sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Kimberlito Redondão: um vulcão adormecido no cerrado do PI


Kimberlito Redondão PIAUÍ




Kimberlito é um nome escolhido em homenagem a Kimberly, África do Sul, onde essas chaminés foram encontradas pela primeira vez. A maior parte dessas erupções ocorreu entre 1.100 milhões e 20 milhões de anos atrás. São formados a, aproximadamente, 161 quilômetros abaixo da superfície da Terra, na rocha derretida, que proporciona a pressão e o calor (podendo exceder 1.200º C) adequados para transformar carbono em diamante.

Por serem fonte primária do diamante, os kimberlitos despertam sempre grande interesse econômico e científico, assim como por se tratarem das rochas-mãe do precioso mineral. Entretanto, eles não são facilmente encontrados, pois ocorrem geralmente como pequenos corpos (raramente superiores a 150 metros de diâmetro).

Sob nossa situação climática, com forte calor o ano inteiro, isso é ainda mais difícil, pois em se tratando de material ultrabásico (composto por talco, clorita e tremolita), as rochas kimberlíticas são destruídas com facilidade pelo mau tempo, passando a serem confundidas com solos comuns. O que não é o caso do Redondão, um gigante adormecido no Piauí.

Situado a mais ou menos 850 quilômetros de Teresina, o material de origem kimberlítica do imponente Redondão se encontra completamente serpentinizado, desenvolvendo solos argilosos profundos. Adaptada a esses solos se percebe claramente a ocorrência de uma típica serpentine-like flora, composta predominantemente por gramíneas e arbustos, em contraste com a vegetação de maior porte desenvolvida nas áreas de rochas sedimentares.

Por isso, as espécies vegetais encontradas sobre o kimberlito Redondão se apresentam mais saudáveis que as achadas no entorno. As rochas encaixantes são relativamente estéreis, devido à forte presença de alumínio e sílica.

Nas circunscrições de Alto Parnaíba (MA), Santa Filomena (PI) e, principalmente Gilbués (PI), já foram identificados vários corpos kimberlíticos, responsáveis pelos diamantes que outrora eram abundantemente encontrados naquela vasta extensão territorial, particularmente em Gilbués. Ali, nas décadas de 1940 e 1950, floresceu um importante garimpo de pedras preciosas. Segundo estudiosos do assunto, sua lavra predatória foi a principal responsável (embora não única) pelo sério processo de erosão e desertificação que hoje se verifica na região, com área superior a 30 km2 e que envolve também os vizinhos municípios de Monte Alegre e Barreiras do Piauí.

O ponto no qual se localiza o kimberlito Redondão tem clima semi-úmido, caracterizado por duas estações distintas: uma seca (de maio a outubro) e outra chuvosa (de novembro a abril), com precipitação média anual de cerca de 1.500 milímetros. A cobertura é o cerrado típico do Brasil Central, constituída por árvores baixas de troncos e galhos retorcidos, espalhadas em meio a arbustos e a um tapete de gramíneas. O contraste entre essas comunidades florísticas é mais acentuado na estação seca, época em que as gramíneas se encontram murchas e a folhagem da vegetação circundante de maior porte permanece verde.

O diatrema do Redondão, na serra das Guaribas, sudoeste piauiense, é um dos mais de dez corpos já identificados naquele território, uma província kimberlítica ainda muito mal conhecida. O pipe do Redondão, intrusivo em rochas paleozóicas da bacia sedimentar do Parnaíba, forma uma cratera grosseiramente circular, com cerca de 1.100 metros de diâmetro e profundidade em torno de 40 metros.

Dentro da sua enorme abertura o relevo é formado de pequenas colinas, resultado da dissecação causada pelo riacho Mateiro, que drena a área e se precipita para fora da cratera em forte quebra topográfica, superior a cem metros.

Controlado por uma empresa canadense, o kimberlito Redondão foi descoberto ainda na década de 1960, graças aos trabalhos exploratórios pioneiros da Petrobrás. É considerado estéril, por não ser portador de diamantes, haja vista esses minerais se acharem resguardados apenas em suas partes mais profundas. As camadas superiores, onde havia maiores possibilidades de conter diamantes, foram destruídas pelo intemperismo e carregadas para locais ainda desconhecidos pelos pesquisadores.

