Chineses e indianos não costumavam comemorar o Dia dos Namorados até 5
ou 10 anos atrás. Também não oficializavam noivado com anel de
compromisso. Nem comemoravam bodas ou prometiam amor eterno com joias
feitas de brilhantes. O crescimento econômico desses emergentes e a
internacionalização de seus respectivos mercados, porém, acabaram
aproximando-os de hábitos culturais e de consumo ocidentais - usar
diamantes para presentear, por exemplo. De acordo com uma pesquisa
recente da consultoria Bain & Company, feita em parceria com o
Antwerp World Diamond Centre (AWDC), China e Índia serão responsáveis
por metade do crescimento da demanda por diamante bruto nos próximos 20
anos. Até 2020, segundo o estudo, os dois países absorverão 36% da
produção de US$ 26,1 bilhões (157 milhões de quilates) e, juntos, serão o
maior consumidor de diamantes do planeta. No mesmo intervalo, os
Estados Unidos devem diminuir a participação no mercado dos atuais 39%
para 30%. Em 2011, China e Índia consumiram 25% dos US$ 15,6 bilhões
produzidos.
A Bain calcula que a oferta de diamantes até 2020 crescerá em valor a
um ritmo de 2,5% ao ano, enquanto a demanda terá incremento anual de
5,9%. A tendência, portanto, é que o preço da gema bruta continue a
subir, como ocorreu em 2011, quando houve aumento de 31% em relação ao
período anterior. O principal indutor da escalada na demanda, afirma o
estudo, são as joias feitas com diamantes, que movimentaram US$ 71
bilhões em 2011. Na China, atualmente o segundo maior mercado consumidor
desses bens, a venda cresceu 18% em 2011, ante 2010, e chegou a US$ 9,2
bilhões. Os Estados Unidos lideram o ranking, com US$ 26,9 bilhões em
vendas, mas tiveram avanço mais modesto no mesmo período, de 7%. Índia,
terceiro lugar, assistiu a um crescimento de 17% no consumo de joias com
brilhantes no ano passado, um total de US$ 8,5 bilhões.
A indústria de diamantes tem passado pela crise como o mercado de
luxo, de maneira resiliente - e até melhor. Em 2010, a consultoria
projetou que as vendas de joias com brilhantes iriam voltar em 2013 aos
patamares de 2007 - isso aconteceu ainda em 2011. "A raça humana não
criou uma linguagem comum e provavelmente nunca o fará, mas existe uma
maneira de dizer 'amor' que mulheres no mundo inteiro entendem:
diamantes", brincam os autores do estudo. Pela primeira vez, o
relatório, publicado desde 2011, investigou as preferências dos
consumidores. Cinco mil entrevistas revelaram que os diamantes são o
presente favorito das moças em 6 dos 8 países pesquisados, entre eles
China, Índia, Rússia, Alemanha e França. As americanas e italianas
colocam as gemas entre os top 3, mas preferem dinheiro e viagens,
respectivamente.
Na China, os diamantes são o segmento que mais cresce dentro do setor
joalheiro, que movimenta US$ 65 bilhões. Sua participação no mercado
subiu de 10% em 2005 para quase 15% em 2011. Ouro e jade, associados a
valores como fortuna e prosperidade na cultura chinesa, continuam entre
as preferências dos consumidores, com 60% de share, mas estão perdendo
espaço rapidamente para os diamantes. Com uma taxa de crescimento anual
de 32%, a categoria avança em vendas no país com velocidade maior que as
bolsas de luxo (25%), automóveis (22%) e viagens (18%). Os varejistas
acompanham o apetite dos consumidores. Lao Feng Xiang, uma das maiores
joalherias do país, abriu quase 1,2 mil lojas desde 2009 e tem
atualmente dois mil pontos de venda. Chow Tai Fook possui 1.450 lojas e
planeja outras 200 para até 2016. A marca é uma das mais conhecidas no
país e forjou parceria com a Diamond Trading Company, distribuidora da
De Beers, gigante do setor (autora do bordão "diamonds are forever"),
para ter acesso a pedras de melhor qualidade.
O mercado indiano é bastante pulverizado. As vendas no país se
dividem entre 300 mil lojas, sete vezes mais que nos Estados Unidos e
seis vezes mais que na China. Marcas independentes e empresas familiares
respondem por 95% do total, mas já existe um esforço de algumas
empresas para ganhar reconhecimento em escala. Uma delas é a Tanishq,
que pertence ao Tata, maior grupo empresarial privado na Índia, com
negócios em áreas que vão de chá e tecidos a aço e automóveis.
Nos dois países, a taxa de penetração dos diamantes oscila entre 20% e
55%, contra uma média de 80% em economias "maduras" como a americana, a
britânica e a italiana. A pesquisa afirma que as pedras, na China e na
Índia, ainda estão bastante restritas às classes mais abastadas em
grandes metrópoles e que o grande potencial de crescimento nesses
mercados está na classe média de centros menores, cidades chamadas de
"tier 2" e "tier 3" - Chongqing e Tianjin na China; Coimbatore, Nagpur e
Vadodara na Índia. Na disputa pela preferência do consumidor, têm
levado vantagem marcas internacionais como a americana Tiffany e a
francesa Cartier, que, como mostra o relatório, têm uma lembrança de
marca forte inclusive em países emergentes.
O mercado de diamantes brutos é extremamente concentrado. A russa
Alrosa, a De Beers e a anglo-australiana Rio Tinto controlam cerca de
60% da produção mundial. Com os preços em tendência de alta, as
multinacionais da joalheria têm investido em estratégias para garantir o
abastecimento. Luciano Rodembusch, vice-presidente da Tiffany & Co
para a America Latina e Caribe, disse ao Valor que há muitos anos a
empresa tem uma subsidiária que se dedica apenas ao processo de
aquisição, corte, polimento e qualificação de diamantes. Para garantir
um suprimento de alta qualidade, a grife procura selar parcerias com as
maiores minas do mercado. "É verdade que demanda tem superado a oferta. E
isso deve continuar a acontecer nos próximos anos, caso novas áreas de
produção não sejam descobertas", completa.