Turquesas: gemas raras na Amazônia
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Pedras preciosas podem ser apreciadas no Museu de Geociências da UFPA
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Pedras com brilhos e cores que impressionam. Escondidos sobre o
solo amazônico por milhões de anos, elementos químicos formaram grandes
jazidas de minerais, como alumínio e ferro, mas também moldaram pedras
preciosas, como quartzo, malaquita, ametistas, turquesas e até
diamantes.
Suas propriedades, ocorrências e composição são objeto de estudo de
pesquisadores do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal
do Pará e muitas destas pedras e outros minerais estão expostos para
visitação no Museu de Geociências da Instituição.
Apesar de ter sua riqueza mineral reconhecida, a região amazônica não
tem expressão gemológica. "No passado, fomos produtores de diamantes,
mas esta pedra preciosa foi exaurida. O pouco que ainda temos está
submerso no Rio Tocantins, na área da barragem da Hidrelétrica de
Tucuruí. Entre os anos de 1979 e 1985, no município de Curionópolis,
também tivemos extração de toneladas de malaquita, uma pedra preciosa de
tons verdes, mas seus veios também estão esgotados", revela Marcondes
Lima da Costa, professor da Faculdade de Geologia e curador do Museu de
Geociênicas do IG/UFPA.
O pesquisador explica que, hoje, ainda há grande produção de ametista
- pedra violeta ou púrpura - em Alto Bonito, região de Carajás. A
comercialização é voltada, principalmente, para a Região Sul do País e
para o mercado internacional. O mineral também já foi encontrado e
extraído na região de Pau D'arco, com qualidade reconhecida em termos de
cor.
Novos veios podem ser encontrados em Carajás
Entre as pedras mais raras encontradas em solo paraense, estão as
turquesas, gemas preciosas que variam da cor verde até o azul, conhecido
como azul turquesa. Esta pedra tem em sua composição vários elementos,
como o fósforo, o alumínio e o cobre, sendo este último o responsável
pelas tonalidades de cor que o mineral assume. “Entre os três elementos,
o cobre é o mais raro de ser encontrado. Mas, ainda que todos eles
estejam presentes no ambiente, isso não garante que a turquesa irá
formar-se. Sua estrutura mineral exige condições muito especiais que a
natureza não obtém facilmente. A formação de turquesas está sujeita a
especificidades geológicas, geoquímicas e meteorológicas ligadas à
formação dos solos e de veios hidrotermais na área”, detalha o geólogo
da UFPA.
Marcondes Lima da Costa conta que essas pedras preciosas são
encontradas em ambientes hidrotermais, ou seja, com águas quentes, em
áreas próximas à superfície, onde a água é rica em fosfato, alumínio e
cobre. No Brasil, há ocorrência de turquesas no Rio Grande do Norte e em
Minas Gerais, mas não temos uma produção comercial expressiva.
“Encontramos duas ocorrências de turquesas no Pará: em Maicuru, ao norte
do município de Monte Alegre, no oeste do Pará; e na Ilha de Itacupim,
no nordeste paraense. As duas regiões são ricas em fosfato. Além de
estarem em pequena quantidade, os veios encontrados no Pará não podem
ser explorados por estarem localizados em áreas de reserva ambiental",
revela o professor.
Os veios foram localizados em áreas que apresentaram erosão. "Maicuru
é uma serra com 600 metros de altitude e as turquesas foram encontradas
nos seus profundos vales. Em Itacupim, as pedras aparecem no litoral
onde a maré desgasta a rocha. Não há moradores na região de Maicuru, mas
na Ilha de Itacupim, há duas colônias de pescadores e ninguém havia
percebido a existência das gemas. Os moradores viam a coloração distinta
das rochas apenas como mais um elemento da paisagem da Ilha”, conta o
pesquisador.
Marcondes Lima da Costa acredita que há chances de encontrarmos mais
veios de turquesas no Pará, especialmente na região de Carajás, “nessa
área, temos a maior jazida de cobre do País e, em locais como o Igarapé
Bahia, encontramos grandes quantidades de fosfato. Porém, as pedras mais
interessantes localizadas na área são a libhetenita e o
neodímio-florencita, minerais raros que não são adequados para a
lapidação, ou seja, não são aproveitáveis como gemas, mas muito
utilizados como artefato por colecionadores de pedras”.
Além de indicar locais onde há maior probabilidade de ocorrência de
gemológicas e mineralógicas, a descoberta de gemas e minerais raros no
Estado tem importância acadêmica e econômica. “Nestes casos, não é
possível a exploração, mas a localização de novos veios é importante
para entendermos a história e a composição dos solos na Amazônia e para
indicar novas atividades econômicas às populações que vivem nesses
locais, não apenas pela exploração direta de gemas, mas também pelo
artesanato e turismo, por exemplo", defende o pesquisador da UFPA.
Composição, forma e cor
As pedras preciosas em estado bruto podem passar despercebidas diante
de um olhar leigo. "A beleza da maioria delas aparece, apenas, após a
lapidação. Nesse processo, cada mineral ganha dimensões simétricas e tem
suas faces polidas. Só então, elas começam a refletir à luz, ganhando o
brilho e a transparência pelos quais são famosas", explica Marcondes
Costa. De acordo com o Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama),
em território paraense, já foram registradas mais de 250 ocorrências de
gemas minerais, com destaques para as ametistas, citrinos e cristais de
rocha.
A beleza está relacionada com a raridade de cada pedra preciosa. Uma
das especificidades da turquesa é que a pedra é microporosa e não tem
brilho como os cristais. Elas são mais opacas e não podem ser lapidadas e
sim "boleadas", como se seus contornos fossem aperfeiçoados não para
serem simétricos e geométricos, mas para assumir em um formato mais
abobadado. A raridade e valor estão associados a sua forma e cor que,
por sua vez, dependem da composição da gema. "Cada gema de turquesa é
única. As azuis são mais valorizadas que as verdes por terem menor
ocorrência, mas a cor é influenciada pelos outros minerais que estão
presentes no solo e na pedra. A azurita é uma pedra de cor azul, a
malaquita é verde e ambas podem ser encontradas misturadas com a
turquesa, que, certamente, é a gema mais interessante encontrada, no
momento, na região amazônica”, assegura o pesquisador da UFPA.