A invasão chinesa nos garimpos do Peru

Draga para sucção de ouro do fundo do rio, operada por chineses. Flagrante de((o))ecoamazonia impressionou governo peruano.
Uma foto postada numa lista de discussão na internet fez com que o Ministro de Meio Ambiente do Peru entrasse em contato comigo para pedir informações. Não era uma imagem qualquer. Uma enorme draga de propriedade de chineses estava em operação nos garimpos de Madre de Dios, onde há um ano o governo tentou incentivar que mineradores informais regularizassem suas atividades. A minha foto surpreendeu o ministro. Poucos dias depois de tê-la visto, uma verdadeira operação de guerra, envolvendo mais de 1.500 soldados da Marinha, foi organizada em Madre de Dios e destruiu todos os equipamentos dos chineses.

Assim que tomou conhecimento das dragas de grande capacidade que extraíam ouro nos rios de Madre de Dios, o ministro Antonio Brack declarou, em entrevista exclusiva, que “a situação cada dia se torna mais incontrolável, o que requer apoio e ajuda de várias frentes para solucioná-la definitivamente. É um processo de médio e longo prazo, e que deve ser constante. Mas vale recordar que em outros países foram usadas as Forças Armadas, ou seja, o Exército, para freá-la”, disse o ministro. Dito e feito. A ação aconteceu logo após a promulgação, no dia 18 de fevereiro, de um decreto de urgência do Executivo peruano que permite o controle da mineração informal pelas Forças Armadas e a Polícia Nacional.

Na noite do dia 20 de fevereiro, recebi um email do assessor do ministro Brack, dizendo: “Não sei você acompanhou as últimas notícias. Mas muito obrigado por tudo, acho que sua foto da draga ajudou muito a se tomarem decisões no Conselho de Ministros. Finalmente se realizam ações concretas”.

Como tudo começou

A foto que mobilizou o governo peruano numa ação enérgica contra os garimpeiros chineses foi um dos resultados de uma viagem que costumo fazer para a região de Madre de Dios. Mais uma vez, tinha sido incumbida de levar jornalistas estrangeiros às áreas de extração de ouro ilegal do entorno da rodovia Interoceânica Sul. Para a equipe da televisão sueca, a viagem era a chance de retratar pela primeira vez a situação alarmante desta parte da floresta amazônica. Para mim, a oportunidade de voltar aos garimpos do Sul do Peru, um ano após a promulgação do decreto de urgência que visa formalizar a atividade aurífera no departamento de Madre de Dios.

Na manhã de 31 de janeiro deste ano, estávamos no escritório da Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), na capital de Puerto Maldonado, à espera da professora e líder indígena haramkbut Márcia Tije. O plano era viajarmos até a sua comunidade para que ela pudesse explicar a conflituosa relação entre nativos e garimpeiros que chegam à região em busca de ouro há muitas décadas.

Nas tentativas dos governos em formalizar a atividade no departamento ao longo dos anos, produziu-se uma situação complexa: a sobreposição de concessões minerais em terras indígenas. Assentamentos ilegais também sempre ultrapassaram as fronteiras dos territórios demarcados para os índios. Os nativos ora enfrentam os invasores, ora se associam a eles.

Márcia chegou à Fenamad e disse que não nos acompanharia mais porque tinha que se reunir com a assessoria legal para saber como proceder juridicamente na mais nova invasão ocorrida na terra do seu povo. Há dois meses, garimpeiros vindos da China começaram a construir duas milionárias dragas para obtenção do valioso metal sem autorização da maioria dos membros da comunidade. “Meu filho vai agora para vocês verem com seus próprios olhos e gravarem. Acabo a reunião e os alcanço mais tarde”.

Desastre, ameaça, e uma história escondida

Partimos rumo à Comunidade Nativa Arazaire, a 163 quilômetros de Puerto Maldonado. No caminho, os acampamentos garimpeiros que se formaram à beira da estrada durante a obra de asfaltamento da Interoceânica Sul, iniciada em 2006, foram filmadas primeiro da janela do carro. Tínhamos que decidir o lugar estratégico onde pararíamos para tentar entrevistas. A chuva também não parava.

