Outubro chega ao fim hoje e os investidores aproveitam a última sessão do mês para ajustar posições nos ativos de risco. Os mercados internacionais avançam nesta manhã, mas os ganhos estão longe de impedir o pior desempenho mensal dos negócios com ações no exterior em mais de seis anos. Por aqui, o otimismo com as eleições blindou essa instabilidade externa e os primeiros passos do novo governo reforçam esse sentimento de que dias melhores virão.
A percepção inicial do mercado financeiro brasileiro é de que o governo Bolsonaro terá uma postura pró-mercado, focada em melhorar a competitividade do país. Para os investidores, melhorar o ambiente de negócios e colocar as contas públicas em trajetória sustentável são fundamentais para mudar o modelo de crescimento econômico do Brasil.
Esse novo modelo consiste em sair do consumo interno em direção a exportações e investimento privado, garantindo um ciclo de crescimento sustentado. Para tanto, é necessário implementar uma agenda econômica liberal, que inclui a privatização de empresas estatais, cortes de gastos do governo, abertura da economia, redução da carga tributária etc.
Porém, ainda se espera clareza sobre o plano do novo governo para a reforma da Previdência e como lidar com o rombo nas contas públicas. Até agora, a mensagem sobre esses temas foi ambígua. É importante ressaltar, no entanto, que Bolsonaro terá de negociar reformas estruturais – e impopulares – com um Congresso muito fragmentado e polarizado.
Além disso, a lista de reformas estruturais necessárias é longa, enquanto a janela de oportunidade para usar o capital político de Bolsonaro para persuadir deputados e senadores a apoiar a agenda de governo pode ter vida curta. Assim, reunir apoio suficiente para aprovar medidas constitucionais pode ser um desafio.
Por ora, os primeiros pronunciamentos da equipe econômica, comandada por Paulo Guedes, reforçando compromisso do novo governo com pautas caras ao mercado financeiro animam os investidores. Da mesma forma, a movimentação no Congresso denota boa vontade dos atuais parlamentares, mesmo com o fim do ano se aproximando.
Assim, a lua de mel do mercado com o governo Bolsonaro deve durar até que a primeira grande votação majoritária no Congresso acontece – provavelmente já no ano que vem. Até lá, os investidores devem continuar surfando na onda do otimismo, à espera da volta de mais fluxo financeiro, principalmente proveniente dos “gringos”.
A questão é que o movimento dos investidores estrangeiros tem sido contrário, saindo do risco e buscando proteção em ativos mais seguros, como o dólar e títulos norte-americanos, em meio à possibilidade de um ciclo de alta mais intenso na taxa de juros dos Estados Unidos no ano que vem. Com isso, a sensação que fica é que os mesmos temas que dominaram as atenções nos mercados globais – as reformas aqui e o aperto monetário lá fora – seguem em voga, sendo relegados de tempos em tempos por outros assuntos.
Hoje, por exemplo, os investidores deixam essa preocupação envolvendo o Federal Reserve de lado e engatam uma recuperação das bolsas, com o rali de fim de mês se espalhando pela Ásia, passando pela Europa até chegar em Wall Street. Os índices futuros das bolsas de Nova York têm ganhos firmes, embalando as principais bolsas europeias, após altas aceleradas em Tóquio e Xangai.
A decisão da China de elevar a taxa de recompra diária para o maior nível desde janeiro de 2014 visa impedir uma queda adicional do yuan chinês (renminbi), que é negociado no menor nível desde maio de 2008 em relação ao dólar. A desvalorização da moeda chinesa pode elevar a tensão comercial com os EUA, que interrompeu o conflito até as eleições legislativas (midterm elections) no início de novembro.
O iene também perde terreno, após o Banco Central do Japão (BoJ) manter a política monetária, conforme esperado. As moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities também são pressionadas, com destaque para o dólar australiano e a rupia indiana, refletindo dados mais fracos que o esperado sobre a atividade na China.
A indústria chinesa caiu ao menor nível desde julho de 2016, com o índice dos gerentes de compras (PMI) indo a 52,2 em outubro, de 50,8 em setembro e ante previsão de 50,5. No setor de serviços, o PMI chinês recuou ao nível mais baixo em 14 meses, a 53,9 neste mês, de 54,9 no mês passado.
Ainda na agenda econômica no exterior, destaque para os dados sobre a criação de emprego no setor privado dos Estados Unidos em outubro (9h15). Também merecem atenção os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (11h30). Já na zona do euro, saem números sobre a inflação ao consumidor neste mês e a taxa de desemprego em setembro.
No Brasil, o destaque da agenda econômica fica reservado para o fim do dia, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia a decisão sobre a taxa básica de juros. A expectativa é de manutenção da Selic em 6,50% pela quinta vez seguida, refletindo a desvalorização do dólar.
A moeda norte-americana saiu da faixa de R$ 4,20 em meados setembro, em meio às incertezas eleitorais, para a faixa de R$ 3,70, à medida que os investidores foram ficando mais convictos da vitória de Jair Bolsonaro nas urnas. O anúncio oficial será feito após o fechamento do pregão local, às 18h, e será acompanhado de um comunicado.
No documento, o mercado financeiro espera encontrar pistas sobre os próximos do Banco Central na condução da política monetária, que deve ficar condicionada ao ambiente internacional e também à aprovação de reformas estruturais no Congresso. Ou seja, o início do ciclo de altas e a intensidade desse movimento vai depender de fatores internos e externos.
Na safra de balanços, destaque para os números trimestrais do Santander, antes da abertura do pregão local. A expectativa é de que o desempenho do banco espanhol no período venha melhor que o apresentado pelos grandes rivais nacionais, devido à melhora na eficiência operacional.
Fonte: ADVFN
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