Commodities nesta semana: ajuda da Rússia ao Irã pode afetar o petróleo e o ouro
Além da ameaça de “enriquecimento nuclear total” e “dura vingança” contra os Estados Unidos, feita pelo aiatolá Ali Khamenei, os investidores de commodities também devem ficar de olho na resposta de Vladimir Putin à tensão entre EUA e Irã, uma vez que o presidente norte-americano, Donald Trump, prometeu retaliar qualquer ação iraniana, atingindo 52 alvos localizados no país persa.
Isso porque, ao descontar as emoções tanto do líder supremo do Irã quanto do mandatário norte-americano, é possível ter uma visão mais clara dos objetivos do presidente russo e de como o segundo maior país produtor mundial de petróleo e superpotência militar reagirá à mais recente crise geopolítica.
A Rússia irá ajudar o Irã?
A reação de Putin será ainda mais relevante para os investidores com visão macro, se levarem em consideração a possibilidade de a Rússia auxiliar o Irã em um eventual embate contra os Estados Unidos.
Ou a possibilidade de Moscou deixar o acordo de corte de produção com a Opep, o que poderia pesar sobre os preços da commodity e testar o orçamento da Arábia Saudita, maior produtora petrolífera do Oriente Médio e grande aliada dos EUA.
“Não surpreendeu o fato de Moscou ter reagido mal ao anúncio da morte do general Qasem Soleimani, comandante da brigada iraniana al-Quds, ocorrida em Bagdá após o ataque de um drone dos EUA”, afirmou Mark Katz, professor da Faculdade de Política e Governo da Universidade George Mason, em um comentário ao Atlantic Council.
“Mas, embora Moscou tenha proferido críticas ao governo Trump por assassinar Soleimani, até agora a Rússia permaneceu em silêncio em relação ao que irá fazer sobre o assunto”, ressaltou Katz.
O professor concordou com um artigo de opinião do Moscow Times, dizendo que “não seria uma surpresa se a Rússia decidisse dar um passo além do simples apoio diplomático ao Irã, no intuito de proteger seus interesses no Oriente Médio, inclusive oferecendo assistência militar”.
Auxílio da Rússia ao Irã pode provocar uma disparada no petróleo e no ouro
Qualquer envolvimento da Rússia pode acirrar ainda mais o conflito entre EUA e Irã, impulsionando o preço do barril de Brent, que já atingiu a marca de US$ 70, bem como os futuros do ouro, que giram em torno dos US$ 1.580 por onça.
Gaurav Sharma, analista de óleo e gás da Forbes, levantou a questão da saída da Rússia do pacto de corte de produção firmado no âmbito da aliança Opep+.
A Rússia, maior produtora petrolífera entre os dez principais membros da aliança não pertencentes ao cartel, afirmou, no dia 6 de dezembro, que realizará cortes na ordem de 70.000 barris por dia (bpd) para contribuir com os objetivos da Opep+ no primeiro trimestre de 2020.
Isso aconteceu depois que Riad ofereceu um corte por conta própria de 167.000 bpd, para atingir o objetivo de redução total da aliança de 2,1 milhões de bpd, ou 2,1% da oferta mundial.
Por quanto tempo mais a Rússia permanecerá na Opep+?
O curioso é que, logo após renovar seu compromisso com a Opep+, no final do ano passado, sob o argumento de evitar uma “turbulência no mercado petrolífero em 2020”, a Rússia passou cogitar sua saída do pacto.
“Os cortes de produção de petróleo não podem ser eternos. Precisamos tomar a decisão de ir saindo aos poucos”, declarou o ministro de energia da Rússia, Alexander Novak, em uma entrevista ao canal de televisão estatal Rossiya24, no dia 27 de dezembro, exatamente três semanas depois de ter se sentado ao lado do ministro do petróleo saudita, Abdulaziz bin Salman, em Viena, para anunciar a renovação dos cortes da Opep+.
Como explica Sharma, a questão é problemática tanto para Novak quanto para cada um dos seus colegas ministros na Opep+. “Onde ficam suas prioridades: defender o preço do petróleo ou sua participação de mercado?”, indagou o analista da Forbes, que apontou que as ações da Opep+ para sustentar os preços também beneficiam os produtores de shale oil nos EUA, “que ganham vantagem, ao poder continuar extraindo sem restrições”.
Recorde nas exportações de petróleo dos EUA
Quem acompanhou os números das exportações de petróleo divulgados no relatório semanal da Agência de Informações Energéticas dos EUA (EIA, na sigla em inglês), na sexta-feira, dirá que Novak tem razão em se preocupar.
O dado sobre a remessa de 4,5 milhões de bpd, citado pela EIA para a semana encerrada em 27 de dezembro, foi o maior desde que os EUA retomaram as exportações de petróleo em 2016. Até então, as remessas petrolíferas dos EUA haviam permanecido abaixo de 4 milhões de bpd por semana.
Além do recorde nas exportações de petróleo em 2019, a produção norte-americana também atingiu a máxima histórica de 12,9 milhões de bpd. No entanto, a produção de shale oil, que responde por mais da metade da produção norte-americana, enfrentou algumas restrições no ano passado.
De forma geral, os produtores petrolíferos americanos reduziram o número de sondas em operação no país para 677 no ano passado, uma queda 24% em relação aos níveis de 2018.
Contudo, como assinala Sharma, sem contribuir com um barril sequer para os cortes da Opep+, os EUA, ao contrário, aumentaram suas exportações petrolíferas, em meio aos esforços da aliança para elevar os preços, que fizeram com que o barril do West Texas Intermediate (WTI) saísse das mínimas ao redor de US$ 26, em 2016, para quase US$ 65 atualmente.
Barril de petróleo pode se desvalorizar US$ 5 se a Rússia sair da Opep+
Apesar das tensões geopolíticas provocadas pela crise EUA-Irã, a saída da Rússia da Opep+ pode facilmente provocar uma queda de US$ 5 tanto na cotação do barril de WTI quanto de Brent.
Por quê? Porque a saída da Rússia forçará a Arábia Saudita a aprofundar ainda mais os cortes, a fim de cumprir o compromisso de redução de 2,1 milhões de bpd atualmente em vigor.
Fonte: MONEY TIMES
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