Nos KMs 98, 100, 102, cenário de abandono. Barracas à base de lona e paus, que hospedavam o comércio de insumos para mineração, cantinas e prostíbulos, foram deixadas para trás. O ouro acabou, sobrou o deserto. O movimento agora é nas margens dos KMs 108, 110, e principalmente no KM 115, onde os garimpeiros ilegais entram de moto por uma trilha de uma hora até chegar à bacia do Rio Malinowski, na zona de amortecimento da Reserva Nacional Tambopata e do Parque Nacional Bahuaja Sonene.

“Os chineses também estão tirando ouro aí”, conta Duberli Araoz Tije, o filho de 23 anos da professora Márcia. Na Comunidade Nativa Kotzimba, formada por indígenas e colonos, o presidente se associou aos cidadãos chinenes no negócio ilegal instalado bem próximo dos limites das duas áreas naturais protegidas - uma das zonas com maior biodiversidade do Amazônia.

Quando acabou a tempestade, paramos no KM 108. Duberli preferiu não descer. Como é local, ficou receoso em acompanhar nossa equipe de reportagem e depois sofrer algum tipo de retaliação. Apesar do clima tenso, conseguimos depoimentos e imagens. Perguntei ao repórter Lars Moberg sobre suas impressões da situação. “Um desastre para o meio ambiente do Peru. Uma verdadeira ameaça aos povos indígenas de Madre de Dios. Uma história ainda escondida”.

Los chinos em Arazaire

“Olhem, as retroescavadeiras estão entrando!”, apontou o jovem Tije, enquanto conversávamos na manhã do dia seguinte, e, finalmente, em Arazaire. Os suecos correram para capturar a imagem. Eu continuei escutando a história. “Invadiram nossa casa comunal, e armaram um acampamento próximo ao rio Inambari, onde estão trabalhando”, explicou Márcia, convocando toda sua família para seguirmos a trilha ao encontro dos chineses.

Vinte minutos de caminhada foram suficientes para vermos e gravarmos a tragédia ambiental anunciada. Desde fevereiro de 2010, o decreto de urgência 02-2010 proíbe a operação das dragas, que aspiram o fundo dos rios para obtenção do ouro. Mas duas embarcações altamente mecanizadas estão sendo construídas na comunidade a todo o vapor.

Nossa tentativa de comunicação com os chineses não teve sucesso. Eles não falam castelhano. Mas os trabalhadores peruanos contratados por eles disseram que cada uma das dragas custa um milhão de dólares.

Os nativos sentem que o perigo está muito próximo, pois já viveram uma experiência mal sucedida com asiáticos. A Comunidade Nativa Arazaire manteve um acordo com mineradores coreanos em troca de royalties em 2000. Depois viu que a experiência não trouxe benefícios, e desalojou a empresa Pekosac, com o apoio da Fenamad.

Hoje, o caso é outro: os chineses entraram a convite de duas pessoas que têm suas concessões minerárias sobrepostas ao território indígena, e que são casadas com ex-membros da comunidade. “Não autorizamos a transferência da concessão para terceiros, apenas para que desenvolvam pessoalmente a atividade. Não existe nenhum documento que autorize a entrada deles aqui”, explicou Márcia, a atual presidente de Arazaire.
 Situação incontrolável

Com as fotos da draga chinesa, procurei Oscar Guadalupe, sociólogo da Associação Huarayo, para conversar sobre a situação em Madre de Dios. No último dia 5 de fevereiro, foi promulgado o Decreto de Urgência 04-2011, que amplia o prazo de implantação do D.U. 02-2010 por mais 12 meses.

“O decreto de urgência suspendeu temporariamente as solicitações de lavra e nada mais. A atividade foi intensificada pela ação da mineração informal”, explicou Guadalupe, que se impressionou com as imagens e disse que nunca viu uma draga como a dos chineses em Arazaire.

Na Fenamad, a advogada Marleni Canales explicou que inicialmente o movimento indígena de Madre de Dios buscou como estratégia de proteção territorial recomendar ao Estado que as comunidades nativas tenham direitos preferenciais na hora de solicitar concessões de lavra mineral e, assim, impedir que outros o explorem. “No entanto, nos últimos tempos, os conflitos estão aumentando, e as concessões pertencentes aos indígenas estão gradualmente mudando de mãos, e chegando a terceiros”.

