domingo, 13 de julho de 2014

A expansão da exploração mineraria na Amazônia e suas consequências

A expansão da exploração mineraria na Amazônia e suas consequências


Ainda tem-se considerado que as grandes empresas são meios essenciais ao desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Não raro são os discursos das empresas, mas, sobretudo, de governantes e políticos influentes, que elas são o símbolo do desenvolvimento, do progresso e geração de empregos. Por estarem atreladas aos processos de mercado bem mais amplos que os regionais e por serem estratégicas no marketing internacional, não por acaso, recebem gigantescos investimentos do Estado.
Na Amazônia brasileira, grandes empresas no ramo da mineração são beneficiadas com infra-estruturas (estradas, ferrovias, rede de energia elétrica, locais de instalação, portos e hidroelétricas), financiadas com dinheiro público, recursos financeiros e isenção de impostos. Controlam a “coisa pública” e extensos territórios onde exercem gestão autônoma criando enclaves que causam impactos sobre a organização regional e ao meio ambiente. Desse modo, a Amazônia ainda assume o alto valor estratégico para o poder hegemônico dessas empresas em termos de controle dos recursos e do espaço regional.
Procuramos mostrar, em primeiro lugar, a importância que tem a amazônia no que se refere as jazidas minerais já identificadas, exploradas e por explorar, o que representa a extração e transformação mineral neste território e seu peso na composição do Produto Interno Bruto - PIB da região, principalmente no Estado do Pará, berço de uma grande província mineral.
Procuramos identificar em que condições se desenvolve a indústria minerária na Amazônia brasileira, com apoio e incentivo do Estado tendo como base intensivos investimentos, com um aporte significativo de recursos, com uma produção voltada quase que exclusivamente para a exportação. Ao mesmo tempo que evidencia poucas possibilidades de incremento à economia local, possibilita a desestruturação das comunidades camponesas r a degradação ambiental.
Por fim tratamos dos impactos e contradições que esta atividade proporciona, das lutas de resistência desencadeada pelos movimentos sociais, e do que pensamos, como amazônidas, sobre o que fazer para criar novas formas de aproveitamento dos recursos naturais da amazônia.
2 - Exploração mineral: da garimpagem à empresarial.
A exploração minerária na Amazônia brasileira não é algo recente, muitos foram os garimpos de extração de ouro, diamante e cristal, as margens dos rios Araguaia, Tocantins e Tapajós, Xingu e Madeira, e vários de seus afluentes. Há casos de “ciclos” de extração aurífera embora de forma isolada e fragmentada ainda no período colonial como, por exemplo, na região que é hoje o Estado do Amapá e em Mato Grosso. Mas a partir do final da década de 1950 e início dos anos 1960 tornou-se uma prática quase que intensiva como, por exemplo, com a descoberta da província aurífera do médio rio Tapajós e de cassiterita, em Rondônia e em São Felix do Xingu (PA).
Além do ouro no leito do rio Madeira, em Rondônia, foram intensas e de grandes proporções, na década de 1980, as atividades auríferas no Estado de Roraima , Rondônia, no Oeste, Sul e Sudeste do Estado do Pará como, por exemplo, em Itaituba, Jacaracanga, Serra Pelada, Cumaru, Pau D’arco, Cuca, entre outros.
A exploração mineral de forma empresarial tem inicio em 1953, com a extração de manganês pela empresa ICOMI, no Amapá, mas é em 1947 que a empresa assina o contrato de concessão para exploração mineral, e em 1953, assina o contrato de concessão para a atividade portuária e ferroviária, considerado o marco zero da exploração mineral na amazônia.(50 ANOS DE MINERAÇÃO NA AMAZÕNIA, Fórum Paraense de Desenvolvimento, Belém, 2003).
Atualmente, embora se possa constatar que a exploração minenária esteja espalhada por toda a Amazônia, é possível considerar que essa prática seja mais intensa e de efeitos trágicos às comunidades camponesas em três grandes pólos: “`Amapá” com a exploração de bauxita, manganês, caulim e ouro; “Trombetas”, com a extração da bauxita pela Aluminium Limited of Canadá (Alcan) e a Mineração Rio do Norte (MRN), o Projeto Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, com a exploração de ferro, manganês, cobre, níquel e ouro.
Deste modo, é visível que a Amazônia vem tendo uma contribuição significativa na atividade de extração e transformação mineral realizada em território brasileiro, considerando a ocorrência na região de diversos minerais que influenciam na balança comercial do país, sendo o Pará o segundo maior estado exportador de minérios. A situação dos minérios mais extraídos na Amazônia é esta: em primeiro lugar, o ferro, que em 2008, respondeu por 35,2% do total nacional. Em segundo lugar, a alumina (bauxita) com 17,6%, em terceiro, o alumínio com 15,1% e em quarto, o cobre com 11,3%.
Em 2008 a extração do nióbio colocou o Brasil em 1º lugar no ranking internacional, em 2º com a extração do ferro, manganês e alumínio (bauxita), e em 5º com o caulim e o estanho. O estado do Amazonas participa com 12% do nióbio extraído no Brasil, e com 60% do estanho. Já o minério de ferro de Carajás, no sudeste paraense, representa o 2º lugar na extração nacional, colocando o Pará atrás apenas de Minas Gerais. O manganês da Mina do Azul, em Carajás, e da Buritirana, em Marabá, contribuíram com mais de 50% da extração nacional, dos 2,4 milhões de toneladas extraídas em 2008. O estado do Pará é ainda responsável por 100% da extração nacional dos minérios de caulim, 85% de bauxita, 60% do cobre e 10% do ouro.(Relatório de Produção, Vale, 2008).
A tendência para 2009, dependendo das condições da crise na economia mundial, é de que haja um crescimento significativo na extração de bauxita, cobre, níquel, fosfato e ferro, considerando a entrada em operação das minas de cobre e níquel, da Vale, em Carajás, a mina de bauxita da Alcoa, em Juruti, e o salto da extração de ferro de Carajás de 96 milhões de toneladas em 2008, para 126 milhões de toneladas, em 2009.
Há de considerar ainda que na Amazônia Legal, enquanto que a extração mineral responde por 25% do total das exportações, a transformação (ferro gusa, alumina e alumínio) responde por 21%. Os estados do Pará e Maranhão, em 2008, responderam por 26% das exportações da Amazônia Legal, com destaque para o ferro, cobre e manganês, que representaram 89% da comercialização de minério da Amazônia ao exterior. As exportações de ferro gusa, alumínio e alumina representaram 88% da exportação deste segmento na Amazônia.(Indústria da Mineração, IBRAM, outubro de 2008)
Vale ressaltar ainda que o extrativismo mineral representou 59,2% dos 8 bilhões de dólares produzidos pela indústria mineral do Estado do Pará. O município de Parauapebas, no sudeste paraense, participou com 35,8% (minério de ferro), Barcarena com 33,3% (alumina e alumínio), Canaã dos Carajás com 10% (cobre), Marabá com 7,1% (ferro gusa e manganês), Oriximiná com 6,3% (bauxita), contribuindo significativamente para o crescimento do Produto Interno Bruto(PIB) estadual. O município Belém participou com 28,21%, para o Produto Interno Bruto do Estado, em segundo lugar, Barcarena com 8,03%, Parauapebas com 6,72%, Marabá com 5,91%, Ananideua com 5,56%, Canaã dos Carajás com 1,58% e Oriximiná com 1,42%.
