quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Seu Mané: Sucesso e fracasso no coração da Amazônia

Seu Mané: Sucesso e fracasso no coração da Amazônia
Era começo da década de 70. O Brasil ainda comemorava o tri-campeonato mundial conquistado pela seleção e Mané Garrincha dava seus dribles últimos estonteantes nos gramados brasileiros. Na Amazônia, o governo militar rasgava a floresta abrindo uma estrada para levar homens para este pedaço esquecido do país. A nova fronteira atraiu a atenção de milhares de pessoas, personagens anônimos de uma história escrita a suor, sangue e abandono.
Seu Mané: Sucesso e fracasso no coração da Amazônia



Entre estes personagens está o não tão anônimo Aldo Inácio, paulista nascido em 1949 que foi atraído na década de 70 pelo chamado do governo para ocupar a Amazônia. Em 1979, Inácio chegou à cidade de Itaituba, na Transamazônica, com um punhado de roupas, um mega fone e muitos sonhos na bagagem. Fã de Mané Garrincha, Inácio transformou o nome Mane em uma marca e passou a ser chamado, ele mesmo, de Seu Mane.

Hoje, aos 57 anos, ele fala sobre o passado como um filme que conta a história de sucesso e fracasso no coração da Amazônia. No dia 23 de março, Seu Mane contou trechos desta história ao radialista Douglas Araújo, em Novo Progresso, onde ele administra uma modesta rodoviária, depois de ser dono de um império. Leia a entrevista?

Douglas Araújo - Como foi o seu primeiro dia em Itaituba?

Seu Mané - Meu primeiro dia em Itaituba foi dormindo na calçada da (agência da) Transbraziliana, porque eu não tinha dinheiro para pagar um hotel. Então, eu e a minha família dormimos na calçada. Depois disso, no dia seguinte, eu tinha um mega fone e fui pára a frente de algumas lojas gritar e ganhar o pão nosso de cada dia. Depois eu montei um restaurantezinho com o nome "Mãe Maria, a clientela foi aumentando e passei para um espaço maior, em frente ao Sonda Bar. Em homenagem ao grande jogador Garrincha, eu coloquei o nome do restaurante de "Seu Mane", ai este nome cresceu, as coisas foram dando certo. Eu fui o primeiro anunciante da Hora Certa e de outras programações da Rádio Nacional, de Brasília.

A partir daí foi divulgado muito o nome "Seu Mane" e ai coisas vieram surgindo naturalmente. Ao longo de seis anos eu já tinha um patrimônio invejável. Mas depois de dois anos veio o Plano Collor, incêndios, queda de avião e assaltos - fui assaltado três vezes. Alguns funcionários me deram o cano, um deles com até 20 quilos de ouro. Em dois anos eu perdi 600 quilos de ouro. Eu nunca fui vaidoso, só queria que o nome 'Seu Mané' fosse uma marca registrada, mas jamais esperei que acontecesse tanto acidente em tão pouco tempo.

Diante de tantas perdas materiais teve uma em especial, a minha esposa Dade, que para mim foi uma das maiores perdas. As coisas já vinham se afundando e quando uma engrenagem dá para trás, você trava. Eu nunca fui um homem de vícios, bebidas, drogas ou farra. Nunca sentei à mesa de um bar. Eu nunca fui um homem de praticar roubos, sempre paguei em dia os meus fornecedores. Da mesma maneira que Deus me mostrou o sucesso, ele me mostrou o insucesso. Deus me mostrou os dois lados da vida.

Douglas Araújo - Como está a sua vida hoje?

Seu Mané - A gente nunca está feliz. O ser humano nunca consegue uma felicidade total, sempre tem algo a desejar, mas posso dizer que estou muito bem, não tanto financeiramente quanto no passado, mas posso afirmar que estou bem junto com meus filhos, netos, noras.

Administrando a rodoviária de Novo Progresso, hoje já tenho restaurante e lanchonete, ainda tenho muita esperança na região, acredito muito na vinda deste asfalto (da rodovia BR-163). Com relação ao meu passado nem precisa tocar muito, a História conta a minha vida.

Eu fui um homem que gostava muito de mídia, fiz o programa do Jô Soares na Rede Globo em 1991. A BBC de Londres esteve uma semana em minha casa para um curta metragem. Fiz o Globo Repórter em 1988 e o Fantástico. Fui entrevistado pela Rádio Capital de São Paulo. Faculdades se interessavam pelo meu caso. Estive em várias outras emissoras e acho que a mídia hora ajuda, hora atrapalha.

Fui fundador do Chapéu do Povo em Itaituba, das Rádio Itaituba e Clube, da TV Itaituba, na época afiliada a Rede Globo, e também a TVS, hoje o SBT. Foram dois canais de televisão. Fundei o Foto Itaituba, que dei de presente para os cincos funcionários. Tudo com laboratórios fotográficos modernos para a época, uma loja montada, mas infelizmente na hora que eu mais precisei fui sacrificado, marginalizado, ignorado.

Douglas Araújo O que é felicidade para o senhor. Dinheiro?