Em 12 de fevereiro, uma delegação da Fenamad acompanhou os integrantes da Comunidade Nativa Arazaire até o acampamento dos chineses. Com algumas dificuldades idiomáticas, foi possível dialogar e esclarecer que eles precisam da autorização de 2/3 da comunidade para explorar o ouro. Uma próxima reunião foi agendada. A comunidade comunicará se é contra ou a favor da presença dos garimpeiros estrangeiros. Márcia Tije me explicou por telefone: “Agora vamos nos reunir internamente, pois ainda não temos uma posição clara”.

Operação de guerra



Para acabar com os garimpos ilegais, é preciso varrer a corrupção

O ambientalista peruano Antonio Brack é o primeiro Ministro do Meio Ambiente do Peru. Desde maio de 2008, tem a difícil missão de combater a exploração ilegal de ouro Madre de Dios, que se iniciou há mais de 50 anos. Atualmente, lidera o processo de formalização da atividade com associações de mineradores artesanais, além de levar o tema para a política nacional. Um ano após o Decreto de Urgência 012-2010, que suspende as solicitações de lavra em Madre de Dios, e que proíbe a operação das dragas, Brack fala a ((o))ecoamazonia com exclusividade.

Leia a entrevista completa aqui.
Nesta semana, o Ministro do Meio Ambiente, Antonio Brack, explicou à imprensa peruana que a operação contra as dragas de Madre de Dios, dirigida por ele, em parceria com os ministros de Defesa, Jaime Thorne, e do Interior, Miguel Hidalg, foi executada para zelar pela saúde e o futuro do departamento: “A mineração informal não somente polui a água e o solo com mercúrio, como também gera escravidão e exploração sexual”. Lembrando que os garimpeiros tiveram um ano para ser formalizar, Brack declarou: “agora se fará respeitar a lei”.

O ministro Thorne anunciou que nas próximas três semanas haverá intervenção em 250 embarcações menores utilizadas para a atividade ilegal. Até o fechamento desta matéria, 19 dragas tinham sido destruídas com o apoio das Forças Armadas. Segundo o DICAPI (Dirección General de Capitanias y Guardacostas), a embarcação construída pelos chineses na Comunidade Nativa Arazaire foi aniquilada. Para impedir o retorno dos garimpeiros, um contingente militar vigiará de forma permanente as áreas onde a operação foi realizada.

O atual presidente regional de Madre de Dios, Luis Aguirre Pastor, criticou a ação militar e disse que ela não foi coordenada com o seu escritório. Também alertou para as possíveis revoltas sociais que poderão surgir em resposta à intervenção nos próximos dias. Segundo a Superintendência Nacional de Administração Tributária do Peru, 80 mil pessoas vivem diretamente da mineração informal no país.

Vila da Ressaca: os restos de um sonho dourado

Em consonância com o nome, Vila da Ressaca é o que sobrou dos tempos em que havia ouro abundante no local. Essa comunidade de garimpeiros fica na chamada Volta Grande do rio Xingu, uma grande curva em formato de ‘U’ que começa logo abaixo de Altamira. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. As comunidades ribeirinhas que vivem à sua margem, deixarão de sê-lo: não serão mais banhadas pelas águas do Xingu.

A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.

Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.

Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.

Ao contrário do Galo, onde os túneis atingem 380 metros de profundidade, no garimpo Morro dos Araras, a exploração é rasa, feita em buracos de até 10 metros de profundida por 20 de largura. O nome vem dos índios que ali habitaram até 1930, quando foram expulsos pela chegada da mineração. Eles lutaram, matando e afundando os barcos dos recém-chegados, que também morriam de malária. O pico da produção de ouro na região foi na década de 1960 e 70, quando a exploração era feita por empresas do ramo. Elas foram embora quando acabou o ouro fácil, próximo da superfície. Hoje, a exploração é rude, feita por garimpeiros precariamente equipados.

