segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Amazônia abriga mais de 2.500 garimpos ilegais

Amazônia abriga mais de 2.500 garimpos ilegais

Desses, 453 estão no Brasil. Novo relatório mostra as consequências diretas e indiretas do problema

Garimpo não é crime. É possível ser garimpeiro no território brasileiro – e lucrar extraindo minerais como ouro (ou diamante, ou columbita, ou cassiterita… a lista é longa) – sem colocar nenhum dedo fora da lei. Para isso, é claro, é preciso seguir algumas regras, todas resumidas em um documento especial, chamado Estatuto do Garimpeiro. Ele exige que todo garimpeiro se registre, mesmo que trabalhe sozinho ou com uma cooperativa, e que o trabalho só seja feito em áreas previamente aprovadas para extração.
Não é um pedaço pequeno de terra. São mais 500 mil hectares espalhados em 10 estados: Amazonas, Amapá, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rondônia e Tocantins. Chega perto da área da cidade de Toronto, no Canadá, inteirinha.
Ainda assim, não é segredo de que existe garimpo ilegal no Brasil – onde existe alguém disposto a fazer algo direitinho, existe uma bela dúzia de gente pulando etapas. O que pode ser surpresa para você são as dimensões extremas do garimpo ilícito – e as consequências drásticas que ele pode trazer à natureza.
A Raisg (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada) lançou um especial chamado Amazônia Saqueada. Cheio de mapas interativos, ele é fruto de um relatório que traçou, milimetricamente, as rotas de entrada e saída da mineração na Amazônia, e dos rios que são diretamente afetados por ela.
Contanto todos os países que abrigam a Amazônia (são 6: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), existem 2.557 regiões ilegais de garimpo e extração de minerais. Os números são resultado de análises de imagens de satélite, da coleta de notícias sobre desmatamento em todos os 6 países e de notificações de comunidades ribeirinhas e indígenas. Mas os especialistas acreditam que os resultados subestimam um número ainda mais de pontos de exploração não confirmados. Ou seja: o problema já parece ruim, e a realidade pode ser ainda pior.
O relatório, aliás, diferencia “pontos” e “áreas” de garimpo. Uma área é uma região já expandida de mineração ilegal – cujas dimensões aparecem demarcadas nos mapas interativos. A maioria dos registros, no entanto, são pontuais, de garimpos menores. O problema é que, na maioria dos casos, um ponto não fiscalizado tende a se tornar uma grande área de exploração com o passar do tempo.
De todos as áreas e pontos mapeados, a maioria está na Venezuela (1899), depois no Brasil (453), Peru (134) e Equador (68). A área com a mais profunda degradação causada por garimpos de ouro é Madre de Dios, no Peru, mas a região do rio Tapajós, aqui no Brasil, se mostra como um polo importante de casos ilegais.
Maurício Torres, doutor em geografia pela USP e atualmente professor na Universidade Federal do Pará, disse à Folha de S.Paulo que a exploração nessa região brasileira começou no final da década de 1950, mas os problemas mais graves decorrentes dessa atividade são mais recentes.

Prejuízos diretos: agressão a floresta

O grande problema do garimpo ilegal é que ele vai ficando progressivamente mais prejudicial. Em Tapajós, por exemplo. Conforme o ouro superficial foi ficando mais raro, explorado lá atrás, pelos primeiros garimpeiros, os recém-chegados foram apelando para táticas mais drásticas.
As mangueiras bico-jato, por exemplo, usam água pressurizada para desmontar barrancos naturais. A lama resultante é filtrada em busca de ouro. Resultado? A prática produz grandes crateras artificiais, destrói a vegetação e prejudica toda a dinâmica orgânica da floresta.
Em 2008, de acordo com Torres e a Folha, a situação piora drasticamente: as gigantes retroescavadeiras hidráulicas (PCs) chegaram dentro da floresta. “A grande transformação da região ocorreu com a chegada das PCs. Elas geram um impacto ambiental insano. Eu arriscaria dizer que a alteração da cobertura florestal foi maior nos últimos 10 anos do que nos 50 anteriores”, explicou o geógrafo à Folha.


Fonte: Superinteressante

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