Seu Mané - Felicidade, na minha opinião, é estar de bem com Deus, bem com a sua família. Felicidade, felicidade, você nunca pode ter por completo, mas pode viver momentos felizes. Tenho 33 filhos e 22 netos e sou feliz com isso.

Douglas Araújo - Quando o senhor era milionário, qual foi o maior erro que cometeu, que não faria novamente?

Seu Mané - Como radialista de minha própria emissora eu atingi várias pessoas. Agi muito errado. Hoje eu não faria mais isso. Muitas vezes você fala de determinada pessoa e você sente que está com o poder da mídia na mão e que pode tudo. Depois de tudo isso, eu paguei um preço muito alto. A 'impressa marrom' me machucou demais. A gente diz uma palavra, eles trocam vírgulas, então eu pequei muito neste ponto.

Seu Mané (centro) com amigos na década de 80
Douglas Araújo - E onde estão os seus amigos de tempos de milionário?

Seu Mané - Umas das pessoas que eu ajudei muito, na hora que eu mais precisei me mandou entregar um envelope com 300 trezentos reais. Eu não devolvi porque infelizmente eu estava precisando. Mas esta pessoa eu havia colocado, há muitos anos, dentro de um avião meu e mandei para Brasília, para se tratar. Ela e seu marido sempre foram funcionários muito bem remunerados, dentro de minhas empresas sempre tiveram uma credibilidade muito grande. Moraram durante 10 anos dentro de minha casa sem nunca pagar aluguel, e na hora que eu mais precisei eles viraram as costas, mas acredito na Justiça divina, que é muito grande.

Douglas Araújo - Naquela época você tinha fortes aliados...

Seu Mané - Eu devo muito ao seu José Candido Araújo (Zé Arara). Tenho muito respeito, como um dos homens mais dignos que já conheci. Com relação ao Zé do Abacaxi (Fazendeiro e dono de garimpo em Itaituba), nós não tivemos nenhum vínculo ou aproximação.

Douglas Araújo - Os seus amigos poderosos te abandonaram?

Seu Mané- Não vou citar nome, mas um ex-prefeito de Altamira foi um dos homens que eu mais ajudei. Na hora que eu mais precisei ele me virou as costas, mas Deus sabe...

Douglas Araújo - Como é uma pessoa que conheceu os dois lados da moeda?

Seu Mané - Você acaba conhecendo os três lados da moeda. São situações completamente diferentes. Depois que eu quebrei fui vender banana na carriola, e ai um filme começa a passar na sua cabeça. As pessoas ainda te criticam, passam por você e sorriem. Houve um momento de profunda depressão, mas você tem que ser forte.

Minha família foi meu principal apoio, em momento algum me deixou só. Eu sempre fui um vencedor, fracassados são aqueles que procuram defeitos em mim, fracassados são aqueles que não têm uma historia como a minha para contar. São aqueles que são desonestos. O homem que bater no peito e falar que é um herói por ser honesto está totalmente errado, porque ser honesto é obrigação de cada cidadão. Quando o telefone emudece, parece que todo mundo sabe que você é um fracassado. Eu tinha 13 telefones em minha mesa, de repente todos ficaram calados. Eu tinha 380 funcionários diretos em 19 empresas, tinha 11 aviões e 80 carros. Eu pagava todos meus funcionários diariamente.

Douglas Araújo - E como é o fundo do poço?

Seu Mané - A lembrança que eu tive foi da pessoa que eu coloquei dentro de meu avião e mandei para Brasília durante quatro meses com tratamento médico por minha conta. Foi a mesma pessoa que me mandou um envelope com os trezentos reais. Eu sempre ajudei muitas pessoas, sempre tive o prazer de fazer uma pessoa sorrir.

Ajudei muitos garimpeiros a voltarem para a sua terra. No momento mais difícil da minha vida uma pessoa que eu nunca tinha feito algo por ela, ficou sabendo que eu estava doente em um quartinho quatro por quatro e me tirou de lá e me mandou para um hospital particular, depois me deu um emprego e hoje sou o administrador do Terminal Rodoviário de Novo Progresso. Esta pessoa chama-se Nery dos Prazeres (ex-prefeito de Novo Progresso), hoje meu grande amigo.

Lojas de ouro anunciavam em "O Garimpeiro"

Lojas de ouro anunciavam em "O Garimpeiro"


inguém chega ao ouro apenas olhando o Rio Madeira do barranco. Vá de Classimpeiro e ‘bamburre’ numa boa. Todas as semanas ele ‘fofoca’ a melhor dica para você não ‘blefar’. Saiba o que acontece nas currutelas de Rondônia e do Brasil, lendo O Garimpeiro” – dizia o anúncio do jornal. Além dessa seção fixa também saíam anúncios individuais.

A publicidade nas edições desse semanário porto-velhense fazia parte do êxito do efervescente comércio do ouro em 1985, tempos em que o País conhecia o governo da “Nova República”, pós-morte do presidente Tancredo Neves.

