sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Petróleo a US$58,50 o barril ameaça economicidade do pré-sal Publicado em: 19/12/2014 19:07:00 A pergunta que se faz agora é até quanto o preço do petróleo vai cair. No momento os preços afundaram mais de 50% e isso coloca vários países produtores em situação de cheque. É neste momento que iremos ver se a Petrobras tem, realmente, condições de sobreviver esta crise. Projetos de sand oil no Canadá, alguns projetos de óleo em xistos e outros em águas ultra profundas como os projetos do pré-sal já estão no vermelho. Aqui no Brasil o campo de Libra parece ser a primeira grande vítima da queda dos preços. Libra tem um break-even acima de US$60/barril e não vai sobreviver com o preço abaixo de US$59/barril. Quem vai determinar até onde esses preços ainda vão cair são, obviamente, os Árabes. Se eles realmente quiserem entrar em um cenário competitivo onde os preços são ditados pelo mercado, aí poderemos esperar uma queda ainda mais dramática. Acredita-se que, neste caso os preços irão se estabilizar um pouco acima do break-even dos poços de óleo em xistos que estão entre US$40-US$50/barril. Se isto ocorrer uma grande parte do óleo do xisto americano (não o gás) ficaria marginal. Isto ocorrendo a ameaça da exportação de óleo americano deixaria de existir e os Árabes dormiriam mais tranquilos. Este cenário será muito ruim para os Estados Unidos e péssimo para o Brasil. Preços do petróleo em torno de US$45 a US$50/barril praticamente mata toda a produção do pré-sal cujos custos de empate variam de US$41 a US$57/barril. Est

Petróleo a US$58,50 o barril ameaça economicidade do pré-sal




A pergunta que se faz agora é até quanto o preço do petróleo vai cair. No momento os preços afundaram mais de 50% e isso coloca vários países produtores em situação de cheque.

É neste momento que iremos ver se a Petrobras tem, realmente, condições de sobreviver esta crise.

Projetos de sand oil no Canadá, alguns projetos de óleo em xistos e outros em águas ultra profundas como os projetos do pré-sal já estão no vermelho.

Aqui no Brasil o campo de Libra parece ser a primeira grande vítima da queda dos preços. Libra tem um break-even acima de US$60/barril e não vai sobreviver com o preço abaixo de US$59/barril.

Quem vai determinar até onde esses preços ainda vão cair são, obviamente, os Árabes.

Se eles realmente quiserem entrar em um cenário competitivo onde os preços são ditados pelo mercado, aí poderemos esperar uma queda ainda mais dramática. Acredita-se que, neste caso os preços irão se estabilizar um pouco acima do break-even dos poços de óleo em xistos que estão entre US$40-US$50/barril. Se isto ocorrer uma grande parte do óleo do xisto americano (não o gás) ficaria marginal. Isto ocorrendo a ameaça da exportação de óleo americano deixaria de existir e os Árabes dormiriam mais tranquilos.

Este cenário será muito ruim para os Estados Unidos e péssimo para o Brasil. Preços do petróleo em torno de US$45 a US$50/barril praticamente mata toda a produção do pré-sal cujos custos de empate variam de US$41 a US$57/barril.

Estes preços de “empate” (break-even), na realidade não consideram todos os custos de produção, overheads, impostos e os custos de fechamento. Ou seja, os chamados all-in sustaining costs (AISC) do petróleo são bem maiores do que o break-even divulgado. Em outras palavras é muito possível que quase todo o petróleo produzido no pré-sal já esteja no vermelho, hoje, com o petróleo sendo negociado a US$58,50.

O assunto é polêmico e, assim como acontece na Vale, a Petrobras não informa aos seus acionistas todos os custos envolvidos (AISC) o que nos deixa sem saber exatamente a situação da empresa.

Temos que saber se os 610.000 barris por dia que estão sendo produzidos no pré-sal são, ou não econômicos neste momento. 

Curiosity encontra matéria orgânica em Marte

Curiosity encontra matéria orgânica em Marte


A sonda Curiosity foi lançada na superfície de Marte em agosto de 2012. Desde então ela coletou um enorme acervo de informações científicas e fotografias que mudaram, para sempre, o nosso conhecimento sobre Marte.

Mas, somente agora, a Curiosity  identificou, de forma inquestionável, a presença de matéria orgânica em rochas marcianas.

A primeira detecção foi uma súbita elevação no conteúdo de metano na atmosfera, no local onde a sonda estava perfurando uma rocha sedimentar (foto). O metano detectado foi elevado, mas durou pouco...