Tratando-se de reservas conhecidas, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial em Bauxita, com depósitos concentrados em três distritos principais: Trombetas (médio Amazonas), Almeirim (baixo Amazonas) e Paragominas-Tiracambú (plataforma Bragantina). Já os depósitos de caulim estão distribuídos em três principais distritos: Manaus (médio Amazonas), Almeirim (baixo Amazonas) e Capim (plataforma Bragantina). O ouro e cassiterita estão distribuídos pelas mais diversas áreas da região amazônica. Serra Pelada, no sudeste do Pará, por exemplo, ainda representa grande potencial aurífero fato este de entreveros entre a Companhia Vale do Rio Doce e cooperativas de garimpeiros, no município de Curionópolis. As jazidas de ferro em Carajás, com seus 18 bilhões de toneladas de minério, correspondem à maior concentração de alto teor já localizada no planeta distribuídas em quatro setores principais: Serra Norte, Serra Sul, Serra Leste e Serra de São Félix ou Serra Arqueada.
Vale considerar que a pesquisa, extração e transformação mineral no estado do Pará ocorrem em quatro principais regiões: no Oeste, envolvendo os municípios de Oriximiná, Juruti, Monte alegre, Alenque e Óbidos; no Nordeste, compreendendo os municípios de Paragominas, São Domingos do Capim e Barcarena; no sudeste destaque para os municípios de Marabá, Cuiriomópolis, Parauapebas e Canaã dos Carajás; e no Sul, os municípios de Xinguara, Ourilândia do Norte, Tucumã, São Félix do Xingu, Rio Maria, Floresta do Araguaia, Santa Maria das Barreiras e Conceição do Araguaia.
4 – As conseqüências
A extração e transformação mineral na Amazônia efetivada pelas principais empresas do ramo: a Companhia Vale do Rio Doce, a Vale, a Anglo Americam, a Alcoa, a Albrás, a Aluminium Limited of Canadá, a Alunorte, Rio Tinto, a Mineração Rio do Norte, CBA, Imerys Rio Capim Caulim S.A, Caulim da Amazônia S.A (CADAM/Vale), ICOMI, Pará Pigmentos S.A (PPSA/Vale), Xtrata e Caraíba Metais, com o apoio e incentivo dos governos estaduais e federal vem se dado de forma espoliatória e predatória, desterritorializando populações tradicionais e degradando o meio ambiente. É notória a poluição do ar, do solo e das bacias hídricas, além do desflorestamento, destruição de habitat natural de animais silvestres e destruição de sítios arqueológicos. São projetos dirigidos de fora para dentro da região sem que os amazônidas tenham a oportunidade de discutir e opinar sobre a viabilidade, necessidade e conseqüências desses empreendimentos.
O que se percebe é que o impacto da mineração é localizado, desestruturante e ao mesmo estruturante, ao modo que interessa às empresas. Desestrutura as comunidades locais, urbanas e rurais além de provocar a migração de milhares de pessoas. Diversas são aquelas que chegam de outras regiões do país e do campo acreditando que as atividades dessas empresas vão melhorar as suas vidas. É visível o aumento, sem controle, da população no entorno dos projetos mineralógicos. Não só os núcleos urbanos próximos dessas áreas passam por rápidas e indesejáveis transformações com o crescimento populacional, mas surgem outros aglomerados urbanos. O emprego esperado não aparece. Para sobreviver muitos são aqueles que se enveredam nos trabalhos temporários e informais. Assim, grande é o contingente de trabalhadores e trabalhadoras itinerantes, de vida marcada pela provisoriedade e mobilidade, e de mão-de-obra polivalente que lutam cotidianamente pela sobrevivência. Os efeitos até então incontroláveis, nessas regiões, tem sido a elevação do índice de violência com destaque para os homicídios, comércio de drogas, prostituição e acidentes de trânsito.
Os registros mostram que na área de influência da Vale no sudeste paraense(municípios de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás e Curionópolis), as mortes por causas violentas aumentaram, do ano de 2007 para 2008, em 23%, considerando os corpos que passaram pelo Instituto Médico Legal de Marabá. No ano de 2008, os municípios de Marabá e Parauapebas, foram os que mais registraram mortes por assassinatos. Marabá saltou de 187 assassinatos, em 2007, para 266, em 2008, e Parauapebas, saltou de 62, em 2007, para 94, em 2008.( jornal Correio do Tocantins, Marabá, 10 a 12.01.2009).
A própria Companhia Vale do Rio Doce encaminhou uma pesquisa na área de sua influencia direta, no sudeste do Pará (Área de Influência Direta da Vale) e constatou que entre 2000 e 2005 o crescimento populacional foi de 22,9% e a projeção de crescimento do ano de 2005 para o ano de 2010, será de 92,9%. O que representa o total de habitantes no ano de 2000, de 334.386 habitantes, no ano de 2005, de 423.361, e a projeção para o ano de 2010, se for desenvolvidos todos os investimentos previstos, será de 817.268 habitantes.(CVRD & Diagonal Urbana, 2006.).
Os migrantes que ali chegam diariamente, sem alternativa, se aventuram na formação de novos bairros (ocupações) compostos por casas, às vezes precárias, sem água encanada e sem esgoto sanitário. São, em sua maioria, trabalhadores pobres, analfabeto ou de baixa escolaridade, sem profissão definida, mão-de-obra polivalente, de vida itinerante, às vezes complexas, marcada por condições provisórias e alta mobilidade. Até parece que estamos, não de outro modo, diante de uma sociedade dentro da sociedade, algo não exclusivo de Marabá, mas uma sociedade desenraizada, dilacerada, excluída, que aos poucos está sendo incluída, mas de outro modo, desumana, de forma precária, instável e marginal. Uma humanidade incorporada através do trabalho precário, do pequeno comércio, no setor de serviços mal pagos ou, até mesmo escusos.
Os povos indígenas vão sendo cercados, não mais apenas pelos latifúndios e exploração madeireira, mas agora pela exploração mineral, suas áreas se tornam como ilhas de florestas, rodeadas por frentes de destruição e opressão. Os Gaviões tiveram suas terras atravessadas pela rodovia BR-222, pela linha de transmissão de energia elétrica, que sai de Tucuruí rumo ao nordeste brasileiro, e pela ferrovia Carajás/Ponta da Madeira(São Luis-MA). Os Xikrins do Catete se vêem ameaçados pelos projetos Salobo, de extração de Cobre, no município de Marabá, e pelo projeto de extração de Níquel, em Ourilândia do Norte, pela Vale. Todos com riscos de degradação ambiental com alterações significativas sobre a caça e a pesca.
Por outro lado, o impacto da mineração é estruturante ao modo que interessa às empresas. Aproveitam da conivência e submissão do Estado, das precárias condições que vivem a maioria das populações dos municípios onde elas se instalam, para através da manipulação da consciência das pessoas, com o discurso da chegada do desenvolvimento e do progresso, criar um ambiente favorável para sua implantação e domínio. Desse modo, os dos governantes municipais, governadores dos Estados e não raros deputados e políticos influentes assumem o discurso e a defesa dessas empresas além de lhes possibilitar infra-estrutura, colaboração financeira e isenções tributárias, com vistas a fornecer-lhes condições competitivas e assecuratórias ao bom funcionamento dos seus empreendimentos.
Portanto, uma das situações emblemáticas que até hoje tem gerado conseqüências negativas ao meio ambiente e à população local, é a exploração do manganês, em Macapá no estado do Amapá. Depois da retirada de quase todo o minério, crateras de até 170 metros de profundidade ficaram ao céu aberto. Enormes também são os estoques de rejeitos. “Calcula-se, que em Santana, estão estocadas cerca de 70.000 toneladas de rejeito provenientes do processo de pelotização e que apresenta um percentual de arcênio superior ao encontrado no minério inatura. A Fundação Evandro Chagas(em Belém), depois de inúmeros exames laboratoriais, recomenda a imediata retirada deste rejeito para que não se tenha risco de contaminação de qualquer natureza às pessoas ou comunidades próximas a estes locais.”(Waldez Góes, governador do Amapá, Forum Paraense de Desenvolvimento, 50 Anos de Mineração na Amazônia, Cejup, 2003).