Para bamburrar, apoite com segurança na Fortaleza do Povo – de Altamiro Passos.

Garimpeiro comprando na Cibrama não fica blefado – Companhia Industrial Brasileira de Madeira (Lambris, assoalhos, rodapés, pranchas, forros, vigas e tábuas – Estrada da Cascalheira s/nº, telefones 2213365 e 2213275).

Compra de ouro do Tião – Venha tomar um refrigerante e negociar o seu ouro na melhor oferta da cidade: Avenida Sete de Setembro 1.326, ao lado do Pastel Quente. O melhor negócio é com o Camelo – Vá procurá-lo na Rua Henrique Dias 456, Telefones 2219849 e 2219183, em Porto Velho.

Era um jornal artesanal composto em linotipo e impresso a quente (com chumbo derretido), que divulgava informações do setor mineral e defendia a classe extrativista mais nômade da Amazônia, tanto constituída por garimpeiros quanto por balseiros e dragueiros que migravam para todos os quadrantes onde havia notícia de fofoca (ocorrência de ouro). Cutucava sempre as “grandes onças” multinacionais que haviam se instalado em Rondônia nos tempos da cassiterita, e também as novas, que estavam chegando.

Criado pelo geólogo Djalma Lacerda, então presidente da Companhia de Mineração de Rondônia, teve suas edições confiadas a mim e aos colegas Nelson Severino, Carlos Gilberto Alves e Jorcêne Martínez. No começo, seu João Leandro Barbosa, o Perigoso – que a todos chamava de Perigozinho – nos levava de carro toda a semana para Cacoal, a 500 km, onde o jornal era impresso na gráfica da Tribuna Popular, de Adair Perin.

Outros anunciantes daquele período e seus respectivos slogans:

– Rua Campos Sales 984); Zé Lobato (Com a cotação do dia pagamos o melhor preço de Rondônia – Avenida Sete de Setembro 1.180).

Dragas Gondim Indústria e Comércio (Fabricação, montagem e manutenção de barcos, rebocadores, silos, dragas de todos os tamanhos – Com grande profundidade. Peneiração de areia e garimpo, 512053 e 511112).

Antonio Barbudo (Ouro e metais preciosos – Paga o melhor preço da praça – Avenida Sete de Setembro 1.059).

Advogada Lindinalva Laranjeiras (Garimpeiro, o endereço é este: Rua Campos Sales 1.591, Areal) Lindinalva e Nilton Dantas eram advogados do jornal.

L.J.R. Comércio Golden de Ouro (A diferença das outras casas está no preço que pagamos; comprove – Rua Campos Sales 934, telefone 2212590).

Não adianta descer a Sete para tentar o melhor. Você vai voltar e vender para o Manuel. É o que paga melhor.

L.F.P. Barreto Comércio de Ouro – Avenida Sete de Setembro, esquina com Rua Marechal Deodoro 1.264, telefone 2219144).

R.V. Coelho (Compra ouro de garimpo e ouro velho – Avenida Sete de Setembro 1.181).


Já os hotéis esnobavam seus apartamentos com ar condicionado, frigobar, telefone, TV, restaurantes, pratos italianos, frutos do mar etc. Um deles, o Rondon Palace Hotel, “inteiramente familiar”, não arriscava se dizer o melhor. No anúncio colocava: “com prestações de serviço quase perfeitas.”

Outros hotéis que prestigiavam o jornal: Azteca, Boa Viagem, Guaporé Palace, Jordan, Los Andes, Nunes, Planalto, São João, Sebma, Tia Carmem, Vitória, Samaúma, Cuiabano, Iara e Libra. Em Ariquemes: Horla, Hotel Ariquemes, Jocemel, Rio Branco e Rio Madeira.

Em Jaru: Bar e Hotel Paraná. Costa Marques: Hotel Vale do Guaporé. Guajará-Mirim: Fênix Palace Hotel e Hotel Mini Estrela. Ouro Preto do Oeste: Hotel Ouro Preto. Ji-Paraná: Hotel Guanabara, Hotel Itamaraty, Hotel Sol Nascente, Hotel Transcontinental. Rolim de Moura: Hotel e Comercial Dalla Vecchia. Cacoal: Tarcisbel, Hotel Amazonas e Cacoal Palace Hotel.

Pimenta Bueno: Hotel Céus de Rondônia, Hotel Piritiba Palace. Cerejeiras: Hotel Real. Colorado do Oeste: Fenícia Palace Hotel e Hotel Restaurante do Toninho. Vilhena: Aripuanã Hotel, Diplomata Hotel, Hotel Campinense, Hotel Mirage, Hotel Primavera, Hotel e Restaurante Colorado e Vilhena Palace Hotel.

Mais anunciantes:

Casa Cruzeiro do Sul – antigo grupo Zé Arara (Compramos ouro pelo melhor preço: Rua General Osório, ao lado da Magriff); Pescaça Sociedade Comercial Ltda. (Armas, munições e artigos de pesca – Avenida Campos Sales 2247, telefone 2211871).