A outra detecção de matéria orgânica veio dos pelitos perfurados pela Curiosity, em um local denominado Cumberland. Ela estava testando esses sedimentos finos em um ponto que se acredita ter sido o fundo de um lago e, portanto, poderia ter abrigado seres vivos.

As moléculas de matéria orgânica (carbono e hidrogênio)  foram as primeiras detectadas em rochas superficiais e podem ter vindo de micróbios existentes nos sedimentos ou de uma outra fonte não biológica.

A notícia ocorre quase ao mesmo tempo em que cientistas chineses detectaram carbono em meteoritos marcianos também, pela primeira vez.


 


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Yamana faz a melhor intersecção da história de Chapada

Yamana faz a melhor intersecção da história de Chapada




As descobertas minerais mais óbvias são, sempre ao longo das possíveis continuações do corpo de minério já mapeado. A mina de cobre e ouro de Chapada em Goiás, não é uma exceção. Nos últimos anos a empresa vem descobrindo e ampliando a mineralização conhecida de Chapada.

Chapada é uma jazida de ouro e cobre associada à metavulcânicas e metassedimentos do arco magmático Proterozóico de Mara Rosa.  O depósito foi descoberto na década de 70 pela Inco e  ficou aguardando o desenvolvimento por quase quarenta anos, entrando em produção somente em 2007.

Em Chapada são tratadas 22 milhões de toneladas de minério por ano o que gerou uma produção de 110.618 onças de ouro e 130 milhões de libras de cobre em 2013.

Em 2011 foi descoberto o Corpo Sul, de teor mais elevado, que irá ser blendado com o minério do corpo principal de Chapada.

A última descoberta, denominada Sucupira, foi devida a uma intersecção de 172 metros @ 0,46g/t de ouro e 0,50% de cobre: a melhor de toda a história do projeto.

Sucupira está localizada a oeste do pit principal, próximo aos prédios da mina e continua aberta em todas as direções.

domingo, 14 de dezembro de 2014

BRASIL : CRONOLOGIA DE 500 ANOS DE MINERAÇÃO

BRASIL :  CRONOLOGIA DE 500 ANOS DE MINERAÇÃO                                  
OURO - FERRO - DIAMANTE
PERÍODO - 1494 - 1803                                                   