Em Oriximiná (PA), a Mineração Rio Norte (MRN) que explora as reservas de bauxita nesse município, provocou degradação ao meio ambiente com os rejeitos da mineração a partir da emissão de partículas sólidas e material estéril, como argila, bauxita fina e areia.
As populações locais formada em sua maioria por camponeses e ribeirinhos foram alijadas de seus direitos sobre as áreas de castanhais que ficam ao norte da Floresta Nacional de Sacará-Taquera, onde a mineradora está situada. Já a Alumino Brasil S/A (ALBRAS) e a Alumina Norte Brasil S/A (ALUNORTE) grandes produtoras nacionais de alumina e alumínio instaladas no município de Barcarena(PA) tem causado enormes prejuízos às comunidades locais com o carreamento de poluentes compostos com dióxido de alumino e soda caustica para os cursos d’água. A Pará Pigmentos S/A (PPSA) é outra empresa que tem causado sérios danos ambientais às comunidades no norte do estado do Pará. O beneficiamento de caulim, no município de Ipixuna tem contaminado cursos d’água afetando tragicamente as comunidades ribeirinhas. A CVRD tem trazido sérios prejuízos às comunidades de quilombolas de Jambuaçú e outras comunidades dos municípios de Acará e Mujú com a construção de 180 quilômetros de mineroduto (transporte de bauxita) e linhas de transmissão de energia elétrica. Não só a produção agrícola foi prejudicada, mas vilas e povoados foram impactadas diretamente pelos empreendimentos.(relatos de afetados).
Casos notórios são também aqueles causados pela CVRD no sudeste do Pará. A exploração do ouro no igarapé Bahia espalhou substâncias químicas na região por conta do uso de soda cáustica e cianeto para a separação do minério da rocha primária. Não muito distante a empresa construiu uma barragem de contenção no igarapé Gelado para o barramento de rejeitos oriundos da exploração do minério de ferro na Serra de Carajás. Em 1992 esta barragem transbordou e inundou áreas de camponeses da região causando sérios prejuízos econômicos e ambientais. Desde então são ameaçados por outras inundações. Recentemente esta empresa tem causados danos aos assentados do Projeto de Assentamento Cinturão Verde, município de Marabá. Os serviços de prospecção efetivados pela empresa têm contaminados nascentes de águas e danificado estradas e cercas de arame dos camponeses. A Mineração Buritina S/A, instalada dentro desse mesmo assentamento vem contaminando as águas dos igarapés Bandeira e Grotão com a exploração do manganês. Trabalhadores têm reclamado que no período chuvoso os rejeitos provenientes da lavagem do minério tem alcançado os cursos d’água impossibilitando o seu uso.
As empresas de mineração na Amazônia são beneficiadas pela Lei “Kandir”. Como elas exportam produtos considerados matérias-prima elas são isentas de pagar Impostos sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Os valores dos royalties ou da Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) repassado pelas empresas aos municípios são extremamente baixos. Eles variam entre 1 e 3% do faturamento líquido, como os cálculos são feitos pelas empresas mineradoras, a união o estado e município sempre são lesados. O municipio de Parauapebas-PA, após uma auditoria, identificou que foi lesado pela Vale em mais de 700 milhões, como a Vale não se propõe pagar, a reclamação está na justiça.
Em 1997, do faturamento de mais de 2 bilhões de dólares conseguido pelas empresas com a movimentação da bauxita extraída, em Oriximiná, e da produção de alumínio, em Barcarena, somente 30 milhões de dólares foram recolhidos aos cofres públicos, o que representa apenas 1,5% do faturamento. Em 2008, o recolhimento de 700 milhões de reais representou somente 1,44% do faturamento. Significa que nem os 2%, como manda a Lei que determina o valor da CFEN, está sendo cumprida.
5 – A resistência.
Em toda a região de extração e transformação mineral os movimentos sociais tem se manifestado contrário a esta lógica perversa do capital dirigida pelas corporações, no intuito de resistirem, enfrentarem e alterarem o modelo dominante.
Na região de Carajás, em 2008, ocorreram várias manifestações com a ocupação dos trilhos da estrada de ferro de Carajás ao porto em São Luis-MA, administrada pela Vale, coordenados pela Via Campesina e povos indígenas, que culminou na criação do Movimento dos Trabalhadores na Mineração(garimpeiros), e o lançamento de um manifesto, intitulado MANIFESTO DA MOBILIZAÇÃO DOS CAMPONESES DE MARABÁ.
Mais de 200 trabalhadores rurais dos projetos de assentamento Tucumã e Campos Altos, em Ourilândia do Norte, em setembro de 2008, interditaram por três dias uma estrada, usada pela Vale, que dá acesso a áera de mineração da serra Onça, onde a empresa vai fazer a extração de Níquel, até que representantes da Vale se dispuseram a discutir com a comunidade, os problemas sociais e ambientais causados pela mineradora.
Uma manifestação que começou com 800 trabalhadores e terminou com 2.500, foi feita no final de janeiro de 2009, em Juruti, Oeste do Pará, pelos atingidos pela mineradora Alcoa, que está se implantando naquela região para extração e transformação de bauxita. A manifestação que durou uma semana, resultou numa negociação entre os trabalhadores e o representante da empresa, para a América Latina, envolvendo órgãos estaduais e os ministérios públicos estadual e federal.
CONCLUSÃO
As características do capitalismos são as mesmas em qualquer parte do mundo: concentração dos meios de produção; desenvolvimento das forças produtivas; exploração da força de trabalho; acumulação da mais-valia por poucos; e geração de pobreza e miséria para a maioria.
Na amazônia a expansão da exploração mineral se dá com a forma também de expansão do capitalismo, que institui um modelo destruidor e perverso, com a apropriação e exploração intensiva da terra, águas, floresta e da força de trabalho, abundante e barata. Este modelo dominante sob a hegemonia das mineradoras, proporciona a formação de castas de beneficiários e soberbos imediatos e intermediários, por outro lado gera a desigualdade, exclusão, pobreza, miséria, degradação ambiental e conflitos.
São projetos baseados no extrativismo, de curta duração, que não agregam para o desenvolvimento local, desestruturam as relações de trabalho e de integrações tradicionais, e estruturam a sociedade do caos: aglomerados populacionais com alto ídice de desemprego, crimilalidade, com péssimas condições de habitação, saneamento básico e educação.
O Estado, prostituto de todas as horas e arrecadador de migalhas, na defesa do Capital coloca a disposição das corporações todo seu aparato jurídico e policial, para facilitar a implantação dos empreendimentos e seu funcionamento, e a repressão dos movimentos sociais que venham a se opor a esta lógica.
Para que a mineração na Amazônia possa gerar benefícios para as populações locais e diminuir as desigualdades e pobrezas e não aumentá-las, como tem sido até o momento, se faz necessário que seja planejada pelo Estado, e não pelas empresas, com participação da sociedade civil, com uma outra política de arrecadação e aplicação dos royalties.
Não interessa para a sociedade amazônica a extração e transformação mineral, da forma de saque como está sendo feita, com a geração de crateras, mazelas e seqüelas, que jamais possam recuperadas. Não nos interessa os rejeitos tóxicos, as matas devastadas, o solo e águas poluídas e as populações massacradas, desaculturadas e marginalizadas. Torna-se um desafio a desconstrução do atual modelo imposto pelo capital, com a subordinação do Estado, e a construção de uma outra possibilidade de aproveitamento de forma racional dos recursos minerais na amazônia.