Sobral Magazine (Aqui, quem manda é o freguês – Ande na moda, passe na Sobral e se atualize – O ponto chic da capital –Edifício Rio Madeira, loja e sobreloja).

Agroindustrial e Mineradora Camelo Ltda. (Motobombas, grupos geradores, motores de pôpa, motores diesel e todo equipamento para garimpo – Rua Henrique Dias 456).

Hectare Empreendimentos Imobiliários Ltda. (Diretores: Ramalho e Barreto – A nova opção de negócios de imóveis no Estado, 2218296).

Motomaq (Possui todo material para equipar dragas e balsas, como também para tratamento de ouro, além de uma linha completa para mergulho – Rua D. Pedro II 1378, com filiais em Mutumparaná e Guajará-Mirim).

Aviação de garimpo, os kamikases da amazonia





Enquanto muita gente se divertia por ai, algumas centenas de abnegados que gostam de voar por amor a liberdade estavam embrenhados numa mata virgem arriscando suas vidas. Transportando pessoas e carga em frágeis aviões, ajudando nascer uma civilização no meio da mata, construindo uma futura cidade. Onde muitos não conseguem chegar, o avião transpõe tudo e chega lá, trazendo o conforto, a sobrevivência, a salvação daqueles que por uma ou outra razão escolheram viver perigosamente no meio da selva, no inferno verde.
Longe de tudo, distante de nossos lares milhares de quilômetros, onde só o avião e a imaginação conseguem chegar, estávamos nós, dezenas de pilotos, enfiados numa área de garimpo. Hoje as lembranças, coisas boas da vida da gente, não se apagaram. E como é bom recordar aqueles tempos, no ano de 1983.
Havia perdido o emprego como Comandante de um bimotor e estava dando cabeçadas, fazendo free-lancer numa vida minguada, cheia de concorrência e sem reconhecimento, sobrevivendo só Deus sabe como. Afinal, aviação executiva havia dado o seu ultimo suspiro no sul. Nesta época meus olhos estavam voltados para a região norte, onde ainda o avião como meio de transporte tem a sua posição privilegiada. Onde os profissionais conseguem ganhar justamente o que merecem.




Surgiu a oportunidade e de repente estava eu em TUCUMÃ, uma civilização que nascia a cinqüenta minutos de vôo de Redenção no Pará, em plena mata virgem. A poucos minutos de voo de Serra Norte, de São Felix do Xingu e da aldeia Kriketun, as margens do rio Fresco e do rio Branco.
TUCUMÃ, a 12º quilômetros de São Félix do Xingu, era uma iniciativa corajosa da Construtora Andrade Gutierrez, denominada projeto Cidade nº1. Era a primeira gleba. O CUCA era a cidade satélite implantada pelo pessoal de Belo Horizonte – MG que implantava essas cidades, onde as áreas de garimpos proliferavam pela região em uma verdadeira corrida para o ouro. Nesta corrida maluca entrava a aviação de garimpo, elo de ligação entre a civilização que surgia e as clareiras abertas na selva, onde estavam as pequenas faixas improvisadas para pouso e decolagem, pistas num superiores a 300 metros. Sem aproximação, sem arremetida e geralmente construídas nos pés de morros, onde se desenvolviam os garimpos de ouro.
PISTA NOVA com a cantina do Zinho e do falecido Mané Gato, com a cantina do Antonio e da Raimundona, onde tinha farmácia, dentista, barbeiro, padaria, açougue e até cinema. PISTA DA UNIÃO, MAGINCO,MARIA BONITA,BATEIA,CUMARÚ, etc… Cenário de grandes aventuras, onde alguns amigos por infelicidade ficaram para sempre, tentando fazer a ligação, entregar o frete.


Seis a oito pessoas, dependendo do porte físico do grupo e mais suas borrocas(maletas de viagem) eram transportadas comprimidas como sardinha em lata, dentro de um avião de 4 lugares como o “Carioca” ou o “Skylane”. Valeu a experiência para os que ficaram sem serem mutilados pela sorte, e a certeza do que pode realizar um Carioca, um C-180, um C-182, ou um C-206.
Nós vivemos uma aviação sem
mistérios, sem padrão, sem apoio de terra, sem manutenção preventiva e por dezenas de vezes cruzamos  aquele tapete verde sem sequer carregar uma bolsa de sobrevivência na selva ou um galão de água. De bermudas, camisetas e às vezes mesmo sem camisa tal o calor insuportável conseguimos transpor milhares e milhares de castanheiras gigantes, num vai e vem, levando alimentação, pessoas, coisas e enfermos.