1494. Firmado em 7 de junho, entre a Espanha e Portugal, o Tratado de Tordesilhas, que estabeleceu limites das novas descobertas. A parte leste do Brasil ficaria em poder de Portugal.
1500. Descobrimento, do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril.
1552. Evidência mais antiga de ocorrência de ferro, noticiada por meio de carta a D. João III, Rei de Portugal, pelo Bispo Afonso Sardinha.
1590. Descoberta a primeira jazida de ouro, próximo ao Pico do Jaraguá, Capitania de São Vicente, nas proximidades da atual cidade de São Paulo.
1591. Introduzidas no Brasil as forjas catalãs, em Araçoiaba, nas proximidades da atual cidade de Sorocaba, São Paulo, onde anteriormente haviam sido identificadas ocorrências de ferro (magnetita), informadas por Afonso Sardinha.
1595. Organizada a primeira expedição ao interior do Brasil à procura de ouro, até a bacia do Rio Sapucaí, a partir de Parati, em incursão de Martim de Sá.
1597. Primeira tentativa de produção de ferro em escala comercial, em Araçoiaba, por Afonso Sardinha Filho.
1603. Primeira referência á legislação mineral no Brasil, de 15 de agosto.
1618. Elaborado o regimento das minas de São Paulo e São Vicente, restabelecendo a liberdade de exploração de jazidas, extensiva a índios e estrangeiros.
1652. Publicada pela primeira vez a legislação mineral, de I 5 de agosto de 1603. Nessa época, as jazidas de ouro em lavra situavam-se em Jaraguá, nas proximidades de São Paulo; Serra da Jaguamimbaba, hoje Serra da Mantiqueira, no local denominado Lagoas Velhas do Geraldo; Freguesia de Guarulhos, São Paulo; Serra do Uvuturuna; morro próximo à Vila do Apiaí; e ainda nos Distritos de Curitiba, Iguape, Cananéia e Vila de Serra Acima.
1674. Carta Régia incentiva os colonos a saírem em busca de ouro. Fernão Dias Pais Leme organiza uma bandeira, que explora por sete anos os vales dos Rios das Mortes, das Velhas, Paraopeba, Araçuaí e Jequitinhonha, de grande importância, pois, embora não tendo a expedição descoberto jazidas, traça o caminho de futuras descobertas.
1680. Primeira descoberta de ouro em terras do atual Estado de Minas Gerais, nas margens do Rio das Velhas, atribuída a Manuel Borba Gato.
1682. A bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, apesar de não conseguir descobrir jazidas de ouro, encontra em Goiás indígenas com ornamentos de ouro nativo.
1699. A Bandeira de Antônio Dias chega onde hoje se localiza a cidade de Ouro Preto, então Vila Rica, na região das Minas de Ouro, atualmente o Estado de Minas Gerais, encontrando ouro em abundância
1700. Adotado o quinto do ouro, sistema de tributação previsto no regimento de 1603, que definia o pagamento à Coroa Portuguesa de 20% do ouro apurado e fundido.
1701. A Guerra de Sucessão na Espanha dificulta a exploração do ouro no Brasil, pois Portugal estava envolvido no conflito.
- São descobertas novas jazidas de ouro em Minas Gerais (Caeté, Cuiabá, Morro Vermelho e Ribeirão Comprido).
1702. Descoberta de ouro em Jacobina, Bahia Descoberta de ouro em Serro do Frio, Itacambeira e Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais.
1703. Assinado o Tratado de Methuen, entre Portugal e a Inglaterra, que tem como conseqüência uma grande evasão do ouro da região das Minas de Ouro, recém descobertas.
1704. Descoberta jazida de ouro em São João del Rei e Santa Bárbara, Minas Gerais.
1706. Descoberta jazida de ouro em Airuoca, Minas Gerais.
1708. Final da Guerra dos Emboabas, que ocorreu em torno de uma disputa pela posse das minas de ouro, entre paulistas, que foram seus descobridores e primeiros colonizadores, e os emboabas, portugueses e outros brasileiros, que também aspiravam explorar o ouro.
1710. Definido em São Paulo que o quinto (imposto sobre a produção de ouro) seria cobrado à razão do número de bateias, isto é, per capita. Descobertas as jazidas de ouro de Pitangui, Minas Gerais.
1714. Entra em vigor o sistema tributário denominado "finta", que estabelece o pagamento de 30 arrobas de ouro ( 1 arroba = 14,7kg) à Coroa Portuguesa. A produção não necessita ser registrada
1719. O imposto volta a ser cobrado por meio do "quinto", pelas casas de fundição. É proibida a circulação de ouro em pó. O bandeirante Pascoal Moreira Cabral descobre ouro em Mato Grosso.
1720. Ocorre em Vila Rica a revolta de Filipe dos Santos, que, opondo-se à política tributária, lidera um movimento de relevância, devido ao número de mineradores participantes e pela maneira como seria neutralizado. Como conseqüência, é criada a Capitania das Minas, separando-se a região da Capitania de São Paulo.
- Descoberta rica jazida de ouro em terras de Mato Grosso, que dá origem à Vila de Cuiabá.
1721. Incentivados pelo governo da Capitania de São Paulo, Bueno Filho e João Leite da Silva formam expedição à procura de ouro em Goiás.
1725. Criado o imposto de capitação, que recai sobre escravos produtivos ou não, maiores de 14 anos, ou sobre o minerador quando este os não possuísse.
1727. Inicia-se a mineração de ouro no vale do Rio Araçuaí.
1729. Noticiada oficialmente a descoberta de diamantes no Tejuco, atual Diamantina, pelo Governador das Minas, Dom Lourenço de Almeida. Descoberta de ouro em Goiás (Serra Dourada, Arrais, Conceição e Cavalcanti).
1730. Cai o preço dos diamantes no mercado europeu, em função da produção diamantífera do Brasil.
1731. A Coroa Portuguesa proíbe a exploração de diamantes no Brasil.
1732. Descobertos diamantes na Bahia.
1733. Criada a Demarcação Diamantina, com o objetivo de assegurar à Coroa Portuguesa o monopólio na exploração dos diamantes.
1734. Grande prosperidade nas povoações próximas ao Tejuco (Diamantina), devida à exploração de diamantes no Rio Manso (Penha, Araçuaí, Rio Preto, Gouveia, Curimataí e Pouso Alto). O minerador deveria garantir 100 arrobas anuais de ouro à Coroa portuguesa, podendo o fisco recorrer, se necessário, à "derrama" (cobrança violenta de impostos), para completar a cota. Descoberta de ouro na chapada de São Francisco Xavier, Mato Grosso.
1735. Fundados os arraiais de Barra, Santana, Ferreiro, Ouro Fino, Anta, Santa Cruz, Guarinos e Meia Ponte (atual Pirenópolis), que constituem o núcleo minerador inicial em Goiás.
1736. Descoberta de ouro em São Félix, Goiás. 1737. Descoberta de ouro em Jaraguá, Goiás.
1740. Descoberta de diamantes em Goiás, nos Rios Claro e Pilões. Estabelecido o sistema de contratação, pelo qual o direito de lavra passava a ser dado a um único concessionário, reservando-se a Coroa portuguesa o direito exclusivo de compra dos diamantes.
1748. Goiás e Mato Grosso foram elevados à categoria de capitania.
1749. Descoberta de ouro em Cocais, Goiás. I750. O imposto de capitação é extinto por D. José I, Rei de Portugal, a pedido do Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo.
1752. Criada uma casa de fundição em Vila Boa (hoje, o Município de Goiás, ou "Goiás Velho"), Goiás.
1754. Estabelecida uma casa de fundição em São Félix, transferida em 1719 para Cavalcanti, Goiás.
1760. Provável data da descoberta do topázio amarelo em Vila Rica, Minas Gerais. Descobertos cristais de berilo, crisoberilos, topázios azuis e brancos, e turmalinas verdes, em Itamarandiba, Americanos e Piauí, Minas Gerais.
1772. Criada uma empresa estatal denominada Real Extração, que passa a explorar diretamente os diamantes.
1777. O Marquês de Pombal afasta-se dos cargos que ocupava no Governo de Portugal. A capital da Colônia é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, buscando maior controle administrativo da região sul.
1780. O Governador de Minas sugere à Coroa portuguesa a implantação de uma empresa siderúrgica.
1784. Achado o meteorito de Bendengó, no sertão baiano, por Bernardino da Mota Botelho.
1785. O Governo português declara fora da lei a fabricação de jóias e de qualquer manufatura na Colônia, e ordena a destruição de todos os fomos existentes.
1789. Movimento da Inconfidência Mineira, com objetivos de independência da Colônia. É inspirado nos ideais da Revolução Francesa e na independência dos Estados Unidos.
179I. James Hutton, um dos fundadores da geologia moderna, lê perante a Sociedade Real Britânica um trabalho sobre a flexibilidade da Brazilian stone.
1792. Criada, no Rio de Janeiro, a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que deu início ao ensino de Engenharia no País.
1803. Fechada a Real Extração de Diamantes. Elaborado um conjunto de medidas no Governo de D. João VI, em que se pretendia recuperar a economia mineral brasileira.

Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG)


Pegmatito Gentil (Mendes Pimentel, MG) e suas paragêneses mineralógicas de fosfatos raros

Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel, MG) and their rare phosphate mineral assemblages





RESUMO
Centenas de corpos pegmatíticos na região nordeste de Minas Gerais produzem minerais gemológicos e de coleção, muitos desses corpos possuindo afinidades com determinada espécie, grupo ou classe mineral. O Pegmatito Gentil em Mendes Pimentel, ora descrito, notabiliza-se por sua assembléia de minerais fosfáticos, a maior parte dos quais raros ou raríssimos na natureza. A associação mineral identificada inclui microclínio, quartzo, muscovita, almandina-espessartita, berilo e trifilita como fosfato primário, que foi alterado formando uma extensa paragênese de espécies secundárias. Entre essas, destacam-se brazilianita, frondelita, gormanita, huréaulita, lazulita, litiofilita, purpurita, reddingita, woodhouseíta, zanaziíta e, recentemente descrita nesse corpo, a matioliíta.
Palavras-chave: Pegmatitos, minerais fosfáticos, Província Pegmatítica Oriental do Brasil.

ABSTRACT
Hundreds of pegmatitic bodies occur in the northern region of the State of Minas Gerais, several of these bodies producing gemologic and collection minerals. Such pegmatites are known by the mineral affinity with certain minerals species, groups or classes. The Gentil Pegmatite (Mendes Pimentel county) is characterized by the phosphatic mineral assemblage, and some of these minerals are rare or very rare in nature. Primary species are microcline, quartz, muscovite, almandine-espessartine, beryl, and triphylite as the main phosphate that was altered to an extensive paragenesis of secondary phosphates. In this list are noted brazilianite, frondelite, gormanite, hureaulite, lazulite, lithiophilite, purpurite, reddingite, woodhouseite, zanaziite, and matioliite, a species recently described in the Gentil Pegmatite.
Keywords: Pegmatites, phosphate minerals, Eastern Brazil Pegmatitic Province.