GARIMPO | Vila da Ressaca, os restos de um sonho dourado

GARIMPO | Vila da Ressaca, os restos de um sonho dourado


Comunidade Vila da Ressaca. Foto: Victor Moriyama
Em consonância com o nome, Vila da Ressaca é o que sobrou dos tempos em que havia ouro abundante no local. Essa comunidade de garimpeiros fica na chamada Volta Grande do rio Xingu, uma grande curva em formato de ‘U’ que começa logo abaixo de Altamira. Esse trecho do rio está condenado pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. As comunidades ribeirinhas que vivem à sua margem, deixarão de sê-lo: não serão mais banhadas pelas águas do Xingu.
 

A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.
 

Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.
 

Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.
Ao contrário do Galo, onde os túneis atingem 380 metros de profundidade, no garimpo Morro das Araras, a exploração é rasa, feita em buracos de até 10 metros de profundida por 20 de largura. O nome vem dos índios que ali habitaram até 1930, quando foram expulsos pela chegada da mineração. Eles lutaram, matando e afundando os barcos dos recém-chegados, que também morriam de malária. O pico da produção de ouro na região foi na década de 1960 e 70, quando a exploração era feita por empresas do ramo. Elas foram embora quando acabou o ouro fácil, próximo da superfície. Hoje, a exploração é rude, feita por garimpeiros precariamente equipados.
 