A malaria também era um dos grandes inimigos naturais, por isso dormíamos dentro de barracas, enfiados em mosquiteiros até conseguir uma vaga na hospedaria pioneira de madeira que surgia na civilização chamada TUCUMÃ, hoje uma cidade.
Nós vimos e ajudamos a nascer TUCUMÃ, fazer dela uma prospera cidade. Na época das águas(chuvas) os vôos diminuem e os acidentes parecem aumentar com as pistas escorregadias, os nevoeiros de superfície e os CB. Na estação da fumaça, bruma seca originaria das queimadas do Pará e Goiás é coisa seria e dá condições de vôo por instrumentos (IMC) e mesmo assim quantas e quantas vezes arriscamos a pele fazendo os vôos espanta macacos por baixo da cortina de fumaça, lambendo as castanheira, para retirar o enfermo com malaria ou o acidentado que precisava de socorro. Muitas vezes com o combustível contado, sem alternativa, navegando só na bussola e por referencias visuais em rios, clareiras,pistas abandonadas, aldeias, morros, etc


Quando lá cheguei havia onze aviões apenas operando na área de garimpo, mas quando de lá sai somavam mais de quarenta. Todo dia chegando aviões com pilotos aventureiros procurando o seu lugar ao sol, tentando um meio de melhorar a vida.
A Policia Federal não era problema para quem estava andando certo. No entanto, de
repente a FAB- Força Aérea Brasileira chegou para colocar disciplina na casa. Algum louco xingou um Coronel Aviador pela freqüência livre, virou bagunça e todo mundo dançou. A freqüência usada na época 125.80Mhz era a mais tumultuada do Pará. Todo mundo falava com todo mundo dando sua posição a cada minuto na esperança de ser localizado no caso de um pouso forçado na mata virgem. Os aviões na maioria das vezes voavam em formação, dezenas deles no ar fazendo uma mesma rota. Uma loucura que as vezes era quebrada pela monotonia dos regressos sem passageiros de retorno, batendo lata.


Dois ou três se encontravam no céu e para descontrair aquelas puxadas descomunais tipo montanha russa, seguida de uma perda total em gritos de alegria pela freqüência. Quem deve se lembrar bem disso é o Gere, o Amorr(Ceará), o Martinho(Charles Bronson). O Cmte. Gere aprendeu a voar no colo do pai, que era piloto do governo do Estado de Goiás, e hoje vive em TUCUMÃ. O Cmte. Amorr veio do Ceará por que havia pousado um bimotor perdido na noite em uma rodovia e perdera o emprego. O Cmte. Martinho era de Goiás, mas veio de Manaus-AM onde voava hidroaviões e vivia chorando por uma mulher. Cada qual tinha uma historia própria, um motivo, uma esperança, um sonho, uma ambição e um único objetivo: ganhar muito dinheiro para sair bem daquela vida arriscada, cheia de sacrifícios e muito suor.


A saudade hoje bate forte, mas persistir arriscando a vida, contando unicamente com a sorte é burrice. Afinal um homem prevenido vale por dois neste mundo curioso onde não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. Assim muitos fizeram o pé de meia como eu e caíram fora, pois quem muito quer por fim acaba sem nada, principalmente quando a historia tem um final triste. Nas lembranças ficaram os bons momentos, os amigos, nossos irmãos que comungavam a mesma trilha e que hoje cada qual seguiu um curso. São eles os inesquecíveis: Cmte. ZECÃO (José Giafonni, piloto Stock Car de São Paulo-SP), Cmte. TÚLIO e os seus C-180 (PT-AZY e PT-DKV), MARTINHO, GERÊ, CEARÁ, KIKO, SOUZA, SILVIO, VILELLA, CHAMBARI, BOSQUINHO, MARTINELLI, JEROMINHO,JURUNA, VILLAMIL,DURVALINO,JUAREIS,CARDILLE, DIVINO MARAVILHOSO e os desaparecidos mais tarde tragicamente: o SARDINHA no garimpo e o BUZINA no Rio Araguaia.


Quem não voou no garimpo, mas colocou TUCUMÃ de ponta cabeça foi o Comandante CATALÃO que agitou a bandeira e trouxe muita gente para a região, um Co-piloto do governo de Goiás que espalhou a fofoca. O ROCHINHA, sócio com o irmão que voava na VASP comprou um Cessna-182 Skylane Robertson Stoll, levou para lá, não conseguiu voar e ficou em terra controlando os vôos que empreitava para os pilotos que por ali apareciam para voar. Até que muita coisa aconteceu premeditando o trágico acontecimento final, o qual ceifou vitimas num acidente agravado pelo fogo.
As brigas, o mecânico PORTO, ex-FABiano, o MIGUEL ARGENTINO e seus aviões. Tudo tinha sabor de aventura, como uma longa novela repleta de capítulos emocionantes envolvendo pioneiros, onde ficou gravado o calote que levamos dos índios e de alguns cantineiros que não pagaram os seus vôos e nós não recebemos a nossa sagrada comissão.