1. Introdução
A região nordeste de Minas Gerais, onde se insere a "Província Pegmatítica Oriental do Brasil", é mundialmente famosa devido à ocorrência de minerais excepcionais pela raridade e/ou por seus aspectos visuais, permitindo com que sejam comercializados no atrativo mercado de minerais para coleção. No contexto dessa província mineral, a região compreendida entre Galiléia, ao sul, passando por Divino das Laranjeiras e se estendendo até Mendes Pimentel, ao norte, destaca-se pela ocorrência de minerais fosfáticos raros ou raríssimos na natureza, diversos deles descritos originalmente na própria região. Nesse caso, incluem-se barbosalita, coutinhoíta, faheyíta, frondelita, lindbergita, moraesita e tavorita em Galiléia; e brazilianita, scorzalita e souzalita em Divino das Laranjeiras (detalhes sobre descrições e depósitos desses minerais encontram-se em Pough & Henderson, 1945, Cassedanne, 1983, Atencio, 2000, Chaves et al., 2006), bem como, de recente descrição, a matioliíta em Mendes Pimentel (Atencio et al., 2006). Esse último mineral foi encontrado no Pegmatito Gentil, cuja geologia e mineralogia detalhada constituem o objetivo central do estudo ora apresentado.
Fanton et al. (1978) e Cassedanne e Cassedanne (1982) realizaram os primeiros estudos de detalhe, enfocando a geologia e mineralogia geral, respectivamente, dos pegmatitos da área. Esses minerais foram também estudados pelos autores e equipe em outras ocasiões (p. ex., Karfunkel et al., 1997, Chaves et al., 2001, 2003, 2005, Scholz, 2002, 2006, Scholz et al., 2003). No Pegmatito Gentil, R. Scholz coletou, em 2003, um mineral de coloração azul-piscina, como agregados de pequenos prismas (2-5 mm), que logo foi presumido como uma espécie raríssima ou, então, nova para a ciência. Estudos preliminares apontaram que tratar-se-ia, em princípio, de uma burangaíta (Bermanec et al., 2004a, 2004b), embora os resultados químicos não tivessem sido inteiramente satisfatórios. Estudos paralelos e mais completos efetuados por pesquisadores da USP determinaram esse mineral como uma nova espécie, designada matioliíta (Atencio et al., 2006). Como as amostras coletadas pelos presentes autores são de maior tamanho e fazem parte de uma pesquisa integrada envolvendo as paragêneses fosfáticas do depósito, acredita-se que a apresentação dos atuais resultados complementem o citado estudo, bem como ajudem a difundir a imagem do mineral através de fotografia e imagens com MEV de espécimens excepcionais obtidos nos trabalhos de campo.

2. Localização e contexto geológico regional
O Pegmatito Gentil (18°41'21"S/41°27'02"W) localiza-se no município de Mendes Pimentel, o qual dista cerca de 80 km a leste de Governador Valadares, nordeste de Minas Gerais (Figura 1 - destaque). A partir de Mendes Pimentel, seu acesso pode ser realizado pela rodovia asfaltada MG-417 (que liga a cidade à BR-381), de onde, após 5 km, toma-se uma estrada de terra mal conservada à esquerda em direção à área do Córrego Indaiá. Essa estrada alcança a Lavra do Indaiá, ora explorada para feldspato e, a 2 km para leste, em caminho carroçável, alcança-se a Lavra do Gentil (Figura 1). Ressalte-se, ainda, que, no mapa geológico da região efetuado pelo convênio COMIG/CPRM (Vieira, 2000), essas duas importantes lavras não se encontram cadastradas.



Na região de Mendes Pimentel - Divino das Laranjeiras, afloram rochas metassedimentares gnáissicas e/ou xistosas, intrudidas por várias gerações de rochas plutônicas ácidas (Figura 1), todas essas seqüências sendo datadas no Neoproterozóico (Netto et al., 1998). Pegmatitos, associados a tal granitogênese, fazem parte do Campo Pegmatítico Galiléia-Mendes Pimentel, do Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena.
As rochas gnáissicas e xistosas compreendem as Formações Tumiritinga e São Tomé, de natureza metassedimentar, que integram o Grupo Rio Doce. O relacionamento estratigráfico entre ambas ainda não se encontra exatamente definido. A primeira ocorre a nordeste e sudeste da região, constituída na maior parte por biotita-sillimanita-granada-(cordierita) gnaisses, localmente grafitosos. A Formação São Tomé, aflorante sobre a faixa central topograficamente mais arrasada da área, destaca-se por incluir a maioria dos corpos pegmatíticos. A unidade é composta de quartzo-biotita-granada xistos, localmente com estaurolita e sillimanita, além de muscovita e schorlita como produtos de metassomatismo. Intercalações de quartzitos impuros e rochas calcissilicáticas são freqüentes. A foliação principal possui direções variáveis com ângulos de mergulhos geralmente elevados.
Intrusivos nesses metassedimentos ocorrem duas fases de magmatismo ácido sintectônico, designadas de Tonalito São Vítor e Tonalito Galiléia, bem como corpos tardi- a pós-tectônicos, estes últimos não representados no mapa da Figura 1 (Féboli, 2000, Vieira, 2000). A Suíte Galiléia constitui a maior parte da região, formando corpos de dimensões batolíticas de rochas leucocráticas a mesocráticas, estrutura gnáissica e textura média a grossa, localmente porfiroblásticas. Essa suíte possui composição metaluminosa a pouco peraluminosa de afinidade cálcio-alcalina e litotipos granitóides do "tipo-I", representados por tonalitos, tonali-granodioritos, granodioritos e granitos. A Suíte São Vítor, de composição similar, aflora em pequena porção, a oeste de Linópolis, e parece corresponder a uma variedade faciológica do Tonalito Galiléia com estrutura fracamente orientada (Féboli, 2000).