Garimpeiro em buraco aberto para exploração de ouro. Foto: Victor Moriyama
No morro das Araras, a rotina da busca do ouro é desmatar e cavar buracos com água de mangueiras de alta pressão. Um buraco é aberto a cada 2 dias. A medida que é liquifeita, a terra é retirada por uma máquina apelidada de "chupadeira", que a joga em uma rampa. A lama desce pela rampa de madeira de alguns metros de comprimento até o seu fim, quando é filtrada por uma caixa que contém uma peneira e mercúrio. A peneira segura os resíduos que podem conter ouro, o mercúrio aglutina o metal. O líquido enlameado que passa, já contaminado por mercúrio, enche um outro buraco. Uma vez exploradas, as crateras são abandonadas.

Recolhimento de rejeito e moagem fina. Foto: Victor Moriyama

Quando o material é composto por pedregulhos, passa pelos chamados "moinhos", máquinas que trituram a rocha. Após essa etapa, também seguem para o mesmo tipo de rampa que termina no tanque fechado com mercúrio.
Rejeito já contendo mercúrio é escoado em lagoa. Foto: Victor Moriyama
O segundo método de mineração – e o mais usado agora que o ouro é escasso – é através de galerias dentro de túneis profundos. Eles são abertos com explosivos. E de explosão em explosão, de galeria em galeria, podem chegar a 400 metros de profundidade.
Garimpeiros usam explosivos. Foto: Victor Moriyama

Descida de arrepiar
A descida até lá dura 20 minutos e é feita através de um sistema tosco de cordas e roldanas, operadas pelos companheiros da superfície, que acompanham o processo por rádio. Os garimpeiros brincam que muitos se acovardam a descer. Pudera, acidentes fatais são costumeiros, a temperatura lembra a de uma sauna e a única luz da descida é uma lanterna de pilha, segura na mão e presa ao peito do garimpeiro por um cabinho. Durante o percurso, o túnel pode ter larguras de até 10 metros ou passagens estreitas de 1 metro. O destino final é uma galeria de cerca 10 metros de largura por 7 de altura, mal iluminada por lâmpadas de 60 watts. Lá, o garimpeiro enche uma grande esfera oca, de borracha grossa, capaz de suportar uma carga de pedregulhos que podem conter ouro. Essa bola é içada à superfície, e se tudo der certo, o garimpeiro volta também. Os acidentes mortais são encarados como destino divino.

Garimpeiro recolhendo pedregulhos para moagem.Foto: Victor Moriyama
Para os gerentes do garimpo, o dinheiro pode ser bom. Eles ganham até R$10 mil por semana, pagos em ouro, que aqui ainda é moeda. Nada é feito de acordo com a lei. As licenças de mineração expiraram e os explosivos – que exigem permissão do exército -- são usados ilegalmente. O trabalho é informal e o trabalho infantil, comum. Filho de garimpeiro entra logo para o garimpo, aprende a trabalhar, nem que seja para carregar pedras de um lado para o outro, com um carrinho de mão.

O Mercúrio é utilizado na fundição do ouro. 
Foto: Victor Moriyama

Qualquer que seja a técnica usada no garimpo, o mercúrio é onipresente. Ele é tóxico, difícil de degradar e envenena fauna, flora e gente. Os garimpeiros correm o risco de inalá-lo durante o processo de separação do ouro, uma forma grave de contaminação. O rejeito contaminado é despejado próximo aos moinho, até terminar no Xingu ou penetrar o lençol freático.

Porque o mercúrio é usado na mineração de ouro

Entre as propriedades do mercúrio, está a capacidade da forma orgânica desse elemento se acumular ao longo da cadeia alimentar, causando a contaminação de peixes e o risco de envenenamento de quem deles se alimenta , inclusive seres humanos. A intoxicação por mercúrio pode provocar danos ao sistema neurológico. As consequências podem variar desde dores no esófago e diarreia a sintomas de demência. Depressão, ansiedade, dentes moles por inflamação e falhas de memória também estão entre os sintomas. Um perigo ofuscado pelo brilho do ouro.

 

Para o garimpeiro, o que importa são outras propriedades do mercúrio. Primeiro, a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas, o que é fundamental em garimpos, onde os minúsculos grãos de ouro precisam ser separados dos sedimentos dragados de leitos de rios ou da terra escavada. Após esse cascalho passar um período em esteiras, para que os metais se assentem e sejam separados de sedimentos mais leves, o material concentrado é jogado em betoneiras onde é misturado à agua e ao mercúrio.
 

Os pequenos grãos se agregam com ajuda do mercúrio e podem ser separados com mais facilidade. Em garimpos onde é usado maquinário mais pesado, como balsas, os sedimentos são dragados para dentro de misturadores, chamados pelos garimpeiros de cobra-fumando, onde se costuma também utilizar o mercúrio para evitar que partículas de ouro sejam desperdiçadas. No final, os restos contaminados são despejados no solo ou no rio.

