se Brasil adentro como comprador e vendedor de pedras. Menos de dois anos após deixar a Bélgica, já era dono da própria empresa (instalada numa zona de baixo meretrício de Belo Horizonte).
Além dos vários livros que escreveu, Sauer criou o Museu Amsterdam Sauer, com seu acervo de mais de 3 mil peças, incluindo a maior alexandrita bruta conhecida (24,48 quilogramas). Considerado uma das maiores autoridades em alta joalheria do mundo, Jules Sauer era, desde 2004, membro do Círculo de Honra do Gemological Institute of America (GIA), a mais importante instituição gemológica do mundo. Era também cidadão honorário de Belo Horizonte, Teófilo Otoni e Governador Valadares (Minas Gerais), São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1959, conquistou pela primeira vez o Diamond International Awards, a consagração máxima da joalheria internacional, com o anel Constellation. Ele deixou dois filhos, Daniel, que tive o prazer de conhecer em reuniões da Comissão Técnica de Gemas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que é diretor da empresa fundada pelo pai, e Débora.
Colaboração de Pércio de Moraes Branco, geólogo, professor e consultor em gemologia.

Fonte: CRPM