3. Corpos pegmatíticos da área e o Pegmatito Gentil
Na região entre Divino das Laranjeiras e Mendes Pimentel, são conhecidos mais de 30 corpos pegmatíticos de porte maior que 2 m, em um quadrilátero de, aproximadamente, 100 km² (os 20 mais importantes são representados na Figura 1). Esses corpos encontram-se encaixados nos biotita-quartzo xistos da Formação São Tomé, geralmente de forma concordante com a xistosidade principal, ou, ainda, condicionados em direções destacadas de fraturamento.
Associados à fase tardia da última granitogênese, os pegmatitos se caracterizam pela presença de uma grande variedade de minerais fosfáticos raros (Chaves et al., 2005), onde se inserem espécies como brazilianita, scorzalita e souzalita, descritas no Pegmatito Córrego Frio (Pough & Henderson, 1945, Cassedanne, 1983). A maior parte desses pegmatitos possui mineralogia característica de corpos diferenciados, enriquecida em minerais de lítio como ambligonita-montebrasita, trifilita-litiofilita e, mais raramente, lepidolita e espodumênio. Os corpos, geralmente, não apresentam zoneamento textural pronunciado, entretanto possuem porções internas em menor escala com grande variação textural e composicional; nessas porções, aparecem os minerais raros. As dimensões desses corpos variam, em geral, entre 2-30 m de espessura, 10-120 m de comprimento e, para a totalidade dos casos, faltam estudos sobre a profundidade dos corpos.
O Pegmatito Gentil aflora encaixado de forma concordante no biotita-quartzo xisto da Formação São Tomé, no local com direção NNE-SSW mergulhando fortemente para SSE (Figura 2). Esse corpo pegmatítico, diferentemente da maioria dos demais da região, possui zoneamento característico. Nas bordas, a rocha encaixante é metassomatizada (zona marginal), rica em cristais isolados de schorlita. Uma zona mais interna é constituída de pegmatito gráfico, onde já aparecem alguns corpos de substituição (pockets). Estes, porém, são mais abundantes na zona feldspática, rica em grandes cristais de microclínio, com menor volume de quartzo, muscovita, almandina-espessartita, berilo e trifilita como outros minerais primários. O núcleo é de quartzo quase maciço.



Além da trifilita, aparece, em quantidade muito menor, a montebrasita. Nos corpos de substituição, a mineralogia secundária é representada por albita, muscovita rica em lítio, elbaíta, além de uma diversificada paragênese de minerais fosfáticos formados a partir da alteração hidrotermal e/ou supergênica da trifilita, que estão descritos no próximo item. A trifilita aparece em cristais euédricos a subédricos, com dimensões variáveis entre 0,5 cm e 5 cm incluídos em microclínio e/ou quartzo, bem como constituindo grandes massas agregadas complexas, em conjunto aos mesmos minerais. Em geral, a trifilita encontra-se parcial ou inteiramente substituída, resultando em paragêneses secundárias que incluem espécies fosfáticas raras.