MINERAÇÃO ARTESANAL

MINERAÇÃO ARTESANAL

A economia brasileira sempre teve uma relação estreita com a extração mineral. Desde os tempos de colônia, o Brasil transformou a mineração - também responsável por parte da ocupação territorial - em um dos setores básicos da economia nacional.
A mineração artesanal é um tipo de operação de pequena escala de mineração que não está associado a grandes empresas corporativas. Esse tipo de mineração de subsistência é um tanto comum no mundo em desenvolvimento, e usa muitas ferramentas manuais e métodos que têm sido utilizados por garimpeiros ao longo da história. Em alguns casos, trabalhadores agrícolas sazonais encontram emprego na mineração artesanal quando não trabalho intenso até a colheita, apesar de que há mineiros artesanais atuando em tempo integral. Muitos outros fatores econômicos também podem conduzir os trabalhadores de outras áreas à mineração artesanal como uma forma alternativa de se conseguir meios de subsistência.
Ao contrário de grandes operações de mineração que fazem uso de máquinas pesadas, explosivos e tratamentos químicos, os garimpeiros costumam aproveitar métodos mais primitivos. A maioria dessas operações de mineração em pequena escala emprega ferramentas manuais simples. O garimpo de ouro é um exemplo de mineração artesanal que pode ocorrer com ferramentas simples e pouco ou nenhum treinamento. Em todo o mundo, uma percentagem significativa da produção anual de ouro  vem da mineração artesanal de menor escala, embora muitos outros materiais também sejam obtidos através desta técnica.
Minerais como lítio são extraídos da terra com métodos artesanais, assim como muitos tipos de pedras preciosas. A maioria das gemas coloridas que estão disponíveis para o mercado mundial é obtida por garimpeiros que trabalham individualmente, porque há poucas operações de mineração em grande escala para estes minerais preciosos e semipreciosos. Diamantes também são obtidos por meio do processo de mineração manual. Um dos efeitos da mineração artesanal no mercado de pedras preciosas coloridas é que pode ser difícil ou impossível determinar de onde essas pedras foram extraídas, devido ao fato de que os mineiros que atuam com a mineração de subsistência raramente vendem diretamente aos atacadistas. 
Algumas operações de mineração manual e artesanal também fazem uso de minas subterrâneas e plantas de processamento, embora sejam ainda muitas vezes limitadas aos trabalhos com ferramentas manuais relativamente simples. Muitos problemas podem surgir neste tipo de mineração artesanal se forem levadas em conta as condições de trabalho nas minas e plantas de processamento. Nos países em desenvolvimento, onde estas operações são comumente encontradas, ainda há a ausência de fiscalização adequada ou regulamentos que garantam a segurança dos operários e preservem o meio ambiente. Para ajudar a minimizar esses e outros entraves, algumas organizações estão trabalhando a fim de aprimorar as condições de trabalho dos garimpeiros em todo o mundo.
GARIMPAGEM DO OURO
Em 1993, estimou-se que cerca de 6 milhões dos milhões de trabalhadores na mineração mundial estavam engajados no que se chama mineração artesanal ou garimpagem como é definido no Brasil. Esses mineiros espalhados em 40 países extraiam mais de trinta diferentes tipos de minerais. Em 2000, a Organização Internacional do Trabalho, estimou que o número de mineiros artesanais cresceu, totalizando cerca de 13 milhões em 55 países o que leva a crer que de 80 a 100 milhões de pessoas dependem desta atividade para sobreviver. O ouro por sua característica de fácil venda e alto valor tem sido o bem mineral mais extraído pelos mineiros artesanais em todo o mundo. Em 1995, estimou-se que mais de um milhão de mineiros atuavam na América Latina com uma produção de 115 a 190 toneladas de ouro com o maior contingente no Brasil (200.000 a 400.000) produzindo de 30 a 50 toneladas.