Em todo lugar existem os mais loucos. Aqueles, Omo o BOSQUINHO e o VALÉRIO que operavam o EMBRAER CORISCO em pista de garimpo, onde nem mesmo o helicóptero da FAB gostava muito de, aleijado de um pé num acidente com um Cessna-170, quebrou um monte de aviões que passaram pelas suas mãos até que se perdeu com um velho Cessna-210 no meio da fumaça durante um vôo de navegação e acabou jogando o avião numa quiçaça de fazenda perto de Redenção-PA, deixando os passageiros assustados e em pânico. Sem contar a pilonada do AMORR na pista do Maginco, alagada, cujo show assisti de camarote em companhia de outros pilotos que iam ali aterrar. Em conseqüência um garimpeiro estourou o olho no painel do C-182 e todos saíram  machucados quando o avião ficou de barriga para cima. Quem  não prestou  muita atenção no ocorrido, pensou que o avião havia pousado, pois tudo aconteceu rapidamente. Teve até um  louco que distraidamente, vendo o avião parado próximo a cabeceira da pista, gritou na freqüência: – que lindo pouso curto AMORR !
Certa vez fugindo de um  temporal, dos tais que ocorrem quase  todas as tardes em locais isolados do Pará e da Amazônia com  muita chuva e fortes ventos, num velho Cherokee-260 “Pathfinder”, transportando em um saquinho de papel um quilo de duzentas gramas de ouro no retorno da Pista Nova para o boteco do Zé Ceará comprador de ouro em TUCUMÃ, acabei encontrando o GERÊ num  malhado Cessna skylane também fora de rota tentando contornar a chuva e os fortes ventos. Nesta altura eu já estava perdido quando vi o Rotating de cauda do C-182, fiz contato na freqüência e segui na cola aos solavancos em meio aquela escuridão provocada por um enorme CB. Fomos parar em um pista no pé de um  morro, numa tal VILA REAL onde só existia uma barraca construída de troncos de coqueiros e madeira nativa, servindo como ponto de apoio à expedições que pesquisavam  ouro na região. Chegamos ali com muita chuva e violentos ventos de superfície, onde pousamos e a água malhou para valer. Só saímos dali depois que o temporal passou na boca da noite. Estávamos a apenas uns quinze minutos de vôo de TUCUMÃ e nunca mais ali voltei.
O mais triste eram os vôos na fumaça onde surgem as miragens. Visões de posições e pontos conhecidos no horizonte por onde temos que passar. Voando num  rumo tal, de pois de tantos minutos por exemplo tem que passar numa garganta ou ao lado de um  morro visivelmente reconhecido em dias de céu claro em contraste com o horizonte. Percorrendo a mesma rota feita muitas vezes ao dia num vai e vem, na época da bruma seca quando estamos envoltos nela, a visibilidade é restrita e prejudicada fortemente. O piloto determina o tempo de vôo até a posição conhecida e durante o desenrolar do vôo, desejando ver a tão esperada referencia , começa até a imaginá-la, pois conhece perfeitamente, gravada em sua mente nos mínimos contornos. Assim no anseio de se orientar entre a fumaça esquece da bussola e imagina estar vendo tal posição e como uma miragem ele vai até lá. E quando se aproxima da referencia visual, acreditando ser verdadeira, ela desaparece. Tudo se torna mais perigoso quando a imaginando ver outro ponto conhecido e já gravado no subconsciente, arrisca ir até lá para conferir o que imagina ver e nada encontra, onde acaba se perdendo.
Nessas horas que o piloto tem que confiar na bussola, compensar o vento, acreditar no tempo sem procurar referencias visuais imagináveis, que nesta altura do campeonato acabam desaparecendo. Tranqüilidade acima de tudo deve andar lado a lado com quem se propõe voar nessas condições. E, no entanto ninguém consegue voar descontraído numa condição destas. Assim, depois de um grande susto, passei fazer como os menos corajosos, ficando em terra firme por vários dias até que a fumaça nos permitisse voar com  maior segurança, sem arriscar ainda mais o pescoço.
Muitos pilotos tentaram arriscar a sorte em TUCUMÃ, mas acabaram voltando para trás com suas frustrações. Foi o que ocorreu com o Cmte. Wellinton do Aero Clube de São Paulo-SP, que tanto eu e posteriormente o Cmte. Vilella de Itú-SP levamos para conhecer as pistas e o tipo de operação no garimpo, mas acabou desistindo. Foram tentativas em vão, pois sua capacidade técnica, sua coragem, seu preparo, não foram suficientes para enfrentar a empreitada. Ainda bem, que como o Wellinton, alguns perceberam  logo cedo que não possuíam aptidão necessária e desistiram, regressando sem deixar marcas. Quem não se lembra do mecânico de aviação particular do Cmte. Dimas, aquele que de vez em quando colocava o NDB 255 de TUCUMÃ no ar, principalmente na época da bruma seca. O radiofarol era de propriedade particular da Construtora Andrade Gutierrez e estava sempre necessitando de manutenção. Seu alcance era pequeno, mas ajudava os navegadores.
Outros mecânicos de aviação a quem devemos os constantes desempenhos dos nossos aviões foram: BENEDITO DE SOUZA( o Marabá), o ÊNIO AVELAR DE SOUZA e o PORTO. Eles ficaram. Pelo menos eu os deixei  lá, quando resolvi vir embora. E com eles ficou TUCUMÃ, uma civilização que nós pilotos de garimpo da época vimos nascer. Hoje uma cidade, um exemplo de realismo e coragem de muitos homens. Onde estarão hoje meus amigos Pilotos de Garimpo.