4. Paragêneses minerais fosfáticas
Os processos de diferenciação magmática nos pegmatitos da região permitiram o desenvolvimento de associações minerais variadas, a maioria das quais envolve fases fosfáticas (Tabela 1). A evolução geral da mineralogia dos fosfatos em pegmatitos constitui três etapas distintas (primária, metassomática e hidrotermal), responsáveis pela formação de assembléias e paragêneses específicas, que ocorrem em função da composição química e temperatura do meio (Moore, 1973). Assim, o processo evolutivo vai depender, tanto de fatores internos, como composição química e mineralogia do ambiente primário, quanto de fatores externos, como a possível entrada de água meteórica, de modo que fosfatos primários podem ser submetidos a estágios de alteração com intensidades variáveis. Os processos mais intensos são capazes de substituir, completamente, a mineralogia inicial, mascarando a paragênese primária do corpo, enquanto os de menor intensidade substituem somente parte dela.
Os pegmatitos inseridos no Distrito Pegmatítico de Conselheiro Pena foram, anteriormente, relacionados a seis grupos distintos por Scholz (2002) e Scholz et al. (2003), em função de seus minerais fosfáticos (ou ausência dos mesmos): (I) pegmatitos sem fosfatos primários; (II) pegmatitos pobres em lítio, com triplita; (III) pegmatitos ricos em lítio, com trifilita predominante; (IV) pegmatitos ricos em lítio, com montebrasita predominante; (V) pegmatitos com apatita e (VI) pegmatitos com monazita. Tendo por base tal classificação, descrevem-se paragêneses presentes em pegmatitos do "tipo III", onde se insere o Pegmatito Gentil, bem como diversos outros corpos nos arredores de Galiléia, ao sul, a exemplo das lavras Boca Rica, Cigana, Sapucaia e Boa Vista-1 (Chaves et al., 2005). Em todos esses corpos, a trifilita ocorre fazendo parte da mineralogia primária junto com microclínio, quartzo e berilo, formando associações com numerosos minerais de alteração, alguns destes de origem supergênica.
No Pegmatito Gentil, as paragêneses mais comuns verificadas foram (fórmulas químicas segundo o IMA (Mandarino & Back, 2004):
Trifilita [LiFe2+PO4] + fosfossiderita [Fe3+PO4.3H2O] + purpurita [Mn3+PO4]. Essa associação corresponde a agregados de cristais de trifilita de cor verde-escura, inseridos no microclínio e com as bordas parcialmente alteradas para fosfosiderita e/ou purpurita (Figura 3).



(Trifilita) + reddingita [Mn2+Mn2+2(PO4)2(H2O)] + huréaulita [Mn2+5(PO4)2PO3(OH)2.4H2O] + fosfossiderita. Tal paragênese constitui produto de alteração da trifilita e está presente em cavidades de substituição/alteração tardias (Figura 4A), ou em substituição total a cristais de trifilita. No primeiro caso, cristais de litiofilita apresentam reddingita e huréaulita na superfície ou em cavidades.


 
(Triflilita) + frondelita [Mn2+Fe3+4(PO4)3(OH)5] + litiofilita [LiMn2+PO4] + lazulita [MgAl2(PO4)2(OH)2] + huréaulita. A frondelita aparece recobrindo corpos de substituição tardios e, sobre esse mineral, ocorrem litiofilita, huréaulita e/ou lazulita. Estão também relacionados à substituição total da trifilita.
(Trifilita) + frondelita + ferrissicklerita [Li(Fe3+,Mn2+)PO4] + purpurita. Essa paragênese ocorre como produto de alteração da trifilita, formando blocos maciços. A purpurita é formada a partir da seguinte seqüência de alterações: trifilita-litiofilita ® sicklerita-ferrissicklerita ® purpurita-heterosita.
(Trifilita) + fluorapatita [Ca5(PO4)3F] + brazilianita [NaAl3(PO4)2(OH)4] + woodhouseíta {CaAl3[(P,S)O4]2(OH,H2O)6} + matioliíta [(Na,Mg)Al5(PO4)4(OH)6.2H2O]. Nessa paragênese, a trifilita encontra-se inteiramente substituída, verificando-se uma interessante e singular associação de fluorapatita (secundária), brazilianita mal cristalizada, woodhouseíta em pseudocubos (única ocorrência brasileira do mineral conhecida) e da recentemente descrita matioliíta, com cristais azuis milimétricos em prismas longos (Figura 4B).