Em muitos países, as leis relativas às atividades de mineração artesanal não se baseiam nas características do tipo de tecnologia utilizada, mas na escala de produção ou no tipo de minério extraído (ex: aluvião). No Brasil a lei n° 7.805 de 20-07-89 estabelece que os minérios aluvionares, coluvionares e eluvionares estariam à disposição de serem minerados por atividade garimpeira organizada, isto é, associações ou cooperativas de garimpeiros. A legislação brasileira exclui os garimpeiros da extração de ouro de depósitos primários, que na realidade foram em grande maioria descobertos pelos próprios garimpeiros. A história tem mostrado que sem suporte técnico e investimento, os depósitos primários, normalmente ricos em sulfetos, são pesadelos para os mineiros artesanais. Assim não parece ter sentido regulamentar a atividade garimpeira pelo tipo de depósito geológico a ser trabalhado, uma vez que existe um controle natural da atividade artesanal.
Infelizmente, as maiorias dos governos de países em desenvolvimento não provêm uma assistência de qualquer tipo aos mineiros artesanais. Esta seria uma forma pela qual os mineiros poderiam ter acesso à tecnologia e garantias legais das jazidas que descobriram. Os governos têm um papel fundamental em estabelecer o arcabouço legal que seja visivelmente vantajoso ao mineiro artesanal de outra forma ele irá (e tem sido), inevitavelmente, trabalhar na ilegalidade.
A mineração artesanal representa uma situação embaraçosa para as elites dos países em desenvolvimento, que procuram mostrar ao mundo seus avanços tecnológicos e a evolução de seus conceitos de modernidade. Contudo, a garimpagem representa uma atividade absolutamente coerente com a falta de planejamento de desenvolvimento rural da maioria dos países ricos. Um grupo de estudiosos reunidos pela Organização das Nações Unidas para desenvolvimento industrial em Viena, em 1997, conclui que em todo o mundo a mineração artesanal é uma atividade importante como fonte de emprego que contribui para o alivio da pobreza, e se bem organizada e assistida, pode vir a contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais.
HISTÓRICO DA GARIMPAGEM DE OURO NA AMAZÔNIA
É reconhecido que a moderna corrida ao ouro na Amazônia foi intensificada pela descoberta de Serra Pelada, em janeiro de 1980. O mérito dessa descoberta é atribuído ao peão de nome Aristeu, a serviço do senhor Genésio Ferreira da Silva, proprietário da fazenda Três Barras. Constatada a abundância de ouro, houve uma grande corrida de pessoas para esse local de modo que em março de 1980, já existiam cerca de cinco mil pessoas garimpando na 'Grota Rica'. Em abriu de 1980 ocorreu o início da garimpagem no 'Morro da Babilônia'.
A partir de 20 de maio de 1980, já com a presença do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral), e da DOCEGEO (empresa de pesquisa da antiga CVRD, hoje VALE), foi montado um esquema governamental para controlar e orientar as diferentes atividades que ali se desenvolviam, e para tal se fizeram presentes diversos órgãos do governo federal e estadual. Em outubro de 1980, houve necessidade de paralisia dos trabalhos de desmonte manual para serem executados os serviços de terraplenagem. O aprofundamento das catas de Serra Pelada fez com que se surgissem problemas de desmoronamento, visto que os garimpeiros acostumados a trabalhar com o ouro secundário, não davam a devida atenção para a segurança de trabalho. Em julho de 1983 um acidente vitimou 19 garimpeiros. Ao final de 1983 existiam, 3.973 catas de mineração distribuídas em uma cava de forma elipsoidal com 30.000 m² de área e profundidade de cerca de 60 m. Os direitos minerários do depósito pertenciam a CVRD, que havia feito seu requerimento de pesquisa para manganês e ferro e não havia reconhecido a presença de ouro na área.
Atualmente a cava da Serra Pelada está inundada (pelo lençol freático) e menos de 800 garimpeiros tentam sobreviver reprocessando rejeitos ou dragando material do fundo da cava. A VALE (CVRD) anunciou em 1997 ter encontrado através de sondagens cerca de 150 toneladas de ouro na área de Serra Pelada. E esse anúncio atraiu novamente garimpeiros e especulou-se o retorno de milhares de pessoas ao garimpo. Todavia problemas geológicos e estruturais não ratificaram a previsão e com isso o garimpo continuou latente, sem maiores fluxos de trabalhadores para a região.
Nas décadas de 70 e 80 muitas das áreas descobertas por garimpeiros foram requeridas por empresas de mineração. Muitas delas alegaram depois de terem suas concessões invadidas por garimpeiros. Outras, realmente foram vítimas de invasões irresponsáveis. Empresários da mineração passam a conviver não só com o risco, mas, também, com a insegurança, ao verem seus investimentos sucumbidos e os depósitos minerais dilapidados.
Cerca de 236 mil km² ou 4,34% da área total da região amazônica brasileira são afetados pela garimpagem de ouro. Somente no estado do Pará, essas áreas atingem 150 mil km², das quais o Tapajós é maior área garimpeira do Estado e do mundo – 100 mil km² – e também a mais importante em termos de produção.
A produção aurífera oficial dos garimpos da região do Tapajós, no período 1991-2000,representou cerca de 70% da produção paraense que por sua vez representou 52,5% da produção garimpeira da Amazônia. No ano de 1991 a produção industrial de ouro sob a responsabilidade da CVRD (na época) , representava cerca de 7% da produção total do Pará, sendo a grande maioria, 93% , proveniente dos garimpos ativos do Tapajós (59,3%). Cumaru-redenção-tucumã (26,2%) e de outras áreas (7,8%). Em 2000 o quadro se inverteu sendo a produção industrial da mina do Igarapé Bahia (Mineradora VALE) a fonte mais importante de ouro do Estado do Pará e do Brasil. A produção garimpeira representou apenas 27,6% do total de ouro produzido no Pará.
ASPECTOS AMBIENTAIS COM RELAÇÃO AOS GARIMPOS
Os impactos ambientais da garimpagem podem ser divididos em físicos e biológicos.Os aspectos físicos são caracterizados pela destruição da capa vegetal e dos solos assim como pelo assoreamento de rios. O envolvimento do solo promove intensa erosão das margens de rio, carreando sólidos em suspensão e mercúrio associado à matéria orgânica para sistema de drenagem. Este processo pode ser umas das principais vias de mercúrio natural ou antropogênico nos sistemas aquáticos amazônicos. Os impactos biológicos iniciam-se nos impactos a qualidade das águas por intermédio do assoreamento*, pela descarga de derivados do petróleo, tais como óleo diesel e graxa, pelo uso exacerbado de detergentes utilizados para dispensar o minério e, o mais grave pelo uso inadequado do mercúrio.
* Assoreamento é a obstrução, por sedimentos, areia ou detritos quaisquer, de um estuário, rio, ou canal. Pode ser causador de redução da correnteza. No Brasil é uma das causas de 'morte' de rios, devido à redução de profundidade. Os processos erosivos, causados pelas águas, ventos e processos químicos, antrópicos e físicos, desagregam solos e rochas formando sedimentos que serão transportados. O depósito destes sedimentos constitui o fenômeno do assoreamento.

ASPECTOS SOCIAIS EM RELAÇÃO AOS GARIMPOS
A característica transiente, migratória e muitas vezes ilegal dos mineiros artesanais modernos na América Latina, em particular no Brasil, não tem contribuído com benefícios de assentamentos observados durante o período colonial. O ciclo da atividade de mineração e bem conhecido: descoberta, imigração, relativa prosperidade econômica, seguida de exaustão do recurso mineral (material secundário), emigração e decadência econômica. A mecanização dos garimpos contribuiu mais para a aceleração deste ciclo. Drogas, prostituição, doenças, jogos, abuso de álcool e degradação de princípios morais são consequências frequentes da ocupação caótica dos garimpos. É óbvio que os benefícios econômicos obtidos pelos mineiros não compensam as deploráveis condições socioeconômicas deixadas nas comunidades formadas pelos garimpos. Após a exaustão do minério de ouro facilmente extraído, as minas são abandonadas e quem permanece nos locais tem que conviver com o desenvolvimento econômico alternativo.
A criação de muitos municípios, cidades ou vilas, originados de maneira caótica, através da corrida do ouro tem causado sérios problemas aos gestores municipais. No Pará, os casos mais conhecidos são Curianópolis, Eldorado dos Carajás, Cachoeira do Piriá, etc. muitas dessas comunidades sofrem falta de opções econômicas, escassez de visão de futuro e liderança, além de viverem em extrema pobreza, normalmente buscando e reprocessar rejeito dos garimpos.
A significativa produção histórica do ouro no Brasil retrata o enorme potencial aurífero das regiões geológicas do país. Os investimentos realizados na exploração de ouro, principalmente nos anos 1980, ainda que bem menor em relação a outros países tradicionais produtores trouxeram excelentes retornos aos investidores através de importantes e novas descobertas que alavancaram a produção nacional industrializada a níveis sem precedentes. Este relato só não foi mais proeminente devido à falta de uma política nacional que incentivasse a pesquisa mineral como um todo. Apesar do pouco conhecimento acerca da geologia do território nacional e das reservas de ouro contidas, sabe-se que o grande potencial aurífero encontra-se associado a rochas de idade arqueana e paleoproterozóica, que em geral fazem partes da sequencia do tipo greenstone belt. No entanto, a nova fronteira exploratória no Brasil situa-se na região Amazônica, de geologia ainda menos conhecida.
Nesta região, além dos greenstone belt já reconhecidos, ocorrem depósitos ainda pouco definidos, alguns associados a outros metais que também apresentam interesse econômico. O real potencial dessas regiões deve ser estudado através da metalogênese, à luz dos conhecimentos gerados de outras partes do globo, e de desenvolvimento de técnicas exploratórias adaptadas às condições tropicais que dominam a paisagem nessas regiões.
Entre as questões mais problemáticas da extração de ouro no mundo, estão a invasão de terras, a devastação ambiental, o desalojamento de pequenos produtores e a violação dos direitos humanos por parte de empresas transnacionais, que levam a maior porcentagem de lucros em detrimento das comunidades locais. Isso ocorre em muitos países da América Latina, onde grandes empresas aproveitam brechas na legislação e regulamentação para estabelecer práticas irresponsáveis de extração desse metal precioso.