Não dá mais para tirar ouro com a mão, diz coronel

Não dá mais para tirar ouro com a mão, diz coronel

Sebastião Curió chegou ao garimpo em 1980 e coordenou a extração de ouro com mão de ferro. Hoje, acompanha de longe a mecanização

Aos 75 anos, o coronel Sebastião Rodrigues de Moura conhece como poucos as agruras de Serra Pelada. Há exatos 30 anos, Curió, como é conhecido, chegou pela primeira vez na região, como enviado do governo federal para coordenar a corrida pelo ouro. Durante três anos, baixou regras rigorosas para controlar a turba de mais de 100 mil homens que tentavam bamburrar – ou enriquecer, na gíria dos garimpeiros – e viu sair 42 toneladas de ouro da mina. Quando foi deputado federal, aprovou um projeto de lei para estender por mais cinco anos o garimpo e foi prefeito de Curionópolis, município do qual Serra Pelada é um distrito e cujo nome foi dado em sua homenagem.

Agência Estado
Durante três anos, o coronel Sebastião Curió coordenou com mão de ferro o garimpo em Serra Pelada
Com a experiência de três décadas em Serra Pelada, Curió tem uma certeza: não dá mais para tirar ouro com as mãos como nos velhos tempos. Por isso, é a favor da mecanização da mina, processo que terá início em maio, quando o governo deverá conceder a licença de lavra para a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM), joint venture entre a mineradora canadense Colossus e a Coomigasp, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada. “Nessa nova fase de Serra Pelada nenhum garimpeiro vai enriquecer”, disse ao iG o coronel Curió. “Mas, como acionistas da empresa, eles têm uma boa perspectiva para melhorar a qualidade de vida”.
De sua casa em Brasília, Curió, que antes de chegar a Serra Pelada havia combatido a guerrilha do Araguaia, falou sobre a mecanização da mina e fala dos tempos em que comandava os garimpeiros. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
iG: Como o senhor foi parar em Serra Pelada?
Sebastião Curió: Por causa de uma busca e apreensão que fiz com o Zé Arara, o maior comprador de ouro da região. Trouxe o material apreendido e fiz uma apresentação para o ministro da Fazenda, o presidente da Caixa Econômica, vários generais e representantes do presidente da República, João Figueiredo. Contei o que estava acontecendo em Serra Pelada e, depois dessa palestra, foi determinado que a exclusividade de compra do ouro fosse dada para a Caixa Econômica e que eu fosse o coordenador do garimpo.
iG: Em que condições o senhor encontrou a região?
Curió: Havia uma corrida do ouro e milhares de garimpeiros chegavam diariamente em Serra Pelada. Cheguei no dia 2 de maio de 1980, e o povoado devia ter uma população de 40 mil pessoas. Ao chegar, falei que meu objetivo era evitar desvios, contrabando e coordenar a exploração. Trouxe alguns benefícios. Entre outras coisas, cortei o percentual que eles pagavam ao Genésio, o suposto dono da propriedade, um posseiro que cobrava taxa de 20% da produção dos garimpeiros.

