Empresa canadense quer apropriar-se do metal, em região que já sangra por Belo Monte. Projeto tem dados contraditórios e minimiza impactos ambientais e sociais. Acidente poderia despejar montanha de rejeitos tóxicos no rio em 7 minutos
Publicado 14/04/2021 às 18:59 - Atualizado 14/04/2021 às 19:02
Rosana Miranda, em entrevista a Patricia Fachin, no IHU Online
O projeto de mineração Volta Grande da empresa canadense Belo Sun, previsto para ser instalado na cidade vizinha de Altamira, Senador José Porfírio, no Pará, na Volta Grande do Xingu, “prevê a extração de 74 toneladas de ouro em 20 anos de operação – entre construção, exploração e descomissionamento”, diz Rosana Miranda. O empreendimento também prevê, segundo ela, “2.100 empregos diretos em fase de implantação e 526 na fase de operação, R$ 60 milhões em royalties de mineração em 12 anos, cerca de R$ 130 milhões em impostos durante o período de instalação e R$ 55 milhões ao ano quando em operação”. Apesar de o montante parecer significativo, “a mineração de ouro gera um efeito apenas temporário nos municípios, e não é capaz de alterar indicadores importantes como saúde, educação e PIB per capita”, adverte na entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Rosana Miranda, integrante da ONG Amazon Watch, que faz parte de um grupo de organizações que vêm denunciando a inviabilidade socioambiental do projeto Belo Sun, menciona os efeitos que o projeto de mineração poderá causar na região, especialmente por estar muito próximo de outro grande empreendimento, Belo Monte, que gerou inúmeros problemas socioambientais em Altamira e na Volta Grande do Xingu. “Há graves lacunas no processo de licenciamento do projeto da Belo Sun, que oferece informações contraditórias e minimiza os impactos de sua operação. Os primeiros Estudos de Impacto Ambiental da Belo Sun foram começados em 2009, quando a instalação de Belo Monte sequer havia sido iniciada. Não há, portanto, informações suficientes por parte dos estudos de Belo Sun com relação ao impacto cumulativo da sua operação com o que já é causado por Belo Monte. Esses estudos, finalizados e apresentados em 2012, trazem informações radicalmente diferentes do Estudo de Viabilidade que a empresa divulgou em 2015 para seus investidores”. Entre os riscos apontados por pareceres técnicos feitos por pesquisadores independentes, Rosana destaca a contaminação do rio Xingu devido ao uso de “grandes quantidades de cianeto e de outros processos químicos” e a “alta probabilidade de falha da barragem, cujo rompimento poderia resultar em um volume de aproximadamente 9 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos atingindo o rio Xingu em apenas sete minutos”.
Na entrevista a seguir, ela também critica a falta de consulta prévia às comunidades tradicionais de agricultores, ribeirinhos e indígenas não aldeados sobre o projeto. “Consultas servem para que os conhecimentos e opiniões da comunidade possam ser incorporados ao projeto, para que possam ser contempladas outras alternativas, e feita uma análise equilibrada da viabilidade da empreitada. Não é o caso do projeto Volta Grande, e sendo assim, não consideramos válidas todas as decisões que avançaram o projeto sem que ainda houvesse sido feita a consulta”, afirma.
Fonte: OUTRASMÍDIAS
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