Distância entre Bolsa e realidade é três vezes maior que a normal, diz BTG
Há algum tempo, parte dos analistas desconfia que o mercado de ações se descolou da economia real, que exibe todos os sintomas de que foi contaminada pelo coronavírus, a começar pela profunda recessão.
O BTG Pactual (BPAC11) é a mais recente instituição a dar sua estimativa da distância entre a Bolsa e a realidade – e, para o banco, ela está três vezes maior que a normal.
Carlos Sequeira e Osni Carfi, que assinam a análise, calculam que, atualmente, as ações da Bolsa são negociadas por um múltiplo Preço/Lucro projetado para 12 meses igual a 18 vezes, excluindo-se os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) e da Vale (VALE3).
A “distância” entre a Bolsa e a “realidade” é medida pelo tamanho do desvio-padrão entre seu atual P/L e o seu P/L médio. Como a média histórica da Bolsa é de 12,7 vezes, os analistas afirmam que o patamar corrente está a mais de três desvios-padrão de distância da média histórica.
Quando se acrescentam as ações da Petrobras e da Vale, a distância aumenta ainda mais, já que o P/L atual sobe para 18,5 vezes, considerando-se o lucro esperado para os próximos 12 meses. Em historicamente, a média desse múltiplo é de 11,5 vezes.
Bolsa “cara”
Na prática, isso significa que os investidores estão pagando mais “caro” pelos papéis, já que o P/L costuma ser interpretado como o tempo em que o investimento da ação demora para se pagar, com base apenas no lucro auferido.
Assim, na média, a Bolsa demora 12,7 anos para retornar o capital investido, mas, atualmente, os investidores estão aceitando um retorno de 18 anos.
Quando se consideram apenas as ações de empresas focadas no mercado interno, a relação é mais equilibrada. Neste momento, esses papéis são negociados por um P/L projetado para 12 meses igual a 17,2 vezes.
Historicamente, o múltiplo é de 14,6 vezes, o que significa uma “distância” de apenas 1 desvio-padrão.
Qual é o limite?
O relatório do BTG Pactual reforça a discussão sobre os limites da Bolsa, neste momento em que a economia real e as expectativas se misturam com as incertezas causadas pela pandemia de coronavírus.
Há cinco dias, o Ibovespa, principal índice da B3, fechou acima dos 100 mil pontos pela primeira vez desde março, puxado pelo bom desempenho da economia americana, pelo relaxamento da quarentena no Brasil e pelas notícias de que a criação da vacina contra a Covid-19 está próxima.
O otimismo é reforçado pelas revisões das estimativas para o Ibovespa neste ano. O Santander (SANB11), por exemplo, já trabalha com um cenário-base de 110 mil pontos, mas acrescenta que, no cenário mais otimista, o índice pode chegar a 125 mil pontos.
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