No Morro dos Araras, a rotina da busca do ouro é desmatar e cavar buracos com água de mangueiras de alta pressão. Um buraco é aberto a cada 2 dias. A medida que é liquifeita, a terra é retirada por uma máquina apelidada de "chupadeira", que a joga em uma rampa. A lama desce pela rampa de madeira de alguns metros de comprimento até o seu fim, quando é filtrada por uma caixa que contém uma peneira e mercúrio. A peneira segura os resíduos que podem conter ouro, o mercúrio aglutina o metal. O líquido enlameado que passa, já contaminado por mercúrio, enche um outro buraco. Uma vez exploradas, as crateras são abandonadas.

Quando o material é composto por pedregulhos, passa pelos chamados "moinhos", máquinas que trituram a rocha. Após essa etapa, também seguem para o mesmo tipo de rampa que termina no tanque fechado com mercúrio.

O segundo método de mineração – e o mais usado agora que o ouro é escasso –é através de galerias dentro de túneis profundos. Eles são abertos com explosivos. E de explosão em explosão, de galeria em galeria, podem chegar a Descida de arrepiar

A descida até lá dura 20 minutos e é feita através de um sistema tosco de cordas e roldanas, operadas pelos companheiros da superfície, que acompanham o processo por rádio. Os garimpeiros brincam que muitos se acovardam a descer. Pudera, acidentes fatais são costumeiros, a temperatura lembra a de uma sauna e a única luz da descida é uma lanterna de pilha, segura na mão e presa ao peito do garimpeiro por um cabinho. Durante o percurso, o túnel pode ter larguras de até 10 metros ou passagens estreitas de 1 metro. O destino final é uma galeria de cerca 10 metros de largura por 7 de altura, mal iluminada por lâmpadas
Para os gerentes do garimpo, o dinheiro pode ser bom. Eles ganham até R$10 mil por semana, pagos em ouro, que aqui ainda é moeda. Nada é feito de acordo com a lei. As licenças de mineração expiraram e os explosivos – que exigem permissão do exército - são usados ilegalmente. O trabalho é informal e o trabalho infantil, comum. Filho de garimpeiro entra logo para o garimpo, aprende a trabalhar, nem que seja para carregar pedras de um lado para o outro, com um carrinho de mão.

Qualquer que seja a técnica usada no garimpo, o mercúrio é onipresente. Ele é tóxico, difícil de degradar e envenena fauna, flora e gente. Os garimpeiros correm o risco de inalá-lo durante o processo de separação do ouro, uma forma grave de contaminação. O rejeito contaminado é despejado próximo aos moinho, até terminar no Xingu ou penetrar o lençol freático.
Porque o mercúrio é usado na mineração de ouro

Entre as propriedades do mercúrio, está a capacidade da forma orgânica desse elemento se acumular ao longo da cadeia alimentar, causando a contaminação de peixes e o risco de envenenamento de quem deles se alimenta , inclusive seres humanos. A intoxicação por mercúrio pode provocar danos ao sistema neurológico. As consequências podem variar desde dores no esófago e diarreia a sintomas de demência. Depressão, ansiedade, dentes moles por inflamação e falhas de memória também estão entre os sintomas. Um perigo ofuscado pelo brilho do ouro.

Para o garimpeiro, o que importa são outras propriedades do mercúrio. Primeiro, a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas, o que é fundamental em garimpos, onde os minúsculos grãos de ouro precisam ser separados dos sedimentos dragados de leitos de rios ou da terra escavada. Após esse cascalho passar um período em esteiras, para que os metais se assentem e sejam separados de sedimentos mais leves, o material concentrado é jogado em betoneiras onde é misturado à agua e ao mercúrio.

Os pequenos grãos se agregam com ajuda do mercúrio e podem ser separados com mais facilidade. Em garimpos onde é usado maquinário mais pesado, como balsas, os sedimentos são dragados para dentro de misturadores, chamados pelos garimpeiros de cobra-fumando, onde se costuma também utilizar o mercúrio para evitar que partículas de ouro sejam desperdiçadas. No final, os restos contaminados são despejados no solo ou no rio.de 60 watts. Lá, o garimpeiro enche uma grande esfera oca, de borracha grossa, capaz de suportar uma carga de pedregulhos que podem conter ouro. Essa bola é içada à superfície, e se tudo der certo, o garimpeiro volta também. Os acidentes mortais são encarados como destino divino.
400 metros de profundidade.

