sábado, 6 de outubro de 2018

Ametista do Sul: garimpeiros sonham com as pedras

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Entre os garimpeiros de Ametista do Sul, uma situação incomum: eles costumam sonhar com as pedras e depois as localizam
Os moradores de  Ametista do Sul , no Extremo Norte do Estado, principalmente os trabalhadores de garimpo, também acreditam no poder místico das pedras. As crenças estão ligadas à energia emanada dos minerais, mas também, em muitos casos, associadas à religião católica – cada mina tem em sua entrada um altar com os santos de devoção. Quem trabalha em garimpo costuma dizer que as ametistas surgem nos sonhos dos que atuam no subsolo do município. São comuns, entre os garimpeiros, as histórias de quem foi contemplado por uma revelação enquanto dormia.
É o caso do garimpeiro Izaldir Antonio Sganzerla, que em 1973, quando tinha 22 anos, sonhou com uma grande pedra preciosa reluzindo sobre a terra vermelha num barranco às margens de uma estrada. No sonho, ele reconheceu o cenário: era a via de acesso à mina da família, onde ele trabalhava, um ponto explorado por outros mineiros. A sensação de realidade foi tanta que Izaldir convidou o pai, Izidoro Sganzerla, na época com 46 anos, para irem ao lugar. Os dois caminharam por algumas horas até Izaldir cismar com a imagem de um cedro e de uma canela com raízes expostas e entrelaçadas em pedras-ferro, cuja trilha levava a um granito de 15 toneladas – o único trecho jamais explorado por quem trabalhava na região à procura de pedras semipreciosas.
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Izaldir (em pé) e o pai, Izidoro, sonham com as ametistas e as encontram
Havia escavações a 30 centímetros da rocha, mas a força humana fora incapaz de removê-la. Com um trator, eles arrastaram a grande pedra por cerca de um metro, o suficiente para Izaldir surpreender-se por estar diante de uma pedra avermelhada semelhante à do sonho. Com quase meia tonelada, era a maior e mais valiosa ametista encontrada pelos dois. Imediatamente, a notícia se espalhou entre os garimpos da região. Um grupo de compradores se uniu para adquiri-la. Com o dinheiro da venda, os Sganzerla compraram 25 hectares de terra e seguiram garimpando. O pai, que também costumava se basear nos sonhos para encontrar ametistas, guardou 24 pequenos pedaços da pedra para usá-los quando fosse preciso. Até agora, aos 91 anos, Izidoro mantém reservada uma pontinha como troféu.
— Em Ametista do Sul, os moradores acreditam que cada pedra tem um dono destinado e tem uma força própria para chamar esse dono. E isso pode ocorrer em um sonho – acredita Izaldir, hoje presidente da Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai (Coogamai).

Clique na fotografia abaixo e conheça a rotina dos garimpeiros da cidade

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Fé acompanha os garimpeiros dentro das minas de ametista
Dois anos após encontrar aquela que é considerada a pedra da sorte da família, Izaldir teve um novo sonho revelador. Desta vez, a pedra era dourada e estaria em terras da região ainda desconhecidas pelo garimpeiro. Na manhã seguinte, outro sinal: um idoso, que bebia vinho e jogava cartas em um boteco, contou ter descoberto uma ametista em uma área plana perto de uma mina desativada, cavoucando o chão com um facão, ao mesmo tempo em que fumava um cigarro. A descrição das pedras encontradas por ele era a mesma da pedra sonhada pelo mineiro. A cavalo, Izaldir seguiu para o lugar descrito. Com a autorização do proprietário do terreno, começou a cavar em diferentes pontos. Não encontrou nada até visualizar, a distância, a área de terra escura e remexida. O dono daquelas terras explicou que se tratava de um local explorado por um garimpeiro durante 10 anos. Izaldir encontrou, ali, o buraco feito pelo facão do jogador de cartas. Imediatamente, chamou o pai, que veio com um trator — mas nem precisava: na primeira virada de terra, a pedra dourada surgiu.
— A pedra era para mim — sentencia Izaldir, com a concordância do pai. – O cara fez o acampamento dele no local e montou o fogão justamente onde não devia. Todos os dias, cozinhava o feijão em cima da pedra preciosa e ia garimpar ao lado. Era um geodão, uma gema da joia. Tinha uns 400 quilos. Contando ninguém acredita. É uma coisa mística.
Segundo o prefeito Gilmar da Silva, a procura de turistas e forasteiros curiosos aumentou nos últimos dois anos. Em 2016, 7 mil visitantes passaram pelo posto de atendimento aos turistas localizado no município. Em 2017, foram 20 mil pessoas. De janeiro a agosto deste ano, já são quase 15 mil. A maioria procura pelos atrativos que destacam o esoterismo. O prefeito ressalta que a principal fonte de renda do município ainda é a extração de minerais nas 136 minas em funcionamento no subsolo de Ametista do Sul. Porém, o tempo de vida desses garimpos não deverá passar de 35 anos, estima. Por isso, a administração municipal tem apoiado a diversificação da economia local. Há poucos dias, um empresário de Gramado palestrou para representantes do setor turístico. A ideia é fomentar a área e ampliar os negócios no segmento.

    Fonte: Brasil Mineral

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