5. Química mineral dos fosfatos em geral e da matioliíta do corpo
Análises químicas com microssonda eletrônica foram efetuadas em amostras representativas de matioliíta (Figura 5A), brazilianita, frondelita, lazulita e trifilita (Tabela 2), após suas identificações com difração de raios X. As análises com microssonda foram obtidas no Laboratório de Microanálises, Defis-ICEX/UFMG. Na coluna 1 dessa tabela, apresentam-se os dados de amostra coletada em 2003, então considerada como burangaíta - [(Na,Ca)(Fe2+,Mg)Al5(PO4)4(OH,O)6.2H2O] (Bermanec et al., 2004a, 2004b), posteriormente reconhecida por Atencio et al. (2006) como nova espécie (matioliíta) compondo uma série isomórfica com a primeira. Imagens de microscopia eletrônica de varredura detalham os prismas alongados extraídos da mesma amostra (Figura 5B-C). Nas colunas 2 e 3, são fornecidas, comparativamente, as análises pertinentes desses últimos autores em relação ao novo mineral e a uma outra fase de composição intermediária na referida série e, na coluna 4, valores da burangaíta da localidade-tipo, o Pegmatito Buranga, em Ruanda (Knorring et al., 1977). Os dados apresentados indicam que a matioliíta ora analisada é empobrecida em Na2O e relativamente mais rica em P2O5 e Al2O3.



Na coluna 5 (Tabela 2), constam os dados da brazilianita que se associa à matioliíta, apresentados na Figura 5A. A brazilianita, embora descrita desde longa data (Pough & Henderson, 1945), é, ainda, um mineral pouco estudado. Análises desses autores obtidas a partir de amostras da localidade-tipo, Pegmatito Córrego Frio (situado no mesmo município - mineralogia geral mostrada na Tabela 1), possuem valores de Na2O da ordem de 8,4%, entretanto o espécime analisado também é empobrecido nesse óxido, com ±3,4%. Tais dados, juntamente com os apresentados para frondelita e lazulita do mesmo corpo (Tabela 2, colunas 6-7), demonstram a complexidade química dos fosfatos secundários encontrados, que, muitas vezes, se comportam como misturas de distintas fases e/ou ainda exibem diversos graus de hidratação. Assim, a frondelita da coluna 6 dessa tabela, com ±42,1% de FeO contra ±49,3% requeridos para valores ideais, pode indicar maior hidratação do material analisado. Os outros valores são muito semelhantes aos valores ideais. Os baixos fechamentos nas análises desses dois minerais devem-se à presença da hidroxila, não quantificável na microssonda.
Quanto às fases primárias do Pegmatito Gentil, ocorre trifilita e, de modo raro, ocorre a montebrasita. A lazulita também é um fosfato primário característico (Moore, 1973), entretanto esse autor lista, ainda, tal espécie como uma possível fase secundária, o que, provavelmente, representa a amostra analisada (Tabela 2, coluna 7). A mesma possui grande semelhança química com lazulitas da região de Diamantina, embora estas últimas ocorram em veios de quartzo (Chaves et al., 2003). A trifilita, que foi analisada a partir de amostras de três diferentes corpos de substituição (Tabela 2, colunas 8, 9 e 10), também apresentou anomalia quanto ao FeO, com 30,8-32,9% contra 45,5% requeridos para valores ideais; entretanto o MnO (não presente na fórmula química teórica) alcançou até ±9,5% nas análises, indicando um importante processo substitucional do Fe2+, pelo Mn2+, e resultando numa provável fase intermediária entre esse mineral e a litiofilita.

6. Considerações finais
O estudo regional da geologia e da mineralogia fosfática primária e secundária encontrada nos pegmatitos do Distrito de Conselheiro Pena tem permitido a identificação de diversos tipos de pegmatitos com base em suas constituições minerais, além de possibilitar a caracterização de modo integrado das assembléias e paragêneses minerais com espécies raras envolvidas. A descrição de onze novos minerais em pegmatitos dessa região (barbosalita, brazilianita, coutinhoíta, faheyíta, frondelita, lindbergita, matioliíta, moraesita, scorzalita, souzalita e tavorita), bem como a diversidade demonstrada, abre um campo largamente potencial para a descoberta de outros novos minerais na mesma. O Pegmatito Gentil, embora com atividades de lavra paralisadas desde 2004, possui, ainda, pilhas de rejeito interessantes de serem exploradas, tendo em vista o encontro de novas associações minerais.
O estudo desenvolvido nesse pegmatito integra-se com os de outros corpos da região de Mendes Pimentel, o que deve constituir objeto de futuro trabalho. A caracterização química de distintas paragêneses minerais com espécies fosfáticas envolveu análises químicas com microssonda eletrônica na principal fase primária (trifilita) e sobre algumas fases secundárias presentes (brazilianita, frondelita, lazulita e matioliíta), ressaltando-se importantes processos de substituição. Deve-se, ainda, frisar que a matioliíta, recentemente descrita nesse corpo, assim como as fases estudadas quimicamente e que apresentaram diferenças consideráveis em relação às composições químicas ideais, constitui um campo de pesquisas que pode contribuir para um melhor entendimento da evolução da mineralogia fosfática em pegmatitos.