O Marco Regulatório da Mineração e seus atrasos penalizam a economia e a sociedade brasileira

O Marco Regulatório da Mineração e seus atrasos penalizam a economia e a sociedade brasileira
Pedro Jacobi
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A falta de visão de alguns  dentro do Ministério de Minas e Energia  (MME), quando o assunto é  mineração chega a assustar.
O MME paralisou, por quase 3  anos a pesquisa mineral no Brasil ao não mais conceder os alvarás de pesquisa e  ao tentar a aprovação de um novo Código Mineral que não foi adequadamente debatido pela sociedade.  Um novo Marco Regulatório da  Mineração, que foi feito na surdina, sem consultar importantes setores da  sociedade e a grande maioria dos mineradores. Fato que acabou com a própria credibilidade do MME.  Acreditar que seria possível enfiar esse MRM “goela abaixo” da sociedade  brasileira, sem que essa se manifestasse foi um erro, no mínimo, grotesco. Esse  erro, com certeza, reflete a falta de uma assessoria de qualidade ao Ministro.  Um erro de proporções que causou prejuízos a todos: ao Governo, á sociedade e aos  mineradores.
Somente agora, após ter  sofrido imensas pressões da sociedade, dos mineradores e até mesmo de dentro da  base aliada, o MME começa, timidamente, a liberar algumas poucas concessões  entre as dezenas de milhares represadas desde 2011. É uma jogada estratégica que  visa aplacar os ânimos, mas que na realidade mostra a visão equivocada e obtusa  de alguns burocratas do órgão quanto ao assunto.
Essa indecisão e falta de   visão, ficou muito bem caracterizada na outorga das concessões de  lavras onde, por incrível que pareça, o MME  acabou por jogar contra o próprio patrão, minando o plano do Governo, de  aumentar os investimentos estrangeiros no Brasil.
Enquanto a Presidenta Dilma  propalava ao mundo que o Brasil precisa de novos investimentos estrangeiros e que nós  honramos os nossos contratos, o MME praticamente desmentia  a fala da Presidenta através dos atos arbitrários e truculentos que fizeram a  sociedade e os empresários desacreditar no Governo e suas intenções. Na velocidade de  uma canetada, o MME engessou a mineração, a pesquisa, os investidores e as  empresas de exploração mineral. Por anos!
As portarias de lavra não  concedidas causaram atrasos avassaladores nos investimentos na mineração brasileira. Bilhões de  dólares foram postergados em um Brasil que não pode prescindir destes investimentos. Uma atitude  incongruente e assustadora que mostra o quão desencontradas podem ser as  políticas internas do Governo Dilma. Marco da Mineração - o fim dos pequenos empresários
E, por mais incrível que  pareça, o MRM que assombra a mineração desde os idos de 2009, ainda continua sem aprovação. Já sabemos  que o PL não será aprovado neste ano e que a mineração terá que sofrer a  angustiante espera até 2015 ou, possivelmente 2016. O que nos espera nesse  período?
Hoje, os empresários  da mineração demitem milhares e abandonam seus investimentos no Brasil em  detrimento de países mais seguros para  investir. As empresas junior que investem mais de 700 milhões de dólares por ano  em pesquisa mineral estão paralisadas. Muitas nunca voltarão. Até as empresas de grande porte como a Kinross,  com enormes investimentos em solo brasileiro, já  não mais acreditam no Brasil e estão em fuga, demitindo todos os seus  funcionários alocados na pesquisa e exploração mineral.
É uma catástrofe, um  verdadeiro tsunami, que afeta as mineradoras e se alastra entre as empresas de serviços, sondagens,  laboratórios e consultorias. O tamanho deste prejuízo demorará mais de uma  década para ser calculado. Quando o for de nada adiantarão as desculpas de um  Governo, que possivelmente não estará lá para se desculpar.
Enquanto isto, nos inúmeros   debates recentemente realizados com a presença do Deputado Quintão, relator do   MRM, os representantes do MME continuam tentando diminuir e  minimizar o impacto que esta política equivocada está tendo na mineração e na  sociedade brasileira como um todo.  Esses senhores, que são os geólogos e  executivos do MME, deveriam assessorar os Deputados e Ministros com o seu   "conhecimento", pouco ou nada fazem e conseguem comprometer, mais ainda, o  futuro da mineração e da pesquisa mineral.
E nós os mineradores, os  geólogos onde  estamos?
Nós estamos no limbo, em uma terra de ninguém, ameaçados por um Marco  Regulatório da Mineração discricionário e ditatorial  que desemprega e  afugenta os investimentos. Estamos oprimidos por notícias de corrupção e de  prevaricação como as publicadas recentemente na mídia, que retrata a simbiose  doentia entre políticos e a mineração (veja).  Estamos à mercê de políticos desinformados que podem aprovar esse MRM na íntegra  sem considerar os argumentos expostos pelos mineradores nesses últimos meses.
Estamos, como toda a sociedade brasileira, atônitos com os danos causados por  uma política mal feita e por três anos seguidos de incertezas.