iG: Por que o senhor proibiu a entrada de mulheres em Serra Pelada?
Curió: Muitos dizem que foi discriminação, mas não é verdade. Eram muitos homens e a presença das mulheres causaria muitas mortes por noite. Além das mulheres, proibi jogo de azar, bebida alcoólica e o uso ostensivo de armas. Recebi uma ordem de Brasília para desarmar todo mundo. Mas não dava para desarmar 60 mil homens com apenas 16 policiais. iG: E se alguém não respeitasse as regras?
Curió: Quem não tinha carteirinha da Receita Federal (naquela época ainda não existia a cooperativa) era colocado num avião e mandado embora do garimpo. Eram os chamados furões. Brigões e ladrões também eram expulsos de Serra Pelada.
iG: Como era o relacionamento com os garimpeiros?
Curió: Excelente. Montávamos um telão com lençóis brancos e 40 mil homens assistiam a filmes à noite. Quando decidi que iria hastear a bandeira nacional todas as manhãs, convidei todo mundo para assistir. Cerca de 30 mil homens apareceram. Quando começou a tocar o hino e coloquei a mão no peito, percebi que os garimpeiros fizeram a mesma coisa. Toda dia pela manhã, 40 mil homens hasteavam a bandeira e cantavam o hino nacional. Era um espetáculo de civismo.
iG: O senhor viu muita gente enriquecer em Serra Pelada?
Curió: Muita. Tem um caso engraçado. Estava no meu barraco de lona e vi um tumulto na pista de pouso. Tinha um monte de garimpeiro correndo atrás de um cara. Quando ele se aproximou de mim, pude ver que fumava um charuto de notas de Cr$ 1 mil. Além disso, tinha uma cauda parecida com as usadas em pipas, mas feita de notas de Cr$ 1 mil ao invés de plástico. O garimpeiro parou perto de mim e gritou: ‘bamburrei (enriqueci, na gíria local), meu chefe’. Perguntei o que era aquele rabo e ele falou: ‘sempre andei atrás do dinheiro. Agora o dinheiro anda atrás de mim’. Ao todo, colocamos 42 toneladas de ouro nos cofres do Banco Central.
iG: Mas os garimpeiros não viviam numa situação muito degradante?
Curió: Muita gente me pergunta se os formigas (carregadores de sacos) não viviam num sistema semi-escravo. Eles carregavam sacos com cinco, seis, oito pás de cascalho, mas ganhavam de cinco a seis salários mínimos por mês. Era a mão de obra não especializada mais bem remunerada do País.
iG: Por que o senhor resolveu se candidatar a deputado federal?
Curió: Não tive escolha. Em 1982, recebi ordem da presidência da República para me candidatar a deputado. Um compadre acha que fizeram isso para me tirar do garimpo. Quando saí de lá desligaram as bombas que puxavam a água, a cava encheu e acabou a exploração. Fui estrategicamente retirado de Serra Pelada.
iG: Por que o senhor acha que fizeram isso?
Curió: Para que Serra Pelada não funcionasse. Eleito deputado, recebi a orientação para voltar à Serra Pelada para dizer aos garimpeiros que o garimpo havia terminado. Fiz o oposto. Em 1984, apresentei um projeto de lei para prorrogar o garimpo por cinco anos, criei a cooperativa dos garimpeiros de Serra Pelada. Deixei de ser deputado e os garimpeiros pediram que eu fosse presidente da cooperativa. Aceitei, mas estava numa situação muito difícil porque já não tinha o apoio do governo.
iG: O senhor é a favor da mecanização de Serra Pelada?
Curió: Sou. A lavra manual tornou-se impossível, o ouro pode ser encontrado a 150 metros abaixo do solo. Não dá mais para tirar com a mão.
iG: Se a mecanização é boa, por que ela não aconteceu antes, como na época em que o senhor foi presidente da cooperativa dos garimpeiros?
Curió: Quando era presidente da cooperativa, pedi o alvará de lavra industrial de empresa de mineração. Ou seja, a cooperativa passou a ser cooperativa de mineração dos garimpeiros de serra pelada, deixou de ser só dos garimpeiros. Se não tivesse feito essa mudança, ela não poderia fazer um convênio com uma empresa como a Colossus.
iG: Os garimpeiros que ficaram em Serra Pelada acreditam que saíram perdendo com o acordo fechado com a Colossus. O que o senhor acha disso?
Curió: Muitos têm razão. O problema é que a cooperativa não teria condições de industrializar a mina. Tem de ter uma empresa de porte da Colossus para realizar o trabalho. O que é perigoso é a cooperativa perder os direitos minerais e administrativos. Consta que a diretoria da cooperativa assinou um contrato com uma cláusula passando os direitos para a Colossus. É isso que preocupa uma parcela dos garimpeiros.
iG: Algumas pessoas acreditam que Serra Pelada só produziu miséria. O senhor acha que agora ela vai produzir riqueza?
Curió: Se o acordo funcionar direito, o garimpeiro deixa de ser um sonhador para ser um cotista, um acionista. Ele vai receber um percentual do lucro da mineração de acordo com o número de cotas que ele tem. É uma boa perspectiva.

US$ 1 bi a mais numa mina de níquel na Bahia

US$ 1 bi a mais numa mina de níquel na Bahia

Ao adquirir uma pequena mina no interior da Bahia, um grupo de investidores australianos depara-se com a maior descoberta de níquel dos últimos 20 anos no país


Nepomuceno, presidente da Mirabela
Nepomuceno, presidente da Mirabela: vendas garantidas até 2014
São Paulo - Na tarde de 26 de junho, cinco analistas de mineração representando bancos e fundos de investimento canadenses desembarcaram no aeroporto de Salvador com uma agenda pouco comum aos investidores que visitam o país. No roteiro, nada de minas da Vale ou da sul-afri­ca­na Anglo America.
De lá, o grupo seguiu em outro voo para uma região até bem pouco tempo atrás ignorada no mapa da mineração mundial. É ali, nas cercanias de Itagibá, cidade de pouco mais de 15 000 habitantes a 370 quilômetros da capital baiana, que fica a mina Santa Rita, a maior descoberta de níquel no Brasil nos últimos 20 anos.
A jazida foi parar nas mãos de três investidores australianos após um rápido processo de licitação conduzido pelo governo da Bahia em outubro de 2003 — mas, tão logo foi adquirida, uma série de estudos comprovou que a reserva, inicialmente estimada em 18 milhões de toneladas, era na rea­li­da­de quase dez vezes maior.
Feitas as contas, os australianos levaram cerca de 1 bilhão de dólares a mais que o esperado — e, de quebra, tornaram-se donos da terceira maior jazida de níquel do país. O governo baiano, é bom que se diga, não saiu perdendo. É que a negociação foi feita com base no pagamento de royalties até que a mina seja exaurida — ou seja, os australianos pagarão ao governo uma porcentagem do que retirarem. Os analistas gostaram do que viram.