Rejeito de Serra Pelada vai ser beneficiado

Rejeito de Serra Pelada vai ser beneficiado

O novo projeto que deve retomar a produção de ouro em Serra Pelada foi apresentado durante uma reunião da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), em Curionópolis (PA), na semana passado. Segundo Amauri Barros, presidente da Gasp100, empresa criada para fazer o beneficiamento da montoeira em Serra Pelada, os trabalhos devem começar nos próximos dias.
De acordo com o projeto, as máquinas irão se concentrar no entorno de uma cava, na parte mais baixa da área, próxima a um lago com aproximadamente 200 metros de profundidade. Todo o material retirado na lavra manual foi depositado ao redor da cava, o que os garimpeiros chamam de "montoeira". E é esse ouro que pode existir no meio desses sedimentos que deve ser explorado.
"Já estamos na fase de terraplenagem, instalação de máquinas, teste dessas máquinas e produção", afirmou Barros. Serra Pelada foi considerado o maior garimpo de ouro a céu aberto do país, no início dos anos 80.
Em 2007, a Coomigasp firmou contrato com a Colossus Minerals também para a exploração de ouro em Serra Pelada, por meio de uma mina subterrânea. No início deste ano, a empresa fez uma demissão em massa e anunciou a paralisação do projeto por tempo indeterminado.
O interventor judicial da Coomigasp, Marcos Alexandre Mendes, disse que está procurando novos investidores para retomar o projeto. "O percentual de 44% da produção é da Coomigasp, e essa parte é que vai ser dividida entre os garimpeiros", afirmou.
De acordo com Mendes, houve um cuidado em revalidar esse contrato para não se repetir equívocos nos contratos comerciais de Serra Pelada. “Nosso objetivo é sempre resguardar os direitos dos garimpeiros, por isso foi necessário rever algumas etapas antes da liberação da atividade no local, como confirmar as licenças junto ao DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral] e Sema [Secretaria de Estado de Meio Ambiente]”.
A Gasp100 é uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) e faz parte da Brasil Século III Consultoria (BS3), empresa que assinou contrato com a Coomigasp, em fevereiro de 2013, aprovado após uma assembleia de garimpeiros realizada em Curionópolis.
A BS3 tem como economista-chefe, o ex-deputado Virgílio Guimarães, pai do presidente da comissão especial que analisa o projeto de lei 5807/13 que traz o novo marco regulatório da mineração.
A SPE é um modelo de organização empresarial pelo qual se constitui uma nova empresa limitada com um objetivo específico, neste caso, a exploração do rejeito oriundo da cava de exploração do ouro na década de 80. “Por ser uma empresa com características especiais, a torna mais segura e prática na relação entre as sócias nessa exploração”, afirmou a Coomigasp.
De acordo com Mendes, houve um cuidado em revalidar esse contrato para não se repetir equívocos nos contratos comerciais de Serra Pelada. “Nosso objetivo é sempre resguardar os direitos dos garimpeiros, por isso foi necessário rever algumas etapas antes da liberação da atividade no local, como confirmar as licenças junto ao DNPM [Departamento Nacional de Produção Mineral] e Sema [Secretaria de Estado de Meio Ambiente]”, disse.

Um novo gold rush na África do Sul cria, também, uma corrida imobiliária

Um novo gold rush na África do Sul cria, também, uma corrida imobiliária

 
 


Durante séculos os rejeitos das profundas minas de ouro do Witwatersrand se acumularam nas proximidades de Johannesburg e Pretória, ao longo de quilômetros quadrados de áreas perdidas,  nas margens da bacia sedimentar do Wits. O acúmulo de rejeitos passou a ser uma herança maldita desde a descoberta dos imensos jazimentos de ouro do Witwatersrand, que causou uma das maiores corridas de ouro do mundo, em 1886.
No entanto a visão de uns e a tecnologia de outros está mudando a economia do lugar.
Esses rejeitos contêm quantidades econômicas de ouro que são o resultado da lavra de minérios de alto teor em épocas de menor tecnologia e recuperações mais baixas.
A cidade literalmente envolveu esses tailings e o que se vê é um risco aos milhões de habitantes das redondezas.
Pois bem, hoje, com os avanços tecnológicos, milhões de toneladas de rejeitos, antes um risco, começam a ser tratados e o seu ouro contido recuperado. O processo de recuperação dos rejeitos não só recupera o ouro, mas, também, o meio ambiente, a paisagem e alimenta a mais nova corrida imobiliária da região. Áreas antes ocupadas pelas pilhas de rejeito voltam a ser ocupadas por projetos imobiliários que fazem um novo boom econômico em Johannesburg ao mesmo tempo em que injetam significativas somas nos cofres das mineradoras de ouro do Witwatersrand.
Em alguns casos como em Mogale, os rejeitos ainda tem uma concentração de urânio que deverá ser tratada antes que a área seja entregue à população.
Estima-se que mais de 40% de todo o ouro ainda contido nos rejeitos serão recuperados independente da granulometria.
É a mais nova corrida de ouro da África do Sul e uma interessante lição aos mineradores do mundo todo.