Publicado em: 10/10/2013 16:13:00
Lembre-se: Você é o que você sabe!

Comentário do leitor o website não se responsabiliza pelos comentários aqui expostos

 No Brasil vigora uma espécie de nazismo (ou fascismo, como queiram). Parece entre os comunistas (e neste termo deve-se compreender os socialistas em geral, inclusive e principalmente o PT), que tomar a titularidade da propriedade dos meios de produção é algo contraproducente, dada a histórica incompetência deles nesta área, e de difícil consecução, haja vista tratar-se de um país gigantesco e dotado de uma economia grande e diversificada como o Brasil. Então, a alternativa tem sido manter a titularidade das empresas com seus respectivos proprietários, mas tributá-los até um limite que considerem próximo da exaustão, bem como regulamentar a atividade produtiva (bem como a vida privada) a um nível tão absurdo que mesmo as coisas mais singelas permaneçam sob a decisão do Estado. Com as rédeas em uma mão e um chicote na outra, o governo conduz a economia e o comportamento das pessoas na direção que deseja, e de quebra, ao submeter o empresariado, cria para si uma rede de simbiose entre uma parcela selecionada, de modo a privilegiar os que forem capazes de lhes patrocinar a manutenção no poder, oferecendo em contrapartida seus fiscais para a perseguição aos desafetos de seus protegidos, ou ao menos para obrigar o restante a trabalhar mais para pagar a conta.- Autor: Deoclécio P. V. Filho - Geólogo - 11/10/2013 09:01:26

 Soma-se à isso o fato de possuírmos uma alta carga tributária (que nada ou muito pouco acrescenta à população), pesados custos trabalhistas, falta de infraestrutura, políticas ambientais mal embasadas, corrupção, entre outras mazelas e está desenhado o cenário da economia nacional. Isso atinge não somente a base da pirâmide, o setor mineral, mas todo e qualquer investimento a ser realizado neste território. Bom artigo. - Autor: Francisco A. Benetti - Geólogo de exploração - 11/10/2013 09:30:44

Vale acredita na manutenção dos preços do minério de ferro nos próximos anos

Vale acredita na manutenção dos preços do minério de ferro nos próximos anos

Acreditando que o equilíbrio entre a oferta e a procura só vai ocorrer em 2015 a  Vale prevê que os preços do minério de ferro continuarão acima de $100/t nos  próximos 3 a 5 anos. A Vale vem sendo uma das empresas com prognósticos mais  acertados. Foi ela que acertou os preços do minério de ferro neste semestre, ao  contrário das expectativas de grandes mineradoras como a BHP que previram um  colapso abaixo de $100/t.

O que o pessoal não fala é que se houver uma oferta maior do que a procura não  será qualquer minério que será penalizado: apenas aqueles com custos  operacionais elevados. É isso que vai ocorrer, como o Portal do Geólogo vem  apontando em várias matérias. Neste quesito os mineradores brasileiros estão bem  já que a maioria coloca o seu minério nos portos com preços entre 40 a 60  dólares por tonelada. Serão penalizados aqueles como os indianos e os chineses  que não conseguem produzir minério de ferro a preços baixos. No gráfico mostra  que existem 750 milhões de toneladas de minério de ferro, 50% da produção, que  chegam na China acima de US$60/t.

Esse é o tamanho do buraco.
Quem souber produzir minério de ferro abaixo desses preços irá se manter  sólido e lucrativo por muitas décadas.